A Ordem de Drugstrein escrita por Kamui Black


Capítulo 61
Kayan e Sarah - Parte Única


Notas iniciais do capítulo

Depois de momentos tensos, finalmente um pouco de paz. Ou apenas a camaria antes da tempestade.



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Capítulo 060

Kayan e Sarah (Parte Única)

Era tarde da noite e Kayan havia terminado seu banho há pouco. O rapaz trajava calções de algodão e uma camisa simples e sem mangas. Estava descalço, uma vez que o piso do castelo era extremamente limpo e lhe permitia tal luxo.

Havia sido um dia difícil para ele e muitos outros magos. Sellene Rovkraz havia escapado, mas todos haviam voltado em segurança para Drugstrein e ele havia combinado com Sarah para encontra-la em seu quarto depois que ambos tivessem se banhado e era para lá que ele se dirigia.

Desceu as escadas em silêncio e chegou até em frente ao quarto da garota. Bateu suavemente na porta e esperou ouvir a voz de sua amada

— Kayan?

— Sou eu.

A porta se abriu timidamente e ele entrou no ambiente que estava parcialmente iluminado por castiçais de vela e não pela lâmpada mágica.

Antes mesmo de fechar a porta o rapaz reparou nas roupas que a garota usava. Ela estava em sua frente, as mãos unidas em frente ao corpo e o rosto corado. Seu vestido, que ia apenas até um terço de suas coxas, era branco e semitransparente e por baixo deste havia apenas Sarah.

Kayan ficou um momento apenas observando o corpo da namorada. Ela já a havia visto nua uma vez, mas, naquela ocasião, a tensão do momento não permitiu-lhe apreciar a cena. Além disso, agora com quase dezesseis anos, seu corpo já estava bem mais desenvolvido.

O mago negro não perdeu mais tempo e puxou-a para um beijo cheio de carinho e luxúria. Ele já imaginava o que aquela vestimenta lhe queria dizer e uma parte de si reagiu instintivamente, levantando-se. Para confirmar sua teoria o Atreius levou uma de suas mãos até um dos seios da garota e acariciou-a. Como não foi impedido, confirmou que seu maior desejo estava prestes a se realizar.

Sentiu as mãos da garota envolvendo-o e explorando seu corpo enquanto conduzia-a para a cama. Momentos mais tarde, suas roupas estavam espalhadas pelo chão do quarto de Sarah.

Eles nunca haviam feito aquilo antes e teriam que aprender juntos. Mas o que faltava de experiência, Kayan tinha de teoria e instintos e não hesitou em beijar e acariciar o corpo da garota, que tentava abafar seus gemidos de prazer. Depois do dia amanhecido e da terceira tentativa, os dois já estavam começando a aprender a maneira certa de se fazer as coisas.

Ainda despidos, o casal mantinha-se abraçado na cama, ofegantes, o olhar fixo um no outro.

— Ainda ontem de manhã você disse não estar preparada para isto, o que a fez se preparar tão rápido? – indagou Kayan, satisfeito.

— Na verdade, eu não estava realmente preparada. Fiquei muito constrangida em usar aquele vestido transparente. Mas nós podíamos ter morrido ontem.

— Nós podíamos ter morrido um monte de vezes.

— Sim, eu sei, mas desta vez eu percebi que, como magos, nossas vidas podem ser muito curtas. E eu quero aproveitar tudo o que eu puder aproveitar dela com você. Não podemos ficar perdendo tempo.

— Ei, não fique tão melancólica depois do que acabamos de fazer – disse Kayan enquanto fazia um carinho no rosto da namorada.

— Não estou melancólica. Estou feliz em ter você aqui comigo. E bem satisfeita também – respondeu ela com um sorriso.

— Acho que valeu a espera. Agora eu posso admirar a beleza do seu corpo sem ter centauros querendo me matar – brincou ele.

Sarah não pode evitar rir do comentário.

— Você não se esquece desse dia mesmo. E não fique me olhando desse jeito que eu fico tímida.

Apesar das palavras, Sarah parecia muito à vontade com o namorado. Depois da intimidade que os dois tiveram, não haveria mais timidez entre os dois.

— Mas eu ainda acho que precisamos praticar um pouco mais. Ainda não estou plenamente satisfeito com meu desempenho.

