The Marriage Proposal escrita por Rin Rin


Capítulo 2
Capitulo 2


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo de The Marriage Proposal pessoal ^^
Espero que gostem :D



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Segurando firmemente Sakura nos braços, Itachi praguejou em voz baixa. Por que eu? pensou. Não havia reposta. Nunca haveria. O destino ace­nava com suas garras perversas, e a calamidade os atingia. Ao ser humano não cabia retrucar, nem havia como evitar os reveses do destino. Ele praguejou novamente. Em segui­da, desejou ter permanecido calado.

Sakura mantinha o olhar fixo no dele. Os olhos, normal­mente cor verde, pareciam agora dois poços de es­curidão, refletindo dor e... Seria medo o que via em suas profundezas? Franziu a testa, achando difícil associar uma mulher de espírito tão audaz a um sentimento como o medo.

No instante seguinte, porém, ficou surpreso que tal pen­samento lhe houvesse passado pela mente. Se alguém lhe perguntasse, diria que sua assistente era competente, bonita e organizada. Fora isso, não sabia quase nada a respeito dela. Não, não era verdade. Ele ficara a seu lado durante o funeral do marido, pronto para ampará-la, caso desmaias­se, ou segurá-la, se ela, em desespero, tentasse se jogar na cova aberta. Mas nenhum desses atos heróicos fora neces­sário. Sakura permanecera calada e firme frente à tragédia. Tirara os três dias de folga de praxe e retomara, então, o trabalho e a vida. A única vez que testemunhara uma ati­tude descontrolada por parte dela fora quando o médico telefonara, confirmando que ela estava grávida. Ao ouvir um barulho estridente, vindo da sala ao lado, Itachi des­ligara o telefone na cara de um cliente, imaginando que algo terrível houvesse acontecido. Só quando chegara perto é que percebeu que ela ria. Uma risada histérica, mas era uma risada

— Estou grávida — ela gritou, com os olhos brilhando.— Grávida! Oh, meu Deus, grávida!

Naquela ocasião, ele tivera dúvidas sobre a alegria de Sakura. E, estudando as feições agora, ainda duvidava que estivesse feliz.

O restinho de batom que ficara nos lábios dela contras­tava com a palidez do rosto normalmente corado. Itachi não conseguia entender. O que ela estava fazendo ali?

Sakura ajeitou a cabeça, e uma mecha de cabelos umedecida pela neve enroscou-se na barba por fazer de Itachi. Um aroma invadiu suas narinas, uma mistura de baunilha e canela, com toques de limão e a doçura do mel. Ele inspirou fundo, deixando que a fragrância feminina preenchesse seus pulmões.

O som abafado, não exatamente um gemido, que escapou dos pálidos lábios entreabertos de sua assistente, provocou-lhe uma sensação estranha no peito, uma espécie de apreen­são e doce agonia.

Carregando-a para o andar de cima, deu-se conta de como o corpo delicado se acomodava ao dele, de como ela parecia leve se comparada a seu próprio corpo musculoso, embora fosse uma mulher de quase um metro e sessenta e cinco de altura, cheia de curvas. E grávida, lembrou-se, chocado, ao sentir que seu corpo respondia à proximidade do dela.

Chegando ao quarto, deitou-a sobre a cama king-size e inclinou-se para tirar-lhe as botas. Sakura estendeu uma das mãos, pedindo-lhe para parar.

— Espere — ela gemeu, fechando os dedos sobre a mão dele, apertando-a cada vez mais forte, a fim de suportar a contração.

Com os dentes enterrados no lábio inferior, ela procurou não faz quaisquer sons que pudessem revelar a intensidade de seu sofrimento.

O suor cobria o corpo de Itachi, que contraía involuntariamente os músculos, como se pudesse ajudá-la a expulsar a criança.

— Precisamos de uma ambulância — ele murmurou.

— Não dá mais tempo. — Sakura expirou e soltou a mão dele.

Ficando em pé, ela tirou o gorro e o casaco, e os entregou a Itachi, que, por sua vez, atirou-os de qualquer jeito sobre uma cadeira que havia num canto do quarto.

Ela vestia calça marrom de lã e uma túnica de mangas compridas rosa-clara. Uma echarpe multicolorida circulava o pescoço, presa ao ombro por um bonito broche.

— Você tem algum tapete de borracha? — indagou Sakura.
Que pergunta estranha!, ele pensou.

— Devo ter um pedaço de plástico que usei quando pintei a casa no verão passado.

— Então é melhor ir buscá-lo para cobrirmos a cama. E traga um lençol extra. Ah, e toalhas!

