Life After Love escrita por Hikari Ouji


Capítulo 4
Vida depois do amor


Notas iniciais do capítulo

Com a descoberta de que Aaron estava morto, Sam se desespera enquanto tenta entender o que está acontecendo, mas nem sempre a superação é fácil.



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As palavras de Jefferson atingiram Sam como uma bomba. As meninas choravam e os meninos estavam no chão chorando de uma forma que dava pena. O valentão Jefferson estava inconsolado, mas ninguém estava igual á Sam; de pé no meio da arquibancada, sem reação e sem palavras. As lágrimas começavam a cair dos olhos arregalados, as mãos tremiam junto com todo o corpo e o cérebro tentava juntar aquelas palavras que ecoavam na cabeça:

– “POR SUA CAUSA O AARON MORREU NAQUELE ACIDENTE!!!!”

Sam não pensou duas vezes e saiu correndo através da quadra. Sua cabeça doía, num frenesi incontrolável de gritos e ecos que repetiam “Aaron morreu naquele acidente” incansavelmente.

– TOMARA QUE VOCÊ MORRA!!!

Sam não deu ouvidos ao grito de Jefferson que se abafavam com a chuva inesperada que começou a cair, mas não impediu Sam de continuar correndo para qualquer lugar o mais longe possível dali.

– Não! Não é possível! Eu estava com ele esses dias! Nós estávamos juntos todos esses dias. Ele está vivo. Eu sei. Ele tá vivo!! Eu toquei o corpo dele. Ele me tocou. Ele me abraçou, me beijou, me acariciou. Ele conversou comigo, me disse que me amava. Será que estou enlouquecendo? Será que eu também morri e esse é um purgatório? Será que estou em coma e isso é tudo imaginação? O que está acontecendo? Que droga está acontecendo? Ah! A casa dele! Eu sei onde é eu vou lá! Ela tá vivo lá!

A viagem para casa nunca demorou tanto como naquela noite. A última nota de dinheiro que tinha na carteira usou para pegar um táxi até próximo de casa. Parecia que algo estava lhe impedindo de chegar lá. Primeiro a chuva, depois o transporte público que demorou e agora a enchente que parava o trânsito. Sam pediu para abrir a porta do táxi, jogou o dinheiro por cima do ombro do motorista e sem esperar pelo troco, enfrentou o alagamento até a casa de Aaron. Lá Sam tocou o interfone e gritou por várias vezes no portão da casa que estava com todas as luzes. Sam só parou quando uma velhinha apareceu no portão da casa ao lado no meio da chuva.

– Você viu o Aaron hoje, não viu? Diz pra mim! – perguntou apressadamente.

– Desculpa meu bem... Mas o jovem Aaron morreu há três meses num acidente terrível... Lamento muito...

– VOCÊ ESTÁ LOUCA! VOCÊS ESTÃO TODOS LOUCOS!!

Sam correu o caminho de volta pra casa e nem parou para pensar como havia feito isso em meio à chuva e os relâmpagos. Sua cabeça girava e girava em imagens que iam e vinham de momentos que ambos tiveram juntos, tanto no passado quando as carícias da noite anterior. Em casa ainda era possível sentir o cheiro do seu amado na cama, conseguia ouvir a voz dele no seu ouvido e o sabor do seu beijo. Para Sam era impossível que Aaron estava morto, mas então no jornal que a empregada havia comprado mais cedo, ele encontrou uma possível confirmação:

– “Três meses e meio depois do acidente onde duas pessoas morreram, a polícia ainda tem dúvidas sobre quem foi o causador da fatalidade”.

Ao ler aquilo Sam começou a chorar ainda mais. Seria aquilo tudo verdade? Sam continuou a ler o jornal com o coração acelerado. Ali os detalhes do acidente estavam resumidamente descritos: Segundo a reportagem, um dos carros invadiu a pista contrária e acabaram batendo de frente. Em um carro tinham duas pessoas de 24 e 22 anos e no outro um senhor de 60 anos. No carro dele foi encontrada uma garrafa de bebida alcoólica quebrada e o senhor, identificado como Raul, morreu na hora. Diziam também que Sam sofreu múltiplas fraturas e Aaron um traumatismo craniano. Ambos foram levados para o hospital, mas infelizmente Aaron não aguentou os ferimentos e morreu 24 horas depois da cirurgia onde tentaram salvar sua vida. Enquanto que Sam ficou em coma induzido por um mês. Aquelas informações era o resumo de três meses e meio atrás. Na última linha vinham as mais recentes. Segundo o jornal, a policia ainda tinha dúvidas sobre quem causou o acidente. E a última peça do quebra cabeça era o depoimento de Sam. O problema era que a família pediu um período para sua recuperação antes de fazerem milhares de perguntas. Já a família de Aaron viajou para o exterior logo depois do enterro do filho único e ninguém sabia para onde foram.

Sam ao terminar de ler sentiu como se os machucados sarados tivessem voltado a se abrir assim como no dia acidente.

– Então é verdade... Isso dói tanto...– chorava enquanto a chuva lá fora caía – Aaron eu não vou conseguir viver sem você! Por favor, volte! Diz que estou sonhando. Diz que é tudo ilusão. Aaron!

