Acordei no dia seguinte no mesmo horário de todos os sábados, mas com um sono fora do comum, tomei o café, me aprontei, peguei o carro e parti para a fazenda dos meus pais, confesso que não estava tão empolgado em ir, queria ficar em casa, descansar, mas se não fosse, com certeza minha mãe me ligaria desapontada e ficaria pelo menos duas horas comigo no telefone me contando tudo o que aconteceu e reclamando do porque eu não havia ido.

Chegando lá, fui recepcionado por meu pai, que me deu um abraço, pegou minha mochila e disse que minha mãe estava na cozinha com uma surpresa pra mim. Por conta da curiosidade eu mais que depressa fui até lá, e ao chegar vi minha mãe toda entusiasmada conversando com Jéssica, uma ex namorada minha que havia chegado na cidade e iria ficar alguns dias na casa dos meus pais.

Havia alguns meses que a gente tinha terminado, e aquela era a primeira vez que eu estava vendo, nós ficamos juntos por um ano, eu disse a ela que devíamos terminar por falta de tempo e muito trabalho. Ela chorou muito, me procurou algumas vezes, algumas noites eu cedi, ficamos juntos mas não voltamos, e então ela decidiu sair da cidade pra me esquecer e nunca mais nos vimos ate aquele dia.

Ela era linda, uma morena de cabelos lisos ate o ombro, magra, super alegre e divertida, por ser muito comunicativa, ela tinha muita facilidade em se relacionar com as pessoas, pegava amizade fácil, muito simpática, quase não tinha defeitos e me amava muito, carregava água na peneira pra mim se eu pedisse, as vezes, em momentos de solidão, eu me pergunto o porque eu deixei ela ir embora da minha vida.

_ Oi Johnny, meu filho, Deus te abençoe, olha que surpresa boa, Jessica veio nos visitar. – minha mãe me disse isso com muita empolgação e vindo em minha direção, me deu um beijo no rosto e um abraço apertado.

_ Oi mãe, benção. Oi Jessica, quanto tempo, como vai?

_ Oi Johnny. – me disse ela, meio sem graça.

Ela estava linda, com uma calça jeans apertada, uma blusa com alcinha, um pouco da barriga de fora, uma maquiagem leve, brincos de argola, não tinha como não reparar.

_ E então, que bons ventos te trouxeram pra ca? – perguntei, mas antes que ela pudesse responder, minha mãe já entrou na frente.

_ Ela veio buscar uns documentos na HUMAN, a empresa que ela está empregada pediu, como ela chegou ontem a noite e não conseguiu se hospedar em nenhum hotel, ela veio pra ca, e perguntou se poderia ficar ate segunda.

Toda a minha família a adorava, ela tinha amizade com todo mundo, ate meu pai tinha uma maneira diferente de brincar com ela.

_ Eu não quero incomodar, vocês sabem que tenho parentes que moram na próxima cidade, qualquer coisa eu fico la.

_ E perder a oportunidade de ficar em sua companhia alguns dias? Nem pensar minha querida, e você não incomoda nunca, pode ficar o tempo que precisar. – minha mãe estava realmente feliz em vê-la. – Johnny, por favor, vá trocar de roupa e venha se juntar a nós na conversa enquanto termino o almoço, seus irmãos já devem estar quase chegando.

Enquanto caminhava para o quarto, fiquei imaginando como o fim de semana seria mais tedioso do que o de costume, a família inteira cortejando a Jessica, dizendo que eu vacilei em deixá-la, se estamos os dois solteiros deveríamos tentar de novo, que a gente forma um casal muito bonito .. nossa .. já estava pensando nas respostas pra cada brincadeirinha deles.

Isabela e Ulisses chegaram pouco depois de mim, e Soraya logo que viu a Jessica já correu pros braços dela, gritando toda feliz.

_ Oi tia Jessica, que saudades! Que bom que você está aqui, vamos brincar muito!

_ Oi lindona. Nossa! Como você está grande! Mas é claro que vamos brincar bastante.

