Brad não era o único que visitava Princesa Caroço. Batidas na porta e ela atendeu sorridente. Deu passagem e o senhor de negro entrou, se sentando no sofá e cruzando as pernas.

– Senhor Abadeer, o senhor novamente?

– Já disse, pode me chamar de ‘você’.

– Não desaprendi etiqueta, senhor.

– Pelo menos me chame de ‘Hunson’.

– Certo, Hunson. Aceita algo para beber?

– Acho que você não tem sangue fresco, então aceito um café, bem forte.

– Claro.

Lumpy foi para a cozinha, preparar o café, e o senhor da Noitosfera continuava sentado, balançando a perna e assistindo seus movimentos. A princesa apareceu após algum tempo, trazendo consigo uma bandeja com bule e xícaras.

– Trouxe mais açúcar, caso o senhor deseje.

– Obrigado.

Hunson se serviu; achou que precisava de mais açúcar, mas não quis ser rude. Sua estadia se prolongou por horas. A xícara vazia repousava no colo de Caroço, que olhava para baixo. A expressão do senhor demoníaco se metamorfoseava; sua boca adquiria formato lupino e, aberta, deixava seus dentes pontiagudos a mostra. Seu olhar era profundo e escuro, como se tivesse um buraco negro dentro da cabeça. Sua respiração era pesada e lenta, o tempo parecia passar de vagar. Quando o Sol começou a sumir no horizonte, Lumpy disse que precisava ficar a sós.

– Claro. Posso voltar algum dia desses?

– Fique a vontade – A princesa, apesar de se assustar com o comportamento bizarro do velho demônio, apreciava sua companhia.

Ao chegar ao seu palácio na Noitosfera, Hunson tirou os sapatos e se sentou no parapeito de uma janela alta. Marceline anunciou sua presença discreta. A garota não gostava de voltar para casa, mas estava preocupada com o comportamento estranho do pai.

– Isso não é saudável – Disse a vampira, passando a mão fria pelo pescoço do velho demônio – Você está obcecado.

– Deixe eu te contar uma história. A 15 milhões de anos nascia a primeira estrela no céu. Ela brilhava faca, mas não desistia de existir. Ela permanece lá até hoje. Da poeira da primeira estrela nasceu o primeiro caroço, e muitos outros vieram depois, criando sua própria dimensão e vida. Nunca, na história dos encaroçados, um deles aprendeu o significado do amor, até hoje. Essa garota é especial, e eu quero chegar ao fundo disso.

Marceline beijou o rosto do pai e, desaparecendo no vento, sumiu nas chamas que estalavam no chão e no ar. Hunson continuou observando a cidade, assistindo a vida dos demônios mortais. Um sorriso sádico permaneceu em seu rosto por muito tempo.