Outra História Sobre Nós escrita por Frozen Heart


Capítulo 3
Cap. 2 - 6AM




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/589740/chapter/3

O relógio despertou mais uma vez, as cinco pras seis da manhã até que estava animada pra sair de casa, meu novo emprego de jovem aprendiz ordenado pela minha psicóloga, porque segundo minha mãe eu estava andando com “pessoas erradas” porque minha mente estava desocupada, e como eu nunca a contrariava devido a ela ser minha mãe eu estava indo para os dez dias para aprender a ser jovem aprendiz.

Odiava o começo de abril pelo devido fato de que a chuva fina me deixava irritada, na verdade um nunca me entendi bem, quando era mais nova abril era o meu mês favorito, e agora era o que mais me irritava. Não sei se era o fato de que todo esse tempo em que me enturmei com Danillo e o Gustavo. Eu comecei a odiar tudo o que eu gostava.

O irritante despertador novamente resolveu zoar da minha cara me informado que eu começaria a batalhar pelo meu dinheiro, e eu não ligava nem um pouco, estava louca pra sair de casa e conseguir grana para comprar livros. Ninguém acreditava que esse seria com o que eu gastaria meu dinheiro.

Joguei as cobertas para o lado e senti uma onda de excitação percorrer minhas veias, na semana passada eu e minha mãe tínhamos assinados os papéis para minha contratação. Todas as pessoas ficaram impressionadas pela minha inteligência para a pouca idade, mas a realidade eu era uma farsa ambulante. Todas as vezes que tentava ser inteligente, eu me via presa em correntes fantasiosas.

Peguei o uniforme cinza e coloquei sobre a cama a calça jeans e blusa preta de frio completaria meu visual, tomei um banho rápido. Eu tinha exatamente uns quinze minutos para estar no ponto de ônibus como minha mãe queria. Eu deveria pegar o ônibus e ir trabalhar sem a ajuda de ninguém e eu pouco me importava, estava amando esse especo que estava ganhando da minha família. Ficaria longe o suficiente pra não me odiar.

Chequei o relógio mais uma vez e quase tive um ataque do coração quando em cinco minutos o ônibus passaria no ponto. Vesti a roupa tão rápido quanto um flash, calcei os tênis, peguei minha mochila e corri pra fora de casa. Já que a mesma parecia que estava inabitada, e nem queria saber. Corri pela rua deserta por algum tempo até que consegui ouvi o barulho alto do motor do ônibus lotado. Ao entrar algumas olharam pra mim e eu já sabia o porquê, e odiava ser conhecida por isso.

Fiz o que faço de melhor me escondi colocando o fone no ouvido e ligando uma música de um filme que eu havia assistido na casa do Danillo no começo do ano. O caminho passava pelos meus olhos e eu não estava prestando a atenção, eu ficava pensando e pensando em todos os meus anos de escola, quanto eles haviam sido de merda. A esquisita. Eu poderia ter aguentado isso por tanto tempo que me perdi em mim mesma.

E ninguém em minha consciência gostava de mim, era tipicamente um zero a esquerda, eu também não fazia nada pra melhorar minha convivência com ninguém, a minha política de aprender a me proteger tinha me afastado de todo mundo. Devido a esse problema eu perdi minha amiga para o meu orgulho, no ultimo ano do colégio, era cega por ter lealdade e perdi quem era leal a mim. O ônibus chegou ao terminal, eu desci e caminhei junto com outras pessoas para a fila do próximo ônibus. O primeiro saiu transbordando. Esperei até que um deu para que eu entrasse.

Segurei firme no ferro mais próximo, enquanto o ônibus fazia a curva. Senti meu celular vibrar, coloquei a senha de bloqueio e havia uma mensagem no Whatsapp, puxei a barra de status e a mensagem era de um ficante que uma das minhas amigas tinha nos apresentado dias atrás.

J.P o nome dos meus contatos sempre ficavam apenas com as iniciais, para facilitar minha vida:

J.P – Bom dia. Td bm com vc?

Eu – Bom dia! Tudo esta como tem que estar.

J.P – Hm, mau-humor... Que tal eu beijar essa sua boca pra passar, linda.

Eu – Fala onde e vou estar ai.

J.P – Gata, onde vc qiser.

Passei o endereço do curso, e fiquei quieta, olhando distraidamente para fora da janela do ônibus, estava passando algumas lojas que se preparam para abrir as 8AM, e eu não sabia o que fazer da minha vida, como sempre era apenas um buraco negro sem fim. Fiquei quase quarenta minutos dentro do ônibus, enfim chegou onde eu deveria descer.

Pelo GPS do celular eu deveria fazer uma caminhada de no mínimo quinze minutos, e pelo meu relógio eu só tinha dez, isso dificultou um pouco as coisa, comecei com uma corridinha básica, quando no meio do caminho J.P passou com o carro ao meu lado, me deu carona.

– Bom dia, gatinha! – a voz dele era de um vagabundo sujo que não tinha só segundas intenções em sua mente.

– Bom dia... – fiz cara de desinteresse.

