HERMIONE

Prestes á completar meus oito meses, e ás vésperas do primeiro aniversário de Rose, fui visitar Gina, pela primeira vez desde que contara a todos que eu estava esperando Hugo, para ajudá-la a preparar a festinha de aniversário de Alvo para o dia seguinte.

Deixei Rose com Rony, após prometer milhões de vezes que ficaria bem, e sair de casa revirando os olhos para meu marido bobão e apaixonado.

Achei que a encontraria correndo atrás de Tiago, com Alvo Severo no colo, mas me surpreendi quando me deparei com a minha cunhada sentada numa poltrona, observando Alvo tentar engatinhar, com uma expressão distraída e tensa.

Hum... mau sinal.

– Bom dia, Potters.

Gina me olhou, sorrindo, mas não pude deixar de notar a apreensão em seu rosto.

– Bom dia, Hermione.

– Tia Mioni! – Tiago surgiu correndo dentro da sala, vindo até mim e me plantando um abraço animado – tava cum saudadi!

– Tiago! – abracei meu sobrinho, sorrindo – como cresceu!

Ele colocou as mãos em minha barriga, maravilhado.

– Pimo Hugo vai vim logo?

Gina fez um barulhinho estranho com a garganta.

– Logo... – murmurei, afagando meu ventre, sonhadora – sim, ele vai vir logo, Tiaguinho – ergui o olhar para Gina, tácita – pode falar.

– Falar o quê? – ela indagou.

– Por favor, garota – desdenhei – alguma coisa está te incomodando. Muito.

Senti o bebê chutar dentro de mim. Ele parecia concordar que a tia estava muito estranha.

Gina se levantou da poltrona, meneando a cabeça para que eu a seguisse, enquanto pegava Alvo do chão. O bebê protestou, obviamente indignado de sair de seu centro de treinamento, ganindo no colo da mãe.

– No aniversário do Alvo... – Gina resmungou – minha nossa...

– O que foi? – insisti, ansiosa. O que havia acontecido?

Ela entrou no banheiro e não me respondeu.

Tiago segurou minha mão, franzindo a testa.

– Mamãe tá estanha.

– Com certeza – concordei, afagando os cabelos dele.

Gina finalmente saiu de dentro do banheiro, segurando algo nas mãos. Ela me inclinou o objeto, e eu o peguei, confusa.

Meu queixo caiu.

– Meu. Deus. – guinchei – ele não..?

– Claro que não! – Gina exclamou – Hermione... ele vai... minha nossa. Ninguém esperava.

Meu estômago se contraiu. Essa não...

Mais um??

Harry ia pirar.

Os meninos iam pirar.

Olhei para Gina, olhando-a surpresa.

– Não faz nem um ano! Estamos terminando de pagar o berçozinho do Alvo! O que vou fazer, Hermione?

– Gina, se acalma! – segurei os ombros dela – vai dar tudo certo! Harry não vai ficar infeliz com isso, mulher...

– Sei que não vai – Gina mordeu o lábio – mas eu tenho medo... de não conseguirmos criá-los... como vamos dar atenção para três filhos, Hermione?

– Vocês vão conseguir – falei, séria – mas você tem que contar para Harry.

Gina assentiu, engolindo em seco.

– Tem razão...

– Fale depois da festa – sugeri – com calma. Garanto que ele vai reagir bem.

– Tudo bem... – Gina parecia um tanto mais calma – bom.. eu ia começar a fazer os brigadeiros... pode me ajudar?

– Claro... – pisquei para ela – de uma grávida para outra, né?

Gina riu.

A tarde passou rapidamente, sem que eu ficasse lembrando minha pobre cunhada de que eu ganharia mais um sobrinho. Ela já devia ter coisa demais na cabeça.

Mas eu estava feliz por ela. Afinal, Tiago saíra a cara do pai. Alvo herdara os olhos do pai. Agora era precisava de um parecido com ela, não era?

Mais um sobrinho... as surpresas nunca acabariam...

A festa de Alvo, no dia seguinte, transcorreu tranquilamente, como eu esperava. As crianças se entupiam de sapos de chocolate e feijõezinhos, enquanto Gina olhava para o marido com uma expressão paranoica. Tentei comunicar por gestos que tudo acabaria bem, mas a mulher estava tão psicótica que nem percebeu.

Fiquei meio sem graça de esperar depois que a festinha acabara para saber o desfecho da conversa entre Gina e Harry, então nós fomos embora.

Mais tarde, uma coruja parda entregou-me uma carta, que dizia mil agradecimentos e que tudo correra bem.

Lembro de ter sorriso, revirando os olhos. Se havia uma coisa que eu sabia sobre Harry Potter, era o fato de que ele nunca iria dar um piti por aquilo. Dito e feito.

Hugo já estava tão grande dentro da minha barriga que me focava a ir ao banheiro quase toda hora.

Rony, por diversão, trouxera um dia um pergaminho com o desenho de uma mulher gestante como era por dentro. Lembro de rirmos muito quando vimos o quanto os órgãos ficavam esmagados ao redor do útero.

– Olha só a bexiga! – comentei, rindo, apontando o desenho.

Rose gesticulou um sorriso quando me viu rir, afagando meu rosto com a mãozinha.

– Tá tudo explicado agora – Rony comentou, também rindo.

– Tipo o quê?

– O fato de você estar comendo feito um canarinho.

– Eu não estou comendo feito um canarinho - teimei.

– Que seja. Uma galinha d’angola então. Ai! – ele fez, rindo, depois que o estapeei.

Rose contraiu-se em meu colo, parecendo zangada. Devia estar de saco cheio das maluquices dos pais.

– Be-gu! Ma-gu!

– Que foi, bebê? – arrulhei, beijando minha filha. Rose fungou, a expressão brava se desmanchando, substituída por um sorriso.

– Ma-gu-mi – ela fez, sorrindo, encostando o rostinho em meu rosto.

Abraçada ao meu bebê, eu sentia a pele suave da minha filha, com cheirinho de talco e colônia. Era o aroma mais gostoso do mundo, e me fazia lembrar, todo dia, do quanto eu mudara. Do que eu era agora. Dos pequenos seres humanos que agora dependiam de mim.

Meu peito doía de tanto amor. Chegava a ser insano e irracional. Eu me perguntava como era fisicamente possível sentir algo assim, de forma tão volátil e imensurável.

Rony me assistia, maravilhado, como se eu fosse o melhor filme do mundo.

– Mãe perfeita – ele sussurrou, beijando meu ombro.

Senti minha garganta apertar, enquanto Rose me encarava, também encantada. O chute vindo de dentro de mim parecia querer reafirmar minha vontade de chorar de alegria.

Mãe.

Uma palavra tão pequena e simples.

Mas que resumia um amor que não podia se descrever em palavras.