Capítulo 054

Cerco em Gynoloock (Parte 2)

Em meio a tensão do combate iminente, a equipe de Spaak concentrava-se em encontrar uma abertura que lhes resultasse em uma vantagem.

Karion estava caído próximo aos pés do taurino, inconsciente. A primeira coisa que deveriam fazer era atrair a batalha para longe dele e, tão importante quanto isso, não levá-la para onde se encontrava Anion e Arion.

— Sarah, Kayan e eu lutaremos, você deve prestar auxílio à equipe de Karion imediatamente, caso contrário eles não sobreviverão.

A garota acenou de maneira afirmativa e esperou o momento ideal para agir; esperava que Turenhead não tentasse interferir. Foi então que Kayan teve uma boa ideia e a colocou em prática. Com um clayn, ele fez uma barreira de terra e pedras se levantasse entre o taurino e o mago caído. Assim que ela estava pronta, Spaak não perdeu tempo e lançou uma centena de rajadas flamejantes contra o oponente.

O general não hesitou em contra-atacar e avançou de maneira vigorosa. As chamas atingiam seu corpo, mas ele ignorava a dor das queimaduras e mantinha-se na ofensiva. Seu punho atingiu apenas o solo quando os dois magos saltaram para lados opostos na intenção de evitar o poderoso ataque.

Ambos os humanos conjuraram um crisis katris ao mesmo tempo e uma enorme quantidade de fogo envolveu o ambiente, chocando-se com os escudos de energia que o taurino havia conjurado. Ele havia criado um para cada uma de suas mãos, que estavam estendidas em direções opostas na intenção de amparar as duas ofensivas.

Surpreendendo os dois adversários, Turenhead não contra-atacou nenhum deles e, sim, virou-se em direção à Sarah, que corria para ajudar Karion. A garota, assim que percebeu a intenção do inimigo, conjurou um aurus pinn para sua própria defesa. O escudo de energia suportou a enorme pressão que o punho do taurino exercia sobre ele, mas cederia muito em breve.

Kayan, ao ver a namorada sendo pressionada, não ficou parado. Ele lançou, contra o inimigo, o mais poderoso tangrea que conseguiu, mas Turenhead percebeu a investida, flexionou os músculos das pernas ao máximo e saltou por cima da agressão dirigida contra ele.

A maga branca assustou-se ao ver o imponente feitiço vindo em sua direção. No próximo segundo, entretanto, ela viu que o raio elétrico dividia-se em dois. Cada qual passou de um de seus lados para, então, curvarem-se em direção ao céu e, consequentemente, diretamente contra o taurino.

Turenhead defendeu ambos os ataques utilizando as mãos nuas, pois não havia tempo para qualquer outra manobra. Os danos causados, porém, logo se regenerariam, assim como já ocorrera com as primeiras queimaduras do confronto.

Atento a tudo o que estava acontecendo, Spaak fez com que correntes flamejantes e de pontas afiadas surgissem de seus antebraços. Elas foram direcionadas contra o taurino assim que ele atingiu o solo após receber o impacto do feitiço lançado anteriormente por Kayan. No entanto, com a estabilidade readquirida, ele conseguiu esquivar-se de um dos ataques e utilizou a mão esquerda para amparar o segundo. A corrente de fogo atravessou-lhe a palma da mão, mas o general não demonstrou surpresa; muito pelo contrário, ignorando a dor, ele sorriu de maneira vitoriosa e fechou o punho – que ardia em chamas – em volta da corrente do adversário.

Foi com grande surpresa que o mestre percebeu tardiamente as intenções do seu oponente. Quando isto ocorreu, ele já estava sendo puxado de encontro ao corpo musculoso do taurino. Ele desfez o feitiço, mas a força havia sido grade demais e a inércia continuou a empurrá-lo até que encontrasse alguma resistência.

O impacto foi enorme quando o punho de Turenhead chocou-se contra o abdômen de Spaak, que lançou uma enorme golfada de sangue junto a dor que sentiu ao ter quatro de suas costelas trincadas. A enorme proteção que sua aura lhe fornecia foi suficiente para evitar a morte certa, mas não para evitar o grande dano que o golpe lhe infringiu.