Beijou-a após dizer aquelas palavras e puxou o corpo da garota mais para junto do seu.

— Já deve ter amanhecido, Kayan, precisamos dormir.

Apesar do protesto de Sarah, Kayan desceu seus beijos pelo pescoço da garota até chegar aos seus seios, enquanto isso, sua mão explorava uma parte bem mais intima de Sarah.

— Tu... tudo bem – disse ela enquanto abafava um gemido de prazer. – Acho que... podemos fazer mais uma vez.

* * *

Dias mais tarde, o casal encontrava-se em uma ampla campina. Ambos sentavam-se sobre uma grande rocha enquanto observavam o horizonte. Logo à frente, Spaak confrontava um grande golem metálico com mais de dez metros de altura.

— Esta tudo bem mesmo em só observarmos? Não somos uma equipe?

— Foi o Spaak mesmo quem disse que precisava de uma boa luta e disse para não interferimos – respondeu Kayan. – Então acho que só podemos assistir. Quer torta de javali? Eu trouxe um pouco de Drugstrein.

— Acho que vou querer sim.

O rapaz abriu a pequena mochila que trazia consigo e retirou dois pedaços de torta embrulhados em um tecido. Pegou, também, um odre contendo vinho.

— Você falou com o granmestre Sakuro sobre aquele assunto?

Perguntou-lhe Sarah enquanto observava calmamente uma grande rocha ser arremessada acidentalmente na direção dos dois. A pedra chocou-se contra a barreira que Kayan havia conjurado e caiu estrondosamente no chão.

— Na verdade não, e acho que ele vai demorar para voltar para a ordem. Pediu para que a mestra Katherine fosse ao seu auxilio. Além dela, ele também convocou outros três mestres para ajudá-lo.

— Ele deve estar lidando com uma situação complicada.

Outra coisa chocou-se contra a barreira, desta vez um pedaço do braço do golem.

— Se continuar assim vou ter que reforçar a barreira – reclamou Kayan.

— E o seu tio? Se Zeffirs foi realmente um Atreius o granmestre Radamanthys irá saber algo. Ele não está mais tão hostil contra você, talvez até consigam conversar.

— Eu pensei nisso, Sarah. Seria um bom motivo para nos aproximarmos um pouco – respondeu ele enquanto mordiscava seu pedaço de torta. – Mas o granmestre também não está em Drugstrein. Há menos de uma lua houve uma fuga em Kallamite e as investigações levaram até o fato de que foi Rantred Eisen quem arquitetou a libertação do prisioneiro que fugiu. Acredita-se que apenas Radamanthys possa derrotar o Eisen em um duelo, então meu tio foi averiguar a situação pessoalmente.

— Falando nisso, soube que o prisioneiro libertado foi aquele Dougan Kirrel que nós capturamos em nossa primeira missão.

— Também ouvi falar disso. Acho que ele tem algum envolvimento com Rantred desde o começo.

— Será que isso pode ser perigoso para nós? Já me preocupo com aquela tal de Sellene vindo atrás de você.

Kayan ficou pensativo por alguns instantes. Queria dizer algo para amenizar as preocupações da namorada, mas não sabia o que dizer. Tudo o que ele sabia era que precisava ficar mais forte para não precisar da ajuda de ninguém para defendê-lo de nenhuma ameaça, nem mesmo das mais absurdas como Sellene ou o general dos taurinos, Turenhead.

Sem saber o que dizer, tudo o que pode fazer foi tomar um gole de vinho e oferecê-lo para Sarah, que o aceitou prontamente. Depois disso, beijou-a apenas para mudar o assunto.

— Então ao invés de me ver lutando vocês ficam aí de namorico – reprimiu-os Spaak.

— Mas a luta nem foi nada demais. Pra você foi até que fácil.

Sarah saltou da rocha e aproximou-se de Spaak. Tocou o ombro do mestre e conjurou um ressin sobre o ferimento que ali havia.

— Devo admitir que a experiência desses magos foi bem interessante – comentou o mestre. – Criar um golem autômato.

— Sim – respondeu-lhes Kayan enquanto saltava para junto da dupla. – Pena que as coisas saíram do controle e, além de terem a guilda destruída, tiveram que nos pagar para derrubar a criação deles.

