Ponto de vista : Scarlett.

Me movi várias e várias vezes na cama,sentindo a maciez do tecido de seda do lençol abraçar meu corpo.Eu estava agitada,talvez por conta do sonho que estava tendo,afundei minha cabeça no travesseiro,bolando mais uma vez para o outro lado.Minha respiração estava descompassada e meu coração batia rápido demais,num ritmo um tanto preocupante.Agarrei o edredom com força,quando várias imagens passaram por minha mente.E mesmo assim permaneci adormecida,num sono profundo,repleto de sonhos,daqueles cheios de remorsos e culpas.Por fim consegui ficar calma,e minha respiração se normalizou.

Mas não por muito tempo,já que segundos depois abri os olhos de forma assustada e me ergui encostando minhas costas na cabeceira da cama.Abracei meus joelhos como uma forma de proteção e em seguida passei a mão por meu rosto,tentando tirar aquela sensação ruim de dentro de mim.Eu sabia do que aquilo se tratava,de culpa ,por estar fazendo isso,por ter aceitado essa proposta.Comecei a encarar o nada,como se fosse encontrar alguma resposta lá,que me tirasse da enrascada que eu me meti.Mas nada,absolutamente nada.

Resolvi que aquele era um bom momento para levantar,por isso encostei meus pés no chão,sentindo a frieza do mesmo e caminhei em direção a enorme varanda do hotel em que eu estava hospedada.Puxei as cortinas e deixei o sol adentrar ao quarto,fechei os olhos momentaneamente aproveitando aquele calorzinho se instalar em minha pele.Mas em seguida suspirei.Voltando meu percurso para o banheiro da suíte.

Observei minha imagem refletida no espelho,várias olheiras por baixo dos olhos,minha pele estava pálida,meus fios ruivos estavam bagunçados,semelhantes a um ninho de passarinho.Resumindo:eu não estava lá essas coisas.Liguei a torneira que emanava água gelada e enchi minhas mãos com uma boa quantidade,molhando meu rosto logo depois,afim de despertar mais rápido,do meu estado de zumbi.Enxuguei meu rosto lentamente,ainda cheia de reflexões banais ,escovei meus dentes de forma preguiçosa, e prendi meus cabelos num coque folgado .

Logo minhas mãos foram de encontro com a maçaneta de uma das gavetas ,da cômoda ao lado da pia ,retirando de lá um frasco completamente cheio de aspirinas .Peguei um comprimido e rapidamente o levei a boca, o engolindo sem a necessidade de consumir água.Me encostei na bancada de mármore e comecei a pensar como hoje o dia seria longo.Depois de várias semanas treinando para fingir ser a neta de Nicolau Donnovan hoje finalmente iria conhecer ele.A farsa iria começar hoje e eu sinceramente não sabia se estava preparada para isso.Nervosismo era uma eufemismo para como eu estava me sentindo.

Várias dúvidas me perseguiam,do tipo e se eu não conseguisse levar o plano a diante? E se eu errasse sobre alguma informação ? e se eu não interpretasse bem o meu papel?

O melhor que eu tinha a fazer era tentar ser o mais convincente possível.Sai do cômodo a qual eu me encontrava e fui novamente para a varanda.Parando para observar as pessoas que estavam na piscina dessa vez.Todos riquinhos metidos,que gastavam fortunas para ficarem aqui.No fim eu não deveria me sentir culpada,pessoas desse tipo não são melhores que eu não é ?...Ah por favor ,eu nem tenho parentesco com esse tal Nicolau e já me sinto no direito de me comparar a essas pessoas.

Dei um pulo ,ao escutar alguém batendo na porta.É eu tinha que me controlar! Pelo que eu pude perceber esse alguém se tratava de uma das funcionárias do hotel.Quando me recuperei do meu susto momentâneo,caminhei até lá e abri,me deparando com uma mulher com no máximo 40 anos.Vestida num uniforme de camareira,carregando consigo uma bandeja.Ergui uma sobrancelha ,encostada na soleira da porta,esperando que ela falasse algo.

—Bom dia ! — ela disse educadamente ,me fazendo sorrir verdadeiramente.Essa era a primeira pessoa que falava de forma sincera comigo desde que eu cheguei aqui e isso me causava uma ótima sensação.

—Bom dia! —respondi de volta.Sentindo uma animação que antes não existia me dominar.Ela pareceu surpresa com meu entusiasmo,talvez pensasse que eu era uma dondoca da espécie dessas que se hospedam aqui e se enganou.Ela olhou para mim um pouco sem graça ,por eu estar a encarando,então eu parei.

—O Senhor Davis pediu que eu trouxesse seu café da manhã—ela disse quebrando o silêncio que eu estava supondo que se iniciaria.Erguendo a bandeja de prata em minha direção.Pedi que ela a colocasse na mesinha que ficava próxima a um sofá perto da varanda e dei espaço para que ela passasse.

—Embry sempre preocupado comigo,isso me parece tão paternal ,parece até alguém decente—murmurei irônica ,para mim mesma, e a mulher a qual eu desconhecia o nome,me encarou confusa.

—Desculpe a senhorita falou alguma coisa ? — ela perguntou prestativa e eu a fitei com um sorriso.

—Não ,nada de importante e a propósito senhorita é formal demais para mim,me chame pelo meu nome ,Scarlett...Ou melhor por Amélia...Quer dizer Amy ...É eu prefiro Amy— falei já entrando no meu papel.A senhora sorriu,por minha trocas de palavras e eu me contagiei rindo também.

—Se me permite dizer senh...Amy...você é engraçada—ela disse como se fosse errado elogiar uma pessoa.

—Engraçada é um termo que eu ouço bastante,acho que é uma das minhas características mais marcantes—falei divertida.Feliz por minha manhã,estar se tornando um pouco agradável.

—É diferente também ,a maioria das pessoas que se hospedam aqui ,não retribuem nem sequer o bom dia— ela explicou,já tendo concluído seu trabalho,relacionado ao que eu pedi.Fiquei comovida por suas palavras ,por isso caminhei em direção ao criado-mudo e peguei minha carteira lá.Tirando da mesma 100 dólares .Entreguei o dinheiro a ela,que negou prontamente.Apesar de reclamar muito do meu emprego como garçonete ,eu havia juntado uma boa grana trabalhando lá e estava a aproveitando agora.

—Eu não posso aceitar é muito dinheiro,nunca recebi uma quantia tão alta,como gorjeta— ela murmurou convicta e eu segurei em suas mãos delicadamente e fiz com que ela segurasse as notas.

—Eu sei como trabalhos como esse funcionam ,um extra sempre ajuda bastante.Por favor aceite,se não me sentirei ofendida .Faça o que quiser com ele.Só aceite—pedi de forma carinhosa e ela sorriu.

—Obrigado...não sei nem como agradecer—ela disse emocionada.

—Tenho certeza que um dia serei recompensada ....como é seu nome ? — indaguei curiosa,com a intensão de complementar minha frase e ela respondeu que se chamava "Lis" — Eu me conformarei com a ideia de que se um dia eu precisar de sua ajuda á terei Lis—expliquei,expondo tudo que eu queria.

—Pode ter certeza que terá...Mas agora eu preciso ir,tenho vários quartos para limpar...Com licença— ela falou enquanto se encaminhava rumo a saída.Lhe enviei mais um sorriso,feliz por ter feito mais uma amiga.Apesar de tudo,de todos os conflitos internos,eu estava gostando da minha nova vida na Califórnia e isso por que eu só estou aqui á algumas semanas.