— Certo.

Aliviado por ter algo para fazer, ele correu em direção à porta e desceu as escadas.

Encontrou um pedaço grande de plástico, que servira para proteger o assoalho contra respingos de tinta. Ao chegar de volta à base da escada, parou e pegou o telefone.Necessitavam de ajuda. Ele não tinha a menor idéia de como fazer um bebê vir ao mundo. O telefone, entretanto, estava mudo. Itachi insistiu várias vezes, mas tudo o que ouviu foi o barulho de estática do "outro lado da linha. Ficou ali parado, olhando para o aparelho, até que um som vindo lá de cima forçou-o a largar o telefone e subir depressa as escadas.

Na entrada do quarto, ele parou. Sua assistente executiva estava despindo a meia-calça. O desejo, urgente e intenso, invadiu seu corpo, como se descobrisse naquele instante que ainda pudesse se sentir atraído por uma mulher. Em seguida, limpou a garganta e entrou no quarto.

Sakura havia alinhado os calçados como soldadinhos de brinquedo contra a parede. A calça fora dobrada e colocada sobre a cadeira, onde ele jogara o gorro e o casaco. Estes também haviam sido arrumados.

— Ai...

Itachi voltou os olhos para Sakura, que, inclinada para a frente, abraçava a barriga. Ele ficou ali, olhando, fascinado e horrorizado ao mesmo tempo, enquanto mais uma contração a atingia. O sangue corria com rapidez por suas veias, e Itachi não conseguia entender por que estava tão perturbado com a presença de uma mulher em seu quarto. Uma mulher prestes a dar à luz! Era muito estranho...

Xingou a si mesmo em voz baixa, mas nem isso serviu para afastar as sensações que invadiam seu corpo. Dar à luz fazia-o lembrar-se de como os bebês eram feitos. Um processo muito agradável, por sinal, se é que ainda se re­cordava de como fazê-lo...

— por favor... ajude-me — ela pediu, num tom ofegante.

Itachi voltou a pensar no problema atual, muito mais sério do que o seu próprio.

— Como? O que quer que eu faça?

— Eu preciso... me sentar.

Com todo o cuidado, ajudou-a a erguer-se e a colocou sobre a cama. Ela estava ofegante.

— Calma — ele sussurrou, ajoelhando-se e tomando-lhe as mãos entre as suas. — Devagar... respire fundo... expire...isso, assim.

Aos poucos, a respiração de Sakura foi voltando ao normal, e então ela relaxou, soltando as mãos de Itachi.

— Precisamos arrumar a cama. — Linhas de preocupação surgiram no rosto tenso, e ela suspirou, como se estivesse no limite de suas forças.

— Está bem — ele respondeu.

Itachi a ajudou a sentar-se na cadeira e, depois de afas­tar o lençol de cima até os pés da cama, esticou o plástico sobre o lençol de baixo, cobrindo-o, então, com o outro limpo.

— Você tem um ferro? — ela indagou.

— Um o quê?

— Um ferro de passar roupa, para passar os lençóis. Isso matará os germes.

— Ah... — Ele tinha quase certeza de que havia um guardado em algum lugar da cozinha. — Já volto.

E, como se estivesse disputando uma gincana, Itachi correu até a cozinha e voltou rapidamente.

— Achei! — ele exclamou, empunhado o ferro como se fosse um troféu.

Sakura estava nervosa demais para sorrir com a brincadeira.

— Ligue na potência máxima e passe toda a superfície do lençol. Ele seguiu as ordens, obediente, como se sua vida de­pendesse daquilo.

A dela depende, pensou Itachi, sobressaltando-se com tal pensamento. Mulheres davam à luz a todo instante, no mundo inteiro, sem ajuda médica. Algumas também mor­riam. E, às vezes, até nos melhores hospitais, assistidas pelos melhores médicos. Balançou a cabeça, procurando afastar o pensamento de desgraça. Não havia tempo para mais nada, apenas para tentar solucionar, da melhor forma pos­sível, o problema que estavam enfrentando.

— Como está se sentindo? — ele indagou.

— Não muito bem — Sakura respondeu, enquanto abria o broche e retirava a echarpe do pescoço. Em seguida, co­locou ambos sobre a mesinha-de-cabeceira. — Sinto muito, nunca pensei... E que eu estava tão inquieta e achei... De qualquer maneira, sinto muito por tudo isto.

Itachi fez um sinal com a mão, indicando que estava desculpada.

— O que veio fazer aqui, afinal?

