Liam

No dia seguinte, todos nós estávamos de volta para São Francisco.

Eu e Cherry chegamos esgotados. Por mais que tivéssemos dormido bem no hotel, a mídia estava muito interessada na história da família de Cherry, – afinal era uma família rica e Aaron era um famoso empreendedor. Sem contar toda a papelada que Cherry e Aaron teriam que resolver.

Por isso, assim que colocamos o pé em casa, nenhum dos dois falou mais nada e fomos para meu quarto dormir. Ainda estava frio na Califórnia então eu puxei Cherry para meu lado, dormindo instantaneamente com ela.

 Depois, quando fui para o trabalho, eu dei uma desculpa esfarrapada para meu chefe sobre ter que visitar uma pessoa na Flórida e ele aceitou sem mais nem menos e só me falou para voltar ao trabalho.

Eu não fazia ideia de como Ellie e Martin não foram demitidos por terem faltado no trabalho também.

— Não brigaram nem nada — Martin tinha comentado. — Eles apenas falaram que seria descontado do meu salário — e deu de ombros.

Fiquei feliz por ninguém ter ficado com problemas.

***

Então, é como falam: depois de uma tempestade vem (finalmente) paz.

Adler surpreendentemente começou a sair com Riley, que estava animada com o novo romance.

Martin e Ellie estavam como sempre estavam e sempre vão estar.

Bryan estava começando a sair com umas meninas muito legais, mas disse que por enquanto não queria nada sério.

E Jackson... continuava sendo o Jackson.

David e Aaron se foram, afinal Aaron tem sua agenda muito cheia. Ele perguntou mais uma vez se Cherry queria morar com ele, a mesma respondeu que tinha certeza que não queria ir e, enquanto eu aceitasse ela na minha casa, ela gostaria de ficar lá.

Eu realmente fiquei bem mais calmo de saber que Cherry não tinha intenção nenhuma de sair da minha casa. Agora que as coisas estavam ficando bem mais intensas e... amorosas entre eu e Alexis, a última coisa que eu gostaria é que ela fosse morar com o irmão dela sabe-se Deus aonde.

Por incrível que pareça, Aaron aceitou sem problemas, aparentemente ele gostava e confiava em mim. Eu o entendia, quem não confiaria num loiro cozinheiro italiano maravilhoso?

***

Cherry teve que voltar algumas vezes para Florida para ver o que ia acontecer com a tia dela. Alexis estava bem nervosa, nem de longe ela queria ficar perto de Sabrina, mas não tinha jeito. Teve que ir para o tribunal, mas Sabrina não teve chance e logo foi sentenciada.

Eu ou Aaron sempre a acompanhava para que ela não tivesse que lidar com tudo isso sozinha.

A mídia decidiu descansar o caso quando Aaron disse publicamente que não gostaria de conversar sobre uma coisa tão ruim. Ele explicou a situação básica uma vez e deixou morrer o assunto para que os sensacionalistas parassem de ficar em cima de Cherry como urubus.

***

David disse que, para melhorar a situação de Cherry (que ainda tinha alguns ataques de pânico e pesadelos), seria melhor ela voltar para a casa que ela tinha acabado de herdar (a que a Sabrina decidiu morar com ela e a trancava no porão) para que ela tivesse finalmente noção de que nada de mal aconteceria a ela e para que Alexis reencontrasse com as pessoas que trabalhavam na casa que, segundo David, amavam Cherry demais.

Por isso, num final de semana decidimos ir à casa até para Alexis decidir quem iria ficar no comando enquanto ela tivesse morando comigo em São Francisco.

Assim que chegamos lá, todos começaram a chorar. Era evidente o amor que existia entre eles e Cherry. Todos foram abraçá-la e conversaram avidamente sobre tudo o que era imaginável. Tomamos chá e Cherry me mostrou toda a casa enquanto falava sobre seus pais.

 Antes de irmos embora, Cherry decidiu que, enquanto ela estivesse em São Francisco, a casa iria ficar sob os cuidados de David que aceitou a missão com muita honra e carinho.

Cherry poderia ter perdido os pais, mas aquelas pessoas, claramente, eram família dela e iam apoiá-la aonde quer que ela estivesse.

***

Pouco tempo depois, meus pais decidiram me visitar para ver se eu estava vivo e não tinha fugido com o circo.

Sempre bom verificar se seu filho está inteiro.

Assim que eles chegaram, quem atendeu a porta foi Cherry e instantaneamente meus pais se apaixonaram por ela.

Tanto que nem questionaram uma garota que fazia pouco tempo que eu tinha conhecido estar morando comigo e ser minha namorada.

Cherry já tinha deixado seu cabelo vermelho de novo, e a cor vermelha escarlate realmente impressionou meus pais.

— Vocês terão filhos tão lindinhos — minha mãe suspirou.

— Certo — foi tudo o que eu respondi tentando não ficar com vergonha. Cherry se segurou para não rir. O que me fez ficar com mais vergonha ainda.

Meus pais ficaram poucos dias, mas mesmo assim eles tiveram o prazer de também conhecer Bryan (mais ou menos né), Ellie, Martin e Jackson.

Depois de uma semana, eu os acompanhei até o aeroporto. Cherry segurou minha mão e sorriu para mim como se dissesse que estava tudo bem eu sentir saudades dos meus pais. Eu apenas sorri de volta e deixei Cherry me guiar até a nossa casa.

***

No final do inverno, Cherry decidiu prestar faculdade para a área de literatura na minha universidade, uma coisa que ela adorava. Ela logo arrumou um trabalho numa editora e ficou durante um tempo lá na parte de tradução inglês-francês.

Eu nem sabia que ela conseguia falar francês.

Com a faculdade e o trabalho e com o fato de eu também fazer faculdade, Alexis ficava quase sem tempo de visitar a casa que ela morou e as outras duas propriedades que ela herdou, mas os empregados da sua família sempre faziam questão de cuidar de tudo com muito carinho e atualizar Cherry sobre tudo que estava acontecendo.

Não pude deixar de pensar nas milhares de coisas tinham acontecido naquele ano, mas eu não trocaria absolutamente nada sabendo que tudo me levou à conhecer Cherry e a ficar com ela. Não importava quais loucuras ou o quanto meu mundo poderia virar do avesso que eu sabia que iria continuar a amando e eu iria suportar tudo só para vê-la ao meu lado.

***

— Estou pensando em escrever um livro.

Olhei para ela sorrindo enquanto tomávamos café da manhã.

— Acho uma ótima ideia. Você pretende escrever sobre sua vida?

Ela assentiu.

— Eu passei por muita coisa: ataques de pânico, insônia devido à pesadelos, os abusos de Sabrina... eu acho que seria interessante falar sobre isso e mostrar que não importa a situação que você está, sempre vai ter alguém para lutar por você.

— Já sabe o nome?

— Não faço ideia — ela riu. — Estava pensando em alguma coisa com Cherry, sabe? Por causa do meu apelido...

— Que tal Cherry Bomb?

Ela me olhou meio confusa.

— Sabe, por causa da música do Runaways? E porque... bem, você caiu como uma bomba em nossas vidas — ela riu.

— Cherry Bomb... gostei.

— You’re my wild girl. You’re my ch-ch-ch-ch-ch-cherry bomb — eu cantei e nós dois rimos.

E foi assim que eu, um mero estudante estrangeiro de gastronomia, ao salvar uma garota de cabelo vermelho na neve, conheci a melhor pessoa do mundo e me apaixonei perdidamente.

Porém, crianças, não tentem isso em casa!

Fim