Família Dixon escrita por Andhromeda


Capítulo 8
Sem problemas


Notas iniciais do capítulo

Oie
Adorei todos os comentários - vcs são d++

Porém, vou dedicar esse capitulo - que escrevi de uma vez, pq simplesmente tinha que retribui-la de alguma forma - a Sissi, por sua linda recomendação!
Gente, estou em êxtase ate agora o/ o/ o/
Espero que goste!



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Daryl esperou até que a porta se fechasse atrás dela, em seguida, abriu os olhos e passou a mão pelo rosto e murmurou uma maldição.

Como havia se metido naquela merda.

O caçador avaliou-se severamente por um momento, estava dolorido, fraco, cansado e ainda não totalmente fora de perigo – mesmo sem a febre.

Também não gostava de estar nu – ok, ainda tinha a maldita cueca – mas odiava deixar que os outros vissem as suas marcas – principalmente Beth – se sentia impuro e julgado, mesmo que aqueles olhos azuis nunca o tivessem olhado com nada mais que humor, carinho, respeito, ou ate mesmo raiva, quando ele atiçava seu temperamento. Porem, aquelas marcas miseráveis tinham um efeito estranho sobre as pessoas, por mais que ele já fosse um homem feito, sempre o olhavam com pena depois que viam as cicatrizes. E isso era revoltante e vergonhoso, ele não era mais aquela bicha fraca e chorona que tinha sido quando criança – havia lutado arduamente para se certificar de mudar isso – e tinha o direito de deixar o seu passado lá, no passado – onde não poderia mais feri-lo.

Desconfortável com o confinamento da cama, se levantou – com muito esforço e xingamento – mancou ate a janela e abriu uma das cortinas. Era fim de tarde do lado de fora, a vista não era muito privilegiada, estava no primeiro andar, provavelmente era algum reformatório – tinha tido o suficiente na sua adolescência, para reconhecer um lugar como aquele a quilômetros de distancia – com seus muros com arame farpado e janelas com grades.

Era ate irônico, o fato dele ter fugido de encrencas desse tipo durante a sua vida inteira e quando o mundo virou uma merda, ele tenha chamado uma prisão de lar e se intocado em um reformatório...

Foda-se.

A porta voltou a se abrir e ele se virou para encará-la, ficando de costas para a janela.

A garota estava mais magra que na prisão – mas pálida também – entre tanto, de nada mudava a sua beleza inocente. Aqueles olhos grandes como pratos, os cabelos loiros e a boca...

Não vá por ai Dixon, repreendeu-se com severidade.

Ate mesmo parada ali, com Judy em sua cintura e uma trouxa na mão, com a roupa manchada de sangue e o corpo transbordando tensão. Beth Greene parecia um anjo, que despertava todos os seus instintos de proteção – e fascinação – mesmo que nunca fosse admitir isso a ninguém.

Peguei sua roupa – andou alguns passos, colocou a pequena trouxa na cama e depois deitou a bebê – se quiser tomar um banho.

O aceno de cabeça foi toda a resposta que conseguiu.

A água é fria e aah... sabe... é – suas mãos tremiam enquanto abria a sacola e tirava uma mamadeira de dentro dela – você sabe...

Não sei de nada – levantou uma sobrancelha, o visível desconforto dela só serviu para deixá-lo intrigado.

Sabe, se você precisar de ajuda... digo com o banho – a garota não o encarava, fechou novamente a trouxa e balançou a mamadeira, com uma atenção quase obsessiva – não que eu queira te ver nu novamente... é só que com os seus ferimentos... – seu tom ficava cada vez mais frenético – e os pontos, sei lá, Daryl...

Imagens de como Beth poderia ajudá-lo, começaram a povoar a sua mente. Os dois sozinhos em um banheiro, ele nu e ela o tocando com aquelas mãos delicadas, a água escorrendo pelo seu corpo e aqueles grandes olhos azuis o observando enquanto...

Caralho, ela é a filha do Hershel. E ele não tinha o direito de deseja-la dessa forma.

Desejar não, imaginar.

– Não preciso de ajuda pra lavar meu rabo – sua voz estava mais rouca e ríspida que o habitual.

– Era só uma oferta, não precisa ser um cretino – a adolescente devolveu no mesmo tom.

– Foda-se – e com essas palavras o caipira atravessou o quarto, pegou a trouxa da mão dela, se meteu no banheiro e fechou a porta.