— Não consegui contatar nenhum serviço de entregas disponível, e então achei que um passeio de carro me faria bem. As montanhas são lindas. Na cidade, até esquecemos que estão tão próximas.

— Sim, deve ser bem diferente do Tokyo, onde se pode andar até dois segundos sem encontrar uma monta­nha... — Ele ficou contente ao ver que sua piadinha trouxera um sorriso aos lábios de Sakura.

— Você tem alguma camiseta para me emprestar? Uma bem grande?

— Itachi caminhou até a cômoda e pegou a peça de roupa.

Após lhe entregar a camiseta, ele ficou parado a alguns metros da cama, aguardando as próximas instruções. No que dependesse dele, Sakura teria todo o conforto que fosse possível naquela situação.

— Você se importaria...

Itachi levou alguns segundos para entender que ela não queria tirar a blusa na frente dele. O calor correu sob sua pele, e ele se sentiu como um garoto pego em flagrante, ao espiar uma vizinha pela janela. Então, virou-se de costas.

No entanto, em sua mente, podia vê-la, frágil e incrivel­mente bonita. Pôs-se a imaginar por que, durante todos os meses em que trabalharam juntos, nunca havia reparado na curva dos lábios dela, no contorno suave do nariz, na marquinha no queixo, que não chegava a ser uma covinha. Claro que a achava uma moça bonita, mas havia se passado um ano, e ele nunca a observara direito.

— Pode se virar.

Ao voltar-se, deparou com Sakura já deitada na cama, ves­tindo apenas a camiseta. Ela empilhara os travesseiros con­tra a cabeceira e puxara o lençol sobre o corpo. Os joelhos dobrados formavam uma espécie de tenda, que o impedia de ver as formas arredondadas. Os cabelos compridos es­tavam sedutoramente espalhados sobre os travesseiros.

Então, algo muito estranho aconteceu. Por um instante, não maior que o intervalo entre uma batida e outra de seu coração, pareceu perfeitamente natural a Itachi que se jun­tasse a ela sob o lençol e fizessem amor. Apertando as mãos, ele lutou contra o forte impulso que o fez recear agir antes de perceber o que estava fazendo.

— Eu realmente sinto muito por estar lhe causando tantos problemas — ela se desculpou de novo. Os olhos castanhos se desviaram, e ele notou o quanto Sakura estava embaraçada.

Não havia como repreendê-la naquele momento. Não em seu estado. Adotando um tom de voz suave, Itachi falou:

— De certo modo, também me sinto responsável.

— Acho melhor chamar uma ambulância — ela disse, fechando os olhos e apoiando a cabeça com força contra os travesseiros.

Uma expressão de dor transformou o pedido de Sakura em um apelo de socorro. Itachi percebeu que ela passava por uma nova contração. Quanto tempo teria decorrido desde a última? Será que não era necessário alguém contar o intervalo entre elas? Sim, é claro, ele é quem deveria ter se encarregado disso!

Sakura encarou-o. Os olhos dela pareciam possuir a textura do veludo. Itachi poderia mergulhar na profundidade deles e... O medo estampou-se nos abismos cor verdes. Ele engoliu em seco e procurou se concentrar.

— O telefone não está funcionando. Eu tentei ligar, mas ele não dá linha —Itachi explicou, enquanto caminhava até a mesa-de-cabeceira e pegava a extensão. — Continua mudo — informou, procurando manter a voz serena. Alguém ali precisava manter a calma.

— Provavelmente a culpa é minha. Atingi o poste tele­fônico antes de cair na valeta. Derrubei também a caixa de correspondência, mas essa já coloquei no lugar. Onde está seu telefone celular?

— Em meu apartamento. Esqueci de trazê-lo. — Ele não podia acreditar no que ela acabara de dizer. — Você disse que bateu o carro?

Sakura, entretanto, não conseguiu responder. Ela esticou a mão, procurando um apoio.

Sentado-se a seu lado, na cama, Itachi segurou-lhe as mãos, enquanto os tremores causados pela contração pare­ciam atingir a ambos. O suor cobria tanto o rosto de Sakura quanto o dele.

— Essa foi longa — ela gemeu.

— Sim, eu sei. — E, olhando no relógio, acrescentou: — Durou quase um minuto e meio. Espero que Deus nos ajude!

— Vai precisar de uma tesoura e um fio de linha grossa — Sakura falou, enquanto enxugava o rosto suado numa toa­lha. — Limpe tudo muito bem com álcool ou água quente, como nos filmes — concluiu, sorrindo.

