Capítulo 088

Outro Exame para Mestre (Parte 2)

Thays cavalgava sua égua de pelos castanhos tranquilamente enquanto seguia na dianteira de um grupo de mais de quarenta dos magos de Drugstrein. Aproveitava cada momento de paz do qual podia desfrutar, sabendo que haveria batalha muito em breve.

Enquanto observava as flores silvestres que permeavam o ambiente, imaginava se tudo corria bem durante o exame para mestres. Saber que havia dois Atreius e a mestre Katherine para proteger seus amigos lhe trazia certo conforto, mas ainda preferiria ter seu amado ao seu lado naquela difícil missão que viria pela frente.

Conduziu sua montaria até uma elevação do terreno e observou bem os arredores. Com um pequeno regato de água ao sul e uma densa floresta ao oeste, aquela parecia um bom local para acamparem.

— Parem aqui. Podem descansar e montar acampamento – disse a mestre de elite.

— Tem certeza, Thays? Cavalgamos bastante, ainda consegue sentir as auras do pessoal dos mestres Ashtar e Joseph? – questionou-a Gorgar Magnum.

— Posso sentir muito bem a aura dos mestres e magos mais fortes.

— A essa distância toda? Devemos estar a uns dez quilômetros. Daqui a pouco você supera a mestre Katherine.

Thays sorriu para a moça alta, magra e com longos cabelos castanhos presos em duas belas traças que caiam delicadamente sobre seus ombros.

— Ainda estou longe disso, mestre Lia Magnel. Kat tem um alcance de uns trinta quilômetros, ficando entre os melhores de Wesmeroth e perdendo apenas para o granmestre Markus Shaterae da Ordem de Shaterae e talvez para o granmestre Anikin Garbben de Kaz Elenak.

— Não precisa me chamar de mestre. Pode me chamar apenas de Lia, mestre Thays.

— Tudo bem, então me chame apenas de Thays e está bom para mim.

— Hum... mas você é uma mestre de elite.

— Entendo isso, também não conseguia chamá-la apenas de Thays até ela começar a brigar comigo por causa disso.

— Pode ir parando com isso, Gorgar. Nós já éramos amigos antes de eu me tornar mestre de elite e você já tinha deixado de me chamar de mestre há muito tempo. A Nathie mesma nunca sequer chegou a me chamar assim, exceto em ocasiões oficiais.

— Já que insiste, tentarei chamá-la apenas de Thays daqui para frente. Talvez nos tornemos amigas, mesmo você sendo cinco anos mais nova que eu.

Enquanto a equipe de mestres conversava, Ellien e Lair aproximaram-se timidamente do trio. Vinham acompanhados de uma maga de cabelos escuros e cortados na altura do queixo que liderava a equipe.

— Thays, eu já montei o sinalizador.

— Obrigada, Ellien. Vou terminá-lo agora mesmo.

A Cyren caminhou até o local onde seria o centro do acampamento que estava sendo montado. Ali, Ellien havia montado um pedestal metálico onde havia um cristal de formato pontiagudo que apontava para o céu.

— Você até mesmo já inscreveu a runa.

— Sim, só falta mesmo o encantamento para energizá-lo. Deixei para você porque assim o sinal ficará mais forte.

— Acho que o sinal tem que ser forte mesmo para que as outras equipes vejam quando o ativarmos.

Thays, então, tocou a runa inscrita sobre o cristal e começou a preenche-la com sua própria aura. Alguns segundos mais tarde e tudo estava pronto.

— Tudo certo, agora só precisamos aguardar.

Apesar de parecer animada e descontraída, uma boa dose de preocupação devido a batalha que iria se seguir ocupava a mente da maga da esfera do fogo.

* * *

Viktor pensava freneticamente em uma maneira de escapar daquela situação. Ele tinha certeza de que não poderia derrotar Karion em um duelo, então tudo o que lhe restava era fugir.

Apesar dessa certeza em mente, o Smalter nunca teve a oportunidade de tentar aquilo, uma vez que o Wigg conjurou um tangrea poucos segundos após frustrar a primeira tentativa de fuga do mago da esfera do ar.

A eletricidade avançou de maneira fulminante enquanto arrasava o solo sob o raio e castigava a pouca vegetação que havia ao seu redor. Reagindo quase que por reflexo, Viktor conjurou um escudo de energia utilizando suas duas mãos, estendendo os braços na frente do corpo.