* * *

Após a injeção de adrenalina que recebeu ao quase ser golpeada pelo general dos taurinos, Sarah correu até Karion e verificou como estavam seus sinais vitais. Ao certificar-se de que o rapaz não corria perigo de vida, ela utilizou sua aura para carregá-lo até próximo dos dois irmão.

Foi com grande tristeza que constatou que o corpo de Arion não mantinha as condições básicas para que ele sobrevivesse. Ele realmente havia sucumbido na batalha, assim como seu irmão mais velho presumira.

Anion, porém, apesar de muito ferido, mantinha-se vivo, embora inconsciente. Sarah apressou-se em conjurar um ressin nele. A intenção da garota não seria revigorá-lo completamente, mas, sim, tirá-lo da condição de risco para poder voltar o mais breve possível para o combate; ela tinha certeza de que os dois que enfrentavam Turenhead precisariam de auxílio.

* * *

Ao ver o duro golpe que o mestre recebera, Kayan apressou-se em atacar o agressor na intenção de salvar o amigo e companheiro de equipe. O perigo era grande demais para que ele se segurasse, portanto ignorou se havia alguém prestando atenção neles e utilizou magia negra sem qualquer restrição. A energia enegrecida se acumulou nas mãos do mago negro de maneira rápida e precisa. Assim que conseguiu a quantidade necessária para a poderosa investida, lançou seu raio em direção ao inimigo.

Turenhead sequer tirou os olhos de Spaak para estender sua mão livre em direção ao ataque do inimigo. Um aurus pinn evitou totalmente qualquer tipo de dano que poderia vir a acometer o taurino. No entanto, isto custou-lhe preciosos segundos, que foram tempo suficiente para que o mestre se recupera do duro golpe que recebera.

A enorme quantidade de chamas surpreendeu até mesmo ao poderoso general, que não esperava uma reação tão forte por parte de um adversário que ele considerava estar em péssimas condições. Spaak, no entanto, saltou para trás e foi impulsionado pelo próprio feitiço. Turenhead sentiu a mesma força contra si e, mesmo fixando muito bem os dois pés no chão, a força da explosão lançou-o contra um morro que havia próximo ao campo de batalha.

Assim que as chamas sumiram, os dois magos puderam ver que o corpo do taurino jazia encravado na terra e rocha. Sua armadura havia se trincado em toda a extensão direita, a capa estava chamuscada e enormes cortes e queimaduras permeavam o rosto, pernas e braços da imponente criatura, que mantinha-se com seu olho fechado.

— Ainda não acabou, Kayan – disse o mestre em um tom sério.

— Sei bem disso, ele não morreria de maneira tão fácil – o jovem respondeu enquanto se emparelhava a Spaak.

Um sorriso sádico curvou os lábios grossos do taurino enquanto ele abria seu único olho bom e encarava seus dois oponentes. Ao contrário deles, Turenhead estava apreciando muito aquilo. Era uma luta de verdade, com adversários que ao menos eram dignos de desafio, mesmo que ele soubesse qual seria o resultado no final.

Ele se deslocou de maneira lenta e elegante enquanto seus ferimentos começavam a se fechar gradativamente devido ao sangue de troll que corria por suas veias. Em um único e brusco movimento, apontou as palmas de suas mãos para seus adversários e pronunciou o feitiço:

— Raz Rashon!

Dois jatos maciços de fogo começaram a se formar e se propagar em linha reta, chamuscando o solo abaixo deles graças a enorme temperatura que atingiam. Os dois magos conjuraram uma barreira na intenção de se defenderem da terrível investida.

Kayan, que era um mago menos experiente e de poder um pouco inferior ao líder de sua equipe foi o que mais sentiu-se afetado pelo ataque. Assim que o escudo recebeu o impacto, ele foi arrastado alguns metros antes de conseguir direcionar uma boa parte de sua aura para os pés na intenção de se estabilizar. O calor o afetava e fazia suar, além disso, ele sofreu algumas queimaduras, mesmo sem que o fogo entrasse em contato direto com sua pele.

A reação de Spaak foi um pouco mais positiva. Quando ele recebeu o impacto do ataque inimigo, uma dor cruciante subiu da região de suas costelas que foram atingidas pelo golpe recebido anteriormente. Apesar disso, ele resistiu sem sair do lugar, mesmo tendo o corpo afetado pela enorme temperatura que atravessava até mesmo seu escudo de energia.

