Alma observadora escrita por Driane Melo


Capítulo 1
A alma gentil


Notas iniciais do capítulo

Essa é uma pequena one-shot que mostra a vida de uma pessoa aos olhos de alguém com a visão ainda pura



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Olá, meu nome é Luna, eu tenho 8 anos, mas eu sou diferente de todo mundo, a noite quando eu estou dormindo eu consigo tirar a minha alma do meu corpo, eu adorava fazer isso assim eu podia ver o sono do meu irmão Lun.

Eu e Lun somos gêmeos, nós somos quase idênticos, a diferença é que eu sou menina e Lun é menino.

Você deve estar se perguntando porque eu estou lhe dizendo isso? Bem é porquê eu tive 8 anos a mais de 18 anos.

E eu passei todos esses anos sendo uma alma vivendo ao lado da vida de meu irmão e foi assim que vi o mundo.

Sabe em uma noite, no nosso aniversario de 8 anos, eu resolvi sair do meu corpo e dá um passeio pela cidade, eu estava tão feliz que me esqueci de voltar e quando eu voltei eu não conseguia mais entrar de volta.

Então eu só pode observar meu irmão chorando por eu não acordar mesmo que eu estivesse do seu lado gritando que estava aqui, eu vi minha mãe cair em desespero e meu pai em profunda tristeza.

Eu não queria isso.

Meu corpo foi levado para um hospital, o medico disse que agora eu era agora um vegetal, ele disse que eu ia dormi e talvez nunca mais acordasse.

Eu lembro que minha família chorou muito neste tempo, minha mãe sempre enfiava uma faca ou então uma coisinha pequena em seus braços e bem perto de sua mão até ela começar a sangrar, eu não sabia por que, até que depois de alguns dias ela se foi.

Papai ficou muito triste, eu não via mais ele sorrir e meu irmão amado perdeu o brilho dos olhos, eu via que meu irmão parecia meio vazio, porém eu não entendia, ele ainda tinha sua alma então por quê?

Eu vi meu irmão crescer sem amor, papai ficou muito distante e sempre deixava comida pronta pra Lun, Lun usava o micro-ondas e a comida ficava sempre pronta, mas ele sempre ficou sozinho.

Depois de 2 meses que a mamãe se foi papai embalou tudo e vendeu a nossa casa, ele se mudou de cidade e eu fui com eles.

Quando chegamos no novo lugar papai brigou com Lun, ele não queria jogar minhas coisas foras, na verdade ele usava meus acessórios de cabelo, mas Lun aguentou firme os tapas que papai deu nele, mesmo que eu gritasse pra parar papai continuava, eu não entendia nada, por que papai batia nele?

Com o tempo meu irmão nunca cortou o cabelo, ele cresceu com os cabelos pretos incontroláveis, mas ele nunca deixou ninguém cortar, ele dizia que assim poderia usar mais de minhas coisas.

Todos os meninos riam dele, mas Lun era muito forte, eu tinha orgulho de meu irmão, ele era o melhor da turma, tudo bem que ele era muito ruim jogando bola, mas ele era muito esperto.

Eu o vi passar noites inteiras acordado, sem dormi, ele só tinha 10 anos na época, mas ainda assim estudava muito.

Ele era como um super-herói.

Ele terminou a escolinha e depois foi fazer o ensino médio, onde ele já era alto, porém, ele era muito magro, papai não fazia comida e ele cozinha muito pouco, já que papai não dava dinheiro para ele comprar as coisas para fazer comida, mas mesmo na nova serie, meu irmão se destacava, às vezes ele parecia uma menina, ele não era muito alto, mas ele não se deixava abalar.

Com o tempo eu notei que meu irmão era muito sozinho, ele não tinha nenhum amiguinho para lhe fazer companhia, todos pareciam falar mal dele, mas o meu irmão não fez nada de errado.

Porem Lun se manterá forte, eu me lembro que um dia teve um novo estudante em sua sala quando Lun foi para o segundo ano, ele era muito bonito, parecia um modelo, eu lembro que Lun sempre desviava o olhar dele, eu achava bonitinho, como meu irmão ficava com as orelhas vermelhas.

Ele ficava muito fofo.

Um dia enquanto comia no cantinho dele, os valentões foram atrás de meu irmão, eu queria protegê-lo, mas eu não sabia como, eu gritava para eles pararem, mas ninguém sequer se movia, daí eles fizeram uma coisa imperdoável.

