-E.R.R.O- escrita por Sr Devaneio


Capítulo 1
Você não vê as lágrimas?!


Notas iniciais do capítulo

Primeiro e último.Espero que gostem e que eu tenha conseguido representar bem o sentimento triste e melancólico que a música passa.Para isso, vou precisar dos comentários de vocês. Vamos, é uma Oneshot! Não vai doer nada! ;)



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Ela estava de volta em sua casa. Também estava arrasada ao descobrir que ele a havia abandonado daquela forma.

As lágrimas artificiais ameaçaram cair e a Drone de grandes marias-chiquinhas rosa deixou seus sensores de movimento e pernas guiarem-na até o seu quarto, onde havia um grande espelho-cibernético, que é o local que os Drones usam para fazer as manutenções e ajustes que deveriam ser feitos sempre que precisassem.

Aquele era para ser um mundo perfeito. Finalmente os humanos haviam conseguido controlar a tecnologia e desenvolvê-la ao máximo, alcançando o ápice de desenvolvimento nas cidades e a qualidade de vida da população de cada uma delas.

Era para ser o mundo ideal...

“E é.” – ela pensou – “O mundo perfeito e ideal dos humanos. Mesmo com toda essa modernidade, mesmo conseguindo desenvolver uma tecnologia capaz de dar sentimentos e emoções a criaturas como nós... esse sempre foi o mundo idealizado por e para eles mesmos.”

Como eles diziam mesmo, na época da virtuescravidão?

“Robôs, Drones, todo e qualquer tipo de aparelho. As Máquinas em geral devem servir e obedecer ao homem, pois por eles foram criadas e para eles foram feitas.”

Mesmo vinte anos após a derrubada desse preconceito, aquele lema reinava. Os humanos, quando não atacam a si mesmos, procuram algo para poder atormentar, algo para poder destruir. Como toda forma de ataque mútuo acabara, as Máquinas foram as escolhidas para serem as novas vítimas.

Não havia jeito. Mesmo com tanta guerra, depois de tudo o que acontecera nos últimos cento e vinte anos, no fim das contas, alguém teria de sofrer simplesmente por sofrer. Eles se sentiam bem com isso, então esse era um fato que não mudaria.

Essa era a lei encravada na mente de cada um deles. E não havia nada que pudesse mudar aquilo.

Ela, na verdade, fora uma... como eles diziam? Idiota, ao pensar que com ele tudo seria diferente. Que ele era diferente.

No fim das contas mesmo, era só mais um... humano.

Aquilo fazia suas placas faiscarem, seus sistemas entrarem em desordem, causando um caos interno naquela máquina perfeita. Esse era o ruim da modernidade. Na tentativa de fundir homens e máquinas, seres como ela, os Drones, eram aparentemente perfeitos. Podiam fazer tudo o que as máquinas faziam. Não se cansavam, eram descomunalmente fortes, e também podiam sentir, como eles.

Homem e máquina. Era a junção ideal. A perfeição tão sonhada pelos próprios humanos.

Claro, não eram eles que tinham de conviver e sentir placas e circuitos queimando, sensores em geral dando defeito e tudo o mais por causa de um coração partido ou outro sentimento muito forte.

E todo o ser da pobre Drone corroía a si mesmo. Piorava quando ela pensava nele e no que fizera.

Ela foi até seu armário, decidida a dar um fim naquilo.

Alcançou a Caixa Vermelha e destravou-a. Nunca pensou que seria capaz ou que precisaria recorrer a ela. Mas aquilo era demais.

A Caixa abriu, revelando uma segunda e pequena caixinha. Para abri-la, ela teria de usar seu código-fonte. Para um Drone, era a coisa mais valiosa e perigosa. O código-fonte fornecia-lhes tanto uma identidade quanto armas, suprimentos e qualquer coisa que os Drones precisassem.

Inclusive... um fim ao sofrimento.

Ela pegou a pequena caixa e acessou a fechadura. O tabuleiro-de-código-pin surgiu, com seus números, símbolos e letras.

Ela pensou duas vezes. E acabou decidindo que iria fazê-lo. Estava certa disso. Então digitou seu precioso código e o segundo selo se abriu, revelando um mundo de opções e possibilidades. Possibilidades que somente ela teria. Possibilidades conectadas ao seu sistema wi-fi e à sua rede principal.

Ela procurou e rapidamente encontrou. Programou o Modo de Reiniciação Geral enquanto chorava incontrolavelmente. Sua visão estava borrada pelas lágrimas, que atrapalhavam o processo.

Quando a contagem começou em sua visão, ela se escorou no espelho, deixou o chip cair no chão e permitiu que seu corpo perfeitamente elaborado e construído com os melhores materiais deslizasse até que ela estivesse sentada no chão.

Ela ativou o modo interchat, chamando no usuário dele e a pequena janela digital azul surgiu diante de si.

Sim, ela iria embora, mas deixaria uma mensagem final.