— Apesar disso, espero que eles continuem com a pesquisa – acrescentou Sarah. – Pode ser um avanço interessante para defender nosso território contra os povos bárbaros.

O grupo observou bem os destroços da criatura e concordaram com Sarah mentalmente, embora não dissessem mais nada sobre o assunto.

— Bom, acho que não tem mais nada para fazermos aqui, vamos para casa – declarou Spaak, por fim.

* * *

A taverna de Drugstrein estava quase cheia naquela noite. Pelo que se sabia, alguns senhores da guerra dos orcs haviam se reunido sob uma única bandeira e começado uma nova guerra. Na manhã seguinte, o granmestre Aikos Fixue partiria para enfrenta-los e, desta vez, Drugstrein planejava enviar doze equipes ao invés de seis.

— Acho que amanhã o castelo vai estar bem mais vazio. Veja quanta gente se despedindo de seus amigos e familiares.

— Quando nós partimos isto aqui não estava assim tão cheio – respondeu Sarah, ao namorado.

— Espero que todos voltem em segurança desta vez – acrescentou Spaak enquanto pedia mais uma caneca de cerveja.

Enquanto o trio recebia suas bebidas, outro grupo se aproximou e acomodou-se em volta da grande mesa que ocupavam.

— Vocês demoraram, achei que iriam desistir – Kayan repreendeu Mathen quanto este se sentou ao seu lado.

— Culpa da minha irmã, que ficou enrolando para sair.

Luanne fez uma careta para o irmão mais novo enquanto se sentava de frente para o mesmo. Junto com eles também estava Allef, além de um rapaz alto e de cabelos escuros e uma garota mais jovem, uma maga que terminara seus estudos em Drugstrein ainda naquele mesmo ano.

— Vou lhes apresentar Guill Durgan, meu namorado, e a irmã dele, Calais.

— É um prazer conhecê-los, pessoal – disse o rapaz.

— O... olá – cumprimentou a garota, timidamente.

— Então vocês eram as pessoas que o Mathen disse que iria trazer. Vocês por acaso são parentes da Nathie? – indagou Kayan.

— Somos primos. Minha mãe é irmã do pai dela. Mas nós acabamos não nos vendo muito.

A ideia de se reunirem na taverna foi de Spaak, que queria reunir a equipe apenas para beber e jogar conversa fora. Kayan, então, convidou Mathen, que convidou os irmãos e assim o grupo de pessoas começou a aumentar.

— Daqui a três luas vai acontecer um novo exame para mestre. Algum de vocês vai tentar? – indagou Allef, mudando de assunto.

— Acho que o único aqui que está bem preparado é o Kayan – afirmou Mathen.

— Na verdade, ele é o único aqui que pode tentar. Um dos requisitos é que o mago já tenha liderado uma equipe – esclareceu-lhes Spaak.

— Tinha até me esquecido desse detalhe.

— Falando nisso, quero aproveitar o momento para pedir uma coisa para nosso irmão – disse Luanne, que trocou olhares com o namorado e, depois, olhou de volta para Allef.

— Pode pedir a bebida que quiser, eu pago para comemorar o namoro de vocês – brincou o Muscort.

— Não é isso. Eu queria uma indicação para poder liderar uma equipe. A Calais acabou de ser aprovada como maga, mas o mestre da equipe não considerou nenhum deles aptos a liderar, então ela está sem equipe.

— E eu acabei de sair da minha equipe porque meu líder decidiu se preparar para esse exame para mestre nessas três luas que lhe restam – complementou Guill.

— Então você quer abandonar nossa equipe para unir os dois e liderá-los – disse Mathen em um falso tom de acusação.

— Acho que você já esta preparada para isso. Vou lhe indicar, se você quiser mesmo.

— Obrigada, irmão! – agradeceu ela, feliz, enquanto beijava o namorado.

Todos observaram enquanto Kayan e Sarah conversavam algo que só eles podiam ouvir. Quando todos olharam para o casal, a garota disfarçou, um pouco constrangida.

— O que vocês tanto cochicham aí? – perguntou-lhes Allef, provocativo.

— Eu estava conversando com a Sarah sobre o tempo em que o Mathen fazia parte de nossa equipe.

— Relembrando as vezes que eu te salvei das piores enrascadas, Kayan? – provocou o Muscort mais jovem.