O espaço era minúsculo, mas estava limpo. Era todo revestido em ladrilho e só tinha o básico – banheira, ducha e uma pia com um espelho embarcado em cima.

O caçador sentou na tampa da privada e respirou fundo, seu pequeno arrombo tinha feito seus pontos latejarem, porem não era isso que o estava deixando tão inquieto, mas seus pensamentos.

Não existia a menor possibilidade de estar realmente atraído por Beth Greene. Era toda aquela situação que estava enchendo a sua cabeça de merda, pois viveram juntos por 2 anos e nunca tinha sentido nem mesmo uma fagulha.

Então não era atração o que sentia, era só...

Estou muito tempo sem uma mulher. E ele era bem ativo antes da porra do mundo enlouquecer.

Ao chegar nessa conclusão, o caçador já respirava com mais facilidade, a tensão rapidamente diminuindo.

Seu corpo estava desejando não a Beth, mas a uma mulher, simples.

A garota não era mais uma criança – tanto quanto Carl não era mais um menino – mas jamais seria o seu tipo de mulher.

Sem problemas.

*

Beth estava no quarto andando de um lado para outro, tentando fazer Judith beber a mamadeira. Quanto mais à menina crescia mais voluntariosa se tornava, não estava reclamando – gostava da responsabilidade e alegria de ter a bebê – mas às vezes era tão cansativo.

Quando Judy tinha poucos meses, as coisas eram fáceis, pois a menina passava mais tempo dormindo que fazendo qualquer outra coisa, mas de uns tempos para cá as coisas tinham mudado – precisamente depois que tinha posto os primeiros dentinhos. Agora, por exemplo; por mais que seus olhos estivessem pesados de sono e seu pequeno corpo estivesse cansado, a menininha se recusava a dormir, ou mamar.

Vamos, querida – ela andou ate a janela e deu um olhar de relance para a porta do banheiro.

Ele estava lá dentro há quase 1 hora e se não fosse pelos xingamentos ocasionais ela teria se preocupado com a possibilidade do caçador ter desmaiado.

Judith esperneou e soltou um grito estridente.

– Agora entendo porque Daryl te chama de Bravinha – a menina apenas soluçou um pouco mais auto.

A porta do banheiro se abriu e um Daryl suado e pálido saiu mancando.

– Deus, você esta bem?

– Sim – o caçador rosnou a resposta enquanto caminhava ate a cama.

– Não parece – ela balançou a bebê por mais alguns segundo e sem resistir, se aproximou do caipira e colocou a mão em sua testa para se certificar que a febre não havia voltado – deveria ter aceitado a minha ajuda.

– Consegui me virar bem sozinho.

Beth o encarou da cabeça aos pés e ponderou que a palavra “bem” não era a primeira a vir na sua mente enquanto o olhava. Ele estava vestido – com a calça jeans desgastado e o colete de couro com as azas bordadas nas costas – e seus cabelos estavam molhados por causa do banho, mas tirando isso ele lhe parecia tão abatido quando há dois dias.

Inconscientemente, a mão da garota passou da testa dele para deslizar por seu cabelo e tirar as mechas castanhas da frente dos seus olhos.

Por um segundo, ambos se encararam.

A garota ficou surpresa ao ver calor em seu olhar – não o tipo que queimava com frustração, ou aborrecimento – mas o que esquentava a sua própria essência e parecia brilhar – apenas brevemente – com uma profundidade de emoções – que a adolescente tinha certeza – Daryl não costumava permitir ser tão visível.

Seu coração perdeu algumas batidas e ela suspirou, mas Judy se remexeu em seu colo e todo o encanto se quebrou.

Meio constrangida, Beth puxou a mão rapidamente, dando fim ao contato.

– Não esta com febre, acho que é um bom sinal – tentou disfarçar seu desconforto, mas poderia sentir seu rosto ruborizar.

Ah, droga!

Não que Daryl estivesse fazendo algo para ajudá-la, com aquele olhar penetrante que parecia ver a sua alma.

– Não estou conseguindo fazê-la dormir, ou mamar – a garota foi ate a janela e ficou observando uma rachadura muito interessante na borda do peitoril.

– Me de ela aqui – a voz dele estava estranha, era o mesmo tom rouco de sempre, mas tinha mais alguma coisa escondida por trás das suas notas que a Greene não conseguia explicar.

Pare de ficar imaginando coisas...

Ela foi ate a cama e entregou a bebê a ele.