Eles quebraram a minha presilha favorita.

Lun já estava chorando, mas ai o aluno novo chegou e defendeu Lun, ele batia nos outros caras como se fosse o Jack-chan ele foi incrível.

Ele ajudou o meu irmão e eu me lembro que ele perguntou o porque dele continuar chorando se eles já tinham ido embora.

Ai, o meu irmão tinha dito que eles tinha destruído uma preciosa lembrança dele, meu irmão depois saiu escondendo seu rosto, mas eu fiquei e vi quando aquele garoto de capa de revista pegou todas as partes de minha presilha destruída e guardou em seu bolso.

Depois disso fui atrás de meu irmão, ele chorava em seu quarto, essa foi a primeira vez em 8 anos que eu não vi meu irmão passar a noite estudando, mas o vi chorar até desmaiar de cansaço.

No dia seguinte meu irmão ficou em casa, ele saiu e conseguiu comprar coisas para fazer um bom almoço, mas eu sentia que meu irmão não estava comigo, ele estava tão triste.

Meu irmão já estava terminando o almoço quando alguém tinha tocado a campainha, eu fui flutuando ao seu lado para saber quem era e me surpreendi quando vi que era o “Jack-chan”.

Ele tinha trazido para meu irmão as tarefas do dia, assim meu irmão o convidou para comer com ele, acho que foi a primeira vez desde minha partida que meu irmão deixou alguém entrar em casa, eles comeram em silencio, apenas falando algo sobre a escola que eu não entendia e depois eu aprendi o nome dele Felix.

Lembro-me da conversa que eles tiveram quando foram para o sofá da sala com muita clareza.

‘ – Lun, não quero te ofender, mas porque você usa essas presilhas e coisas femininas tão infantis?

Lun começou a lagrimejar e tremer um pouco, eu estava indo tentar sem sucesso aclamá-lo quando Felix fez isso por mim, ele segurou meu irmão contra o seu corpo fazendo círculos em suas costas.

– Olha tudo bem se não quiser me falar nada.

Meu irmão limpou as lagrimas e depois ele falou um pouco mais calmo.

– Tudo bem, só que dói ainda para falar, eu tenho uma irmã gêmea... E antes que pergunte ela não vem estado entre nós nos últimos 8 anos, no nosso aniversario de 8 anos ela simplesmente entrou em um estado vegetativo, ela nunca mais acordou e depois de duas semanas minha mãe tirou sua própria vida.

Eu vi como Felix pareceu apertar ainda mais na confissão de meu irmão antes dele continuar.

– Eu não conseguia me livrar das coisas da minha irmã por mais que meu pai pedisse, então eu as utilizo sempre, assim eu sempre vou ter ela comigo.

Assim meu irmão caiu em lagrimas e Felix ficou ao seu lado permitindo assim que eu fosse embora para chorar também.

Quando eu voltei eu vi uma coisa brilhar na estante de meu irmão, quando me aproximei era a minha presilha favorita, Felix deve ter a concertado e dado ao meu irmão, deveria ser por isso que ele tinha um sorriso em seu rosto enquanto dormia em sua cama.’

Depois disso, eles ficarão inseparáveis, sempre fazendo tudo junto, um sempre ao lado do outro, sempre dando apoio ao outro, uma verdadeira amizade feita para durar para sempre.

Eu via como meu irmão olhava para Felix assim como o mesmo se olhava, eles pareciam os casais de novela que minha mamãe a muito assistira, eu sempre achei engraçado como eles pareciam de vez enquanto um casal de velhinhos ou às vezes um jovem casal vivendo a chamada “primavera”.

Mas foi durante as férias que eles virarão mais do que amigos, Felix confessou para meu irmão que o amava e meu irmão também confessou o mesmo, eles começaram a rir e passaram o dia inteiro se beijando, mas a noite quando estavam sozinhos no quarto de Felix eles meio que começaram a lutar na cama e meu irmão parecia sempre perder, mesmo que às vezes ele ficasse pulando no quadril de Felix ele sempre voltava a ficar em baixo dele. Vai entender o amor?

Depois de um tempo eles fizeram vestibular, Felix queria ser um engenheiro e construir grandes obras e meu irmão queria ser medico.

Eu e a família de Felix fomos os únicos presentes na sua formatura de ensino médio, meu pai não foi, mas pelo sorriso de meu irmão ele não ligava enquanto Felix estivesse lá.