Enquanto manteve o escudo erguido contra a ofensiva do oponente, o mestre conseguiu tocar a região ferida com a mão esquerda e utilizar um ressin para estabilizar a situação de suas costelas rachadas e quebradas. Foi um tratamento muito superficial, mas evitaria ferimentos a seus órgãos internos. A seguir, continuou a suportar o terrível dano com apenas um braço enquanto estendia o direito em direção perpendicular ao rastro de chamas adversário. Sua intenção era utilizar seu feitiço único, o crisis char.

Apenas uma de suas correntes foi conjurada por meio de seu antebraço esquerdo. Ele a movimentou em direção de Turenhead, mas ela chocou-se contra uma barreira criada pela aura do adversário.

— Desta vez não, mestre das chamas – disse o taurino. – Estou lutando com tudo o que tenho agora, não vai ser fácil me vencer. Quanto tempo mais será que o maguinho negro vai aguentar? – indagou em um tom debochado.

A cada segundo que se passava, ficava mais difícil para Kayan resistir ao feitiço adversário. Além das queimaduras que começavam a tornar-se ainda mais intensas, havia a questão de sua energia estar chegando ao limite. Mais um pouco e ele não seria mais capaz de manter aquele escudo ativo; também não conseguia pensar em nenhuma maneira de fugir ou sequer contra-atacar sem ser atingido diretamente pelas chamas.

Spaak sabia exatamente a situação em que seu amigo se encontrava. No entanto, para ele, sair daquele problema também parecia impossível, uma vez que as chamas cercavam uma grande parte do ambiente. Tudo o que ele podia fazer era forçar a barreira do adversário com seu crisis char. Isto, porém, mostrava-se cada vez menos efetivo.

Ao constatar a grave situação que o resto de sua equipe se encontrava, Sarah, que havia terminado de estabilizar os dois magos a qual fora incumbida de curar, correu até o combate que se seguia naquele local. Ela fez uma tentativa desesperada de congelar o inimigo com um ryado. Uma poderosa rajada de gelo dirigiu-se contra a barreira de Turenhead, no entanto, ela nem sequer chegou a tocá-la, pois derreteu metros antes devido as chamas que haviam próximo ao taurino.

— Ora, ora, garotinha, achou mesmo que esse gelinho ia ser suficiente para me parar? – ele olhou para ela e deixou um sorriso sádico curvar seus lábios.

A garota gritou ao sentir o calor de duas labaredas passarem cada qual em um dos lados do seu corpo. Elas haviam passado a mais de um metro de distância, mesmo assim, ela foi abalada pela temperatura descomunal que elas possuíam.

— Fique ai paradinha e você será a última a fritar. O primeiro será aquele mago negro, o segundo, o mestre das chamas, que ousou desafiar as minhas chamas. Por último será você.

A gargalhada que o taurino soltou após a última frase fez com que a garota tremesse de medo. Se ela desse apenas um passo em direção ao inimigo, tinha certeza de que seria queimada viva por ele. Ela não tinha qualquer chance de enfrenta-lo, no entanto, não poderia abandonar Kayan ou Spaak daquela maneira. Ela estava num impasse.

Antes, porém, que o desespero tomasse conta da garota, ela viu um estranho brilho de um relâmpago a sua direita, que foi seguido por uma forte trovoada. Devido a isto, ela olhou para aquela direção e viu apenas uma colina muito alta, onde, provavelmente, o raio havia caído. Em sequência, seus olhos subiram por ela para, então, deparar-se com uma cena que lhe causou um misto de surpresa, alegria e medo.

Um homem estava em pé naquele local, sua capa negra com detalhes dourados era agitada por um vento forte, assim como seus longos cabelos também pretos. Sua expressão facial era de seriedade e as roupas de uma nobreza quase incomparável. Seu corpo resplandecia em uma energia elétrica. O raio que caíra anteriormente havia sido causado pela enorme e poderosa aura que ele emanava.