Em seguida, ativou o modo musical e colocou aquela música. O som da guitarra elétrica começou a tocar em sua cabeça, seguida pela bateria energética. Ela preparou-se para dramatizar a música que, embora ela não entendesse direito antes, era sua favorita.

A música que, agora, ela entendia.

Então ela começou a cantar. Nesse momento, ele atendeu ao videochat.

– “Pode vê-las? As lágrimas em meus olhos. Eu estou desfocada pelas cores da vida.”

– Erion, mas o que...? – ele perguntou, surpreso em vê-la naquele estado e confuso com suas primeiras palavras.

Ela o interrompeu, pois a música não parava:

– “O que fez você me deixar?” – Erion perguntou, com lágrimas em seus olhos perfeitos e uma expressão derrotada em seu rosto também perfeito – “Pergunte-me, eu vou entrar em colapso!”

Em seguida, ela alterou a cor de suas íris na sequencia dita pela música e continuou a cantar sua última melodia:

– “Está misturando azul, vermelho e branco. Eu estou gritando para este mundo...”

Então ela sorriu, com todas as lembranças boas que tiveram juntos. E sorriu mais tristemente ainda em se dar conta da reviravolta que tinha acontecido.

– “O que eu estava desejando?” – perguntou a si mesma, sorrindo e olhando para o teto enquanto as lágrimas caíam livremente – “Eu estava cansada de persegui-lo.”

– Erion, eu sei que... Espera, você ativou o modo de autorreiniciação?! – seus olhos esbugalharam quando ele conseguiu, de alguma forma, enxergar os números decrescentes refletidos no olhar triste e melancólico de sua (ainda, apesar de tudo) amada.

– “Quanto mais?” – ela perguntou, ignorando-o e ainda cantando.

– O que você está pensando? – ele gritou.

Agora, sua expressão havia mudado. Estava com as sobrancelhas franzidas de um jeito triste e desesperado. Seus músculos faciais moveram-se para deixa-lo naquele estado. Agora, ele estava com medo.

Mas a música não parava:

– “Eu estou quebrada? “– Erion fez uma expressão derrotada, arregalando os olhos, franzindo mais as sobrancelhas tristes e entreabrindo rapidamente os lábios para respirar.

As lágrimas continuavam caindo.

– “Estou quebrada!” – ela disse, dando-se conta de que era verdade – “Mas... eu ainda quero respirar, respirar.”

– Erion, estou indo para aí! – disse ele e começou a correr.

Então, ela finalmente olhou para a tela digital, para os olhos dele, e cantou, num sussurro:

– “Você pode vê-lo? Tal como os meus sonhos, as palavras finais estão presas...” – Erion cerra os olhos e com um trágico, mas belo pesar, canta – “ERRO!”

– Erion! – ele gritou.

Seus olhos brilhavam.

Ele iria chorar logo, logo.

Erion recostou-se no espelho e fechou os olhos, sempre cantando:

– “Aquele longo dia, a luz fraca transborda dos céus. O que você organiza e seleciona?”

– Erion, não faça isso! – ele disse, seu tom era quase como se ele implorasse.

Erion abriu os olhos e fitou-o tristemente de novo:

– “A cor das lágrimas sobrepõe-se!”

Ele não morava muito longe. Andando, talvez uns cinco ou sete minutos separavam o apartamento dele do dela. Correndo... muito rápido, bem, talvez daria o tempo que aquela música tinha. Cerca de três minutos e cinquenta segundos. Mas a música já havia começado...

Erion cobre uma mão com a outra e as coloca sobre o peito, referindo-se a si mesma ao cantar e dramatizar:

– “Este corpo flutuante derrete-se na consciência. O que você vê e compara?”

– Droga, ainda está longe. Erion, porquê?! – ele grita no fim. Dá pra ver pela tela digital o fundo movendo-se rápido enquanto ele corre.

– “Eu estou triste, então eu esqueço...”

– Erion! – ele grita novamente, tentando em vão chamar a atenção da Drone.

– “Quanto mais?” – pergunta Erion, cerrando os olhos como se uma dor imensa em seu peito corroesse seus circuitos.

E é de fato o que está acontecendo.

Ela então, se deixa tombar para o lado e canta, ainda dramatizando um sofrimento real, com aquele agudo perfeito e alto:

– “Eu estou destorcida? Estou destorcida! – ela vê os circuitos de sua visão tremerem e chiarem.”

– “Mas eu ainda quero respirar! Eu estou sonhando?! Oh, as palavras finais presas. Para você, quem eu estou pensando...” – Erion repete a expressão lindamente pesarosa, sua garganta aperta, como se algo realmente estivesse preso e ela canta o agudo – “... em ERRO!”

Enquanto o instrumental da música acontece, Erion chora sobre seu braço estendido. Então, algo surge rapidamente em sua mente. Ela abre os olhos decidida e lentamente começa a se levantar. Talvez mudanças exageradamente rápidas sejam resultado das inúmeras falhas que só crescem em seu interior.

