Thalia:

Tristeza e Frio.

Tristeza e frio é tudo o que sinto nesse momento.

Sentada embaixo dessa árvore enquanto gotas de chuva molham minha face e se misturar com as minhas lagrimas eu me pergunto: Por que eu Afrodite? Por que logo eu fui condenada a me apaixonar? Realmente não me lembro de ter feito nada de ruim para você, mas ainda assim você estraga a minha vida...

Ainda é dia, mas poderia facilmente dizer que é noite já que fortes nuvens de tempestade com trovões, raios e relâmpagos dão um ar sinistro ao ambiente ao meu redor escondendo totalmente o sol. Um tempo condizente com o dia de merda que tive.

Hoje, nesse dia podre, eu, Thalia Grace fui expulsa da caça. Foi hoje que meu pai disse que sou uma decepção e que não valeu a pena salvar minha vida. Também foi hoje que eu vi o motivo dessa confusão toda se agarrando com outra. Todo esse sofrimento se deve a Afrodite que não se contentou em me fazer ter um amor secreto e resolveu torná-lo do conhecimento de Ártemis. Se não bastasse isso ela ainda deu o maior golpe. O fatal...

Ela fez com que esse amor não seja correspondido.

Após tudo isso acontecer eu saí correndo e me enfiei na mata que cerca o acampamento Meio–Sangue. Corri enquanto sentia meus pulmões implorando por ar e os meus pés por descanso, mas só parei aqui: Embaixo dessa árvore que fica as margens de um lago. E só então me permiti chorar e sofrer calada, sozinha.

Não sei quanto tempo se passou desde que cheguei aqui. Segundos? minutos? horas? Realmente não me importa agora, tudo o que importa é que agora estou com o coração partido e minha vida de cabeça para baixo.

Narradora:

Thalia estava se sentindo perdida. Estava tão triste e cansada que adormeceu. Quando acordou a primeira coisa que viu foram profundos olhos negros que a observava atentamente.

— Até que enfim a bela adormecida acordou – Com um meio sorriso encantador Nico fez o coração de Thalia pular uma batida.

— Onde eu estou? – Perguntou sentando-se e percebendo que se encontrava em uma cama totalmente desconhecida – Como eu cheguei aqui? E onde é aqui? – Olha ao redor assustada tentando decifrar onde se encontrava.

— Você está no chalé de Hades. Eu te encontrei desmaiada e toda molhada embaixo de uma árvore e te trouxe para "aqui" – Explicou Nico, que ainda a encarava.

Foi nesse momento que Thalia notou que estava com frio e toda molhada.

— Nossa, eu molhei a cama toda – afirmou, olhando o inevitável estrago.

— Tudo bem, eu não me importo, depois eu arrumo. O que realmente importa é seu bem estar. Então, você está bem?

— Sim e Não – Uma pausa constrangedora – Eu estou bem corporalmente e ruim mental e sentimentalmente.

Mais uma pausa constrangedora que só não deixou o lugar completamente silencioso graças a chuva que caia do lado de fora.

— Eu não sabia que as caçadoras ficariam aqui. – Nico tenta puxar conversa.

— É porque elas não vão – Thalia começa a se sentir desconfortável – Só eu estou aqui.

— Sério? Eu nunca imaginei que caçadoras tirassem ferias – Nico a encara de uma forma curiosa, deixando Thalia ainda mais desconfortável.

— É porque elas não tiram. – Respondeu nervosa, se mexendo inquietamente na cama adotando o silencio como resposta final.

— Então o que houve? – Nico procura os olhos da garota, tentando entender o que está acontecendo.

Mais um silencio constrangedor.

— Thalia? – O menino pergunta preocupado.

— Eu estou aqui porque eu não estou mais na caça Nico – Respirando fundo ela enfim solta a notícia – Eu fui expulsa com 0% de chances de voltar, satisfeito? – Estressada a menina desvia os olhos do menino e encara a parede do outro lado da cama.

— Nossa – Nico se levanta espantado – Eu nem sei o que dizer Thalia – Andando ao redor ele tenta pensar na melhor maneira de lidar com a menina nessa situação tão inesperada.

— Não precisa dizer nada – Thalia sussurra, ainda olhando para longe do rapaz.