Ele fez um movimento rápido com o braço direito e, neste exato momento, uma ventania de incríveis proporções começou a ser emanado de, aparentemente, lugar algum. Sarah foi obrigada a utilizar toda a sua aura para manter-se fixa ao chão. Todas as chamas de Turenhead foram varridas do local e desapareceram como se nunca estivem estado ali. Kayan e Spaak, o primeiro muito ferido, também foram obrigados a se manterem firmes em suas posições para não serem arrastados.

— Mas o que...

Turenhead surpreendeu-se com o que havia acontecido. Era praticamente inconcebível para ele que alguém tivesse poder para dissipar completamente suas chamas enquanto ele tivesse utilizando toda a sua aura nisso.

— Atreius... você também é um Atreius, assim como aquele garoto e como... – enquanto chegava a esta conclusão, instintivamente tocou a cicatriz no local onde deveria ficar seu olho direito.

— Exato. Eu sou Radamanthys – disse enquanto encarava o adversário. – Turenhead, não é? Vamos ver se o que falam de você é a verdade.

Após dizer estas palavras, o granmestre saltou para perto de Sarah. A simples presença daquele homem, a pressão que sua aura transmitia, fez com que a garota caísse sentada ao chão.

— Raz Rashon!

O general gritou enquanto movimentava sua mão direita de forma agressiva contra o seu novo adversário. Uma rajada de fogo foi lançada com aquele movimento. Ela marcava o solo por onde passava e fazia até mesmo o próprio ar entrar em combustão, liberando uma grande quantidade de fumaça nociva.  Radamanthys, no entanto, sequer saiu do lugar para se defender. Ele fez isto simplesmente estendendo o braço contra aquele feitiço. As chamas foram bloqueada pela palma da mão do granmestre, que estava envolta em sua própria aura. Alguns segundos mais tarde ela havia se extinguido completamente e a temperatura ambiente voltava lentamente ao normal.

Sarah permaneceu imóvel e boquiaberta, assim como os outros dois magos que assistiram a cena. Nenhum deles podia acreditar que um ataque tão poderoso, que poderia tê-los destruído naquele exato momento, havia sido bloqueado de maneira tão fácil.

— O que está esperando, garota, vá cuidar daqueles dois – o granmestre ordenou em seu tom frio e arrogante.

— Si... sim.

A maga branca respondeu imediatamente. Sem temer qualquer represália e confiando totalmente na proteção de um dos líderes de sua ordem, ela correu em paralelo ao campo de batalha e direto para Kayan, que estava muito ferido e mal aguentava-se em pé. Assim que ela o alcançou, amparou-o em seus braços.

— Tudo bem? – perguntou, aflita.

— Já estive melhor – ele respondeu com certa dificuldade. – Radamanthys é realmente poderoso, acho que entendo o porquê de tanta arrogância.

O comentário do namorado não a deixou muito satisfeita, pois aparentava que ele importava-se mais com a luta que iria presenciar que com a própria saúde. De qualquer maneira, ela começou a curá-lo no exato momento.

— Você tem razão, Kayan, seu tio deve ser um dos poucos capazes de fazer frente a Turenhead, mas não podemos ficar aqui para assistir o combate; assim que você estiver recuperado iremos voltar para a batalha – disse Spaak ao juntar-se ao casal.

Nesse meio tempo, Radamanthys iniciou seu ataque ao general dos taurinos. Sem proferir qualquer palavra, ele fez com que dezenas de rajadas de vento fossem lançadas contra o oponente. O feitiço parecia formar lanças extremamente afiadas apenas com ar. Turenhead, no entanto, não foi atingido, pois criou uma barreira em sua frente. As rajadas mortais chocaram-se contra ela, causando ondas de impacto que arrastavam a terra e, até mesmo, pequenas rochas que haviam por ali.

O próximo passo do granmestre foi, com um sutil gesto de mão, fazer com que o solo começasse a se remexer, prosseguindo até o local onde o seu inimigo estava. O taurino, ao ver a enorme onda de terra vindo contra si em uma velocidade assombrosa, saltou para o lado, evitando, assim, o impacto fulminante.

— Raz Rashon!

Queimando uma enorme quantidade de aura, Turenhead fez surgir diversas labaredas de fogo ao direcionar ambas as mãos em direção ao humano. As rajadas agiram como projéteis e formaram um arco em todos os sentidos antes de atingirem o seu objetivo. Porém, o que encontraram foi apenas uma intransponível barreira de energia, que cobria toda a volta de Radamanthys.