O impacto foi terrível e o Smalter sentiu os braços formigarem quando seu escudo absorveu toda a força do feitiço adversário. Utilizava toda a sua aura apenas para se defender e manter o corpo estável. Sentia todo o poder daquele feitiço e, para piorar a situação, percebia que seu oponente o estava conjurando apenas com o braço direito.

Aquilo estava se tornando insustentável. Ele tinha certeza de que poderia suportar aquela força por apenas mais alguns segundos antes de ceder. Pensou em saltar para o lado na tentativa de sair da área de efeito, mesmo sabendo que aquilo resultaria em uma forte descarga elétrica.

Foi naquele momento que ele sentiu uma poderosa aura se aproximando rapidamente a suas costas. Apesar da força que ele sentia, era uma aura bastante calma. Era uma sensação que ele já havia sentido antes, há muito tempo. Viktor lembrou-se do momento em que tornara-se um aprendiz em Drugstrein e os granmestres demonstraram a força de sua aura para todas as crianças ali reunidas.

Viktor sentiu certo alivio quando duas paredes de terra e pedras começaram a se elevar, cada qual de um lado de seu corpo, e fizeram uma curva, unindo-se uns cinco metros a sua frente. Por alguns segundos ele conseguiu ouvir o raio elétrico de Karion forçar inutilmente a barreira recém formada.

Relaxou os braços, deixando-os cair ao lado do corpo. Sentia-os atordoados e doloridos, mas sabia que iram ficar melhores assim que pudesse descansar os músculos e se recuperar após ter utilizado tanta aura em tão pouco tempo apenas para se defender.

A barreira a sua frente se desfez quando o Wigg encerrou seu feitiço, voltando rapidamente a reincorporar o solo de onde havia sido erguida. Percebia que o olhar de Karion passava por ele, ignorando-o e concentrando-se na fonte da poderosa aura que se aproximava por trás.

— Você está bem, Viktor? Não se feriu?

O mago limitou-se a confirmar que estava bem apenas sinalizando com a cabeça. Kayan e ele eram exatamente da mesma altura, mas, naquele momento, sentia-se como se fosse minúsculo e o mestre que estava ao seu lado fosse um gigante.

— Essa é uma atitude desprezível de sua ordem, Karion. Tentar eliminar nossos futuros mestres durante o exame. Como Zeneth chegou assim tão baixo?

O tom de voz de Kayan mantinha-se neutro, apesar do mesmo estar um pouco irritado com a situação. O Wigg, por sua vez, encarava-o com grande ódio no olhar.

— Agora será ainda melhor. Poderei eliminar também um mestre de elite de Drugstrein.

— Não, Karion. Você sabe que esta porta se fechou no momento em que eu cheguei aqui. Eu não quero você morto, não mesmo, por isso lhe darei uma última chance. Saia daqui agora, volte para sua ordem e deixe o exame correr normalmente, como deve ser.

A resposta de Karion foi reunir ambas as mãos em frente ao corpo e conjurar um tangrea. Daquela vez o feitiço saiu muito mais forte do que o anterior. Tanto que, por um momento, Viktor acreditou que tanto ele quanto Kayan seriam queimados vivos ali mesmo, naquele exato momento. Apesar disso, não foi realmente surpresa perceber que o Atreius havia erguido o braço esquerdo e suportado toda aquela energia com um aurus pinn.

Apesar da facilidade com a que Kayan se defendeu do feitiço, Karion não desistiu de seu ataque e continuou pressionando-o com seu feitiço.

Viktor tentou perceber algum expressão no rosto de seu antigo rival. Havia alguma tristeza ali, ou era apenas sua imaginação? Aparentemente Kayan estava muito mais calmo que a tensão da situação sugeria, mesmo tendo ameaçado a vida de seu oponente há poucos segundos.

O que o Atreius fez em seguida foi algo que o Smalter sequer cogitava ser possível, principalmente sabendo que a esfera do ar era aquela em que Kayan se saia pior. O mago negro agitou levemente sua mão direita e fez com que uma quantidade absurda de ar se deslocasse de sua direita para a esquerda, levantando nuvens de poeira e arrancando arbustos do solo.

A dupla de Drugstrein foi pouco atingida pela ventania, mas Karion recebeu a maior parte do impacto e viu-se obrigado a encerrar seu feitiço e concentrar sua aura em seus pés para não ser arremessado para longe e no restante do corpo para não se ferir com a força do vento.

