A Ordem de Drugstrein escrita por Kamui Black


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

E iniciamos com um prólogo. Este é o mesmo da versão 2.1 e continua sendo o oficial.



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O velho Saltzer Fixue caminhou lentamente até a cozinha. Estava feliz, pois na semana anterior havia sido seu nonagésimo sétimo aniversário e um bela comemoração havia sido feita; até mesmo seu neto Aikos, que era um granmestre em Drugstrein havia comparecido.

Seus cabelos, antes castanhos, agora eram totalmente brancos e, embora já escassos, ele insistia em deixar a parte de trás longa até que atingisse suas costas. Seu físico era magro e até um tanto quanto atlético, pois não ficara sedentário com a idade avançada; embora a energia muitas vezes lhe faltasse.

Aposentado há oito anos, havia cedido seu lugar de mau gosto a Radamanthys Atreius. Nunca gostara muito do rapaz, embora o fato de que o irmão deste fora realmente querido por todos.

Serviu-se de um belo e farto copo de leite quente com mel, o que sempre gostava de fazer antes de dormir. Caminhou novamente para a sala de estar, onde o fogo da lareira crepitava enquanto aquecia o ambiente, espantando o frio que restava do final do inverno que há pouco se esvaiu.

Lia um livro calmamente enquanto sorvia o liquido branco com calma. De repente, baixou o livro e depositou-o numa mesa ao lado da poltrona. Um arrepio percorreu sua espinha e ele soube que havia algo terrivelmente errado no ambiente.

Tentou acalmar-se. Aquilo só podia ser algo que sua mente velha e debilitada havia produzido para enganá-lo. Voltou sua concentração para o livro novamente, porém, não conseguiu ler nem mais uma página. Deixou o livro ali em cima da mesa e terminou de tomar seu leite. Após isso, voltou a cozinha para deixar a xícara e dirigiu-se à adega, que ficava no porão, para manter seu vinho sempre fresco.

O vinho sempre o deixara sonolento e certamente ajudá-lo-ia a dormir. Encheu uma pequena taça com um tinto suave que já estava pela metade da garrafa, girou-o na taça e provou-o, deliciando-se com a bela qualidade.

Subiu as escadas lentamente com cuidado para não derramar sua bebida em suas próprias roupas, que se constituíam de confortáveis calções de algodão e um gibão de couro macio. Terminou sua subida pensando em como estava sendo tolo em pensar que algo poderia estar errado. Chegou a sala e...

Seus temores provaram-se verdadeiros. Em sua poltrona havia um homem alto e corpulento. Ele lia seu livro com certo interesse e parecia não ter notado o velho que acabara de chegar, mas Saltzer sabia que isso era uma encenação e aquele homem sabia exatamente que ele estava ali atrás, observando-o.

O homem levantou-se enquanto pousava o livro na pequena mesa. Ele devia ter mais que um metro e oitenta. Trajava calções de couro e uma camisa de cota de malha de aço negro sobre algodão. Completando a armadura havia ombreiras, grevas e manoplas de um aço polido. Seus cabelos eram negros e curtos, penteados para trás, dando-lhe um ar de alguém nobre e respeitado. Os olhos eram de um verde profundo e penetrante e o queixo era bastante largo; o nariz, pequeno e os lábios, finos. Saltzer Fixue reconheceu aquele rosto quase imediatamente.

— Rantred Eisen!

A taça de vinho caiu e espatifou-se no chão quando o homem fitou-o e dispensou-lhe um meio sorriso.

— Que bom que lembra-se de mim, Saltzer. A idade não deixou-lhe senil, não é verdade?

— O que veio fazer aqui, maldito? Gostaria muito de tê-lo matado na batalha de Drungstrein há doze anos.

Os punhos do velho estavam serrados enquanto seus dentes trincavam uns contra os outros. Ele tinha raiva daquele homem, uma raiva indescritível. Rantred, entretanto, ignorou o comentário.

— Livro interessante o que lia, velho, mas eu esperava encontrar um bem mais interessante. Um que dizia-se estar em Drugstrein, mas não está mais lá. Será que você sabe de alguma coisa?

A expressão de Saltzer mudou de raiva para preocupação, não pelo que o Eisen havia lhe perguntado, mas por outro motivo.

