Before everything escrita por Leo Salles


Capítulo 15
CRUEL: sua nova casa




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– O quê você está falando, Teresa? - profere Minho - Não brinque com isso.

– Só se você estiver brincando, né? - retruca Teresa, lançando um olhar raivoso para Minho.

– Teresa, nós só estamos preocupados com você - conta Thomas. Teresa lança o mesmo olhar, mas mais pior do que antes, como que quem pronunciasse seu nome iria atacá-lo sem dó.

– Preferiria que não estivessem. - ela diz.

– Teresa, pode parando... - Minho reclama, mas é interrompido.

– Se você falar meu nome mais uma vez, vou socá-lo até ficar inconsciente. - Ela continua - E pode parando você, porque não foram vocês que foram sequestrados...

– Mas você não disse que não se lembrava? - comenta Thomas.

– Thomas... - ela oscila ao tentar respondê-lo. Seu rosto empalidece e seu corpo parece que diminui de tamanho. Ela cai de joelhos.

– Teresa! - grita Minho. Os dois se agacham e seguram a garota, deitando-a devagar enquanto desliga sua consciência. Seus olhos começam a se fechar gradativamente.

– O quê está acontecendo? - Thomas pergunta para o nada, mas ao mesmo tempo, querendo dizer para todos

– Tem câmeras aqui, por quê não mandaram ninguém ainda? - Minho diz abalado.

Teresa fecha os olhos por completo. Sua forma no chão se parece com aqueles contornos que os policias fazem para identificar onde a vítima foi morta. Mesmo Thomas nunca ter visto esse tipo de situação, ele fica exalterado porque Teresa está parecendo um cadáver no chão. Não sente vontade de chorar, e logo vem a cabeça de ser frio por dentro, mas exclui a ideia rapidamente.

Thomas vai em direção a porta, mas ela é aberta bruscamente com um quarteto de enfermeiro invadindo o cômodo, junto com uma rede de cordas elásticas usadas para carregar o paciente à maca. Uma maca hospitalar se encontra parada na porta. Os enfermeiros encostam o medidor de batimentos cardíacos logo abaixo da garganta. Um deles grita:

– Ela não está respirando!

Um dos médicos se debruça sobre o corpo caído e faz uma forma com as mãos e aperta contra seu peito, repetindo um mesmo movimento sobre seu bruço. A cada aperto em seu peito, Thomas e Minho têm a impressão de que ela vai acordar e dizer que está tudo bem. Mas a cada tentiva falha o médico se aproxima de sua boca e transporta seu ar para o pulmão de Teresa.

– Não está funcionando! - um deles avisa.

Cada enfermeiro segura o corpo da garota em pontos distintos, erguindo-a o suficiente para deitá-la na rede elástica. Eles levantam a rede e a encaixam na maca cruzada na porta e a levam cruzando os corredores. Os meninos os seguem.

– Saiam do caminho! - um enfermeiro advertiu um grupo de cientistas segurando uma garota, que em seus braços se sacudia como uma doente mental. Thomas e Minho erguem as cabeças para tentar avistar a garota se sacudindo, tentando se soltar desesperadamente do escarcéu de braços e resmungos dos médicos.

A maca desviou-se da multidão no corredor, dando uma visão aberta da garota. Avistaram uma menina de cabelos castanhos com ele preso atrás da cabeça, olhos castanhos e pele clara. Sua cena era um tanto patética. Os garotos sentiram um desejo de soltar uma risada, mas o sentimento não evoluiu, senão fosse o acontecido com Teresa estariam caindo na gargalhada. Brenda avistou somente Thomas atravessando o corredor com os olhos brilhando desespero.

– Me larguem! - grita Brenda, soltando-se das centenas de braços. Ela parte corrida em direção a Thomas; quando chega perto ela se joga de corpo e alma em cima dele, fazendo-o cair de bochecha no chão. Então, uma mancha escura cria-se na visão de Thomas e a dor de seus dentes batendo no chão faz se contorcer. Brenda levanta junto com Thomas, mas o agarrando pela gola da camisa. - Não cheguem perto, se não eu ati... - ela ameça, batendo as mãos na cintura, mas sente tudo liso. Ela percebe que deixou a arma na sala.