Assim que se viu livre da ofensiva, Kayan levou sua mão esquerda até o antebraço direito e deslizou-a suavemente. A lâmina negra repleta de inscrições surgiu enquanto ele conjurava seu giudecca. Apesar de ser feita de pura energia destrutiva, a lâmina parecia ser sólida, tamanha era sua densidade.

— Este é meu último aviso, Karion. Se eu atacar, não pouparei sua vida desta vez.

O conselho do mago negro foi totalmente ignorado por Karion, que mais uma vez uniu suas mãos com os braços esticados para frente do corpo e conjurou o tangrea mais poderoso que conseguiu. Antes do feitiço ser lançado, porém, Kayan já estava em movimento.

O Atreius avançou com uma velocidade sobre humana. A descarga elétrica avançou em meio a um estrondo e intenso brilho, mas Kayan defendeu-se com um escudo de energia em sua mão esquerda sem sequer atrasar sua investida. Quando chegou a menos de meio metro de seu oponente, o mestre de Drugstrein transcreveu um arco com seu braço esquerdo, conduzindo o tangrea do oponente naquela mesma direção. Com a defesa totalmente aberta, Karion nada pode fazer para evitar a lâmina do giudecca que se cravou profundamente em seu peito.

O golpe foi rápido e praticamente misericordioso. O Wigg sentiu a dor da perfuração e da energia destrutiva percorrendo seu corpo, mas morreu três segundos após ser atingido, sem sequer ter a chance de tentar parar a destruição de seus tecidos devido ao giudecca.

Quando Kayan desfez seu feitiço, o tronco de Karion já havia sido quase completamente destruído. Antes que a necrose lhe atingisse o pescoço, porém, o mago negro agarrou os longos cabelos castanhos com a mão esquerda e decapitou o corpo com uma lâmina de vento conjurada através do feitiço jinn.

— Não sei o que você esta pensando sobre mim agora, Viktor, mas quero que saiba que apenas fiz o que precisava ser feito e não me importo com o que possam pensar sobre mim.

Aquelas palavras duras foram ditas ainda de costas para o Smalter, que ganhou terreno até dar a volta e ficar de frente para o Atreius.

— Você não está falando a verdade, Kayan. Acho que você se importa sim com o que vão pensar sobre isso. Mais importante, acho que você está se perguntando se realmente fez a coisa certa.

O olhar que Kayan dirigiu a Viktor foi o de mais pura surpresa. Não esperava que o mago da esfera do ar entendesse o que estava se passando em sua cabeça naquele momento.

— Eu ouvi falar sobre os problemas pessoais que você já teve com Karion e, mais importante, que a Thays já teve com ele. Apesar disso, tenho certeza de que você não tomou essa decisão baseado nisso.

— Fiz o que fiz apenas porque não tive escolha. Karion Wigg já matou um mago de Drugstrein antes, durante uma das batalhas dessa guerra entre Drugstrein e Zeneth. Tenho certeza de que mataria novamente se tivesse a chance.

— Não vou dizer que o que fez foi certo, mas também não acho que seja errado. Eu faria o mesmo se estivesse em seu lugar. Apenas fico curioso para saber por que você quer a cabeça de Karion.

— Você irá descobrir em breve. Todas as minhas atitudes a partir de agora são com o objetivo de acabar com essa guerra o mais rápido possível. Vá e termine seu exame. Tenho certeza de que se tornará um mestre.

Dito aquilo, Kayan impulsionou-se para frente com sua aura e sumiu do campo de visão de Viktor antes que o rapaz pudesse dizer qualquer outra coisa. Segundos mais tarde, ele também saiu do alcance da percepção de aura do Smalter, que apenas fez o que lhe foi sugerido e continuou com seu exame.

* * *

Mal o crepúsculo havia chegado ao norte de Wesmeroth e todos os aspirantes a mestres que prestavam o último exame estavam reunidos no salão principal da fortaleza orquica em ruínas.

Naquele momento, os granmestres haviam terminado de parabenizar todos os novos mestres, além de terem que se desculpar pelo local não possibilitar a realização do banquete de comemoração que acontecia todos os anos.