O granmestre, então, apontou o dedo indicador e o médio em direção ao seu adversário, fazendo com que seu braço ficasse estendido. Em um sobressalto, o taurino preparou-se para uma poderosa represália.

— Ratusu.

A voz de Radamanthys não saiu mais que um sussurro, mas foi suficiente para causar o efeito do feitiço. Uma pequena corrente elétrica começou a se formar entre seus dedos em riste. Após menos de um segundo, um tiro de ar envolto em eletricidade foi disparado contra o alvo.

Turenhead manteve os braços na horizontal e criou um escudo de energia com a maior força que conseguiu. No entanto, o feitiço do adversário, apesar de muito pequeno, possuía uma força fenomenal e conseguiu abrir um pequeno orifício na defesa que fora imposta contra ele.

Uma dor cruciante foi sentida pelo taurino quando ele teve o ombro esquerdo perfurado pela pequena esfera de vento. Uma forte corrente elétrica percorreu todo o seu corpo enquanto o sangue era lançado de suas costas para o ar. Instintivamente ele levou a mão esquerda até o local do ferimento na intenção de conter a dor. Isso se mostrou um erro, pois, no instante seguinte, era o seu abdômen que estava sendo perfurado.

Um urro de dor e agonia cortou os sons da batalha que eram ouvidos no ambiente. Em seguida, Turenhead fez o máximo que podia para ignorar a dor que sentia e correu em direção ao seu oponente. Em pouco mais que um segundo ele já estava próximo o suficiente para seu próximo ataque.

— Jaz Rashon!

Uma explosão de fogo se propagou antes que o granmestre tivesse tempo para mais um tiro. Apesar disso, ele foi capaz de erguer defesas o suficiente para amparar o poderoso feitiço adversário. No entanto, não foi isso o que aparentou para os telespectadores, pois as chamas se alastraram por mais de dez metros causando destruição e levantando poeira por onde quer que passasse.

Segundos mais tarde foi possível ver uma enorme valeta no chão por onde o fogo havia percorrido. A terra estava totalmente removida do local e se acumulava aos lados. As rochas haviam sido completamente destruídas no processo.

Os dois magos assistiam aquilo sem acreditar no que seus olhos presenciavam. Eles haviam esquecido completamente do que acontecia ao seu redor, Sarah mantinha-se curando o namorado, mas o fazia apenas por puro instinto, pois sua atenção unia-se a do mesmo em prol daquele combate que estava sendo travado. Spaak sabia que a batalha já estava ganha graças aos reforços que ele percebera chegando, por isso, chegou a conclusão de que assistir aquilo seria um grande aprendizado para os dois e deixou que eles continuassem como espectadores.

Assim que a poeira baixou completamente, Radamanthys ressurgiu como se nada houvesse ocorrido. Um observador mais atento, porém, perceberia que ele havia adquirido queimaduras razoáveis e partes de suas roupas haviam sido chamuscadas devido a grande temperatura. Turenhead foi um dos que percebeu isto e um sorriso curvou seus lábios enquanto suas feridas fechavam-se lentamente graças ao sangue de troll que percorria seu corpo.

O general, então, não perdeu a oportunidade de um novo ataque e investiu contra o granmestre, que concentrou-se em se esquivar dos ataques. As ofensivas eram feitas através dos próprios punhos do taurino, que desferia os golpes com força e velocidade. No entanto, ampliando suas habilidades com sua aura, Radamanthys estava habilitado a evadir de praticamente todas elas.

Um dos golpes, porém, provou-se mais veloz que a capacidade de resposta do granmestre, pois o atingiu diretamente no abdômen. O Atreius pôde sentir a força do oponente em seu próprio corpo; mesmo com sua aura ao máximo suas costelas quase cederam ao impacto. Aquela região certamente ficaria dolorida mais tarde. Apesar disso, não foi esse fato o que provocou uma grande raiva no homem de cabelos longos e rebeldes e, sim, o fato de seu orgulho ter sido um pouco ferido.

