Não podia negar que Armin era um cara legal,mas não conseguia me lembrar de nada que era dito. A maior parte das vezes me sentia culpada por não saber de nada,mas era questão de segundos pro garoto agarrar minha mão e falar que está tudo bem e nada de ruim vai acontecer. Queria de verdade acreditar nessas palavras,mas machucava demais não saber nada sobre si própria. Era como olhar no espelho e não ver nada. Estava tão assustada.

No caminho para casa reencontramos o Alexy,ele se ofereceu para me ajudar com as malas e eu não estava em condições de negar nada. Os dois sabiam mais de mim do que eu mesma poderia saber. O caminho não foi quieto já que os gêmeos conversavam o tempo todo sobre coisas que já havíamos feito,tinha parado de prestar atenção por causa de um pequeno fragmento que tomou conta da minha mente que na mesma hora me fez largar a mão de Armin.

Um garoto de cabelos avermelhados estava parado a minha frente,não conseguia ver seu rosto porque a neblina que cobria minhas memorias ainda era bem densa. Em sua face havia uma expressão seria. O mesmo abriu a boca para falar e disse apenas uma unica frase,que foi o bastante para ficar ecoando para sempre na minha mente.

''Eu matei um cara...Agnes...''

–Agnes?-chamava Armin me sacudindo de leve.-Acorde! Ainda está ai?

–Hã?

–Bem-vinda de volta.-brincava Alexy.-Você tava com a mesma cara de besta que meu irmão faz quando se perder nos pensamentos dele.

–Hein!

–É uma grande verdade.

Podia contar para eles sobre o que tinha visto,mas nas memorias parecia que o garoto de cabelo avermelhado confiava em mim para guardar esse segredo. Não podia simplesmente conta-lo e nem sabia se era verdade ou apenas uma peça que minha própria mente está me pregando. Tudo bem que esse é o tipo de segredo que sufoca as pessoas,mas não podia abri a boca,de jeito nenhum. Tinha que falar com esse garoto de cabelos vermelhos para tentar descobri se é verdade ou não.

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Os dias passaram rápido e logo nossa viagem chegou. Rosa tinha mandando todos encontrarem ela e seu namorado no parque antes das seis da manhã,já que ela não queria chegar no lago no fim da tarde e perder um dia. Não conseguia entender pra que tanta euforia com uma coisa desse gênero,na minha opinião não tinha nada de divertido,mas Alexy já havia me advertido para não contrariar Rosa porque ela não gostava muito disso. Por mim estava tudo bem.

Coloquei o despertador para tocar as cinco horas e quando o escutei quase desisti de tudo aquilo apenas para dormir um pouco mais. Do lado de fora uma chuva persistente não parava de cair,um vento frio e forte batia contra a janela do quarto criando alguns uivos. Tudo ainda era escuridão e o frio era simplesmente insuportável. Todavia,a garota de cabelos brancos me ligou inúmeras vezes,não parou até que finalmente atendesse o telefone.

–Alo? -falava em um tom baixo e sonolento.

–Não acredito que ainda está dormindo! Trate agora mesmo de se levantar e se arrumar! Não vou esperar ninguém! Vou passar pra buscar vocês as 6 em PONTO! Nenhum minuto a mais e nenhum minuto a menos! -Ela falava de uma forma rápida e logo desligou o telefone me deixando sozinha com o telefone mudo. Queria falar que tinha mudado de ideia,mas talvez o melhor fosse essa viagem,todas as pessoas que me conhecem estarão no mesmo lugar. Será a oportunidade perfeita para tentar lembra-me de alguma coisa que aconteceu no meu passado. Claro que estou apavorada,mas tenho que aguentar isso.

Levantei com um pouco de dificuldade por causa do frio,fiquei enrolada no coberto,me arrastando pela casa em direção ao banheiro. Liguei a água quente e deixei o vapor tomar conta do comodo para finalmente tirar minhas roupas e encarar aquele banho pela manha.

A água estava praticamente escaldante,mas não sentia nenhuma irritação. Pelo visto minha pele já tinha se acostumado com banhos a essa temperatura. Passei a maior parte do tempo apenas parada olhando pro nada deixando a água cair em minha cabeça e escorrer pelo meu corpo. Meu longo cabelo loiro estava praticamente escondendo meu rosto por completo. Acho que fiquei uns dez minutos apenas olhando pro nada e sentido a água quente bater em minha pele,isso até me lembrar de Rosa e apressar meu banho.

