Capa de chuva escrita por Lechan12
O rapaz parou de digitar.
Repousou os braços cansados,com mãos e dedos doloridos.
Encarava a luminosa tela de seu computador.
Os pixels multicoloridos irritavam sua visão.
Olhos vermelhos e cansados lacrimejavam como em protesto.
O quarto abafado e mal iluminado.
A escrivaninha abarrotada de livros e folhas soltas perdidas.
A fina camada de poeira que se formava cinzenta sobre as estantes.
As gotas de chuva batendo no vidro embaçado da janela.
A tela luminosa do computador a iluminar uma pequena parte do quarto.
Tudo aquilo,em mínimos detalhes,ressaltava a solidão do rapaz.
A solidão,que de tanto se acostumara,acabara virando uma companheira.
E com ela,buscava um refúgio amigo em seu computador.
Se sentia menos solitário ali,naquela virtualidade tecnológica.
Em meio aos pixels e as letras de fôrma do teclado.
Mesmo com as mãos doloridas,continuava a digitar freneticamente.
E assim conseguia conversar e se expressar para aqueles no mundo virtual.
Conversava com as pessoas mesmo não estando conversando com elas.
Por um breve momento,se afastou de sua escrivaninha e espiou o mundo lá fora.
Desembaçou o vidro frio e úmido com a manga do casaco.
Lá fora pode ver as pessoas transitando na rua de asfalto escorregadio.
Estavam felizes e riam,mesmo com o frio e a chuva.
Com a luz emitida pelo poste,viu a felicidade daqueles desconhecidos.
Mesmo estando ocultos debaixo de guardas chuvas,a felicidade era visível.
Há quanto tempo não se sentia assim,feliz?
Olhou ao redor e se sentiu esmagado pela solidão e infelicidade.
Parecia que cada pedaço de seu mal iluminado quarto o sufocava.
Queria sair dali,fugir daqueles livros,folhas e estantes.
A tela de seu computador o encarava,com pixels maléficos.
Há quanto tempo ficara ali?
Há quanto tempo não saía daquele lugar abafado e escuro?
Há quanto tempo não ria,como as pessoa na rua?
Há quanto tempo não sentia o sabor frio e doce da chuva?
Com um rápido movimento deu um fim ao sofrimento.
Desligou o computador,seu porto seguro da solidão.
Vestiu sua capa de chuva mas antes de sair,optou por seu antigo guarda chuva.
Pendurou a capa no cabide e saiu rua a fora.
Andando pelas ruas frias e molhadas sem destino,o rapaz seguia em frente.
Mesmo com vento gelado e a chuva incessante,se sentia feliz.
Se sentia livre,como se estivesse sido renovado,como se fosse para um mundo totalmente diferente.
Ignorou completamente seu computador e seu quarto solitário.
Estava feliz ali,com o vento e a chuva a fustiga-lhe o rosto.
Porém,seu guarda chuva não foi páreo para o vento.
Uma rajada furiosa surgiu do nada e arrancou o guarda chuva de suas mãos firmes.
Levou-o para longe,sumindo na escuridão noturna.
O rapaz xingou mentalmente enquanto a chuva encharcava suas vestes.
Amaldiçoou a si próprio por não ter vestido a capa de chuva.
Mesmo molhado e com frio,seguiu andando em frente.
Com somente a luz de um solitário poste a acompanhar seus passos.
Um vendedor de guardas chuvas passou a seu lado lado com uma voz gritante.
E para azar do rapaz, não possuía dinheiro o suficiente para comparar um.
Aborrecido consigo mesmo continuou seguindo em frente.
A chuva colava suas roupas ao corpo e o vento frio açoitava seus cabelos.
Caminhando lentamente para não escorregar no asfalto molhado,parou derrepente.
Uma pequena figura se aproximava lentamente.
Em meio à chuva e à fraca luz do poste,a viu pela primeira vez.
A figura era uma moça que,assim como ele,não possuía um guarda chuva.
Os dois se encararam ali,sob a luz artificial do poste na rua.
Ambos estavam encolhidos e encharcados,a mercê do frio e da chuva.
Como se estivesse os observando,o vendedor de guarda chuvas reapareceu.
Se não comprassem logo algo com o que se proteger,poderiam ficar doentes.
Agindo instantaneamente,o rapaz enfiou a mão nos bolsos e pegou o pouco dinheiro que possuía.
A moça imitou o rapaz,retirando uma pequena quantia de seus bolsos.
Juntando suas quantias,conseguiriam comprar um guarda chuva.
Um grande o suficiente para caber os dois embaixo.
Com isso,ficariam protegidos do vento,da chuva e de um possível resfriado.
E assim o fizeram.
Saíram andando pela rua escorregadia,juntos,sob o grande guarda chuva.
O rapaz já não mais pertencia ao quarto escuro e solitário do qual vivia.
Ao sair na rua,se sentia renovado.
E agora,com aquela moça ao seu lado,se sentia completo.
Agora conseguia conversar conversando.
Não mais existia pixels,letras de fôrma e o mundo virtual.
Não mais existia solidão.
Agradeceu a si mesmo por não ter vestido a capa de chuva.
Agradeceu também ao forte vento por ter levado seu guarda chuva.
Pois,somente assim conseguiria reencontrar algo que a tanto tempo não vivenciara.
Algo que ele encontrou no sorriso simples e verdadeiro daquela moça encharcada e trêmula.
Com aquele sorriso,as palavras “solidão” e “infelicidade” já não faziam mais parte de seu dicionário.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Acho que não ficou tao bom quanto "Guarda chuva" porque,tive dificuldade em montar o personagem.É a pri meira vez que escrevo uma fic original,focada num personagem masculino.Espero que tenham gostado e se identificado,tanto com o "rapaz" quanto a "moça escritora"!!Um abraço ^^