Foi exatamente no momento em que a granmestre de Kaz Barak acabara de dizer suas palavras que Kayan entrou no ambiente. Katherine aproximou-se dele, pois queria trocar algumas palavras com o rapaz. Antes disso, porém, ele arremessou alguma coisa que caiu aos pés do granmestre da Ordem de Zeneth.

A cabeça de Karion rolou, seus olhos abertos teriam visto um homem relativamente baixo e bastante truculento. Chegando perto dos sessenta anos, Zillan Marcaw tinha os cabelos e barba acinzentados, embora mantivesse a barba bem aparada e os cabelos longos e caídos sobre os ombros.

— O que significa isso?! – indagou ele enquanto deixava que sua raiva lhe transparecesse na voz.

— Isso, senhores granmestres e recém graduados mestres, é a face de um covarde que tentou assassinar um de nossos magos durante o último exame prestado.

Uma comoção geral se iniciou no recinto enquanto diversos núcleos de conversa se formavam, uns acreditando no que foi dito e outros se recusando a crer que a Ordem de Zeneth havia quebrado sua trégua.

— Isso é uma mentira! Está dizendo isso apenas para justificar a morte de um de nossos mestres de elite.

Quem deu voz à sua opinião foi Lilla Sayer, uma das mestres de elite de Zeneth. Era alta e magra, com os cabelos ruivos curtos e penteados para trás enquanto deixava uma franja cair-lhe na testa.

— O que Kayan diz é verdade. Eu mesma senti a aura agressiva de Karion quando ele atacou Viktor. Apenas não interferi porque também percebi que Kayan o fazia e decidi permanecer cuidando da segurança de nossos outros dois magos.

Karzus e uma moça de cabelos castanhos e encaracolados, dois dos novos mestres de Drugstrein, entreolharam-se, intrigados. Ambos ficaram satisfeitos em saber que na verdade nunca correram qualquer risco naquele exame, uma vez que tanto Kayan quanto Katherine estavam ali para protegê-los.

— Isto é apenas mais uma mentira. Você também é de Drugstrein – afirmou Zillan.

— Também sou de Drugstrein – iniciou Radamanthys, – mas todos os granmestres aqui presentes me conhecem há muitos anos e sabem que nunca minto. O mestre Kayan pode não possuir provas além de sua palavra, que já é o suficiente, mas vemos que cada ordem tem dois mestres de elite presente, inclusive a ordem de Zeneth – apontou para Lilla Sayer e Lair Kolluvan, um homem jovem de cabelos negros divididos ao meio e olhos castanhos pouco expressivos. – Então por que vocês teriam um terceiro mestre de elite senão para executar um plano sórdido como o que o mestre Kayan impediu de se realizar?

O ambiente agitou-se novamente enquanto os presentes concordavam com o que o Atreius mais velho dizia. Até mesmo Lilla ficou em dúvidas, com seus olhares se alternando entre Lair e Zillan em busca de respostas.

— O granmestre Radamanthys apresentou fatos interessantes – disse Kayan, um meio sorriso curvando-lhe os lábios. – Mas o granmestre Zillan também tem sua razão: não há provas. Sendo assim, proponho uma troca justa. Em troca da vida de Karion ofereço a minha própria. Tudo o que você tem a fazer é vir tomá-la, granmestre Zillan, mas terá que fazê-lo em um duelo até a morte.

Com aquelas palavras o salão voltou a se agitar novamente, principalmente com as vozes dos recém intitulados mestres. Katherine olhou para Kayan assustada enquanto um meio sorriso no rosto de Radamanthys revelou alguns aspectos físicos parecidos nos dois Atreius.

— E então, granmestre? – provocou o Atreius mais jovem. – Duele contra mim. Certamente que um granmestre não está com medo de enfrentar apenas um mestre de elite, não é?

A expressão de Zillan era um misto de raiva e indecisão. Ele tinha confiança em suas habilidades, mas todos sabiam o quão perigoso era duelar contra um mago negro. Por sua sorte, Lair Kolluvan apresentou uma solução para seu dilema.

— Acho que isso não será necessário. Não iremos ferir essa trégua ainda mais. Karion Wigg não deveria estar aqui e agiu sem nosso conhecimento, talvez movido pelo ódio que guardava contra Drugstrein. Pagou por isso com sua vida. Daremos a questão como encerrada.

Aquilo realmente colocou um ponto final à questão. No entanto, nem os magos de Drugstrein e nem os de Zeneth dormiram tranquilamente durante a noite.