Chegamos há poucos minutos no meu “curso preparatório” para ser uma adolescente responsável e advinha não tava preparada nenhum pouco com isso. Eu podia sentir em minhas veias que isso mudaria o rumo da minha vida por um longo prazo de tempo, e eu como era uma ótima jogadora da vida estava aguardando pelas mudanças que eu provavelmente odiaria, mas aceitaria como razão e simplicidade.

– Tá aí?! Chegamos! – olhei o relógio e ainda tinha cinco minutos.

Olhei para ele e o beijei rápido, era como o Danillo dizia, se uma coisa é ruim faça-a rápido para que passe rápido. Ele segurou minha cabeça para que eu não me livrasse dele tão rápido e continuou me beijando, ele enfiou as mãos por debaixo da blusa de uniforme e apertou de leve minha cintura. Eu o afastei com precisão.

– Acho que é o suficiente para hoje! – afirmei pegando minha mochila.

Sai do carro como se estivesse fugindo, eu não acredito que eu estava novamente com o J.P ele era tudo menos o que eu queria pra mim. Estava claro pra qualquer um que ele nunca poderia ser pior, como eu deixava as coisas acontecerem sem me intrometer, agora estava pensando seriamente em tirá-lo da minha vida.

Ao entrar me deparei com alguns jovens com a mesma blusa de uniforme que eu, parecíamos presidiários de cinza, era engraçado. Será que eles já foram presos, certo, isso não me fazia sentir melhor. Encostei-me na parede mais distante, mandei uma mensagem para o Danillo, mais ou menos assim: “Venha me salvar, estou no inferno e não tem cigarros”.

Não deu muito tempo de ver uma resposta ou se ele havia mandado. Alguém da porta chamou todos nós para dentro de uma sala com um monte de carteiras azuis, desconfortável eu me sentei bem discretamente, nessa sala eles fizeram suas orações e uma leitura bíblica, depois fomos dispensados para irmos para nossa sala. Eu entrei em uma que estava praticamente vazia. Senti o bolso vibrar e peguei o celular automaticamente.

– Senhorita eu não sei se viu, mas celular são proibidos. – a mulher afirmou autoritária.

– Desculpe-me, senhora... – coloquei o celular no bolso e me caminhei para uma cadeira azul.

Quando a instrutora correu pra falar com alguém na porta eu vi a minha oportunidade de pegar o celular e vê a mensagem.

Danillo: "Emma, achei que nunca mais falaria comigo. Como eu sei que você só pode mexer no celular mocozado, quando você sai daí pra gente conversar?"

Eu respondi: "Às 12h. Obrigado D."

A instrutora voltou e começou a falar de algumas regras e fez com que todos assinassem um caderno concordando com essas regras, tipo aquelas caixas de diálogo que aparece quando você instala um programa aí tem que aceitar os termos de privacidade. Quando chegou a minha vez ela me olhou nos olhos e sorriu como se eu fosse a melhor aluna, e eu era uma farsa da inteligência. Coloquei meu nome no caderno e continuei olhando para os outros integrantes da sala.

A sala era grande demais pra poucas pessoas. Tinha uma garota que não falava muito que se sentou atrás de mim, ela me lembrava outra garota famosa do canal do YouTube. Ninguém sentou do meu lado como de costume. A garota do cabelo grande que tinha uma auto-estima bastante elevada sentou ao lado da que não falava muito, até ouvi algumas palavras delas sobre mim. Fora essas duas havia mais duas garotas. A que lembrava um pouco de alguém no passado. E a que sentou do lado dela parecia apreciar o rock porque tinha rock escrito de canetão no seu all star. Os garotos me davam nojo com aquela conversa alta sobre algo fútil da TV, mas conversavam entre si. Eu era a única que me mantive calada, nunca foi do meu feitio falar com as pessoas e quando falava me limitava a apenas dizer o que elas queriam ouvir.

Devo ter puxado isso da minha mãe já que ela diz apenas o que as pessoas gostam de ouvir. Quando a instrutora com um sorriso repugnante veio me entregar uma folha de papel em branco pude ouvir alguns burburinho de alguém falando de mim. Dei os ombros como se nada me importasse.

Poucos minutos depois tivemos um estilo de intervalo. No qual apenas continuei sentada e conectei o fone no celular, a música calma me incentivava a ficar calma e serena, e nada que eu pudesse fazer me fazia parar de me sentir um lixo. Quando eles voltaram, eu continuei em silêncio, desliguei a música e prestei atenção em tudo o que ela dizia, até o fim da manhã. Quando percebi estava saindo para ir pra casa.

Danillo me esperava em duas esquinas pra baixo do local do curso e fiquei radiante ao vê-lo. Fazia alguns dias que minha família me fazia ficar em casa, por causa da fragilidade da minha mãe em relação à morte da minha avó. Eu não queria contrariar ninguém acabei vivendo dentro do meu quarto por quase dois meses. Longe de qualquer contato humano.

– Como você tá? - ele me abraçou encorajador.

– Possivelmente bem, eu acho! - respirei fundo.