Tudo aconteceu como em um passe de mágica, em um momento Judy estava esperneando e no outro, apenas soluçando baixinho e soltando alguns balbucios suáveis.

Ate se sentiu tentada a perguntar como ele tinha feito aquilo, porém, bastava só um olhar mais observador para saber que o caçador não fazia a mínima idéia. Estava tudo ali, na forma meio desajeitada e reverente como ele a segurava junto ao corpo, no rostinho encantado da menina por ter conseguido a atenção extra e a melhor parte, os olhos azuis dele, que refletiam toda adoração que sentia.

Talvez não fosse tão difícil convencer os outros de que eles eram realmente pai e filha...

A Greene sorriu

Daryl a encarou, com aquele olhar de garoto perdido que ele tinha às vezes – e a fazia querer abraçá-lo e beijá-lo ate...

Oh, oh, oh, de onde tinha vindo esse pensamento?

Que droga!

Beth estava caindo na própria mentira e isso não era nada bom, não iria e nem podia complicar as coisas – não quando já tinha perdido tanto.

Ele é o Daryl, apenas o Daryl.

Isso era só uma reação da sua mente. Havia perdido muitas pessoas de uma só vez e em pouco tempo ele e Judy tinham se tornado sua única referencia de família, era perfeitamente aceitável que seu subconsciente estivesse tentando criar uma ligação mais próxima entre eles.

Ela poderia lidar com isso, era só direcionar essa necessidade para uma relação fraternal e saudável.

Sem problemas.

– Você pode tomar conta dela enquanto eu tomo um banho?

– Não esquenta.

Beth ainda o observou por alguns segundos – meio incerta – mas acabou cedendo, foi ate a mesa no canto do quarto, pegou a mamadeira e entregou a ele.

– Ela vai acabar dormindo, mas tente fazê-la mamar pelo menos um pouco.

– Tudo bem – ele nem olhou para ela, preocupado demais em agradar a menina em seus braços.

A garota suspirou, pegou a sua sacola e se meteu no banheiro.

Tirou as roupas e entrou debaixo do chuveiro, a água estava tão fria que parecia gelar seus ossos, mas não se importou ou bancou a covarde, pelo contrario, sorriu com alegria. Estava há tanto tempo sem poder se dar ao luxo de tomar um banho – um de verdade – que mesmo tremendo, ficou lá por quase 20 minutos. Lavou os cabelos com um vidrinho de amostra grátis que tinha encontrado naquele hotel, deixou que toda a sujeira e preocupação deslizassem por seu corpo junto com a água.

No fim, secou-se com a mesma toalha que Daryl –tinha se esquecido de levar uma – e vestiu uma roupa que a senhora Parks tinha arrumado para ela. Não gostava de ter que usar a roupa de outra pessoa, mas a segunda opção era as suas – que no memento estavam sujos de sangue, suor e outras coisas.

Beth saiu do banheiro sentindo que pesava uns 30k a menos, em sua calça de moletom – emprestada – e uma blusa regata.

Daryl tinha colocado os travesseiros na guarda da cama para se apoiar e agora estava em uma posição meio deitado/sentado, Judy estava deitada em cima dele, com a cabeça em seu peito – o pequeno corpo aconchegado e protegido.

– Como conseguiu? – a Greene perguntou.

– Ela só comeu e dormiu – Daryl respondeu.

Você tem jeito com crianças, Sr. Dixon – brincou, o caçador deu de ombros.

Distraidamente, a garota deixou sua mochila na mesa e reparou que a cadeira que ate pouco tempo estava ao seu lado, agora estava atrás da porta – com o encostou travando a maçaneta.

– Acho que se eles quisessem nos machucar teriam aproveitado pra fazer isso a 2 dias atrás.

– Não confio no seu vaqueiro e não vou arriscar – levantou a besta que estava apoiado na parede ao seu lado, para enfatizar as suas palavras.

– Ele não é o meu vaqueiro – o caçador bufou com sarcasmo.

– Ele sabe disso?

– Não seja um idiota, ele tem idade pra ser meu pai.

– Eu também, mas olha só – mordeu as palavras – estamos casados!

Não de verdade.

Beth queria gritar as palavras, mas isso só daria mais bala a ele e estava cansada demais para isso. Então, apenas deu de ombros – um movimento que o tinha visto fazer milhares de vezes enquanto estavam na estrada – e se deitou.

Fazendo o possível para ignorar o olhar questionador que lhe lançava como dardos.