Ela dá um pequeno empurrão e depois o chuta para os médicos, destraindo-os o bastante para fugir. Ela passa da maca, desviando dos médicos parecendo que era a coisa mais fina do mundo, sem perceber que sua parceira de sequestro se encontrava deitada sobre aquele colchão. Não sabe para aonde vai, os corredores fazem sua cabeça girar e seu medo de reencontrar os médicos a faz pirar da cabeça. Chega a um lance de escadas e os desce pulando três em três degraus.

A porta dupla chega ao seu alcance e ela a atravessa. Por sorte, nenhum guarda a encontrou ainda. No meio da clareira, permanece indecisa se corre para a floresta ou se corre ao penhasco, deixando para trás tudo que viveu nesse mundo, mas pelo menos se juntaria com seu pai e também com as outras duas que tentaram salvar sua vidas de uma prisão; uma prisão psicológica.

Ela sente que só tem alguns segundos antes que os guardas a encontrem. Ela olha para os dois lado de vistas opostas em um vínculo vicioso.

Thomas se levanta dos braços dos médicos, ajeitando a camisa dando várias batidas nela. Segue em direção a Minho.

– Nossa, qual o problema dessa garota? - reclama Minho.

– Caramba! Desde quando ela está na Sede? Garota doida! - diz Thomas.

– Ela passou por mim quase me levando junto.

– Você a conhece? Porque eu não faço a menor ideia de quem seja ela.

– Eu não.

Brenda se decide e corre para a floresta. Seu pai não tentou protegê-la à toa, seu esforço de mantê-la afastada do CRUEL não foi por nada; para Michael ela é mais importante do que Brenda pensa; ela pode ser a cura obscura que deve ser alcançada, mas não aquela que o CRUEL deseja encontrar. Um galho interrompe sua fuga, prendendo sua calça e causando sua queda. Ela rola na grama e para observando o céu, que no momento está meio distorcido por causa das lágrimas.

Mortes mais mortes e mais mortes fazem sua mente e seu coração sobrecarregarem, e a forma do corpo de tirar esse excesso é com lágrimas. Ela tenta ignorar a tristeza e o desespero para se erguer novamente, mas seu joelho arde. Brenda toca o machucado avermelhado e mancha seu dedo com uma gota de sangue. Ela bota todas as suas forças em seus braços para se levantar, porém cai na grama de novo.

– Ali está ela! - grita um guarda, apontado o indicador ao seu corpo caído no chão.

– Não! - ela o responde usando a energia da alma para fazê-lo. O soldado a pega no colo e carrega seu corpo quase saindo do ar de tanta tristeza resguardada em sua mente. Há tanta coisa comprimida em sua consciência que daqui a pouco ela desmaiará. Brenda larga sua cabeça sem consentimento de onde vai parar, como se estivesse se entregando à morte. Ela assiste o céu ensolarado e avista corvos, folhas planando no ar, nuvens e um grande painel azul sustendo as massas brancas que se movem lentamente. O caminho que fica para trás, Brenda usa para expelir de sua consciência; as lágrimas ajudam no processo.

Brenda fecha os olhos, mas não dorme; é o que mais faz ela sofrer. Ela sempre quis desmaiar nas piores situações, para que quando acordasse tudo já estivesse resolvido, mas nunca ocorreu isso a ela. Nunca. Quando mais precisou que sua consciência apagasse, ela se manteve mais viva do que nunca, fazendo Brenda viver as piores coisas de sua vida. Mas, no entanto, essas coisas fazem Brenda aprender como viver em mundo subentendido. Talvez a vida queira convencer Brenda que o CRUEL é a sua nova casa.

***

Um dia depois, Teresa continua em coma. Alguns enfermeiros explicaram para Minho e Thomas sobre o caso de Teresa. A causa do coma foi por um vazamento de resíduos tóxicos diretamente em seu cérebro, que consequenciou, quase, uma perda de um pedaço da parte esquerda do cérebro. Os cirurgiões conseguiram evitar um possível AVC, o qual causaria a morte da garota.

Thomas e Minho estão na câmara de transcrições esperando por Brenda. Como sempre, não entendem a finalidade de se conhecerem, há algumas hipóteses que fazem isso porque de um jeito ou de outro eles deverão se conhecer. Mas não é muito válida porque os membros do CRUEL são ótimos em transformar crianças em antissociais, como aconteceu com Thomas e Teresa.

Brenda está parada na porta sem entender o que está acontecendo, porque não a deixam entrar, já que os outros dois já estão lá dentro. Mas é segurada pelo ombro por um guarda. Ela se lembra de uma vez que seu pai lhe sobre a corporação, que eles estudam o comportamento humano, contudo, tenta ligar as coisas para fazer algum sentido de não poder adentrar a sala, mas falha quando sua cabeça dói.

