Nem sei por que fiquei tão chocada, era óbvio que Quione as mandaria para me matar, mas saber que eu seria morta pelas mesmas criaturas que mataram meu pai me enchia de ódio.

– Sabe que é verdade - continuou Sam - Não vai conseguir enfrentar uma dracaena, as memórias vão voltar e... bem, você vai travar.

– Eu sei...

Disse levando a mão ao meu colar; há muito tempo havia aprendido a prender minhas memórias tal qual os meus sentimentos nele e isso foi a única coisa que me evitou de enlouquecer.

– Entende agora? - Perguntou Clarice. - Precisa de nós.

– Porque não me contaram?

– Heather, nós não queríamos te assustar a toa. Afinal, o destino sempre muda. Mas depois de um tempo, a Sam me falou que todas as visões que Ácqua mandava, terminavam assim.

Eu me sentei no grande sofá de canto com os olhares de todos sobre mim, eu precisava de um plano, e com urgência.

– Não podemos voltar agora - continuou Clarice - A barreira logo vai cair e é claro que vão vir milhares de monstros te atacar e...

– O QUÊ? – gritei, assustando Clarice - Como assim a barreira vai cair?! Eles não podem ter recuperado os poderes tão rapidamente...! Eles se esgotaram para prender Gaia no sono que a lançaram.

– Eu sei, mas... os ventos estão em alvoroço, Heather. É difícil escutar aqui, mas mesmo assim... eles dizem que o Olimpo se ergueu e agora está mais forte do nunca.

– Como assim mais forte?

Virei-me para Carol que se manteve quieta até então.

– Depois daquele alvoroço todo na Grécia, as velhas lendas voltaram a ser contadas, e quanto mais gente acredita neles...

– Mais fortes eles são - Completou.

– Eu não acredito em vocês! - Gritou Clarice para o nada fazendo todos rirem - Eu não acredito em deuses!

– Deuses gregos, Clarice - Corrigiu Sam - Quer que Ário arranque sua cabeça?

– Bom, voltando ao assunto - disse Pedro. - Qual é o plano?

No meio de tanta confusão eu ainda não tinha pensado em nada.

– Isso é meio óbvio, a gente fica aqui e protege a Heather.

– Proteção... - Disse enquanto uma ideia passava pela minha cabeça - Isso! Eu preciso de proteção! Mas não posso pedir que fiquem. É muito arriscado.

– E o que você tem em mente Heather? – Pedro pergunta, visivelmente preocupado.

– É só uma ideia maluca, mas que pode dar muito certo.

Olhei para todos na sala, me surpreendendo pela Clarice não ter contestado até notar que ela não estava mais ali.

– Clarice! - Gritei em direção ao barulho vindo da cozinha - Larga meu pote de Nutella!

– Eu vou matar quem me dedou - disse ela muito contrariada ao voltar para a sala - Pedro foi você, né? Seu filho de uma vaca!

–Se eu sou filho de uma vaca você também é, sua anta.

– Claro que não... Droga!

– Às vezes eu não sei se você realmente é a irmã mais velha dessa história, Clarice - Digo rindo - E ninguém me contou. Só que da próxima vez que quiser ser furtiva tente não parecer com um rinoceronte de patins.