Pela primeira vez naquele combate, Radamanthys conjurou algum feitiço com raiva. O resultado, então, foi condizente com sua ira. O solo começou a tremer enquanto raios elétricos o atingiam após saírem das mãos do granmestre. Após isso, quando o chão já estava muito carregado, uma enorme corrente elétrica atingiu Turenhead diretamente. O nível de energia foi grande o suficiente para arremessá-lo para o alto.

O taurino caiu no chão causando um baque surdo e levantando muita poeira. Ele estava atordoado depois daquele golpe fulminante, mas, apesar disto, conseguiu pôr-se em pé novamente. Assim que o fez, atacou seu adversário:

— Raz Rashon!

As poderosas chamas emergiram das mãos do general em uma fração de segundo. A seguir, elas divergiram em três grandes massas. Duas delas seguiram para os lados enquanto uma subiu a mais de dez metros de altura. Logo após isto, as três foram lançadas contra o granmestre.

— Ridículo – esta foi a única palavra proferida por ele antes que um escudo de energia surgisse a sua volta e absorvesse todo o dano que o feitiço lhe causaria.

Apesar do enorme potencial, aquele não era o real objetivo de Turenhead, que apenas queria ganhar tempo para executar o que realmente tinha em mente. Enquanto o seu inimigo se defendia, ele ergueu ambos os braços em direção ao céu. Fogo surgiu ao seu redor e começou a serpentear, formando um circulo que logo cresceu em altura, envolvendo todo o corpo do taurino.

— Taz Rashon!

Assim que o taurino gritou o nome do feitiço, uma enorme esfera de fogo surgiu acima de seu corpo enquanto as chamas que lhe circulavam convergiam-se para aquele ponto. A figura que surgiu era extremamente quente, imitando um pequeno sol. Os magos, que mantinham uma distância considerável, puderam sentir quão poderoso seria aquele feitiço.

Turenhead arremessou aquela enorme esfera flamejante na direção do granmestre. Aos olhos de qualquer um ali perto, aquilo parecia indefensável. Realmente, este era o fato. Se Radamanthys tentasse utilizar uma barreira para contê-la, até mesmo ele seria atingido em uma enorme explosão causada por aquele meteoro. No entanto, não foi essa a atitude que o Atreius tomou.

Radamanthys apontou o dedo indicador e o médio em direção àquela esfera incandescente. A seguir, conjurou novamente seu feitiço ratusu.

Uma pequena esfera de ar e eletricidade surgiu e subiu em direção a enorme bola de fogo que caía em grande velocidade. Ambas se chocaram e a menor penetrou a maior, provocando um intenso brilho em todo o ambiente. Parecia que tudo iria detonar naquele exato momento, porém, a bola de fogo continuou seu curso e chocou-se no exato local onde o granmestre estava.

Os três magos que assistiam ao combate imaginaram o pior quando uma grande explosão flamejante inundou todo o local – algumas labaredas chegaram muito próximo deles. Turenhead, no entanto, manteve-se sério, pois vira o que realmente aconteceu.

Na realidade, o contra-ataque do Atreius não visava destruir o feitiço adversário, mas apenas criar uma abertura em seu centro. E foi exatamente nesse orifício que ele ficou quando a esfera chocou-se com o chão. Desta maneira, sua imponente barreira foi capaz de suportar todo o dano, uma vez que este não foi diretamente contra ele.

Apesar da grande quantidade de poeira no ambiente, Turenhead havia percebido com antecipação o feitiço que seria lançado contra ele. Por conta disso, ficou levemente temeroso.

Surpreendentemente, todas as chamas, fumaça e poeira que havia no ambiente começaram a se dissipar. Ao redor do granmestre havia surgido uma imponente invocação formada por vento e eletricidade. Ela possuía grandes asas e cada uma delas era maior que o próprio conjurador. Seu corpo lembrava o de uma serpente, porém, ele possuía duas grandes pernas próximas ao alongamento da calda. Uma enorme mandíbula e olhos faiscantes completavam sua aparência enquanto cada uma de suas escamas reluzia em eletricidade e o bater de suas asas provocava uma ventania muito forte. O granmestre havia invocado um wyvern de vento e eletricidade.

Uma nova etapa do combate teria início e, desta vez, Radamanthys parecia ainda mais determinado para a vitória.