– É parece que hoje vamos descobrir porque ela tentou te levar junto, Minho. – diz Thomas tentando quebrar o tédio da sala. Minho percebe a piada e deu uma curta risada.

– Verdade. Eu vou chegar fazendo ela se ajoelhar pedindo desculpas. – fala Minho, apontado o dedo indicador para a mesa.

– Como se tivesse tanto poder assim.

– Eu tenho sim, quer ver? - Minho se estica para agarrar o braço de Thomas e imobilizá-lo, mas Thomas se afasta e levanta da cadeira. Ele vai para trás de Minho e faz uma chave de braço ao redor de seu pescoço.

– Ah! – reclama Minho. Então, ele se solta dos braços de Thomas escorregando com se passaram mel ou algum tipo de óleo que fez ele se libertar. Minho tenta puxar Thomas pela gola e jogá-lo em cima da mesa, começando uma briga um pouco acima dos limites, mas a porta se abre.

Brenda adentra-se a sala com uma aparência horrível: cabelo volumoso, olheiras ao redor do rosto que dizem que ela não dormiu nos últimos dias, até seu modo de andar faz se parecer com um zumbi. Ela puxa a cadeira para si e senta-se jogando seu corpo sem dar importância para os dois meninos brigando, que no modo em que estão, Minho parece que está tentando beijar Thomas.

Os dois se ajeitam rapidamente, tentando não ruborizar-se, mas sua tentativa é falha. Eles se ruborizam fortemente e se entreolham com a maior vergonha que já sentiram.

– Quem vai começar a fazer as perguntas? - indaga Brenda já ficando sem paciência.

– Eu. – Thomas voluntaria-se, erguendo a palma da mão. – Desde quando você está na Sede?

– Uns quatro ou cinco dias, eu acho.

– Como te encontraram? - Minho pergunta, aproximando-se mais da mesa. Ele ajeita a cadeira puxando-a. O rangido faz Brenda cerrar os olhos.

– Me resgataram de um sequestro.

– Você conhece Teresa? - dispara Thomas.

– Sim. Por quê?

– Achei que nós estávamos fazendo as perguntas. – comenta Minho, franzindo o cenho.

– Minho, para. – murmura Thomas, tentando evitar uma briga entre eles.

– Na verdade, nenhum de vocês falou nada quando perguntei. – retruca Brenda.

– Pensei que você fosse mais inteligente, para quando Thomas começou a perguntar responderia sua questão. – Thomas é cutucado no cérebro ao pronunciarem seu nome. A palavra “inteligente” atingiu como um soco na barriga de Brenda; ela se lembra do médico dizendo essas mesmas palavras a ela.

– Cala essa sua boca, tá ouvindo! – responde Brenda, apontando o dedo bem no meio do rosto de Minho, o que fez ele se irritar. Ele fica vermelho de raiva. – Você não é melhor do que eu, aposto que não fez nada enquanto Teresa estava sequestrada! – Minho empurra o dedo ferozmente de seu rosto e grita:

– Não ouse falar isso! Eu fiz muita coisa por ela, tá ok? Você que deve ter chorado o tempo todo no ombro do papai. – Minho percebe que não devia ter falado aquilo. O rosto de Brenda diz que não vai vim boa coisa dali. A imagem de Michael aparece na frente de Brenda, e a dor se multiplica de dentro dela.

– Ele está morto! – ela revida, disparando para cima de Minho, mas Thomas a empurra de volta em seu lugar.

– Parem! – grita Thomas, só que ninguém o escuta.

– Como se você fosse a única que sofreu isso! O mundo todo sofreu isso! Você não é diferente! – Minho grita sem controle da própria voz.

– Mas não foi você que matou três homens naquela sala! – retruca ela. O soco na barriga de Brenda é revidado em Minho. Ele se cala e Thomas fica em choque. – Também não foram vocês que perderam três pessoas em um mesmo dia... – ela abaixa a voz na última frase. Brenda levanta a cabeça segurando as lágrimas.

– Tudo bem, aonde paramos mesmo? - pergunta Thomas mudando de assunto. – Eu perguntei se você conhece Teresa e disse que sim, não é? - ela assente. – Então, estamos muito preocupados com ela.

– Por quê? O que houve?

– Ela não se lembra de nada.

– Como? - ela profere.