— Realmente em um momento como esse palavras não são necessárias – Nico diz e se aproxima da cama envolvendo Thalia em um abraço totalmente inesperado. 

Inesperado para os dois.

Thalia:

No momento em que senti seus braços me envolvendo em um abraço não resisti e coloquei minha cabeça em seu ombro, me permitindo chorar mais um pouco. Chorar porque eu sempre desejei ser envolta por esses braços, chorar porque sei que uma hora vai acabar e chorar porque talvez nunca mais eu possa sentir esses braços acolhedores me envolvendo.

— Calma, vai ficar tudo bem – Tenta me consolar sem sucesso.

— Perdão, eu não devia estar aqui te enchendo a paciência – Tento seca as lagrimas que caiam do meu rosto já temendo o momento em que nos afastaríamos e o abraço mais carinhoso que já tive acabaria.

— Ei, imagina – Então como eu temia ele se afasta e começa a me encarar e, carinhosamente me ajuda a secar minhas lagrimas – Não é incomodo algum. Saiba que aqui você sempre terá um ombro amigo, ok?

Ombro amigo. É isso que ele é, meu amigo. Nunca foi e nunca será nada a mais. Ainda mais lagrimas rolam por meu rosto enquanto sem sucesso tento pará-las. Nico continua com a mão em meu rosto, fazendo sons engraçados na tentativa de me consolar. Olho em seus olhos e me perco por um momento naquela escuridão profunda que rapidamente me faz recordar:

Eu sou Thalia Grace, uma mulher forte, ex-caçadora, filha de Zeus. Já fui muitas coisas e tenho certeza de que serei muitas outras ao longo da minha vida, mas covarde eu nunca fui e não vou ser agora! Já perdi quase tudo, mas minha dignidade e coragem nunca! Tenho que me declarar para ele.

— Você está melhor? – Percebo que passei esse tempo todo olhando em seus olhos e me sinto fortalecida ao notar que ele não me repreendeu por isso, mas sim se preocupou com meu bem estar.

— Estou sim, obrigado.

— Então agora você pode me contar o que aconteceu.

— Bem, é uma longa história – Tento pensar em como fazer isso. Sou direta e falo que estou apaixonada por ele? Faço um discurso contando sobre mim e como comecei a gostar dele? Dou um beijo e depois digo que estou apaixonada por ele? Nossa, são tantas opções...

— Eu tenho tempo – Comenta, levantando da cama anda até o que parece ser um guarda-roupas – Claro, se você não se senti confortável para conversar agora não tem problema, mas se quiser desabafar eu estou aqui – Após mexer em um monte desorganizado de roupas ele retorna para a cama me estendendo um novo lençol preto – Aqui, traque o antigo por esse, vai te aquecer melhor.

— Obrigado – Enquanto troco de lençol decido contar para ele como cheguei nessa situação assim introduzindo a declaração.

— Acontece que Afrodite resolveu brincar comigo. Primeiro ela fez eu me apaixonar e depois contou para Ártemis, que não foi lá muito compreensiva e me expulsou da caça. Meu pai assim que soube da minha expulsão apareceu em minha frente após quase 1 ano sem me vê para dizer que eu era uma decepção, que não merecia ter um pai como ele e que aparentemente foi uma perda de tempo minha vida ter sido poupada. Se isso já não fosse suficiente eu ainda descubro que o cara que eu gosto está namorando uma vaca de uma filha de Afrodite – Desabafo todo o meu dia de uma vez em uma versão resumida, olhando em seus olhos em busca de alguma compreensão.

— Uau, que dia em – Ele se levanta e anda ao redor do quarto, aparentemente mais uma vez sem ideia do que dizer.

— Pois é – Concordo com ele ainda esperando uma reação.

Se abate um silencio constrangedor sobre a sala enquanto minha coragem começa a repensar se deve continuar com um histórico impecável.

— Você tem algo a comentar? Está tudo bem? – Tento quebrar o silencio enquanto Nico ainda anda ao redor do quarto sem olhar em minha direção.

— Eu só estou surpreso que você esteja apaixonada por um cara idiota o bastante para te trocar por uma enfeitada filha de Afrodite – Continua andando ao redor do quarto, ainda sem olhar para mim.

