O loiro bocejou enquanto olhava as horas na tela de seu celular, 1:23 da manhã, desligou a tv e se levantou do sofá onde esteve sentado nas últimas duas horas. Não estava assim com tanto sono, mas era melhor ir dormir já que teria que levantar cedo para ir trabalhar. Apagou as lâmpadas da cozinha e da sala, também fechando as janelas das mesmas, e foi para o quarto, não demorando nem quinze minutos para se preparar para dormir. Fechou a janela, mas não as cortinas como sempre fazia, então se dirigiu ao armário e de lá do fundo retirou um grande objeto envolto em um lençol escuro, logo levando-o até a cama e retirando o pano, que foi embolado de qualquer jeito e posto no pé da cama, para logo em seguida deitar-se embaixo das cobertas abraçado ao grande ursinho de pelúcia verde-água recém-liberto de seu “casulo”. Não demorou para que ele adormecesse.

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Um ursinho de pelúcia, Shizu-chan?! Sério mesmo?! – pensava o informante, bastante empolgado com a nova descoberta sobre o seu querido monstro.

Izaya estava há horas empoleirado no telhado do prédio em frente ao de Shizuo, observando atentamente cada pequeno detalhe da rotina do loiro, algo que acontecia com bastante freqüência inclusive. Tudo lhe parecia bastante normal até – entediante – pelo menos até Shizuo fechar a janela do quarto e se esquecer de puxar as cortinas, dando uma clara visão do que acontecia no cômodo e surpreendendo mais uma vez o moreno ao se agarrar a um ursinho de pelúcia para dormir. Shizu-chan é mesmo imprevisível! – pensou, dando-se por satisfeito com o que havia descoberto e voltando para Shinjuku, o caminho todo pensando em como usaria aquela valiosíssima informação.

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Uma semana se passou desde a fatídica descoberta e Izaya voltava todas as noites para aquele telhado com vista privilegiada para o apartamento de Shizuo, e sempre presenciava aquela mesma cena: o loiro fechando a janela sem puxar as cortinas para em seguida pegar o ursinho no fundo do armário e dormir abraçado com ele. Já estava ficando incomodado com aquilo. Shizuo não simplesmente abraçava o ursinho, ele o envolvia de forma um tanto carinhosa entre os braços e então inalava profundamente o seu cheiro antes de quase instantaneamente cair no sono; mas isso não era tudo, o guarda-costas, em momento algum soltava o urso, permanecendo agarrado a ele até acordar pela manhã.

O que diabos tinha naquele maldito urso para Shizuo não querer soltá-lo? Ou mesmo o porquê de ele abraçá-lo de forma tão carinhosa? E ele ainda por cima o cheirava. Shizuo por acaso tinha alguma tara por ursos de pelúcia? E por que raios aquilo o estava incomodando tanto? Ele devia estar pensando em uma forma de humilhar o loiro com aquilo e não ficar inquieto por causa dos fetiches estranhos de um monstro!

Mas mesmo sabendo que não tinha um motivo válido pra isso, Izaya sabia que não iria sossegar enquanto não descobrisse o que aquele urso tinha de mais, o que uma simples pelúcia tinha de tão interessante para prender tão profundamente a atenção de Shizuo. Estava com ciúmes. Com ciúmes de um maldito urso de pelúcia! Era ridículo, ele sabia, ter aquele sentimento por seu maior inimigo era indiscutivelmente ridículo. Talvez Simon tivesse razão quando dizia que ele tinha algum complexo com Shizuo, quem sabe... mas não pensaria nisso agora, primeiro tinha que conferir o que de tão especial tinha em seu mais novo rival.

Izaya conferiu as horas no relógio, constatando que ainda teria algumas horas antes de Shizuo chegar do trabalho. Escalou rapidamente a escadaria de emergência na lateral do prédio até chegar ao apartamento do loiro, arrombando com extrema facilidade a janela da sala e entrando por ela, tomando o cuidado de fechá-la novamente em seguida. Seguiu até o quarto do loiro e foi diretamente onde sabia ser o esconderijo do urso, pegando-o e analisando-o minuciosamente, tentando encontrar algo, qualquer coisa que fosse que explicasse o comportamento de Shizuo com ele. Nada. Aquele ursinho não tinha absolutamente nada de especial, e Izaya sabia, havia se informado claro, que o próprio loiro o havia comprado, ou seja, não era presente de ninguém, portanto, não tinha qualquer valor afetivo. Notou apenas um perfume, já bem fraco no urso, um cheiro bastante familiar inclusive, mas não conseguia se lembrar ao certo. Talvez seja o perfume de alguém... Alguém que ele goste.

– Droga de urso! – resmungou irritado e enciumado com aquela possibilidade, acabando por arremessar o pobre bichinho pela janela que estava aberta. Deitou-se de costas na cama, onde até então se encontrava sentado, tentando se acalmar e por os pensamentos em ordem, mas antes que sequer se desse conta, adormeceu.

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Já era quase meia-noite quando Shizuo chegou em casa, completamente exausto, diga-se de passagem. A única coisa que queria no momento era se jogar na cama e dormir, e era exatamente isso o que faria. Deixou os sapatos na entrada e começou ali mesmo a desatar o nó da gravata e a abrir os botões do colete, chegando no quarto já sem os dois e se deparando com uma cena que definitivamente não esperava: Izaya estava ali, adormecido em sua cama. Ficou parado na porta do quarto por uns cinco minutos, tentando entender como exatamente aquilo havia acontecido, mas não conseguiu achar nenhuma resposta lógica. Uma brisa suave que entrava pela janela acabou por chamar-lhe a atenção, e ao se aproximar dela notou o seu urso de pelúcia jogado lá embaixo, caído exatamente onde havia uma caçamba de lixo. Seu ursinho já era. Suspirou um pouco pesaroso antes de fechar a janela e se aproximar da cama, não estava assim tão mal pela perda do urso com o qual dormira abraçado nos últimos dias, afinal, o único motivo para tê-lo comprado era por que tinha o cheiro de Izaya nele, havia conseguido acertar o informante em uma de suas típicas perseguições, fazendo-o cair contra a vitrine de uma loja de brinquedos, precisamente sobre aquele determinado urso ao qual havia sido impregnado pelo perfume de Izaya. Era ridículo, ele sabia. Gostar justamente de seu maior inimigo era definitivamente ridículo, mas o que ele poderia fazer a respeito?

De qualquer forma, o que ele queria fazer agora era dormir, e era isso o que faria. Não se incomodou em trocar de roupa, apenas deitou-se ao lado do informante e abraçou-o, envolvendo-o carinhosamente em seus braços, antes de beijar-lhe brevemente a testa e inalar profundamente aquele cheiro tão gostoso que ele tinha. Seu novo ursinho de pelúcia.

Fim.