– Não sei, quando estávamos falando sobre o sequestro ela nos di... – Minho é interrompido.

– Me poupe de explicações... Desculpe. – Brenda se desculpa, ruborizando-se. – Precisamos vê-la.

– Sim, mas temos que esperar ela ter alta, pelo menos eles nos disseram isso.

– Como assim em alta?

– Não sei se você viu, já que estava tentando se soltar dos médicos, mas aquela garota em cima da maca era Teresa. – Minho explica. O mundo de Brenda escureceu-se e só pôde enxergar um único ponto da mesa que estava focada.

Como não pude perceber? Eu estava tão preocupada consigo mesmo que me esqueci dela, pensa Brenda.

– Por quê?- Intoxicação no cérebro. – Thomas responde de cara.

– Nossa! – exclama - Não preciso mais de explicações, porque o pouco tempo que estou aqui já sei que não nos contam muita coisa.

A porta atrás de Brenda abriu-se lentamente, fazendo um pequeno suspense de quem estará atrás daquela barra de ferro. Brenda imaginou que seu pai estaria a esperando no outro lado, mas não se aprofundou muito nesse pensamento, já os garotos tiveram em mente a imagem de Teresa vindo em suas direções; tendo vários abraços e celebrações, mas também não levaram fé. O guarda que barrava Brenda antes de entrar na sala aparece encostado na porta, segurando a maçaneta.

– Já está na hora de visita. – ele avisa. Os três demoraram um pouco para raciocinar que visita seria essa, mas, então, levaram em conta a conversa que estavam fazendo visando uma única e última conclusão: Teresa está nos esperando.

– Eles querem nos enlouquecer. – murmura Brenda. Em seguida, todos se levantam e seguem para o corredor. Vão andando e desviando-se pelo labirinto de corredores sem fim até chegarem a uma porta com uma pequena janela no topo. Havia uma longa e retangular janela ao lado da porta, mas a vista para dentro do quarto estava sendo interrompida por uma cortina. O chanceler encostava seu ombro no vidro da janela de braços cruzados. Ele se ajeita quando os três chegam.

– Tudo bem com os senhores? - pergunta ele, estendo a mão para Minho.

– Não. – Minho responde severamente. O chanceler faz uma expressão de desgosto e raiva, mas logo se desfaz ao começar a falar.

– Vocês sabem quem está aqui?

– Sabemos. – Thomas diz sem dar uma pausa.

– Nós não somos burros igual aos seus funcionários. – Brenda dispara. A expressão de Jack fica neutra; Brenda não fica surpresa por não ter expressado nenhum sentimento, já que conheceu essa característica a um dia atrás.

– É, talvez eu esteja subestimando vocês. – fala Jack – Mas você não deveria subestimá-los também.

– É verdade, eu não deveria mesmo, por isso eu matei três deles a um tempo atrás. – provoca Brenda, alcançando o pico de paciência de Jack. Mas, por sorte, ela não ultrapassou o limite ainda. Ele fica vermelho de raiva, contraindo os lábios para que não mande trancafiá-la em seu dormitório mais uma vez. O chanceler aperta a maçaneta com força até que seus dedos fiquem brancos nas pontas.

– Ela talvez não consiga falar com vocês no momento.

– Abre logo e para de drama. – retruca Brenda. Ele aperta mais forte ainda a maçaneta que parece que ela se quebrará em pequenos pedaços. Jack relaxa os dedos inspirando profundamente, acalmando-se a tempo. Brenda pensa em dar mais uma resposta, mas não quer que comece uma gritaria em frente ao quarto da amiga em coma.

– Acho que vocês não vão gostar muito do que irão ver. – ele avisa, abrindo lentamente a porta e pressionando com força a maçaneta para baixo. Os garotos entram no quarto dando pequenos e lerdos passos até todos se alinharem em frente à maca de Teresa.

A imagem da garota deitada naquela cama não tão ruim como o chanceler lhes contou, mas olhar para seus membros faz-nos os nervos tremeram, causando calafrios em todo o corpo. O painel colado à parede ao lado de Teresa faz Brenda recuar um passo para trás.

– Teresa! – diz Thomas, se ajoelhando ao lado de Teresa. O corpo da garota em cima da maca faz parecer que não tem mais esperança de vida; a única prova que faz Teresa viver é o medidor de batimentos cardíacos apitando no quarto.

– Agora eles vão aprender a nos respeitar. – diz o chanceler, andando pelos corredores.



















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