— Na verdade eu não posso culpar ele – Me levanto da cama e me aproximo dele – Eu nunca me declarei para ele, nunca dei sequer a entender o que eu sinto – Nico finalmente para de andar e começa a retribuir o meu olhar.

— Então ele não sabe dos seus sentimentos?

— Não.

— Nossa – Ele desvia o olhar novamente – O que você está esperando então? Vai se declarar para ele! Tenho certeza de que ele não vai te dispensar, nem um louco faria isso – Vira as costas para mim, olhando fixamente para a pilha de roupas.

— Você me dispensaria? – Tento dá uma de ousada e rapidamente percebo que minha pergunta surpreendeu ele.

— Que tipo de pergunta é essa? – Se afasta em direção a porta em uma postura vulnerável – Eu acho que você deveria fazer ela para ele sabe, se declara e tals, tenho certeza de que vai dar tudo certo – Repete tudo desconfortavelmente.

Olho para ele e decido que é agora, não devo mais esperar.

— Você tem razão Nico – caminho para ele e consequentemente rumo a porta – O que você não entendeu é que eu estou tentando fazer isso agora – Sussurro próximo a seu rosto olhando em seus olhos que me encaram surpresos. Não penso duas vezes e selo nossos lábios em um beijo que se iniciou tímido. Após um momento do que eu acredito ser choque da parte dele o sinto corresponder e o beijo tímido rapidamente toma maiores proporções nos levando tempos depois a nos separarmos com falta de ar.

Percebo em seus olhos a surpresa que esse beijo foi e decido abrir ainda mais meu coração.

— É você Nico, acredito que sempre foi. Desde o primeiro momento em que vi aquele garotinho viciado em mitomagia algo surgiu em mim e foi alimentado com o passar do tempo, cada oportunidade que tivemos de nos encontrar durante esses anos fez com que eu acompanhasse o seu crescimento a sua transformação em um belo rapaz ao mesmo tempo em que eu me desenvolvia e me tornava essa garota. Nesse momento estou te oferecendo meu coração Nico di Angelo, o coração que sempre te pertenceu.

Um silencio inquietante paira no ar, o que me faz estremecer por um instante. Será que fui muito enfática? Será que ele não gosta de mim? Será que ele está apaixonado pela outra? E agora o que eu...

— Eu também estou apaixonado por você Lia – Meus pensamentos inquietos foram felizmente interrompidos pela declaração de Nico que simplesmente me deixou sem palavras de tamanha felicidade. Ele me envolveu em seus braços e começou a se declarar até que me lembrei de um detalhe muito importante.

— E a Drew? – Interrompi olhando em seus olhos esperando por sua reação.

— A Drew? – Confuso por minha interrupção pareceu analisar com cuidado minha pergunta – Ahhh, isso explica o negócio da filha de Afrodite, você viu a Drew me beijando hoje. Eu não sei como te explicar isso já que até agora eu mesmo não entendi. Ela simplesmente entrou aqui hoje e me agarrou sem dizer nada, me beijou e foi embora falando algo sobre missão cumprida. Eu não tenho nada com ela e nunca tive, você foi a única garota que fez meu coração bater mais forte, desde o momento em que vi seus lindos olhos eu soube que ali estava a razão do meu viver, o motivo pelo qual eu respiro. Eu estou aqui para te fazer feliz, para sempre dizer o quanto você é importante e o quão especial você é. Eu estou aqui porque batalhas virão e eu poderei falar que estou ao seu lado para o que der e vier. Eu quero um dia ficar com você em uma varanda olhando nossos netos e bisnetos brincarem em um jardim. Eu sabia que um dia eu ia ter você para mim, no fundo do meu coração eu sempre soube que esse sonho se tornaria realidade. Confesso que não sei como ou quando exatamente esse sentimento tomou essa proporção dentro de mim, mas estou feliz que tenha acontecido, eu...

O interrompi novamente só que agora com um beijo apaixonado. Meu amor secreto não correspondido agora é meu amor público e felizmente correspondido. Tomada por uma grande satisfação e felicidade ouvi a chuva (que havia passado despercebida por mim durante muito tempo) cair lá fora e a única coisa que pensei, contradizendo a muitas coisas nas quais um dia acreditei foi:

Obrigado Afrodite.