O Coronel Vermelho - One Shot escrita por Tainá Trajano


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Então, aqui está: minha primeira original. Que soem as trombetas!Há, brinks.Há tempos que queria fazer uma história com esse personagem, não sei por quê. Acho que pensei muito sobre o tema da história e surgiu alguma coisinha na minha cabecinha :BMesmo assim, não ficou totalmente do jeito que eu queria, mas espero que gostem. Se não gostarem, por favor não deixem de comentar falando o por quê.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/590176/chapter/1

Abriu os olhos de súbito e tudo o que enxergou foi o teto escuro e rochoso de uma grande caverna.

Fitou o sólido acima de si e fez dele uma tela de projeção, procurando repassar tudo o que tinha acontecido antes do desmaio. A primeira coisa que lembrou foi que ouvira diferentes gritos, de homens e mulheres, urros de surtos de adrenalina e altos uivos rasgantes que serviam para abafar a dor.

Dor.

Finalmente, imagens eram projetadas. Corpos espalhados pela cidade, uns jogados, outros ainda de pé e alguns protegidos atrás de barricadas. Sangue era uma coisa presente em todos eles, em diferentes partes e quantidades. O som das armas pesadas e as balas zunindo pelo seu ouvido pareceram ainda mais reais. Lembrou-se de uma pessoa camuflada com um rifle leva-lo para longe de tudo aquilo.

Rapidamente se sentou, e o alívio que tanto quisera sentir durante a fuga lhe caiu sobre os ombros. Respirou forte, fechando os olhos e depois olhou ao redor. A caverna que escolheram como plano de escape, agora lembrava claramente. Viu caixas inteiras de suprimentos, um barril de água e a maleta de primeiro socorros.

Estava a salvo. Estava a salvo! Recuperou suas forças e levantou mais rápido do que se sentou, a euforia quase lhe saltando do peito. Sentiu dores pelo corpo e uma pontada na cabeça, mas esqueceu e foi direto para a saída da caverna. Onde estavam todos? Quanto tempo se tinha passado? Como tinham ganhado? Todas essas dúvidas serviram para acelerar seu passo.

O sol do meio dia lhe cegou a visão, mas logo ele foi se acostumando a claridade. A caverna estava bem escondida no fundo da floresta que ficava em volta da cidade, com pinheiros espalhados em todas as direções e poucas plantas rasteiras. Parou e tentou escutar ou ver algum sinal de vida. Nada.

Decidiu rever na memória o caminho que fizera para chegar até ali e tentou refaze-lo. Com receio, seguiu pela direita, e assim, em frente. As plantas davam um ar solitário àquela altura, o verde parecendo ter perdido a vida, embora o céu estivesse limpo e não houvesse impedimento nenhum para que os raios passassem para suas copas. Não fazia frio, nem calor. O ar tinha cheiro de algo forte, que não sabia o que era. Viu algo que não se encaixava ao cenário ao longe, e se aproximou em busca de uma pista sobre o seu presente.

Assim que reconheceu o que era, o ar lhe caiu como chumbo.

O homem do rifle, que lhe ajudou - seu fiel capitão - morto sob uma poça de sangue.

O que restava da euforia lhe esvaiu por completo. Parou a respiração, paralisou as pernas e tremeu as mãos. A frente do corpo, quatro soldados inimigos também estavam mortos. Não restava dúvida, o capitão morreu tentando lhe proteger. Não querendo ver aquela imagem, forçou-se a contornar os corpos e correr. O pesar da cena estava fazendo uma bagunça pelo seu estomago, mas não tinha nada lá para ser expulso.

Achou o caminho de terra que levava até a cidade e seguiu o mais rápido que pode. Mais rápido ainda quando via outros corpos perdidos pela paisagem, de cores aliadas ou não, mesmo que não fossem muitos. O cheiro que sentiu antes ficava mais forte a medida que seguia. Enfim, avistou o a primeira vizinhança. Uma imagem surgiu de súbito na sua mente, aquilo tinha se transformado no cenário de guerra que nunca imaginaria que fosse.

Agora andava pela rua de asfalto, tentando se manter instável a medida que via casas manchadas de vermelho, e mais corpos estirado pelos cantos (mais do que tinha pelo caminho de barro). Pensou em como deveria se sentir sobre todas essas pessoas sem vida enquanto dormia em um local seguro. Não parecia ser o seu dever numa patente tão alta.
Não notou quando tropeçou num corpo no meio da rua e quase caiu. Tentou não encarar o rosto mutilado, mas não resistiu a olhar ao redor. Parecia que aumentavam de quantidade a medida que caminhava.