— Era eu quem sempre salvava esse seu rabo de pedra – disse o outro em meio um soco fraco no braço do amigo.

— Ah é? – indignou-se enquanto agarrava Kayan pelo pescoço. – Não se esqueça daquela vez contra o Dougan Kirrel.

— Foram muitas coisas que passamos juntos. Até me deixou meio nostálgica – afirmou Sarah enquanto tomava um gole de sua cerveja.

— E por que vocês não voltam para a formação antiga? – perguntou-lhes Spaak. – Se quiserem eu posso formar uma equipe com o Allef. Encontrar outro mestre como terceiro membro não será tão difícil.

— É uma boa ideia, o que acha, Mathen? – perguntou-lhe Kayan enquanto se livrava do abraço do amigo.

— Eu topo. Bebamos a isto – disse ele, propondo um brinde.

Todos beberam alegremente enquanto mudavam de assunto gradualmente.

— Estive pensando, Luanne, quando vocês dois tiverem filhos, vão ser Muscort ou Durgan – indagou Calais, tentando perder sua timidez.

O casal entreolhou-se enquanto pensavam no assunto.

— Nem pensamos em filhos ainda, irmãzinha. Mas acho que poderíamos ter dois e chamar um de Durgan e outro de Muscort.

— Parece justo – afirmou Luanne. – Nossas duas famílias tem a mesma força no nome. Para o Kayan e a Sarah este assunto é bem mais fácil.

— Sim – disse a Harppon. – Meu sobrenome não tem força nenhuma, então ficarei feliz em ajudar o Kayan a continuar a linhagem dos Atreius.

— Até porque se depender do Radamanthys ela ia acabar na última geração – acrescentou Spaak. – Alias, cuidado para não gerarem um Atreius antes do previsto – provocou ele.

— É para isto que existe a poção lunar, Spaak – afirmou Luanne. – Você sabe preparar uma, não é, Sarah?

— Sim, a Anita Sttiken me ensinou a prepará-la no dia depois que voltamos daquela luta contra a Sellene Rovkraz.

— Espera aí. A Sarah esta tomando a poção lunar? – indagou Mathen. – Quer dizer que vocês dois já fizerem sexo e você não me contou, Kayan?

— Acho que isso é entre mim e Sarah – defendeu-se o Atreius enquanto a garota corava levemente um pouco constrangida.

— E por que será que a Calais ficou quietinha de repente? – provocou Allef.

— Será que é porque ela é a única pessoa inocente nesta mesa?

Com as palavras de Luanne a garota pareceu encolher e ficar mais vermelha que os cabelos de Spaak. Guill defendeu a irmã prontamente.

— Não corrompam a inocência de minha irmã, seus degenerados!

Com a irritação de Guill, a mesa toda caiu na gargalhada, com exceção dos Durgan. E com aquele clima descontraído a conversa perdurou com um assunto bem menos constrangedor.

* * *

Os dias se passaram enquanto o inverno chegava ao fim, tal como o ano 2355 da quarta era de Wesmeroth. Kayan acabara de completar seus dezesseis anos e Sarah presenteava-o em particular. A garota puxou um cobertor sobre o casal e deitou-se de costas para o Atreius que encostou seu corpo ao dela e envolveu em um abraço.

— A missão de ontem foi tão fácil, nem parecia uma rank C – comentou ela apenas para iniciar uma conversa.

— É porque você e o Mathen estão muito fortes.

A garota riu do comentário.

— Você é quem estraga a diversão com esse poder todo aí.

— Estou falando sério. Vocês dois evoluíram muito neste ano. Pena que como eu ainda não sou mestre não podemos pegar as de rank B.

— Mas isso vai mudar daqui a pouco mais de duas luas.

— Sim, vai. Acho que teremos no mínimo mais três mestres para Drugstrein ano que vem.

O casal ficou em silêncio por alguns minutos e foi Sarah quem finalmente o quebrou.

— Quero que você venha comigo para o norte da planície de Daran – disse ela, de repente.

— Ao norte, para onde?

— Minha avó e meus pais moram ao norte, próximo à Ordem de Zeneth. Faz quase três anos que não os vejo e apenas mando cartas.

— Então você quer visitá-los. Deveria ter dito antes, eu certamente irei com você. Também quero conhecer sua família.