Caminhamos pelas ruas sem destino, até avistamos um supermercado, andamos até ele, entramos pra procurar alguma bebida e comida. As coisas eram sempre simples quando eu e o Danillo estávamos juntos. Eu não precisava fingir que eu era outra pessoa pra ele. Ele sorriu pra mim, e começou procurar as bebidas, por fim compramos seis garrafas de Heineken. Alguns pacotes de chips e doritos.

Ele pagou tudo e saímos como se nada importasse e talvez nada importasse. Procuramos um lugar para sentarmos e ficar sem preocupação. Achamos uma árvore perto da avenida ao lado do supermercado, por sorte a calçada era cimentada precisei apenas tirar a blusa de frio e sentar em cima enquanto Danillo abriu a garrafa de cerveja no braço, eu estava em terreno familiar agora.

– Como está sendo trabalhar? - ele acabou me entregando a primeira garrafa.

– Nada de mais, eu só não gosto de sair de casa e voltar com um temporal familiar acontecendo. - ele abriu o saco de chips e me ofereceu. - Estou com saudades dos meus cigarros, estou presa dentro de casa.

– Talvez eu possa levar alguns pra você! - disse solidário.

Já estava ficando triste de novo, e isso era insuportável ultimamente, as coisas não estavam fluindo, mas em um ritmo lento, como se minha vida estivesse parada e sem sentido. Ficamos lá debaixo da árvore por um longo tempo, tempo suficiente para alguém realmente sentir minha falta.

– Oi... - respondi assim que peguei o telefone.

– Emily onde você está? - a voz dela soou tão impaciente e descrente.

– Estou no trabalho! - certo essa mentira não ia colar, mas o que eu tinha?

– Claro, e seu trabalho se chama Danillo? - respirei fundo e conclui que estava um pouco ferrada.

Levantei e passei as mãos no cabelo para tentar me acalmar para não perder o juízo e gritar. Respirei fundo e tudo o que consegui dizer foi:

– Certo, estarei em casa em meia hora. - ela desligou.

Olhei Danillo rindo e comendo os chips com doritos. Eu não tinha coragem de ir e estragar a nossa tarde só porque ela queria.

– Então... Já vamos? - o olhar cheio de zombaria dele me fez sorrir.

– Vamos comigo? - supliquei.

Passamos novamente no supermercado para deixar as garrafas vazias no lixo, pelo menos eu sempre deixei tudo no devido lugar. Apenas eu não consegui me encaixar junto às pessoas. Danillo andou quatro quarteirões para me mostrar uma moto bastante peculiar. Ele me ofereceu o capacete.

– Vamos lá!

Por um momento eu hesitei, porque por alguma razão eu nunca quis subir em uma moto por medo. Muito medo. Mas a confiança que ele me passava era imensa e por um segundo minha mente se fechou e o medo ficou do lado de fora.

Eu o apertava tão forte que algumas vezes eu achei que o partiria no meio, eu mantinha meus olhos fechados. Eu nunca disse sobre os meus medos pra ninguém, muito menos para o meu melhor amigo, a tensão tomava conta do meu corpo. E por um segundo eu deixei o medo me dominar, o estado de pânico era angustiante. Quando voltei a abrir meus olhos, a fachada imponente da minha casa estava bem na minha frente rindo de mim, como sempre.

– Esta entregue donzela! – ele riu da própria piada.

– Obrigado por tornar hoje menos mórbido! – o abracei, sem me importar com a minha mãe olhando pela janela do seu quarto no segundo andar da casa.

– Amanhã te levo alguns cigarros! – ele pegou o capacete das minhas mãos e subiu de volta na moto.

Piscou pra mim e sorriu, ele acelerou a moto e deu um arranque que poderia ser ouvido em três quarteirões, eu sorri com a ousadia, ele era maluco e era essa maluquice que me fazia admirá-lo. Fiquei parada na porta sem ter pressa de entrar, eu sabia que ela me fazia lamentar ter saído do serviço e ido me encontrar com o Danillo, eu apenas queria paz.

O inferno chegou cedo demais, e tinha um nome bem ordinário. Paulo.

– Esta esperando quem garota? – disse rabugento de sempre.

– Já vou entrar! – abaixei a cabeça mostrando respeito. Mesmo que não houvesse nenhum, eu o deixava achar que estava no comando.

Eu entrei logo atrás dele resignada, minha mãe me encarou e depois deu os ombros como se não se importasse nem um pouco com a bagunça que se estendia dentro de mim, a tempestade gritante que me desolava a cada vez que eu pisava em casa.

O resto do dia eu passei dentro do quarto assistindo minha pequena maratona de “Hart Of Dixie”. Fui interrompida apenas pela minha irmã mais nova dizendo que já era hora de jantar, foi até tranquilo demais pra acreditar que foi tudo calmo e sem discussões. Levantei por ultimo e limpei a mesa como era minha parte eu a fiz sem reclamar. E foi assim que meu dia chegou ao fim.

Na manhã seguinte acordei às seis horas da manhã, e pelo resto da semana foi assim. Eu mau saia do quarto, mau comia, passava as manhãs no curso uma hora depois do curso com o Danillo, e depois era assistir ou ler algum livro para passar o tempo até a hora do jantar, e então esperar para mais uma seis horas da manhã.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Outra História Sobre Nós" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.