The Beach escrita por Rocker


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Tive a ideia dessa one shot no meio de um surto de criatividade enquanto estava na praia... Demorei um pouco, mas está aí, espero que gostem! ;)



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The Beach

Capítulo Único

Written by Rocker

Novamente eu me encontrava caminhando pela praia. Talvez fosse uma mania, talvez fosse uma necessidade, eu não saberia dizer. Tudo o que eu podia dizer com clareza era que não havia um única tarde que eu não viesse até a praia. Pisar com pés descalços naquela aquela úmida era refrescante e quando a maré lambia meus pés, puxando-me para o mar, convidando-me a entrar, era como se todos os meus problemas fossem embora. Olhando para a esquerda, eu podia ver o sol chegando cada vez mais perto do horizonte, o céu alaranjado e o mar infinito. Havia uma beleza natural naquela cena, que eu sabia muito bem aproveitar. Eu não era louca por natureza, e nem era exatamente ecológica radical. Mas, de algum jeito, o pôr-do-sol parecia me acalmar de um jeito que yoga algum um dia conseguiria. Era minha terapia particular, e eu não trocaria por nada.

Continuei andando à beira mar, sentindo a brisa jogando meus cabelos contra meu rosto. Apesar de meu cabelo dessa vez estar preso em um coque por uma presilha, alguns fios se soltavam com o vento e ricocheteavam nas bochechas. Levei minha mão ao rosto, desenrolando alguns fios que se enroscaram no óculos de grau que eu usava apenas para enxergar de longe. Quando levantei meu rosto, percebi que já havia chegado ao lugar onde sempre passo os finais das minhas tardes. Um pedaço de areia, grande o suficiente como uma sala de estar, e completamente cercado por pedras altas. Era isolada, e quase ninguém ia naquele lugar. A entradinha para o pedaço de mar era estreita e quase ninguém se arriscava por pensar que havia pedras também naquele pedaço do mar – e estavam enganados.

Sentei-me na areia quente e observei o sol descendo mais um pouco. Suspirei, e finalmente ouvi a música. A música que estava ali todas as tardes há mais de um ano. Levantei levemente minha cabeça, apenas a ponto de ver o garoto moreno sentado sobre uma toalha acima de uma das pedras à minha direita e com um violão no colo. Não estava muito perto de mim, mas não estava longe o suficiente para não ouvir o som das cordas. Ele levantou os olhos do violão e seu olhar encontrou o meu. Corei levemente e desviei meu olhar de volta para o horizonte. Era assim há mais de um ano. Nos víamos todas as tardes e às vezes trocávamos alguns olhares – o que acabava com minha bochechas queimando. Mas nunca, nem uma vez, havíamos trocado uma palavra sequer. Ele não cantava, apenas tocava o violão e eu observava o sol se pôr. Era como se tivéssemos um acordo silencioso. Eu não perturbava seu momento de paz, ele não perturbava o meu, e ninguém mais saberia daquele lugar a não ser nós.

Eu já o havia visto diversas vezes na escola. Sabia que era um ano mais velho que eu, estando no segundo ano e eu no primeiro. Já o havia visto no coral da escola e cercado de amigos no horário do almoço. Mas não sabia seu nome e eu duvidava que ele sabia o meu. Não sabia nem se ele tinha algum interesse em saber meu nome, mas isso não importava, contanto que ele não trouxesse algum de seus amigos para aquela parte da praia. A minha, a nossa parte da praia.

Balancei a cabeça, afastando os pensamentos e fazendo o possível para evitar encarar os olhos azuis do garoto em cima das pedras. Senti o calor fraco do sol aquecendo a pele do meu rosto e eu soube que o grande espetáculo estava por vir. Mas dessa vez eu não queria ficar parada sentada na areia como venho fazendo há quase três anos. Eu queria me sentir participando. Levantei-me da areia de supetão, sabendo que posso ter assustado o garoto, já que não ouvi mais a melodia das cordas do violão. Tirei a blusa regata apressadamente, sem pensar na vergonha que posso estar passando na frente dele. Depois tirei meus shorts, ficando apenas com um conjunto preto de calcinha e sutiã. Coloquei meus óculos em cima da blusa na areia, e me virei para o mar, me preparando psicologicamente. Podia sentir os olhos dele queimando em minhas costas, mas entrei no mar sem me importar.