Então eles começaram a estudar na faculdade e trabalhar em alguns lugares diversos, eles compraram seu primeiro apartamento e todos os dias eles lutavam na cama, eu não sabia por que o meu irmão gostava tanto de perder, mas eu acho que ele amava tanto Felix que ele o deixava ganhar sempre.

Passaram-se alguns anos e eu vi meu irmão crescer e se tornar um grande homem, Felix e ele eram tão perfeitos, eram um casal feliz e altruísta sempre pensando nos outros, eles eram meus heróis.

Mas eu acho que todos os heróis precisam de um vilão.

Então um dia papai foi no apartamento deles e começou a gritar com Lun, ele chamou meu irmão de nomes feios e um estranho “Gay”, depois ele falou que estava indo desligar minhas maquinas porque elas o estavam custando muito, eu não sabia o que aquilo queria dizer, mas abalou muito o meu irmão, lembro-me de ficar com tanta raiva que empurrei meu pai e pela primeira vez desde que deixei o meu corpo, alguém realmente sentiu meu poder.

Meu pai caiu e bateu à cabeça ele ficou bem, mas ele depois pareceu muito assustado e saiu correndo.

E era bom mesmo, eu não sabia como tinha feito mas eu iria tentar fazer de novo se papai machucasse Lun de novo.

Depois disso meu irmão pediu minha transferência para o hospital em que ele trabalhava, assim ele pode manter minhas maquinas ligadas sem a interrupção de nosso pai.

Com essa mudança Lun ficou mais relaxado e pode me visitar com mais frequência, Felix até mesmo o incentivou a ler para mim todo domingo, eu amava ouvir sua voz calma e serena me contando cada historia que ouvíamos quando criança.

E assim o tempo novamente se foi passando novamente.

Nem notei que em dois dias seria o meu aniversario e o de Lun, faríamos 26 anos, então Lun meio que começou a me visitar mais, ele e Felix ficaram comigo sempre que podiam, as enfermeiras que começaram a gostar de sua companhia ao saber de nosso aniversario levaram dois bolos para o meu quarto, um para Lun e outro para mim.

Eles começaram a cantar os parabéns para mim e Lun, ele e eu compartilhávamos os mesmos sorrisos de alegria, porém tinha algo que me faltava, eu queria muito assoprar as velas com meu irmão, então eu ouvi uma voz na minha cabeça.

“Então porque você não tenta?”

Em um piscar de olhos eu estava de volta em meu corpo na hora de assoprar as velas e com vigor me levantei da cama e soprei as velas de meu bolo ao mesmo tempo em que meu irmão.

Primeiro eles ficaram chocado com tudo, mas depois meu irmão veio para cima de mim chorando dizendo que era bom me ter de volta e eu sorrir enquanto o abraça e concordava.

Ambos começamos a chorar, meu irmão colocava beijos ao longo de meu já muito magro rosto e eu fazia o mesmo com ele, depois estendi os meus braços para um Felix muito emocionado fazendo um pedido silencioso para ele se juntar ao momento.

E foi isso que aconteceu.

Eu voltei a viver, somente para estar do lado de meu irmão e o homem que salvou seu tão triste coração.

–Nunca contei para ninguém o que eu vi e vivi, mas acho que hoje foi um bom dia para contar não acham?

Voltei minha atenção a dois pares de olhos iguais.

– Então foi assim que tudo aconteceu titia?

Olhei em volta para ver meu irmão vindo com Felix com uma cesta de piquenique em sua mão e a outra junta a Felix, com um sorriso voltei minha atenção aos meus sobrinhos também gêmeos idênticos iguais a mim e Lun e lhes disse pedindo com o dedo em minha boca.

– Sim, mas é um segredo só nosso.

Era aniversario de casamento de meu irmão e eu estava feliz por ele ter encontrado a felicidade, depois de muito sofrer ele merecia o sorriso que agora estava em seu rosto, meu irmão era amado e para mim era tudo que mais importava.

O tempo ia se passando, mas eu continuava a pensar como uma menina, enquanto era cuidada pelo meu irmão e marido e convivia com meus sobrinhos, frutos da doação de minha barriga e semente de Felix, eu ficava feliz e amava cada segundo disso.

Só ficaria mais feliz se Lun e Felix parassem de lutar sempre que estavam sozinhos.

Fim.


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Notas finais do capítulo

Chorando*



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