* * *

Na manhã seguinte, logo após o desjejum, Kayan chamou Nathie para um local isolado da fortaleza para que pudessem conversar de maneira mais privativa.

O ambiente, que ficava em uma das maiores torres, devia ter sido um quarto, pois ainda mantinha restos apodrecidos de alguns catres e um grande baú de madeira quase em bom estado.

— Ah! senhor Kayan Atreius, a minha amiga vai ficar sabendo que o senhor anda trazendo a garota mais bonita do exame para um quartinho escuro e mofado. Vou falar tudo para a Thays quando voltarmos para Drugstrein.

O sorriso brincalhão de Nathie foi tão contagiante que fez com que o mago negro também sorrisse, apesar disso, seu semblante voltou a ficar sério quando começou a falar.

— Isso me causará alguns problemas, a não ser que também fale o quão sério é o assunto que tenho a tratar com tal garota bonita.

— Assunto sério? Pois então diga – ela ainda sorria, mas um sorriso um tanto quanto mais nervos após ouvir o tom de voz do amigo.

Kayan hesitou por alguns segundos, em seguida, decidiu falar sem rodeios.

— Karion Wigg está morto. E fui eu o responsável por isso.

Nathie surpreendeu-se com a noticia. Tanto que permaneceu encarando o Atreius com um olhar intrigado e a boca entreaberta. Levou mão direita até os lábios e mordiscou a unha do dedão.

— Como aconteceu? Vocês lutaram?

— Karion tentou lutar, mas para mim foi quase como uma execução. Ele veio até aqui apenas para assassinar nossos magos que prestavam o último exame para mestre.

— Entendo seus motivos, mas por que esta contando para mim?

— Todos ficarão sabendo cedo ou tarde, mas quis falar pessoalmente para você porque sei que você e ele tiveram alguma coisa no passado.

— Imaginei que a Thays já lhe tivesse contado sobre isso. Sim, já fui uma idiota e me envolvi com ele. Mas depois que comecei a me relacionar com o Gorgar passei a não sentir mais nada por ele. Sendo assim, sou meio que indiferente a morte dele. Alias, até entendo que você não teve escolha. Ele deve ter te atacado.

— Na verdade eu tive escolha. Poderia apenas deixá-lo inconsciente como a Thays já havia feito no passado. Mas se eu o deixasse vivo e ele fizesse alguma coisa com você ou qualquer outra pessoa de Drugstrein. Se ele voltasse a machucar algum dos meus amigos e eu não estivesse lá para impedi-lo – Nathie pode perceber uma pontada de nervoso em Kayan. – Se isso acontecesse, eu jamais seria capaz de me perdoar.

O que Nathie fez a seguir certamente surpreendeu o Atreius. Inesperadamente, a Durgan se aproximou e envolveu-o em um carinhoso abraço.

— Obrigada, Kayan, por nos proteger. Sei que não está sendo fácil para você e a Thays, mas também sei que se esforçaram tanto durante esse último ano apenas para que pudessem nos proteger em uma situação como a que estamos agora.

Sem ter certeza de como reagir, o mago negro apenas retribuiu o carinho da amiga enquanto tentava tirar de sua mente todas as dificuldades que certamente teriam pela frente.

* * *

Os magos de Drugstrein estavam em seu terceiro dia de viagem de volta para o castelo da ordem. O trajeto era feito de carruagem e, embora alguns preferissem viajar a cavalo em prol da velocidade, ninguém podia negar que o veículo que utilizavam trazia certo conforto apesar do terreno acidentado da ravina por onde passavam.

Ainda estavam no território dos povos, mas quase em seu limiar. A carruagem onde encontravam-se os líderes da Ordem de Drugstrein seguia na frente. Katherine encontrava-se sentada ao lado de Kayan, mas permanecia de olhos fechados e relaxada, como se estivesse cochilando. Ambos os Atreius concentravam-se na leitura de seus livros, cada qual com um tema diferente.

Inesperadamente, a Sttiken abriu seus olhos como se estivesse acordando atrasada para um compromisso. Os outros dois presentes abaixaram seus livros e olharam para ela.

 – Posso sentir meia centena de auras vindo atrás de nós pelo desfiladeiro e mais aproximadamente umas duas centenas aguardando lá na frente. A Ordem de Zeneth armou sua emboscada para nos pegar.