Nos primeiros passos eu sentia a maré me puxando, mas convidando. Para muitos, o puxar das águas em seus pés poderia ser desconfortável, mas eu achava maravilhoso. E relaxante. Como se nada no mundo mais importava a não ser o mar e sol brilhando sob sua superfície. A água estava um pouco morna, talvez pelos raios solares aos quais fora submetida o dia inteiro. Cheguei onde a água parava à altura da cintura. Respirei fundo e mergulhei. Abrir os olhos debaixo da água salgada nunca é uma boa ideia, o que deixou meus olhos levemente irritados. Mas valeu à pena no momento em que vi a água clara e, acima da minha cabeça, a espuma das ondas e os raios solares se infiltrando entre elas. Permaneci submersa o tempo que minha respiração aguentava, e emergi novamente. Senti uma onda se quebrando em cima de mim, mas apenas ri. Abri os olhos e percebi que o sol ainda não havia sumido, mas estava quase.

Quando cheguei de volta à praia, um susto. O garoto estava de pé ao lado das minhas roupas, com o violão apoiado estrategicamente em cima de algumas pedras não muito longe e sua toalha em mãos. Ele olhava diretamente para mim enquanto eu me aproximava.

- Você está bem? – perguntou ele, parecendo preocupado, com uma voz levemente rouca que eu nunca imaginaria nele.

- Ahn... Estou. – eu disse, franzindo o cenho em confusão e tremendo levemente por conta da brisa.

Ele se aproximou, e enquanto colocava sua toalha sobre meus ombros, percebi que não era não muito mais alto que eu. Talvez uns cinco ou sete centímetros.

- Você nunca tinha entrado no mar antes e ficou muito tempo submersa, pensei que podia ter acontecido alguma coisa. – ele respondeu ao analisar minha confusão.

Assenti. – Nunca tinha entrado, mas resolvi tentar algo diferente.

Ele sorriu; um sorriso tão fofo e contagiante que meus lábios instantaneamente abriram um em meu rosto.

- A propósito, sou Nicholas Parker. – ele disse, estendendo a mão.

Eu sorri ainda mais. – Wright Morgan.

Nicholas abaixou-se e pegou minhas roupas, estendendo-as para mim. Corei um pouco, e lhe entreguei a toalha para me vestir. Não estava completamente seca, mas toalha havia sugado boa parte da água. Nicholas me estendeu os óculos e eu os coloquei, piscando repetidas vezes. Estendeu a toalha na areia e me convidou a sentar. Sentei-me ao seu lado, um pouco tímida, e ficamos apenas observando o sol descendo aos poucos.

- Por quê vem aqui todos os dias? – ele perguntou de repente, e percebi que parecia querer ter feito essa pergunta há muito tempo.

Suspirei. – Venho aqui há mais de três anos, quando meus pais se separaram. Minha vida nunca mais foi a mesma e eu tive que amadurecer muito rápido para ajudar minha mãe a aguentar a barra de cuidar de mim e minha irmã sozinha. Até que eu comecei a vir aqui e encontrei no pôr-do-sol meu ponto de paz. Aqui eu posso ser eu mesma novamente.

Ficamos em silêncio durante quase um minuto.

- Você não tem muitos amigos, não é? – ele perguntou, e eu arqueei uma sobrancelha ao perceber o quão direto ele foi. – Que-quero dizer... Eu sempre vejo você sozinha na escola... – ele começou, mas eu soltei uma risadinha baixa.

- Não tem problema, não me importo. E não, não tenho muitos amigos. – ficamos novamente em silêncio, até que eu mesma resolvi quebrá-lo. Queria aproveitar a oportunidade enquanto ainda estávamos ali. – E você? Por quê escolheu tocar aqui?

- Aqui é onde eu arranjo inspiração e calma. – ele respondeu, e percebi que ele não era tão diferente de mim.

- Toca pra mim? – pedi num surto de coragem.

Nicholas sorriu, enquanto se levantava e pegava o violão. Sentou-se ao meu lado novamente e apoiou o violão na perna. Os acordes iniciais eu fui capaz de reconhecer. Nunca imaginei que ele cantaria justamente uma das minhas músicas preferidas de All Time Low.

You're a long walk from my street
And I'm dying in this summer heat
I hope like hell you're waiting, waiting

Everybody's living like they're crazy in love
I'm a dizzy mess
And everything is so above me
From the formal kind of life I lead today

Sorri para Nicholas, resistindo à vontade de apertar sua bochecha.

- Eu adoro essa música. – eu disse, sorrindo para o chão.

Nicholas sorriu também. – Imaginei.

Permanecemos em silêncio por um bom tempo. Tempo o suficiente para que o sol de pusesse, descendo de pouco em pouco pela linha do horizonte. O céu escureceu levemente, mas ainda conseguíamos ver o brilho alaranjado dos raios remanescentes. Suspirei, sabendo que era hora de ir pra casa. Nunca antes eu quis tanto ficar mais ali naquele lugar.