Não sequei o cabelo e não fiz nada,apenas peguei minha mala. Coloquei uma velha calça jeans,uma blusa sem mangas vermelha e por cima um casaco listrado de preto e branco,suas mangas ficaram um pouco compridas,mas aquilo ajudava a esquentar minhas mãos. Calcei uma bota preta e sai de casa correndo sem olhar o relógio,não me atrevia a fazer isso e ter a certeza de que estava atrasada e receber um bronca de Rosa.

A chuva ainda caia,agora de uma forma bem mais intensa,o vento também estava mais intenso e fazia as árvores dançarem como se fossem seres vivos. As ruas estavam completamente vazias e escuras. As luzes dos postes não eram o suficiente para iluminar com perfeição e por esse motivo dava passos largos e andava o mais rápido que conseguia,estava praticamente correndo. Só parei quando finalmente cheguei a entrada do parque. Os grandes portões metálicos estavam trancados. E não tinha mais ninguém ali...Puxei meu celular do bolso da calça e acendi a tela.

5:27

–Podia jurar que tinha demorado bem mais que isso...-resmungava enquanto desligava o celular e procurava um lugar seguro para ficar.

–Agnes? -escutei uma voz masculina me chamando. -Também chegou cedo demais.

Me virei e deparei com um garoto de cabelos dourados e olhos da mesma cor. Em sua mão esquerda havia um guarda-chuva preto e na outra mão sua mochila.

–Venha logo aqui! Não pode ficar na chuva! -chamava o garoto se aproximando mais de mim e me cobrindo. -Achei que só eu chegaria tão ce...-o garoto se interrompeu enquanto me observava. -Pelo amor de Deus,Agnes. Você está encharcada e ainda veio com o cabelo molhado,qual seu plano? Ficar doente e estragar essa viagem?

–D-desculpe...-dizia em um tom baixo.

–Está tudo bem. -respondia o garoto sorrido e me puxando para mais perto de si.

O mesmo usava uma blusa de manga comprida e gola preta. Por cima um casaco da mesma cor. Sua calça era jeans e estava um pouco molhada. Alexy já havia comentado algo sobre um garoto loiro...Nathaniel,eu acho. Estava perto demais dele e podia sentir se perfume,era bem suave e doce. Tinha um cheiro agradável e fraco.

–Vamos naquela lanchonete. Já está aberta. Podemos tomar algo quente. Teremos uma visão boa da entrada do parque,dai quando os outros chegarem ficamos reunidos lá dentro. -dizia Nathaniel sorrindo e andando na direção da lanchonete me puxando de leve.

Sua mão estava fria,parecia até um cadáver. A parte do meu braço que o loiro tocou se arrepiou por completo e ele acabou por perceber.

–Sinto muito,Agnes. -dizia o garoto me soltando e sorrindo de canto.

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O tempo passou meio devagar. O loiro e eu sentamos em uma mesa ao lado da janela para podemos vigiar a movimentação ao lado de fora. Conversamos um pouco sobre algumas coisas,não sabia ao certo como conversar com ele e por isso me retive apenas a frases curtas e frias,infelizmente Nathaniel percebeu.

–Qual o seu problema?-perguntou o garoto contorcendo o rosto em uma careta. -Ainda está chateada? Não sei o por que? Você que foi a causadora de tudo aquilo,eu que deveria estar bravo!

–O que? Não...Eu só...-não sabia como mentir,Alexy havia disso que era péssima mentirosa agora,que ficava na cara quando escondia algo. -Não estou me sentido bem...

–O que você tem?-a expressão facial e corporal do garoto mudou completamente,ele estava realmente preocupado agora.

–Eu...-Estava prestes a contar para ele,mas fui interrompida por uma voz masculina e senti alguém se apoiando em mim.

–Bom dia representante. -o tom do garoto era de deboche,ainda não tinha conseguido ver quem era. -Hey Agnes.

Tirei a mão da pessoa do meu ombro e virei um pouco para ver quem era o dono da voz,acho que não consegui disfarçar minha cara de panico já que o garoto arque-o uma sobrancelha tocou minha testa perguntando se estava me sentido bem. A unica coisa que consegui fazer foi me afastar um pouco e balançar a cabeça para tentar afastar aquele fragmento da minha memoria.

O garoto de cabelos avermelhados e olhos cinzentos sentou ao meu lado e continuou perguntando se estava tudo bem,não estava! Estava apavorada! Aquelas palavras ainda ecoavam pela minha cabeça. ''Eu matei um cara...''. Como poderia estar bem?

–Agnes está estanha desde que encontrei ela. Estava me dizendo o que tinha.-contava Nathaniel.-Até que você chegou.

Podia perceber um clima um pouco mais tenso com a chegada do garoto de cabelos avermelhados. Estava desejando que Armin chegasse logo ali. Precisava de alguém conhecido.