_ Mas que surpresa boa Jessica. – Isabela disse meio surpresa, mas feliz. – Você está ótima, que bom te rever.

_ Oi Isabela, obrigado. Muito bom ver todos vocês.

Eles se instalaram nos seus respectivos quartos e fomos todos pra varanda conversar um pouco e esperar por Laura, que ainda não havia chegado. Em meio a muitos elogios, piadas e risadas, Ulisses deu inicio a serie de perguntas que eu ainda não estava pronto pra responder.

_ Johnny, como foi que deixou essa garota escapar assim cara. Vocês tem tudo pra dar certo, deveriam tentar outra vez.

_ Olha Ulisses, eu... – antes que conseguisse terminar a frase, Soraya me interrompeu:

_ Tio Johnny, a tia Jessica é sua namorada?

_ Não meu amorzinho, mas ela é uma amiga muito... – outra interrupção, desta vez de Isabela:

_ Gente sabe o que eu acho? Que um ainda sente alguma coisa pelo outro, com certeza. Vocês são tão jovens, deveriam sim ter uma segunda chance.

Como não tinha o que falar, pois minhas bochechas queimavam de vergonha e raiva, me levantei e fui pro quarto, coloquei os fones no ouvido e comecei a ouvir umas musicas. Estranhamente me veio imagens da noite anterior na mente, e uma vontade enorme de repeti-la, de me divertir sem me preocupar com o que os outros vão pensar, de fazer o que eu quiser, e de não estar ali com a minha família.

Minutos depois Laura chegou sozinha, havia brigado com Pedro e não queria que ele fosse. Chegou meio cabisbaixa, triste, mas se alegrou um pouco ao ver Jessica, as duas sempre foram muito amigas, confidentes e com certeza a presença dela ali faria a diferença pra Laura.

_Venham todos almoçar, a comida já está na mesa. – gritou dona Mara, que sempre fazia questão de almoçarmos juntos.

O almoço foi tranquilo, todos rindo e se divertindo muito, contando como foi a semana, compartilhando os problemas, aconselhando. Jessica estava mais quieta, mais calada, o que não era o normal dela, mas sempre comentava algo sobre o assunto em evidencia quando era questionada.

Depois do almoço Jessica e Laura foram conversar na varanda enquanto eu ajudava minha mãe com a louça. Meu pai e Ulisses foram comprar cerveja e carvão pra fazer um churrasco, e Soraya brincava no quintal.

_ Meu filho, você não acha que está na hora de arrumar uma namorada?

_ Mãe, eu tenho trabalhado tanto, não tenho tempo.

_ Mas Johnny, a Jessica está aí e está na cara que ela ainda não te esqueceu, e como você não se envolveu com ninguém depois dela, eu pensei que ..

_ Mãe, vamos deixar as coisas como estão, não vamos forçar a barra. Eu adoro a Jessica, ela é uma mulher incrível, mas não pra mim, eu não sou homem pra ela. Com certeza ela merece ser feliz, mas com alguém que realmente a faça feliz.

_ Você não sabe o que diz Johnny, com o tempo você vai aprender que a vida não da sempre uma segunda chance pra gente desfazer as coisas que fez. Não acho que você fazia tanto mal assim a ela, pois ela está aqui não está? De tantos lugares que ela tinha pra ficar, ela decidiu ficar aqui conosco, onde ela sabia que você estaria. Pense bem.

No resto do dia que seguia tudo ficou tranquilo, o pessoal bebendo cerveja e se divertindo e anoiteceu sem que percebêssemos. Tomei um banho, me despedi de todos e fui para o meu quarto me aprontar pra dormir, vesti uma cueca, peguei o celular, coloquei os fones no ouvido, e mais uma vez imagens da noite passada na mente, adormeci ouvindo musicas.

Acordei na madrugada assustado, meu quarto todo escuro, meus fones já não estavam mais em meus ouvidos, senti uma presença no quarto, perto de mim, na cama, me tocando. No impulso, pulei da cama, corri pra perto da porta, acendi a luz e era quase que inacreditável o que estava ali bem diante dos meus olhos.