“Você está convidada para a grandiosa festa da Melissa! Oh my Glob!”

Caroço tinha o envelope no colo e o convite nas mãos. A ideia de voltar para casa lhe parecia horrível. Mamãe sempre ligava, mas ela não falava com seu pai há anos. Cozinhou seu feijão e esquentou o café, mas não jantou. Aquela noite pareceu mais longa.

Na semana seguinte, escovando o cabelo, percebeu que o encontro seria inevitável. Encarando o seu reflexo, deixou os minutos passarem. Escolheu um vestido e exagerou na maquiagem. Lavou o rosto e decidiu ir de cara limpa. Caminhou descalça até o sapo. Sujou os pés, mas não se importou. Ao cruzar o portal, o carro real estava lhe esperando.

O motorista a guiou pelas nuvens, ela podia ver o brilho das estrelas habitando cada casa, em toda parte; sabia que em breve se tornaria a alma deles. Presa em seus pensamentos, não percebeu quando estacionaram. O motorista ficou impaciente e buzinou. Ela desceu do carro e observou a grande faixa que se estendia por toda a fronte do pequeno palacete com os dizeres “Feliz 25, Melissa!”. Lumpy respirou fundo e tocou a campainha. Os sinos badalaram alto, se espalhando por toda a rua, fazendo com que a roxa estremece-se com a possibilidade de algum vizinho vê-la. Ninguém apareceu.

Uma serviçal abriu a porta e a guiou para dentro. Na sala, bebendo vinho, estavam seus pais, os de Melissa e os de Brad. Mamãe a recebeu com muitos beijos e papai saltitou, derramando a bebida no carpete – Bêbado tão cedo? A mulher rosada não parecia feliz com a sua presença, mas mantinha o sorriso no seu rosto duro; o pai não a cumprimentou. Os esverdeados a receberam com carinho, mas sem entusiasmo. Ela não passava de uma coroa.

Depois de uma pequena bagunça, Caroço subiu para o quarto, a música domava todo o terceiro andar. Abriu a porta e não se espantou ao ver que só ela e Brad haviam comparecido. Melissa sempre atraia a atenção para si, mão por qualquer mérito, apenas por ser amiga da princesa. Mas agora, que Lumpy havia partido, não sobrara nenhum fruto para a garota colher. Brad, que antes ficara pelo sexo, agora era pura burocracia.

Melissa dançava animada no meio do aposento, envolta por confetes e serpentinas. O rapaz estava repousando na cama, concentrado em seu cigarro. Caroço escorreu e se sentou numa poltrona Pink, fazendo confete voar. Após um tempo, ela percebeu a presença da amiga o quarto e a puxou para que dançasse com ela. Lumpy dançou até que Melissa se distraísse novamente. A música havia acabado, mas a aniversariante não parava de festejar o silêncio, pulando e mexendo o quadril. Ela jogava papel picado para o alto e ria-se. Era como se não houvesse mundo ao redor.

Lumpy estava envolta no abraço de Brad, que se mantinha calado. Eles dividiam uma garrafa de vodka e as sandálias estavam esquecidas em algum lugar de baixo da cama. O esverdeado não mudou a expressão durante toda a noite, e esta parecia indecifrável. Não respondi aos toques de Caroço, ele apenas existia. A princesa se cansou daquela cena e caminhou até a varanda. Assistiu a rua quieta e depois o horizonte. Percebeu que todas aquelas centenas de casas que repousavam sobre as nuvens seriam sua responsabilidade em breve, e ficou com medo. Deixou-se chorar um pouco e, secando as lágrimas, beijou o rosto de Melissa e apagou o cigarro de Brad. Despediu-se dos pais e voltou para o portal. Não conseguiu dormir aquela noite, sabia que as espadas estavam se aproximando rapidamente.