— Espero que você não se aborreça com eles. Só minha avó é maga por lá. E um primo meu também pode manipular um pouco de aura, mas não consegue nada de magia.

— Se eu estiver com você não será chato.

A garota se contorceu para poder beijar o namorado e voltou a se ajeitar em sem seus braços.

— Acho que podemos partir depois de amanhã. Que tal?

— Pode ser. Acho que o Mathen não se importará de ficarmos sem missões por uma quinzena.

— Eu te amo, sabia?

— Eu também, minha maguinha – respondeu Kayan, beijando-lhe o ombro esquerdo da garota.

Kayan, então, encostou a cabeça no travesseiro para dormir. Sarah, entretanto, começou a mexer os quadris debaixo do cobertor, atritando-se contra o corpo de Kayan.

— O que você está fazendo?

— Acordando ele – disse ela com um sorriso travesso.

Tudo o que Kayan pôde fazer naquela situação foi beijá-la e cumprir os desejos da garota.

* * *

A casa da família de Sarah ficava a cinco dias de cavalgada a partir de Drugstrein. Quando chegaram ao local, a garota mostrou para Kayan onde ficavam as plantações, as três vacas e alguns porcos que eram criados na fazenda. Por último, dirigiram-se para uma pequena cocheira onde pretendiam deixar os cavalos descansando.

Assim que entraram na construção de madeira, viram um rapaz alimentando os seis cavalos ali presentes. Ele não era muito alto e era bastante magro. Seus cabelos estavam desalinhados e caídos sobre sua testa. Eram de um castanho muito semelhante aos de Sarah.

— Sarah! Você está de volta! – gritou ele ao ver a garota desmontar o cavalo.

O menino, que devia ter por volta de seus quatorze anos, correu em direção à Harppon e a abraçou. A garota sorriu ao vê-lo e retribuiu o abraço.

— Kayan, este é meu primo Armin. Armin, este é Kayan, meu namorado.

O rapaz pareceu estudar o Atreius de cima a baixo. Mas, enquanto fazia isso, permanecia abraçado a Sarah, o que despertou algum ciúme em Kayan, que se esforçou para esconder o sentimento.

— O que é um namorado? Ah, tanto faz. Você voltou para ficar?

— Não, Armin, sou uma maga agora, vim apenas visitá-los. Você cresceu bastante nesses últimos anos.

— Você também Sarah – respondeu ele enquanto se afastava da garota.

Kayan reparou bem em que partes do corpo de Sarah o garoto olhava enquanto dizia aquelas palavras. De repente o mago negro perguntou-se se Sarah ficaria muito chateada em ter um primo a menos.

A garota também percebeu para onde o garoto sempre desviava os olhos e agarrou-se no braço direito de Kayan, encostando-o entre seus seios e ocultando-os parcialmente. O mago negro não hesitou em lançar um olhar de desafio para o rapaz.

— Todos estão em casa, Armin?

— Meu irmão e meu pai saíram para caçar hoje de manhã e ainda não voltaram. O resto do pessoal está em casa. Vão ficar muito felizes em te ver.

A casa era relativamente grande, embora simples. Com dois andares, Kayan imaginou que os superiores fossem os quartos, uma vez que o cômodo no qual entrou foi um grande salão em conjunto com uma cozinha. Uma grande mesa rústica se encontrava no centro da sala e em volta dela havia uma senhora de cabelos longos e acinzentados que, apesar da idade, parecia estar em boa condição física. Do lado oposto estava um homem de meia idade. Seus cabelos eram castanhos e ele tinha um bom porte físico.

— Vejam só quem veio nos visitar!

Foi Armin quem anunciou a chegada da garota na casa. Tanto a avó quanto o pai de Sarah viraram-se para ela, mas a primeira a recebê-la foi sua mãe, que deixou o que estava fazendo na cozinha de lado e correu para abraçar a filha. Ela tinha os cabelos um pouco mais claros do que a garota, mas notava-se a semelhança entre as duas.

Logo após isso, uma mulher um pouco mais jovem também apareceu. Kayan descobriu que aquela era a tia de Sarah, irmã de seu pai.

Depois que todos abraçaram a garota e ela apresentou Kayan a todos, o marido da tia de Sarah também havia chegado, além do irmão de Armin. Artou era bem mais alto que o próprio pai e possuía o porte de um soldado. Além do arco, ele trazia uma espada presa na cintura.

