O Gato e o Corvo escrita por Shin Damian


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Pov Cheshire



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... “Como muitas coisas não mudaram desde aquilo,

Estou convencido, definitivamente,

Que não posso continuar o mesmo pra sempre.”...

.:.

... ... ... Cheshire... ... ...

.:.

Nem tudo é tão fácil quanto ele imagina. Acha que simplesmente é aparecer com um sorriso e me “salvar” que eu vou correr direto pros braços... Talvez seja sim. Talvez seja assim, porque foi o que fiz com ele. Não precisou de muito para que eu lembrasse exatamente como era com ele, porque ainda havia muito a ser dito. Muito de outras vidas a ser falado.

Abri meu sorriso típico, algo que mostrava claramente que iria aprontar alguma coisa, que já o havia feito e ele estreitou os olhos. A surplice aperta, o peito também, mas esse é um sentimento a parte, porque eu ainda tinha raiva dele.

Desci de seu colo e o observei de longe, observando o céu vermelho do submundo. Aqui nunca é dia ou noite, nunca é quente ou frio é tudo ao mesmo tempo e toda hora. Fui até a “porta” da pequena casa do corvo e olhei bem para o chão... Ficava alto demais, longe demais pra descer e subir sem asas. E foi que entendi. Não era pra subir ou descer. Apenas permanecer.

— Você me abraça assim, sem explicação e vai saindo? O que há, Ches? – perguntou calmo e de um jeito quase ameaçador. Dei de ombros, não tinha medo daquele espectro. Quem teria? Era só o Edward fazendo mais uma das suas. – Cheshire?

— Nya! O que é?! Eu não sou surdo. – provavelmente quando virei fiz um bico, porque toda a forma rude de seu rosto se desfez e começou a sorrir. – O que foi, hein?

— Nada. – afagou-me os cabelos. – Você ia me contar alguma coisa, não é? O que era?

Não falei nada, lembrando-me daquele dia. Éramos tão preocupados em nos irritar e prosseguir com a guerra, que nem sequer tínhamos tempo pra nós mesmos. Lembro-me que aquele rosário do Asmita de Virgem começou a contagem com a morte das tropas de Edward e eu sequer pude fazer as coisas. Senti o perigo próximo, mas era tarde demais.

Às vezes eu me pergunto porque não morri naquela época e tive que vagar como humano quando tudo terminou. Talvez porque eu nunca entendo o motivo de nascer assim, pra ser espectro. Não entendo porque talvez não seja mesmo pra entender.

Fui novamente até a cama do espectro e sentei-me. Tinha mesmo algo a dizer antes que morresse e talvez, de todas, aquela foi a maior perda que tive. Movia as pernas nervosamente, tentando achar as palavras pra contar, mas senti aquelas mãos em meu rosto, apertando minhas bochechas.

— Nyah pah! Pare com isso! – tentei arrancá-lo de perto, mas é impossível. – Você se acha demais, hein?

— É porque eu sou o líder da minha tropa. O mais forte deles. – fizera uma pose que me fez rir. – O que é? Está rindo de que?

— Da sua cara. Nem sei como consigo gostar de você. - realmente a cara dele era engraçada, mas o que eu falei não. Parei de rir quando o vi erguer uma sobrancelha e percebi que viria um ataque.

Abri um sorriso provocador e usei Hide and Seek, ficando parcialmente invisível. Fechei os olhos e pulei pra porta da casa, saindo e descendo as pedras com pressa. Sabia que algo iria acontecer e logo o vi sobrevoando bem perto, em um voo rasante.

Correr? Não, eu não sou de correr, mas me transformar em fumaça pra fugir de qualquer perseguição ou qualquer coisa que leva atrito. Quando o chão chegou à horizontal de novo, saltei sobre o corpo do Sylph e corri em direção ao “nada” que beirava ao Cocytus. Era divertido brincar desse jeito com meu até então, amigo, mas sentia que ele queria arrancar as informações de qualquer jeito.

Só fui parar mesmo quando senti o vento frio em meu rosto e o cosmo intenso do “guardião do gelo”. Vi a sombra ao longe de Valentine de Harpia e senti um cosmo superior voando sobre o mesmo. Tornei-me visível e sentei para observar o Kyoto de Wyvern, Radamanthys em sua ronda pelo território.