— Os meus guardas... O que fez com eles? Responda-me!

O homem riu com a pergunta.

— Devia preocupar-se mais consigo mesmo. Se bem que acho que você já deve saber o que lhe aguarda, não? Pois bem, não fiz nada com seus precisos guardas, exceto contra aqueles que ousaram tentar me impedir; estes foram consumidos pelas chamas negras.

Aqueles eram homens bons e leais, pais de família e filhos amorosos. Odiou aquele homem por ter feito mal às pessoas que estavam ao seu serviço. Queria matá-lo, mas não tinha nenhuma arma para tal, entretanto ainda lhe restava a magia. Será que teria forças suficiente para acabar com o último dos Eisen? Acreditava que sim.

O ar tornou-se frio enquanto a aura presente no corpo de Saltzer começou a se converter em energia térmica. Ele preparava um feitiço de família muito poderoso chamado Crisis Kyannon. Achou estranho que Rantred ainda não havia percebido, pois os reflexos de um mago daquele nível deveriam ser muito bons. “Morra desgraçado!” Estendeu ambos os braços para a frente, liberando sua aura em forma de magia.

Apesar de velho, o Fixue ainda possuía uma enorme quantidade de energia dentro de si e utilizou-a de maneira a queimar o ar a sua frente. Mas, diferente de outras magias de fogo, aquela incinerava o ar de maneira súbita, porém controlada, provocando uma rajada de fogo muito mais veloz e mortal que qualquer outra. Ela avançou, chamuscando o chão, teto e paredes da casa, incinerando livros e o estofado de cadeiras e poltronas.

Rantred Eisen estendeu sua mão espalmada e as poderosas chamas espalharam-se e passaram ao seu lado, desviando-se de seu alvo principal, perfurando e incinerando a parede atrás de si. O mago negro apenas sorria enquanto contemplava o olhar incrédulo de Saltzer, que começara a tremer por causa do esforço que havia feito.

— As maravilhas que se consegue com uma simples utilização da aura. Achou mesmo que suas forças seriam suficientes para quebrar minha magia escudo? Se sim, creio que é um velho mais tolo do que eu me lembrava por não perceber o quão poderoso me tornei nestes anos. Afinal de contas, eu sou um Eisen.

— O que... o que você quer de mim? – Perguntou assim que reconheceu a derrota.

— Vamos conversar – Rantred puxou a poltrona e fez com que o velho se sentasse. – Procuro por um livro chamado Vitta no Pare. –Os olhos de Saltzer arregalaram-se quando ele ouviu o nome. – O assunto deste livro foi pesquisado e escrito por um mago negro chamado Ratharys Atreius. Ele era mantido guardado na seção muito avançada da biblioteca de Drugstrein.

O Eisen fez uma pausa para observar as reações de Saltzer Fixue.

— Como percebi que sabe de que livro falo, vamos ao que interessa. Um informante meu de dentro da Ordem me disse que este livro não está mais em Drugstrein. Sim, ele foi retirado de lá. Mas a questão é: por quem e para onde? Será que você pode me ajudar? Pois era um dos arquimagos na época em que eu fazia parte da Ordem.

— Aquele livro... ele deveria ter sido queimado. Não! Ele nunca deveria ter sido escrito. A magia de que esta pesquisa...

— É uma magia incrível e exatamente do que eu preciso.

— Ela é abominável. Que mago seria perverso o suficiente para querer algum tipo de conhecimento como aquele?

— Um tipo como eu. Espero que você possa colaborar comigo, velho amigo.

— Nunca lhe diria o que sei... Não para estes fins...

Os olhos do Eisen brilharam em um tom maligno. Estendeu sua mão em direção do velho e elas se incendiaram. Mas as chamas ardiam sem queimar as mãos de seu conjurador e eram de um tom escuro como as trevas.

— Acho que algumas chamas negras o farão mudar de idéia.

Pelo resto da noite, rajadas de negro, chamas, raios e trovoadas foram vistos da luxuosa casa onde Saltzer Fixue passou seus últimos dias. Entretanto, apenas cadáveres ressecados estavam ali para vislumbrar a cena.


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Notas finais do capítulo

E isso aí, o que acharam?