— Artou também consegue manipular um pouco de aura, Sarah.

O comentário veio de Lia, a avó de Sarah, enquanto eles partilhavam uma farta refeição na mesa rústica de madeira. O clima era descontraído e todos estavam felizes em ter a garota de volta por alguns dias.

— Eu faço parte das forças de reserva do exercito de Derammin. Mas fico aqui para proteger nossa fazenda – disse o rapaz, orgulhoso.

— E você, Armin, consegue manipular sua aura?

— Um pouco, mas ela é meio fraca.

— Isso é bem curioso – disse Kayan. – É muito raro as capacidades de um mago pularem uma geração.

— Realmente raro – respondeu-lhe Lia. – Mas Sarah tem uma capacidade muito maior do que a minha. Minha magia nunca foi muito forte e ela acabou se diluindo ainda mais quando tive filhos com um homem comum. Nunca iria esperar que Sarah tivesse uma capacidade tão grande como a que ela tem. Diga-me, Kayan, como minha neta tem se saído como uma maga?

— Ela é uma maga dedicada e ultimamente tem se esforçado para dominar todas as esferas. Sua magia branca é incrível, mas sua maior capacidade certamente é a de percepção de aura, que pode ser comparada com a dos melhores mestres.

— Querem parar de falar de mim como se eu não estivesse aqui? – disse ela em um muxoxo. Apesar disso, ficou muito feliz em ser elogiada pelo namorado.

— E quem é você para poder julgar minha prima?

Desde o momento em que botou os olhos em Kayan, Artou demonstrou um pouco de hostilidade para com ele. Apesar disso, o Atreius fazia o possível para ignorar isto.

— Demonstre um pouco de respeito, Artou – repreendeu-lhe Lia. – Kayan é o líder da equipe de Sarah. Além disso, sendo filho de Kattus Atreius, imagino que suas capacidades sejam imensas.

— E qual é a relação entre vocês dois? – Allan, o pai de Sarah, lhes perguntou.

— Kayan é meu namorado.

— E o que seria isso? – perguntou-lhes Ceras.

— Como posso lhe explicar, mãe – começou a garota. – É uma relação comum entre magos. É como se fossemos noivos, mas muito mais próximos.

— Como podem ser mais próximos do que noivos? É como se fossem casados? – indagou a mulher.

— Na cultura dos magos as pessoas tem muito mais liberdade – explicou-lhe Lia. – Magos não se casam por interesse político ou por casamento arranjado. Namoro é uma fase do relacionamento onde o casal se conhece e convivem juntos para ver se realmente se amam ou se não são compatíveis um com o outro. Diga-me, Sarah, quer que eu te ensine a fazer a poção lunar?

— Não precisa, minha avó, eu já sei preparar uma – a garota respondeu um tanto quanto constrangida.

— E o que seria essa poção?

Enquanto Ceras demonstrava curiosidade, Allan encarava Kayan com desconfiança. O rapaz já esperava uma reação do gênero, mas não pode evitar ficar um pouco constrangido com a situação.

 – É uma poção bem simples que as magas fazem com poucas ervas e sua própria aura. Tomando uma vez a cada lua, ela regula o ciclo lunar da mulher e evita que ela tenha filhos.

Com a explicação de Lia, Artou levantou-se, furioso, e apontou o dedo de maneira acusadora para Kayan.

— Como ousa manchar a honra de minha prima!

— Não fale sobre coisas que você não entende, Artou, para os magos a virgindade de uma mulher não significa nada – repreendeu-lhe novamente Lia.

— Não me importo de como os magos pensam. Se a Sarah não fosse para essa tal ordem era para ela ser minha mulher. Não admitirei que alguém tire a pureza dela antes do casamento e saia impune. Eu lhe desafio para um duelo!

— Sorte a minha que a magia me salvou de ter alguém estúpido como você como marido! – Sarah também havia se levantado e encarava o primo com certa raiva. – Kayan é o homem que eu amo e fico muito feliz em ter me entregado para ele. Nossa relação é muito mais forte que a de um homem e uma mulher com um casamento arranjado!

— Eu aceito o duelo – respondeu Kayan, com um sorriso no rosto. – Espadas, sem o uso de magia.