Encolhi-me como de costume e me arrepiei. Senti as mãos de Edward em meu pescoço e quase dei um pulo.

— Hey! Calma! Não estávamos brincando? – falou em um tom preocupado. – O que foi?

— Vamos sair daqui. – tentei puxá-lo. – Vem, o Radacelha-sama está se aproximando com aquele outro a galinha o...

— Valentine de Harpia?

— Isso, vem! Eu tenho medo deles. – tentava puxá-lo, mas como sempre, Ed tem suas próprias vontades e ignora quase tudo o que falo, mesmo que fosse perigoso. – Ed! Vem logo, eles estão aproximando. – Mesmo que eu ficasse na ponta dos pés pra pegar impulso, era difícil arrastar um cara com quase o dobro do seu tamanho. – Desisto. – suspirei cansado, mas ainda observava os olhos dele no voo do Kyoto.

Foi então que entendi. Entendi que aquela era a vontade dele, de poder voar por aí como o Kyoto de Wyvern e o sub general de Harpia, afinal, Edward é a Estrela Terrestre do Voo, nada mais justo que ele também possa voar, mas então...

Era o que ainda não consegui saber e aprender... Porque eu posso caminhar por aí com livre acesso a tudo enquanto ele só sai de seus domínios quando é chamado, quando precisam dele.

Desci meus dedos até os dele e passe a observar também. Tombei a cabeça pra ver o voo também do menor e aquilo foi me distraindo... A ponto de nem mesmo perceber que eles estavam mais perto e quando dei por mim, fui puxado por meu amigo.

— Nya! O que foi? – meu tom saiu um pouco mais baixo por conta do solavanco. Fui jogado no ombro do moreno, enquanto o mesmo levantava um voo mais baixo. Provavelmente queria que chegássemos até sua casa.

— Quieto Ches. – comentou enquanto eu me ajeitava em suas costas. O cheiro doce tomou conta do ambiente e senti um arrepio ao lembrar o que era aquilo.

— Sweet Chocolate! – puxei os cabelos do moreno e ouvi um palavrão. – Ah! Que feio, Edward! – uma pontada do cosmo agressivo do Kyoto me veio pela espinha e tocou direto em meus músculos. Tudo em fração de segundos. – Ed, você tem que ir mais rápido, ou eles vão nos matar!

— Entendi. Esse Sweet Chocolate é o que?

— É um dos golpes da Harpia da última guerra, eu o vi querer matar a Lady Pandora com esse golpe mas o Radamanthys o matou antes. – meu tom era agoniado. Não gostava de ver os espectros morrerem na minha frente e aquela morte foi algo desleal, até mesmo pra alguém como eu. – Vamos...

E ainda assim, ele me levava pra casa. A minha. Voava alto, dando pra ver o mesclado entre preto e vermelho, do céu, que formava um roxo escuro em algumas partes. Não é de todo ruim ficar no submundo sob esse céu turvo e isento de estrelas.

... ... ... ... ...

Meus aposentos são bem rentes ao castelo de Heinstein, na parte das masmorras e dois ou três andares acima do cômodo de Zelos de Sapo, o irritante “caseiro” do castelo em si. Quando Sylph pousou em meio a fumaça tóxica e verde desse lugar, eu já estava um pouco cansado, mas ainda havia algo a ser feito. Algo que provavelmente o deixaria muito feliz.

— Pronto, Cheshire de Cait Sidhe. Está entregue. – afagou-me os cabelos enquanto bocejei e cocei um dos olhos. – Sono agora, é?

— Nyah! Estaria de dia lá em cima, sabia? Gatos dormem o tempo todo. – segurei a mão dele. – Você é chato, Edward. Deve ser falta de sono. – tentei puxá-lo. – Eu estou cansado demais pra te puxar, Edward, por que não entra logo? – muito cansado, mas ainda teria que mostrar uma coisa, seria tão mais fácil se ele me seguisse e sem fazer tantas perguntas, mas... Esse corvo é desconfiado.

— Porque não é necessário. E cansado? Cansado de que? Dormir? – riu de um jeito que me fez encará-lo sério e o vi perder a graça. – Eu sei, eu sei, você sentiu o cosmo e as intenções de todos os espectros até chegarmos aqui. – revirou os olhos. – Por que quer que eu entre?

— Porque sim! Para de perguntar, parece eu! – sua expressão se amenizou novamente e confirmou com a cabeça.


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