- Nicholas, eu preciso... – comecei, virando-me para ele, mas não percebi o quão próximos havíamos ficado quando ele se virou para mim.

Olhei para seus olhos, azuis amendoados que tinham um brilho divertido e inocente. Olhos que, inconscientemente, eu havia me apaixonado ao longo dos meses que nos observávamos sem nem uma troca de palavras. E o brilho foi se aproximando de mim cada vez mais, até que me dei conta do que acontecia. Quebrei a distância entre nós e toquei seus lábios macios com meus com cuidado. Extremo cuidado, receosa com a reação que ele poderia ter. Mas tudo o que ele fez foi tocar meus lábios com a língua e pedir passagem – que logo foi cedida. Sua língua acariciou a minha e senti meu corpo estremecer completamente.

Senti seus lábios sobre os meus se abriram em um sorriso, quase quebrando o beijo. Mas eu não permitiria que ele se afastasse, ao menos não agora. Segurei sua nuca com as duas mãos, enterrando meus dedos nos fios de cabelo castanhos e puxando-o contra mim. Senti seu riso baixo mais do que ouvi, e senti-o aprofundando o beijo. Suas mãos foram para minha cintura e Nicholas me puxou para seu colo – foi minha vez de rir. Quando finalmente perdemos o fôlego, percebi o que havia acabado de fazer.

Arregalei os olhos ao ver os olhos azuis nos meus e os lábios vermelhos mais próximos do que eu pensava.

- Oh, meu Deus! – exclamei, assustada e exasperada. – Desculpe, Nicholas, desculpe! Eu não devia ter feito isso!

Nicholas riu, aquela risada contagiante que me fez vontade de rir novamente.

- Cala a boca, Wright, queria fazer isso tem mais de um ano. – ele disse, rindo, enquanto voltava a me beijar.

Quando senti a falta de ar me atingindo novamente, eu me afastei minimamente de Nicholas.

- É sério, Nicholas, eu preciso ir. – sussurrei contra seus lábios vermelhos.

- Eu te levo então. – ele disse, tirando-me do seu colo, se levantando e me estendendo a mão.

- Não precisa, sério! – eu insisti, aceitando sua ajuda para me levantar.

- Já disse, Wright, eu te levo. – Nicholas disse, pegando seu violão com a outra mão, sem soltar a minha.

Andamos pela praia em silêncio, assim como pelas ruas da cidade. Quando chegamos à minha casa, eu estava um pouco envergonhada, mas não queria me despedir tão cedo. Ainda mais que não sabia como seria daqui pra frente.

- Então... – eu comecei, até que fui interrompida pelos lábios de Nicholas nos meus.

Eu sorri.

- Te vejo amanhã à tarde na praia? – ele perguntou, sorrindo para mim.

- Claro. Até amanhã. – eu disse, sorrindo.

- Até. – Nicholas segurou meu rosto e deu-me outro selinho antes de sair.

~*~

Saí da aula para o intervalo, preparando-me para voltar para o terraço do colégio e ler mais um livro, sozinha como sempre. Mas eu não estava tão animada como nos outros dias. Eu estava animada para chegar o fim da tarde, chegar até praia e me encontrar novamente com Nicholas. Sorri, sem me importar que meus colegas estivessem me empurrando de um lado ao outro para tentarem sair da sala. Acompanhei a massa, alheia a quase tudo ao meu redor, até que senti-me sendo puxada para o lado e bati contra um corpo firme.

- Pensei que ia passar direto por mim. – ouvi uma voz recentemente conhecida.

Olhei para cima, vendo o rosto de Nicholas surgindo à minha frente, sorridente. Corei levemente e abri um sorriso tímido.

- E eu pensei que você falaria comigo só na praia, longe de todo mundo. – eu murmurei, indicando algumas pessoas que passavam por nós encarando. E eu não gostava de ser encarada.

- Até parece, Wright! – ele exclamou, puxando-me contra si e beijando meus lábios.

Eu sorri com seu ato, talvez verdadeiramente feliz em muito tempo. Nicholas se afastou, sorrindo, e se inclinou para aproximar sua boca de meu ouvido.

- Você senta comigo e com os garotos hoje. – ele sussurrou, dando um beijo em minha bochecha logo em seguida.

Pensei em todos os cochichos que poderiam correr pela escola quando me vissem entrar no refeitório de mãos dadas com Nicholas Parker.

- Tem certeza?

- Absoluta. – ele respondeu, com um sorriso lindo nos lábios. – Vem, vou te apresentar aos seus novos amigos.


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