Kayan já havia vivido entre as pessoas comuns e conhecia bem aquele tipo de gente. Artou só reconhecia a força física e se quisesse calar a boca do rapaz aquela era a única maneira. Sarah, entretanto, olhou para o Atreius, surpresa.

— Você não precisa fazer isso, Kayan – disse ela.

— Esta tudo bem.

O mago levantou-se em silêncio e seguiu para fora da casa. Artou seguiu-o e pegou duas espadas, entregando uma delas para Kayan, que segurou-a de maneira desinteressada, paralela ao corpo e apontada para o chão.

Artou fez o primeiro movimento, avançando contra o Atreius, que percebeu que o rapaz utilizava sua aura para aumentar sua força. Com certeza ele não possuía a capacidade para conjurar qualquer feitiço com aquela quantidade de aura, mas certamente levaria grande vantagem contra um guerreiro humano comum.

Kayan, acelerando seu corpo com a própria aura, bloqueou a investida do oponente com um movimento em arco. Artou foi repelido, mas não desistiu de seu ataque. A cada nova investida um novo bloqueio. Enquanto o rapaz mais velho atacava com ambas as mãos, Kayan limitava-se a defender-se com apenas uma mão, sempre com movimentos cheios de destreza.

— Então seu... como se diz... namorado... sabe utilizar uma espada – afirmou Allan.

— Sim, pai. Kayan nem sempre viveu entre os magos e aprendeu algumas coisas com o pessoal de Bereth.

— Mas esse duelo estava decidido antes de começar – afirmou Lia. – A aura que protege o corpo de Kayan é muito forte, caso ele seja atingido, a espada de Artou se partirá em pedaços.

Apesar do que Lia dizia, Kayan tinha outro planos para encerrar aquele embate. Depois de mais uma defesa, ele desceu a espada em um golpe em diagonal que abriu corte pouco profundo do ombro ao abdome de Artou.

— Meu filho!

A mãe do rapaz correu até ele enquanto o mesmo gemia de dor.

— Eu vou morrer! Alguém me ajude! Por favor!

— Deixe de ser um bebe chorão – disse Sarah ao se aproximar do primo. Ela, então, tocou-lhe o peito e conjurou um ressin para que o corte se fechasse de maneira limpa e rápida.

— Acho que eu venci – afirmou Kayan, enquanto deixava a espada enfiada na terra ao lado de seus pés.

— Não precisava ter pegado leve só porque é o meu primo, Kayan.

O comentário de Sarah fez com que Artou a olhasse com uma expressão chorosa no rosto. Allan, então, aproximou-se do Atreius e colocou ambas as mãos nos ombros do rapaz.

— Seja mago ou guerreiro você é um homem muito forte, Kayan. Eu não poderia desejar um esposo melhor para minha filha. Só lhe peço que a proteja e a trate bem.

— Pode contar com isso, senhor Allan. Sempre irei cuidar bem de sua filha.

— Vocês não vão parar de falar de mim como se eu não estivesse aqui não?

Sarah perguntou-lhes irritada e provocou boas risadas na maioria das pessoas ali. Os próximos dez dias que o casal passou na companhia da família de Sarah foram pacíficos e felizes. O casal nem tinha ideia do que lhes aguardava em um futuro próximo.


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Notas finais do capítulo

Olá leitores, que saudades. Faz apenas um mês, mas parece uma eternidade.

Um capítulo mais light pra vocês, e longo também. Quando revisei, senti como se ele tivesse passado um pouco corrido. Sinto muito se a qualidade não está 100%, mas ando meio sem tempo. Quando terminar a faculdade, pretendo reescrever tudo do zero, um reboot mesmo, mas não se preocupem porque pretendo levar esta versão até o final antes e depois reescrever tudo, numa versão possivelmente mais completa.

Voltando ao capítulo. O que acharam da primeira vez de Kayan e Sarah. Tentei escrever de maneira que não ficasse vulgar, afinal é apenas um ecchi, mas quis deixar bem claro o que aconteceu entre os dois.

Comentem, quero saber o que acharam do capítulo. E no próximo vai ter muita ação e um plot twist que aposto que ninguém imaginaria que poderia acontecer.

Então... até o próximo e não se esqueçam dos comentários.



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