– Já estou quase... – ele diz através da janelinha azul.

Então, é hora de cantar novamente:

– “Dando, estando aqui. Esquecendo-se. Você não pode fazer isso?”

Um sorriso um tanto insano surge em seus lábios, contrastando de uma forma espetacular com as lágrimas, que ainda caem teimosas:

– “Este louco. Novamente, eu rio e mato!”

Erion volta seus olhos para a tela, fitando os olhos dele e canta, já com uma expressão dura e fria:

– “Você está me quebrando?”

– Erion, não! Pare com essa besteira!

– “Você sabe o que é destruição?” – ela pergunta com a música. E sua pergunta é sincera.

Como ele poderia saber? Como ele poderia sentir?

Ele não era, afinal de contas, um Drone.

Dando-se conta disso mais uma vez, a expressão cansada e derrotada de Erion volta. Seus sistemas realmente estão desajustados. Ela fecha os olhos, cerra os punhos sobre o peito novamente e mais lágrimas caem quando ela canta:

– “Mesmo assim, minhas lágrimas doem, doem.”

Ela estende uma das mãos, como se quisesse alcança-lo.

– “Será que chega até você? A voz que está cantando...”

E declara, com um misterioso e diferente pesar:

– “Eu ponho minhas ultimas palavras. Mas as cores sobrepostas estão borradas.”

Nesse momento, ele já pode avistar a porta do apartamento de Erion.

– “Eu estou quebrada?” – ela pergunta, enquanto vê que ele se aproxima – “Estou quebrada.” – conclui, com um triste sorriso final.

Então a porta se abre.

Erion se vira e eles se encaram. Ele está ofegante e mantém uma expressão aterrorizada no rosto. A expressão de quem sabe que está prestes a perder algo realmente muito valioso.

Erion sorri triste, e duas lágrimas caem quando ela diz:

– “Mas eu ainda quero respirar, respirar...”

– Erion... – ele ofega e rapidamente corre ao encontro da Drone amada.

Apenas três metros os separam.

Mas a música já está muito no final.

– “Assim como o final do sonho que eu lhe mostrei. Mesmo as últimas palavras...”

Erion chora mantendo o sorriso triste.

Ele finalmente a alcança. Nunca tinha dito que a amava e sentia que devia fazê-lo exatamente agora!

– “... estão presas...” – Erion canta o fim da música, enquanto o cronômetro marca seus três últimos segundos.

Ele sente que as palavras não podem sair. Elas param em sua garganta e ficam por lá mesmo.

– Erion, eu te...

Eles se encaram profundamente. Ela então sorri pela última vez. Duas últimas lágrimas caem, uma de cada olho, e Erion canta sua última palavra, olhando naqueles ternos olhos, os olhos que ela adorava:

– “ERRO...”

Em seguida, o cronômetro chega no zero.

O corpo dela perde as forças e cai. Ele a segura e olha em seus olhos, que já estão apagando, mas ainda brancos da cor indicada pela música.

Os olhos dela vão perdendo a luminosidade. Sim, vão se desligando rapidamente enquanto todas as suas memórias se vão.

Todos os momentos deles, tudo o que foi importante para ambos. E só então, ele percebe que as áreas ao redor das íris dela, em vez de estarem verdes, haviam ganhado uma luminosidade vermelha no processo.

Aquilo foi como uma punhalada em seu coração. Imediatamente, ele se arrepende de tudo. As lágrimas irrompem pelo seu rosto enquanto é a vez dele chorar com pesar.

É tarde demais, e ele sabia.

E, ao que aquela fraca luminosidade vermelha indicava, Erion não havia perdido somente suas memórias.

– As palavras finais estão presas... – ele disse, lembrando-se do trecho da música – Você nem pôde ouvir... Me perdoe! Erion, me perdoe!

As palavras finais... estavam presas.

Então seus músculos da garganta relaxam. Ele sente que agora que tudo estava perdido, podia dizer livremente:

– Eu... Erion, eu... Eu te amo.

Mas a oportunidade havia passado. Ele havia perdido, deixado passar todas as oportunidades.

Erion havia se autodestruído.

E ele sabia: nenhum Drone podia se recuperar daquilo. Sim, era possível reaver memórias perdidas de uma autorreiniciação, mas uma autodestruição não tinha volta. Ele fechou seus olhos. Tudo o que podia fazer era lamentar.

Pois mesmo as últimas palavras...

Elas estavam presas...

–ERRO-.


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Notas finais do capítulo

Bem... é isso.Espero que tenham gostado e vamos aos comentários! ^^Até breve, pessoal!*Caso você curta um Apocalipse Zumbi maroto, tenho um Original esperando por você. Basta copiar o link e colar em seu navegador: http://fanfiction.com.br/historia/572464/ApocalipZe/
Respondo todos os reviews com atenção e carinho. Também prometo zoeira.
Obrigado galerinha!