My baby shot me down escrita por Miss SilverTongue


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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I was five and he was six
We rode on horses made of stick

(Eu tinha cinco anos e ele seis
Nós andávamos em cavalinhos de pau)

Nós éramos jovens quando nos conhecemos. Crianças, verdadeiras crianças, do tipo que escalam árvores, brincam de pega-pega e cavalgam com cavalos de madeira. Éramos dois moleques, e ele sempre foi o mais convencido, o mais arrogante, o mais irritante de todos; entre guerras e brinquedos corríamos um atrás do outro, até o sono nos derrubar na grama, um ao lado do outro.

He wore black and I wore white
He'd always win the fights

(Ele usava preto e eu usava branco
Ele sempre vencia as lutas)

Ele usava branco, era a cor da ordem dos sagrados cavaleiros teutônicos, só depois ele começou a usar preto, uma nova cor para um novo nome; mas o preto pode ser tão sagrado quanto o branco, não é? E eu, eu usava verde, e mesmo depois continuei usando verde. Acho que ele gostava disso, mesmo que nunca tivesse me dito. Nem isso, nem qualquer outro elogio. Não, nós só lutávamos, e eu sempre deixava ele ganhar.

Bang, bang, he shot me down
Bang, bang, I hit the ground
Bang, bang, that awful sound
Bang, bang, my baby shot me down

(Bang, bang, ele atirou em mim
Bang, bang, eu caí no chão
Bang, bang, aquele som horrível
Bang, bang, meu amor atirou em mim)

Por quê? Nem eu sabia direito. Às vezes ele percebia e se zangava, mas na maioria das vezes só gargalhava sobre como ele era incrível. Acho que eu tinha medo de que, se eu ganhasse, seu orgulho ficaria machucado demais, e ele não voltaria nunca mais. Eu preferia ser derrubada no chão, ouvindo o horrível barulho metálico das nossas espadas se chocando, e o horrível som da gargalhada dele.

Seasons came and changed the time
When I grew up I called him mine

(As estações vieram e mudaram o tempo
Quando eu creci eu o chamei de meu)

Mas o que é bom nunca dura para sempre. Nós tivemos que crescer. As estações passaram e nós deixamos para trás nossa primavera. E no verão, entre as folhas verdes, no meu corpo amadurecido de mulher, eu descobri o meu amor por ele. Eu me entregaria a ele, se ele pedisse, porque para mim ele já era meu, não importava se tínhamos ficado tão distantes, tão diferentes.

He'd always laugh and say
Remember when we used to play?

(Ele sempre só riria e diria
Lembra de quando costumávamos brincar?)

Ele só ria, claro, como sempre. Ele ainda buscava em mim o garotinho que eu tinha sido. Ele ia atrás de mim para me provocar, bagunçar a nova vida que eu tinha construído para mim. Ele me faria lembrar de quando nós brincávamos juntos, tentando resgatar aquilo que já tínhamos sido. Mas ele não podia entender que mesmo que eu quisesse o mesmo que ele, não podia ser.

Bang, bang, I shot you down
Bang, bang, you hit the ground
Bang, bang, that awful sound
Bang, bang, I used to shot you down

(Bang, bang, eu atirei em você
Bang, bang, você caiu no chão
Bang, bang, aquele som horrível
Bang, bang, eu costumava atirar em você)

Mas nós ainda voltaríamos a lutar. E lutar era tudo o que podíamos fazer. Naquela guerra, era mesmo contra a nossa vontade? Estávamos lutando um com o outro, ou contra nós mesmos? Eu não sabia. Mas dessa vez eu o venci, e foi ele que atingiu o chão, sob horrível barulho, não de espadas, mas de tiros de canhão. E o único som pior que a gargalhada dele foi o seu tom de derrota quando ele me lembrou que ele é que costumava me vencer.

Music plays and people say
Just for me the church bell rangs

(Música toca e as pessoas dizem
Só por mim os sinos da igreja dobram)

Nosso orgulho tolo nos impediu de confessar o que sentíamos. Mas eu não podia esperar sozinha para sempre. Cansei-me de deixar meu coração vulnerável a cada golpe dele, e tive que trair meus próprios sentimentos e me casar com outro, cuja música do piano acabou me conquistando. Ele pode até ter fingido que estava feliz como todos os outros, mas quando os sinos da igreja tocaram, eu sabia que seus olhos vermelhos carregavam a mesma tristeza que os meus.
(E só mais uma vez os sinos da igreja dobraram, e dobraram por mim apenas.
Os sinos dobram para os que vivem.)

Now he's gone, I don't know why
Until this day, sometimes I cry

(Agora ele se foi, eu não sei porque
Até hoje, às vezes eu choro)

Agora ele se foi. Eu não sei como, eu não sei porque. Tudo ficou tão confuso por tanto tempo, tantas guerras, tantas mortes, tantas traições. Nós nos perdemos, perdemos um ao outro, não sabíamos mais o que sentir. Mas a verdade é que quando eu dei por mim eu estava sozinha, abandonada, e ele se fôra, para sempre dessa vez. E até hoje, depois de tanto tempo, eu me lembro, e choro.

He didn't even say good-bye
He didn't take the time to lie

(Ele nem mesmo disse adeus
Ele não teve tempo de mentir)

Ele nem mesmo disse adeus. Talvez, se tivéssemos tido a chance de nos despedir, eu poderia finalmente ter dito tudo o que eu verdadeiramente sentia por ele. Ele saberia que tudo o que me importava sempre tinha sido apenas ele, que apenas ele eu tinha amado. E eu sei que ele só riria, mas nesse riso eu saberia que era verdade para ele também. Mas não, não houve tempo, nem mesmo para ele mentir e dizer que tudo ficaria bem.

Bang, bang, he shot me down
Bang, bang, I hit the ground
Bang, bang, that awful sound
Bang, bang, my baby shot me down

(Bang, bang, ele atirou em mim
Bang, bang, eu caí no chão
Bang, bang, aquele som horrível
Bang, bang, meu amor atirou em mim)

E, sim, ele me matou. Ele bem sabia que se ele morresse eu nunca mais poderia viver, não poderia viver sem minha alma e minha vida, e ele era ambos. E agora a bala que minha própria mão disparou atingiu meu peito e, bem devagar, eu cai no chão. A última coisa que eu ouviria seria o som do meu coração parando de bater e a total e horrível ausência da maravilhosa risada dele. Eu vou morrer, e foi meu amor que me matou.


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