Sam não sabia quantas vezes gritou e repetiu aquilo. Lá fora a chuva, os trovões e os relâmpagos abafavam toda a gritaria. Mas dentro de casa Sam já estava sem voz. Suas lágrimas continuavam a descer e suas roupas continuavam úmidas. Sam queria ver Aaron de qualquer forma. Implorava para que ele voltasse, pois a vida não seria a mesma sem ele. Sam não conseguia entender o que estava acontecendo. Se Aaron estava morto, por que consegui o ver e tocar? E se isso tudo fosse um pesadelo, por que o som dos objetos jogados nas paredes era tão real? Cansado de desferir sua fúria em objetos, Sam começou a cair na real e perceber que esse Aaron era na verdade um fantasma. Uma projeção de alguém que morreu há meses atrás e que por algum motivo estava aparecendo por ele. Ao ver que seu verdadeiro amor nunca mais voltaria, Sam resolve ir até os limites dos seus sentimentos. Limites que só havia chegado uma vez durante uma crise de depressão anos atrás, mas dessa vez o motivo era diferente.

Quando Sam deu por si já era madrugada. Imaginava como conseguira cair no sono em meio aquilo tudo. Estava na sua cama, mas não conseguia se levantar devido à dor no corpo. Então ficou por lá mesmo, observando o teto e os brilhos dos relâmpagos e seus trovões. Rezando para que tudo aquilo acabasse logo, mas de repente depois de um clarão, a janela se abriu e ele entrou.

– Aaron... Eu estava te esperando... - Sam sentia sua respiração fraca escapando a cada palavra

– Sam. Me Perdoe. Eu... eu não queria que você soubesse desse jeito - disse se aproximando o suficiente para Sam ver que ele estava diferente. Estava pálido, mas com uma aura etérea – Naquele dia eu não consegui sobreviver e eu de alguma forma ainda estou aqui. Eu sou tipo um fantasma.

– Por favor... Volte – implorava Sam cujas palavras soavam como sussurros.

– Não tem mais como voltar Sam. Sinto que meu tempo está acabando nesse mundo - Aaron subiu na cama e abraçou Sam, mas tinha algo diferente e então percebeu que algo ruim tinha acontecido.

Aaron olhou ao redor e percebeu que Sam deveria ter tido algum ataque de fúria. O chão estava molhado de água, um vaso de plantas estava quebrado no chão e acima dele, na parede, uma marca de terra indicava que ele havia sido jogado. A escrivaninha estava virada de lado, os livros espalhados no chão e um espelho estava espatifado ao lado da cama, junto a uma marca de sangue.

– Sam! Sam! Não! Por que você fez isso? Você... - disse ao perceber que a cama estava úmida e além de água estava úmida de sangue.

– Isso? - disse levantando os punhos que exibiam um corte profundo e deles o sangue escorria num vermelho rubro – Eu não quero ficar sozinho de novo. Eu prefiro ficar ao seu lado. Eu não vou conseguir viver sem você. Eu te amo tanto. Você foi o único que me fez feliz de verdade e me mostrou o que é amor.

– Sam! Não! Você tem que viver! Você vai ter uma vida maravilhosa pela frente! - disse tentando estancar o ferimento, mas o sangue passava por sua mão não mais viva.

– Já é tarde de mais. Essa é a minha decisão. Eu sei o que é solidão. Ninguém sente minha falta e ninguém me ama além de você. Eu simplesmente não existo sem que você esteja comigo – disse chorando.

– Ahh... Sam... Nessa forma eu sou inútil – disse abraçando o corpo já frágil de Sam – Não chore... Vai ficar tudo bem. Eu vou te amar eternamente.

– Aaron... Eu te amo, fica comigo, estou com... Medo – Sam já não sentia as extremidades do corpo e a visão cada vez mais ia escurecendo.

– Não se preocupe meu amor... Eu ficarei aqui a noite toda. E quando você acordar, estaremos num lugar onde finalmente seremos felizes para sempre. Um lugar onde você não sofrerá mais.

– Eu... te amo... - disse num suspiro fraco, onde Aaron pode ver e sentir que Sam havia deixado o mundo dos vivos e agora estava passando para seu mundo. Deixando para trás um corpo que parecia estar dormindo profundamente.

– Vai ficar tudo bem. Eu estou aqui e eu te amo ainda mais...

Sam sentiu tudo desaparecer. Não sentia e não escutava nada. Estava em pé em um túnel escuro, assim como os médiuns diziam. E lá no final uma luz branca brilhava quente e convidativa. Na direção contrária, o som de ambulâncias poderia ser ouvido. Logo percebeu que talvez ainda não estivesse morto e que a sua decisão deveria ser tomada ali. Ao olhar para a luz novamente, viu que alguém o esperava e esse alguém era Aaron, que sorria assim como quando estava vivo.

– Desculpa, mas esse lugar não pertence mais a mim.

Sam então continuou andando na direção do que ele sentia ser seu real caminho. Ignorou o som das ambulâncias e continuou andando para frente. O machucado em seu punho havia desaparecido e seu corpo estava quente e coberto com uma vestimenta branca. Sam correu para a luz branca e se jogou nos braços de Aaron que parecia um anjo.

– No fim acho que você era meu anjo da guarda – disse Sam sem abrir a boca. Era tudo dito por pensamento.

– Você que era meu anjo Sam. Vamos, chegou nossa hora – riu Aaron pegando na mão de Sam, beijando-a e segurando firme para que Sam não ficasse com medo, pois no fim eles estavam indo para um novo mundo. Um mundo onde enfim poderiam ser felizes.

FIM

(^_^)v

by Hikari-Ouji


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