Você sabe, Sasuke, eu sempre fui apaixonada por você. Desde a primeira vez que te vi, quando nós dois éramos só crianças assustadas no primeiro dia de aula — e você segurava a mão de seu irmão com força, e eu não queria que minha mãe me deixasse.

Eu nem ao mesmo sei se você se lembra disso. Provavelmente não. Provavelmente não quer lembrar.

Você nunca se importou, não é mesmo? Todas as garotas que se diziam apaixonadas por você… Eu inclusa. Sempre foi tudo sobre vingança. Sempre foi tudo sobre o seu clã. Sempre foi tudo sobre seu irmão, e ficar mais forte, e conseguir poder.

Sempre foi tudo sobre você.

Sei que por vezes fui insuportável. Imatura. Que por vezes me deixei levar; porque eu colocava meu amor acima de todas as coisas, acima de todas as pessoas, e acreditava que você deveria aceitá-lo. Mas era coisa de garotinha, sabe? Eu não entendia o que era amor, não de verdade, até o dia em que você foi embora.

Você quebrou meu coração de todas as formas possíveis e imagináveis, e ainda assim… Eu o queria de volta. Eu o queria comigo. Isso não é amor, Sasuke. Nunca foi. Isso é obsessão. A mesma obsessão que você tinha por sua vingança, eu tinha pela ideia de amar você.

Mas naquela noite… Naquela noite eu quis tentar. Eu quis amar. Não amar de mentirinha, mas amar de verdade. Eu quis que você me segurasse em seus braços e dissesse que ficaria, porque eu estava disposta a tudo por você. Eu queria curar seu coração partido.

Então, eu desejei que nem tudo fosse sobre nós dois. Desejei que fosse sobre nossos amigos, e nosso sensei, e nossa vila também. Eu desejei que seus laços fossem o bastante pra fazer você ficar. Não só eu, ou meu chamado “amor”.

Todos nós. Eu queria que você ficasse por todos nós.

Mais uma vez, você destruiu minhas esperanças frágeis. Foi disso que sempre se tratou nossa relação, não é? Eu jogava meus sonhos em você, minhas expectativas, meus planos, minha fé. Você os jogava fora, porque, pra você, eles não tinham o menor valor. E assim continuava, assim continuava…

Mas eu decidi mudar, Sasuke. Eu decidi deixar de ser a garotinha fraca que só consegue chorar e esperar que os outros concluam seus desejos.

Pela primeira vez, eu decidi me amar mais, me querer mais. Pela primeira vez eu decidi me respeitar mais, Sasuke, e respeitar as pessoas que me amam também. Naruto sempre esteve ao meu lado, sempre acreditou em mim, e o que eu lhe dei em troca além de desprezo? E Ino… Eu sacrifiquei minha amizade com ela.

Por nada.

Não o culpo. Não o culpo por suas escolhas, ou minhas escolhas, ou o passado. Mas uma parte de mim… Uma parte de mim agora o despreza, Sasuke. Não por mim, pelas coisas que me disse. Uma parte de mim o despreza por você ser como eu. Por sacrificar o que você tinha, o que conseguiu, por algo que não vale a pena.

Sua vingança não vai fazer com que se sinta melhor. Matar o seu irmão não vai tampar o buraco em seu peito, aquele em que você insistentemente crava suas unhas para mantê-lo sangrando. Não vai espantar os anos de dor e solidão.

Meu amor não vai mudar nada agora. Não vai fazer com que você se sinta bem, não vai fazer com que eu me sinta bem, não vai superar o abismo que cresce entre nós...

Que irônico, não é mesmo?

À nossas próprias maneiras, nos tornamos frágeis e patéticos.