Ah, só estou jogando palavras fora, fingindo ser um humano, fingindo ter um coração partido.

Sou um boneco de porcelana, não posso revelar o quanto eu custei a aquele gentil senhor. Meus 15 anos foram nesse sótão velho e empoeirado, as manchas me dizem que eu vou apodrecer.

Na verdade, eu já apodreci faz muito tempo, elas não precisam falar, elas só me deixam com aparencia de velho.

Fui comprado naquela loja há muito tempo, quando eu ainda não tinha uma alma.

Assim que aquele homem me entregou para sua filha, ela tocou meu rosto. Aquele movimento me fez despertar, eu estava apaixonado. Apaixonado por minha dona, eu estava disposto a fazer de tudo para vê-la sorrir.

— Não quero esse, papai, ele está quebrado! – Ela fez uma careta.

Meu recém nascido coração se quebrou naquele momento. Eu não sabia que o que meu cabelo escondia era um olho rachado.

— Pois bem, filha – Aquele homem me pegou dos braços dela – Nós vamos concerta-lo, então! Ele ficara lindo, como ele deve ser! – Ele sorriu pra menina.

— O senhor promete? – Ela disse desconfiada

–Prometo sim. – O senhor sorriu.

Minha dona sorriu pra mim, me olhando com encanto.

— Vou deixa-lo no sótão, vamos buscar os materiais e depois voltamos para concertar ele lá – O senhor puxou uma corda pendurada no teto e começou a subir uma escada comigo em seu colo.

— Cuidado com o meu boneco! – Ela disse preocupada

— Tudo bem, tudo bem! – O senhor sorriu e me colocou em uma prateleira limpa – Você espera aqui, tudo bem? – O senhor olhou pra mim e sorriu, descendo as escadas.

Era a primeira vez que eu mexia meu corpo de porcelana, estava com medo de me quebrar, afinal, ela estava preocupada.

Me aproximei da janela e olhei os dois em cima de uma bicicleta, indo comprar os materiais para me concertar. Esperei por longos momentos... O céu começou a escurecer, nem aquele gentil senhor nem sua encantadora filha voltaram.

Eu fiquei aqui dentro, quebrado, eles ficaram lá, igualmente quebrados.

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Estamos todos aos pedaços, sem saída desse nosso terrível estado.