Para Itachi, era como se a qualquer momento fosse des­pertar daquele sonho estranho e intranquilo. Ele olhou pela janela. A noite já havia caído, porém, ainda tinham muito tempo até o raiar do dia. Definitivamente, aquilo não se tratava de um sonho.

A realidade implacável o atingiu. Isso tudo estava real­mente acontecendo. Sakura, sua competente assistente, iria dar a luz a um bebê em sua casa. Em sua cama.

— Mais alguma coisa? — ele perguntou.

O rosto dela novamente se iluminou num sorriso corajoso.

Itachi sabia que era apenas para lhe dar algum alento, e isso também lhe causou uma estranha sensação.

— Passe uma toalha a ferro bem quente para embru­lharmos o bebê. Ele vai se chamar Seiji.

— Seiji — Gareth repetiu.

Deixando os pensamentos de lado, Itachi saiu, apressa­do, para realizar as últimas tarefas.

Quando tudo estava limpo e cuidadosamente arrumado, de acordo com a vontade de Sakura, ele lavou as mãos até se certificar de que estavam bem limpas e sentou-se ao lado dela, na cama.

— Segure minha mão — disse, ao notar que as linhas
suaves do rosto dela começavam a se transformar.

Ela agarrou as mãos fortes, como se não pretendesse soltá-las nunca mais. Inspirando profundamente, começou a respirar como a médica havia lhe ensinado, em pequenos arquejos. Em seguida, soltou as mãos de Itachi e dobrou os joelhos para cima novamente.

— Ai... — gemeu baixinho.

Ele se ajoelhou ao lado da cama e checou o progresso.

— Já estou vendo o bebê — informou, engolindo em seco, a fim de afastar o nó que se formava em sua garganta.

— Já pode ver a cabeça dele? — ela perguntou, voltando a respirar de maneira ofegante.

— Pelo menos Itachi achava que aquilo fosse a cabeça. Então, exclamou: — Está vindo!

Sakura gemeu e fez força.

— Isso mesmo. Está indo muito bem. — A emoção na voz
dele era visível. — A cabeça já saiu e está virada para baixo.

Ela inspirou profundamente, relaxando um pouco, e respondeu:

— Acho que é assim mesmo. Veja se o cordão umbilical não está enrolado no pescoço do bebê.

— Não estou vendo o cordão.

— Ótimo.

Sakura parecia estar descansando, e Itachi, embora aliviado por tudo ter corrido bem até então, não tinha idéia do que teria de fazer em seguida.

Os minutos se passavam. Ele notou como o silêncio podia ser eloquente. O ruído do vento, o bater da neve nas janelas, os sons característicos da noite lembravam-lhe quanto es­tavam isolados.

Ela recomeçou a gemer. Itachi notou como o abdômen se contraía com o início de uma nova contração e, levantando o rosto, fitou-a nos olhos.

De repente, algo insólito aconteceu. Era como se algo intangível estivesse atingindo-o e se infiltrando em sua alma. Feixes de luz pareciam se formar à volta deles, envolvendo-os por completo, aproximando-os cada vez mais.

Sakura agarrava-se ao lençol e respirava com dificuldade.

— Você está indo muito bem — ele a incentivou, sentindo uma vontade quase irresistível de beijar aquela mulher corajosa.

Ela fez força mais uma vez, e então a criança nasceu. Escorregando para os braços de Itachi, o bebê deu um grito indignado e, em seguida, começou a chorar.

— E um menino! — ele exclamou, excitado. — Conse­guimos trazê-lo ao mundo!

— Deixe-me vê-lo — pediu Sakura.
Itachi ergueu o recém-nascido.

— Está tudo aqui. Os dedos das mãos, os dedos dos pés, os olhos, as orelhas, as partes certas nos lugares certos... — Ele ria como um tolo.

Sakura também sorriu.

— Agora corte o cordão umbilical — ela falou.

— Está bem.

Seguindo as instruções de Sakura, Itachi conseguiu amar­rar e cortar o cordão sem desmaiar, e teve certeza de que nunca mais duvidaria da Superioridade das mulheres sobre os homens.

— Deixe-me segurar o bebê — ela pediu, assim que ele terminou sua tarefa.

Ela estava deitada, apoiada nos travesseiros, pálida, no entanto, mais linda do que nunca.

Itachi colocou o bebê nos braços ansiosos da mãe. Depois, retirou o plástico e os lençóis sujos da cama e esticou os limpos. Então, inclinando-se sobre Sakura e o recém-nascido, afastou uma mecha de cabelos da testa dela, com dedos ainda trêmulos.

— É uma das pessoas mais corajosas que já conheci — ele confessou, em tom reverente, sentindo o coração bater mais forte.

