Liam

No dia seguinte, Senhor Lucca estranhou o fato de eu parecer uma maria-mole trabalhando, mas eu logo disse que tive uma noite agitada, mas que faria o possível para que isso ficasse bem longe da cozinha.

— Espero que não Liam — ele disse calmamente, mas com um tom sério. — Sei que é difícil, mas é essencial deixar esse tipo de coisa pra lá quando estamos cozinhando, os clientes vêm primeiro.

— Sim chefe — respondi e voltei ao trabalho.

Quando eu cheguei em casa, me joguei no sofá e mandei uma mensagem para um dos meus colegas para me passar depois o que teve nas aulas porque eu não conseguia nem me levantar direito para ir pra faculdade.

Cherry estava jogando videogame com David enquanto eu estava morto no sofá.

Era visível que Cherry não queria ficar tanto tempo trancafiada em casa, mas David disse que não tinha opção e eu achei melhor não arriscar também.

— Onde está Bryan?

— Ele disse alguma baboseira sobre querer ser um pássaro livre e saiu — David disse sem desviar seu olhar da tela.

— Com Adler atrás dele? — balancei a cabeça negativamente.

Eu não tinha dúvidas de que ele ia me ligar logo avisando que tinha encontrado Adler.

Dito e feito.

***

Todo o problema começou quando eu e Cherry decidimos ir passear na cidade já que ela estava enlouquecendo ao ficar em casa.

Eu percebia que Cherry odiava ficar trancafiada em lugares, esse medo vem do fato de que a tia má dela trancava ela no porão. E pelo que David comentou depois comigo, não foram poucas vezes.

Nós decidimos tomar um café no Starbucks mais perto de casa. Eu estava pagando pelo meu Mocha quando recebo uma mensagem de Bryan.

Adler me encontrou. Vou precisar de ajuda. AGORA.

Respiro fundo, pois minha única vontade é bater no Bryan.

Vi que ele mandou uma localização em baixo e percebi que ele está perto.

Quando Cherry viu a mensagem ela começou a pirar dizendo que Adler ia espancá-lo. Ela sai correndo do Starbucks com seu cappuccino em mãos e na hora para uma lambreta de um cara que estava passando.

— Vou precisar disso emprestado, — é tudo o que ela diz ao subir na lambreta e me puxar para ficar meio de pé atrás dela no assento — já te devolvo.

O grito do homem pedindo a lambreta foi a única coisa que consegui pensar até chegarmos numa quadra antiga de basquete do bairro.

***

Quando chegamos na quadra meio abandonada vimos que Adler estava acompanhado com dois caras e Bryan estava discutindo feio com Adler.

Cherry estacionou a lambreta (não fazia ideia de que ela sabia dirigir e acho que nem ela) e corremos para a quadra.

— Chamando reforço, Bryan? — Adler estava com a cara vermelha de tanto gritar.

— Então esse é o tal do Adler? — Cherry disse cruzando os braços.

— Quem diabos é você? Sua garota, Liam?

Cherry cora, mas ainda continua a encarar Adler.

— O assunto não é Liam, é a sua briga com Bryan que precisa parar sobre uma garota que não vale a pena — ela deu um passo à frente —, cresça, Adler. Você não vai chegar a lugar nenhum brigando com alguém que está numa situação tão ruim quanto à sua. O problema não são vocês, é ela.

Acredito que todos ficaram bem chocados com as palavras de Cherry. Adler parecia que não sabia o que dizer, por isso ficou em silêncio por muito tempo.

Até que Bryan começou a rir e beijou a testa da Cherry. Ele disse alguma coisa que eu não consegui ouvir porque estava um pouco longe, mas ele fez ela dar risada.

Cherry andou até Adler e sorriu para ele.

— Você sabe que Penny não é para você, Adler.

Ele ia falar alguma coisa, mas foi cortado por uma risada que, ao olharmos para trás, percebemos que era a dita cuja, Penny, de abraços e beijos com um cara que nunca vimos na vida. Ela não tinha percebido a gente, mas Bryan exclamou seu nome e a vez virar assustada e ver tanto ele quanto Adler.

Ela não sabia o que falar. Mas os meninos sabiam.

— Penny, nunca mais quero ver a sua cara na minha frente — Bryan disse para ela.

— Eu também não. Espero que você seja feliz bem longe de nós — Adler completou.

Cherry sorriu e olhou para mim.

— Missão cumprida aqui. Vamos, eu tenho uma lambreta para devolver.

***

Não foi muito difícil achar o cara, o que foi difícil foi explicar a situação para a polícia. No final das contas tivemos que nos desculpar muito com o cara e falarmos com o delegado. Todo esse rolo demorou bastante tempo, por isso pedimos à Jackson pegar a gente na delegacia.

Estávamos quase na metade do caminho quando Jackson faz uma curva fechada e acelera.

— Acho que estamos sendo seguidos. Segurem-se!

A cor desaparece do rosto de Cherry e ela olha para mim. Eu já sei o que ela pensou.

Sabrina.

Eu comecei a olhar para o retrovisor e realmente confirmei que estávamos sendo seguidos por um SUV preto.

Me segurei firme e pedi para Alexis colocar o cinto. Olhei para ela e vi que ela estava com os olhos fechados bem apertados.

— Vou tentar despistá-los para que eu consiga deixar em casa. E depois vocês fazem a porra do favor de me contar o que está acontecendo porque claramente é alguma coisa com vocês — acho que nunca vi Jack tão sério na minha vida.

Foi depois de apenas uns quinze minutos que Jackson relaxa e percebemos que o carro não estava mais nos seguido.

— O que você está fazendo? — perguntei à Cherry.

— Ligando para David. Ele precisa saber disso.

***

Chegamos esgotados e tensos em casa. David estava sério demais e começou a conversar conosco.

— Amanhã eu quero saber o que está acontecendo, Liam — Jackson me lembra antes de fechar a porta.

— Você não é obrigada a contar nada que você não queira — eu lembro Cherry.

— Eu sei — ela suspira —, mas eu quero contar a eles. Eu preciso. Já meti vocês demais nessa história. O mínimo que posso fazer é contar a eles minha história.

Vejo que ela está cansada e preocupada ao mesmo tempo.

— Hey — afago sua cabeça. — Não tem nada com o que se preocupar. Amigos estão aqui para isso.

Fiquei uns cinco minutos falando palavras de incentivo à Cherry até que seu corpo relaxasse e ela devolvesse meu abraço com fervor.