Daryl tinha mudado para o lado direito da cama, que alem de ficar mais perto da porta, também permitia que ele pegasse a sua arma rapidamente, ou pudesse protegê-las com seu próprio corpo.

– Vou dormir – a adolescente obrigou-se a dizer quando o caçador continuou a fulminá-la.

Beth virou de costa para ele e ficou encarando a janela – sem vê-la realmente. Por mais que seus olhos estivessem pesados e seu corpo começasse a sentir o relaxamento pré-sono, sua mente não conseguia parar de funcionar.

Simplesmente não podia entender Daryl, numa hora ele era calmo, preocupado, protetor e ate mesmo agradável – principalmente quando estava com Judy – mas logo depois virava um idiota cretino, que arrumava briga por qualquer motivo e xingava como um marinheiro bêbado.

Ele é o Daryl, não perca seu tempo tentando achar sentido em tudo que ele faz ou fala e vá dormir.

**

Só percebeu que tinha caído no sono quando acordou algumas horas depois.

A única luz que iluminava o quarto era a que entrava pela janela aberta, o silencio que dominava o lugar era quebrado apenas pelo ressonar do caçador. Judy não estava mais em cima dele e agora dormia de barriga para cima ao seu lado – entre os dois. A cabeça de Beth estava muito próxima a de Daryl e as pernas dele estavam entrelaçadas com a sua.

Era uma cena intima e se não fosse pelo frio, a garota ficaria lá por alguns segundos, só absorvendo aquela tranqüilidade.

Com muito cuidado, a Greene se levantou e foi ate a janela. A Lua estava grande e bonita no céu sem estrelas, mas as noites nunca tinham sido gentis na Geórgia.

A vidraça da janela estava emperrada, mas com um pouco mais de esforço a garota conseguiu fazê-la deslizar com um estalido seco.

No mesmo instante Daryl levantou, sua mão foi para a besta antes mesmo de seus olhos estivessem completamente abertos, ou a sua mente tivesse registrado o motivo do barulho.

– Calma, só estava fechando a janela.

Ele piscou duas vezes e olhou em volta para certifica-se que estava tudo realmente bem.

– Esta muito frio.

O caçador apenas concordou com um aceno de cabeça.

Ela voltou a se deitar ao lado dele e cobriu – os três – com o cobertor que estava aos pés da cama, o pequeno corpo de Judith se aconchegou ao dela. Viu quando Daryl relaxou o corpo, voltou a se recostar nos travesseiros e fechou os olhos, mas sabia que ele não estava dormindo.

– Desculpa – sussurrou.

– Por quê? – sua voz estava rouca, no silencio do quarto parecia reverberar.

– Por ter inventado essa historia de sermos casados.

O caçador não respondeu de imediato e se não fosse por sua respiração compassada a garota pensaria que ele tinha voltado a dormir.

– Não foi uma idéia tão idiota assim.

E no mundo de Daryl Dixon – ela pensou – aquelas palavras deveriam ser o equivalente a uma congratulação com honras.

– Tudo bem.

Alguns minutos se passaram e a voz dele voltou a preencher o quarto, de uma forma tão baixa que se não fosse pelo silencio ela não teria ouvido.

– Obrigado.

Beth arregalou os olhos com descrença e levantou a cabeça de forma que pudesse ver o seu rosto, a expressão de Daryl era seria – quase solene. O que fez a garota se perguntar qual foi a ultima vez que ele teria dito essas palavras.

– Você sabe... por salvar a minha vida – completou o caçador, com tal honestidade que a Greene não pode duvidar nem por um segunda da sinceridade de suas palavras.

Talvez se ele tivesse tomado um banho com gasolina e depois riscado um fósforo, não teria lhe surpreendido tanto.

E ela poderia ter falado varias coisas, ate o Sol raiar, mas conhecia a bipolaridade dele e por medo de estragar o clima de conciliação que aquela noite havia tomado, ela simplesmente respondeu:

– De nada.

Talvez ele não seja tão idiota assim. Constatou.

Agora vá dormir, menina.

– Boa noite, Sr. Dixon – ela desejou com um sorriso.

– Boa noite, Beth.

E ela teve, a melhor noite em dias...

Sem sonhos tempestuosos ou saltos sobressaltados, apenas a doce exaustão de alguém que não dormia em dias e sabia que estava segura, sendo embalada pelo toque quente e aconchegante da sua bebe e a proteção mais que capaz do seu caçador.


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Notas finais do capítulo

Então?