Os olhos verdes abriram-se ainda mais e fitaram os dele.

Itachi deixou o quarto antes que Sakura pudesse responder.

Após ter se limpado e colocado a roupa de cama na má­quina de lavar, ele tentou novamente usar o telefone no piso térreo, antes de subir. O aparelho continuava mudo.

Sakura repousava de olhos fechados, com o bebê cuidadosa­mente embrulhado na toalha que Itachi passara a ferro a seu lado. Seria preciso arranjar algo que servisse de fralda, mas, por enquanto, era melhor deixar mãe e filho descansando.

O cansaço também o dominou. Ele caminhou até o painel de vidro que formava uma das paredes do quarto. Havia mandado construir ali um cômodo todo de vidro, que servia para captar o calor do sol durante o dia e irradiá-lo para os aposentos contíguos durante a noite.

Abrindo a porta em silêncio, atravessou as lajotas aque­cidas e parou na frente de uma janela. A neve continuava caindo. Já formara uma camada de aproximadamente vinte centímetros, maior ainda nas laterais da estrada, e o veículo que removia a neve não conseguiria chegar até lá antes de segunda ou terça-feira.

Tentou concentrar-se nos assuntos de ordem prática. Bem, pelo menos tinha bastante comida estocada, mesmo contando com hóspedes inesperados...

Deus, mal podia acreditar que havia feito um parto e que o bebê parecia estar em perfeitas condições de saúde. Quantas coisas poderiam ter dado errado!

O sofrimento guardado em seu coração havia muito tempo forçou passagem e envolveu-o por completo.

Segurando com força o batente da janela, itachi desistiu de lutar contra as lembranças dolorosas e se deixou envolver pelo pesar.

Três anos atrás, uma emergência o fizera correr para o hospital. Sua noiva sofrerá um acidente. Um motorista bêbado invadira a pista contrária a quase cento e sessenta quilômetros por hora e atingira o carro que Keiko dirigia.

— Onde ela está? — perguntara, aflito, ao médico que vinha em sua direção, por coincidência, um velho amigo que tratara logo de chamá-lo pelo telefone celular.

O médico apontou em direção à Unidade de Terapia Intensiva.

— Ela está esperando por você.

Só muito mais tarde, Itachi compreendera que o amigo tentara lhe dizer que Keiko havia esperado até que ele pudesse abraçá-la pela última vez. Um último beijo. As úl­timas e desesperadas palavras de amor.

E, então, ela se fora. E, com ela, a criança que crescia em seu ventre havia apenas dois meses.

Isso acontecera uma semana antes de seu casamento.

O desespero o atingira de maneira implacável. A culpa era toda sua. Se não houvesse telefonado e pedido a Keiko que fosse buscá-lo tarde da noite no aeroporto... Estavam longe um do outro havia uma semana, e o desejo de revê-la sobrepujara o bom senso.

Procurou lutar contra a raiva e as outras emoções igual­mente inúteis naquele momento. Estava vivo. Não queria, mas estava vivo.

Balançou a cabeça, questionando-se por estar relembran­do o passado depois de três anos.

Lembranças dolorosas não lhe trariam nenhum conforto. Tinha outras coisas mais importantes para fazer. Como, por exemplo, verificar que tipo de estragos Sakura provocara com sua picape.

Retornando ao quarto, parou um pouco para observar a nova mãe e seu bebê recém-nascido dormirem. Uma fenda profunda parecia estar se abrindo em seu peito. Sakura e seu filho de alguma maneira revelavam o vazio que teimava em habitar seu coração. Não apreciava a sensação, que, desvendada, doía como um nervo exposto.

Procurou afastar tais pensamentos. Sakura era sua assis­tente executiva, inteligente, bem treinada, que fazia o tra­balho do modo que ele gostava. Já havia algum tempo, pen­sava em incentivá-la a fazer um curso de aperfeiçoamento na área legal. Ela possuía inteligência e autodisciplina ne­cessárias. Entretanto, a gravidez o fizera adiar os planos.

O nascimento da criança também modificaria a rotina de Sakura. Ele ainda não sabia quanto. Não queria nem pen­sar no assunto. Depois que esse incidente estivesse termi­nado, não precisaria ver o bebê nunca mais. A mãe já re­servara uma vaga em uma creche.

Daria a ela algum tempo de folga, quanto necessitasse. Quando ela retornasse ao trabalho, tudo voltaria ao normal.

Se não, ele a ajudaria a encontrar outro emprego.


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Notas finais do capítulo

bom é isso ^^ espero q gostem u-u



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