Afundado em pensamentos e dúvidas, o coronel seguiu, sem perceber, em direção ao centro da cidade, ao centro do campo de batalha. Mal acreditou que estava num mar de corpos tingidos daquela cor, em meio a prédios e carros.

Reconheceu rostos, olhos virados e membros arrancados. Percebeu que o ar lhe faltava quando não pode reconhecer um corpo de tão... irreconhecível que estava. O cheiro que tinha sentido antes... Aquilo foi uma chacina, um massacre, uma carnificina, nos mais literais dos sentidos! Tanto seus aliados quando seus inimigos estavam naquela situação. E o pior: sabia que era o único sobrevivente.

Agora, seu estomago revirava com todas as forças. Se ajoelhou de frente para a cena e não conteve as lágrimas. Ele tinha sido treinado para aquela situação. Não só treinado, tinha batalhado a vida inteira para receber o título de coronel. Sua devoção era tão grande, que era conhecido como o Coronel Vermelho (o rubro que cobria sua cabeça e rosto) em vários lugares pelo mundo. Fora convocado para esta guerra, treinou com ímpeto para ela, sabendo que podia ser atacado a qualquer momento. Quando viu que a situação estava no limite da contenção, mandou deslocarem os civis da cidade. Seu palpite estava certo, o exército inimigo buscava atacar a cidade logo, e durante três dias, batalhou o mais duro combate da sua vida. Todos lutavam como se fúria não fosse combustível o bastante para a vitória. Mas tinha se resultado naquilo.

Seu exército tinha um número incontável de soldados, assim como o do seu oponente. E dali, assim como via pessoas do seu lado mortas tragicamente, também via pessoas do outro lado sofrerem o mesmo destino. Via um mar delas. Espalhadas numa única cidade. Não fazia mais sentido pra ele. Não fazia mais sentido todos eles mortos. Não queria que eles morressem. Era justo apenas os civis serem poupados? Todos os anos ouvia as histórias de recrutas, capitães e cabos. Histórias das pessoas a sua frente. E todas elas acabaram de repente, num disparar de uma arma. Lembrou do seu fiel capitão, sempre ao seu lado, que tinha entrado para o exército buscando manter sua família. E agora seus filhos não iriam voltar a vê-lo. Vários filhos daquele país estavam sem pai e sem mãe. Do outro país também. Um grande número havia perdido seus filhos e filhas. Tios e tias. Primos e primas. Maridos e Mulheres.

Sentiu nojo de si. Repulsa. Não deveria ter aceitado se esconder. Devia ter ficado e morrido com todos. Se sentia tão sujo, como pode abandonar sua gente? Urrou de agonia. Urrou como se nunca tivesse gastado sua voz na vida. Não havia mais devoção ao seu posto. Como ele podia ter deixado passar o pensamento que várias histórias eram mutiladas e massacradas em cada ordem que dizia? Várias pessoas que conhecera durante sua carreira passaram pela sua cabeça. Criminosos que queriam compensar o que fizeram de errado, servindo ao país; cidadãos pobres que estavam se sacrificando para ter comida na mesa; e até mesmo jovens com o sonho igual ao seu, que tinham amor à batalha e que queriam se sentir vivos matando outros. Como foi idiota. Nunca se sentira vivo, nunca tinha passado pela experiência de que tinha se realizado. Olhou, mais uma vez, todos aqueles que batalharam ao seu lado. Talvez se sentisse como quisera a vida toda se guerreasse por uma ma causa que valesse a pena comandar e pedir para que os outros arriscassem sua vida nela, uma causa nobre.

No entanto, o jogo só acaba quando um dos reis sobrevive. E o rei estava vivo. Em meio a um turbilhão de mortos. Mas estava vivo.

Saindo do estado de surto, o coronel se arrastou até um dos corpos e pegou uma faca do uniforme de um dos soldados. Não queria ganhar a guerra depois de tantas vidas serem sacrificadas em lugar da sua, por motivos tão podres como o que estava servindo: Política regida por loucos por mais poder, que mandavam sua própria raça se matarem uns aos outros para poderem ficar a salvos.

Deitou no chão e cravou a faca no próprio pescoço. Deixou que a dor lhe domasse como punição a sua estupidez. Teve questão de deixar suas mãos no cabo da arma, para dar a ideia de suicídio aos que iriam fazer sua autópsia. Já inebriado com a dor e esperando a morte, viu o céu se fechar de nuvens sob ele, deixando apenas alguns raios solares caírem sobre seu corpo. Seu último pensamento foi que não era merecedor do calor acolhedor do sol só para si nos últimos suspiros de vida, quando seu corpo seria frio para a eternidade.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Coronel Vermelho - One Shot" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.