Três da manhã. Ninguém em sã consciência está acordado às três da manhã, é muito menos andando por ai na cidade de Sydney.
Mas, quem disse que aqueles dois eram sãos?
–-Vai, para de lerdar!!! Anda logo!!- Koala arrastava o amigo pelo braço, numa tentativa de fazê-lo se mover mais rápido.
Obviamente, ela não conseguia. Ele pesava quase o dobro dela mesma.
Sabo soltou um bufo. De irritação, não de cansaço. Havia dormido uma boa porção das horas de voo, o que deveria bastar para aguentar o resto do dia mesmo com o relógio biológico completamente desregulado pela diferença de fuso, mas isso não significava que ele iria abrir mão de bom grado da energia poupada para andar a pé.
–-Falta muito?
–-Só mais cinco quarteirões!
–-E você ainda fala "só"? Qual o seu problema?
–-Todos eles. Agora anda, mais rápido!!,
–-Eu podia ter ficado no hotel com o Hack....
–-Mesmo? E deixar uma garota andar por ai desprotegida a essa hora da madrugada, sozinha e...
–-TA LEGAL! Já entendi.
Koala soltou um sorriso vitorioso.
–-Como faz isso?
–-Isso o que?
–-Me convencer a fazer as coisas que você quer.
–-Qual a melhor estratégia para vencer, segundo o Hack?
–-Saber onde bater mas...
–-Seu lado emocional é muito vulnerável.
–-....- Sabo fechou a cara.
Mas estava escuro, então Koala não pode perceber que esse era o momento propício de calar a boca.
–-Você nunca percebeu? Tipo, você é ciumento mesmo sem razão, cuida do Luffy como um verdadeiro exemplo de Onii-san, e eu não tenho dúvidas de que caso um dia arrume uma namorada vai ser a coisa mais doce com ela!
Sabo cruzou os braços atrás da cabeça, tentando parecer indiferente, e virando o rosto para cima para evitar qualquer possibilidade da amiga ver o rosto avermelhado.
–-...Acho que tudo isso é porque você é carente, tipo uma criancinha que quer atenção.
–-E isso é ruim?--Sabo quebrava o recorde de quase quarenta segundos sem pronunciar uma palavra durante uma conversa.
–-Hunnnnn, não, acho que não. Ou talvez seja. Depende da situação.
–-Ah, tipo o que? Tipo nos dias vermelhos do mês? Porque nesses dias qualquer coisa deixa você irritada!
–-Ahhhhn, vai por ai mesmo. Mas é ruim porque toda vez eu não consigo ficar muito tempo irritada com você.
–-Porque você me ama né?
–-Eu ia dizer que você sempre convence com aquela carinha de pidão e olhinhos lacrimosos de cachorrinho abandonada na chuva mas pode ser por isso também.
Contar mentalmente: um, dois, três...
–--AHAHAHAHAHAHAHAH
É, era assim que os dois sempre disfarçavam. Falavam alguma verdade, e logo em seguida davam risada, quebrando o clima sério.
–-Ahahahahaaaaaaaaaaa.....- Sabo parou de andar, sem fôlego.-- Falta (arf) muito?
Koala continuava andando e rindo normalmente.
–-Meu Deus, Você já perdeu o fôlego? Que moleza!
–-Fica....buffff....quieta. E....aaaaaarf.....me...
–-" ....deixa descansar." Já entendi. - Ela se sentou no chão, dando batidinhas com a mão na lateral, convidando o amigo a se sentar ali também.
Em uma cena fofa e hollywoodiana, o mocinho se sentaria graciosamente. Mas Sabo simplesmente desabou, sem dar tempo da garota tirar a mão do chão.
–-AI! Desgraçado!!!
–-Opa, foi mal.
–-Foi péssimo! Olha isso!- Ela estendeu a mão, aparentemente intacta.
–-O que ? Lascou o esmalte?
–-Quebrou a minha unha do mindinho!!!, Tem noção do quanto isso dói?
–-Nope. Nenhuma. E nem quero saber.
–-Hunf. Vocês homens...
–-"... Não entendem nada de dor! Tentam comparar suas dores com as que nós mulheres sentimos! E blá-blá-blá " -- Sabo falava com voz mais fina e irritante que conseguia fazer--Mas vocês falam isso sem saber como dói levar um chute na virilha!
–-Eu tenho noção sim! Porque você acha que é o primeiro lugar que eu chuto numa briga?
Sabo aproximou as mãos da região por puro reflexo.
Me lembre de nunca brigar com você.
–-Não precisa, eu nunca brigo com você.- Ela se levantou, espreguiçando os braços- é bem mais fácil te vencer na discussão.
–-EI!
–-Mas tá tudo bem. Eu venço todo mundo no bate-boca mesmo. Não é nenhuma vergonha.
Sabo revisou mentalmente o placar imaginário com todos os registro de debates da amiga que ele estivera envolvido/presenciara. E ela tinha razão. O score atual era de aproximadamente 1873738227373738 X 0 para Koala.
Nos casos específicos em que você sabe que perdeu a discussão mas não quer admitir que o adversário estava certo, a melhor resposta é um grunhido contrariado.
E por isso esse era sempre o argumento final nas conversas que os dois tinham.
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Mais quatro quadras depois os pés de Sabo doíam.
Em uma situação normal aquela distância entre o hotel e a casa da mãe de Koala não seria nada, mas pelo simples fato de que ele passara as últimas 36 horas encaixado em uma cadeira na classe econômica de um avião (mais o espaço que invadira da poltrona da amiga) que não deixava o sangue circular direito pelas pernas significava que não estava em sua melhor forma. Do mesmo jeito que a escuridão não melhorava em nada.
Ah, e Koala não parar de falar desde que o avião pousara também não era de grande ajuda.
–-Ah, olha!! É ali que eu costumava vir de manhã comprar pão!! Uh, olha aquela árvore!!! Quando eu criança era só uma mudinha!! E virando ali a esquina....
O único lado positivo era que ela parecia realmente feliz em ter voltado, praticamente saltitava pelo caminho, sorrindo de orelha a orelha.
E, de certa forma, essa felicidade toda era preocupante. E se... Ela não quisesse mais voltar pra América? O que ele faria sem ela? Como ele sobreviveria? Eram pensamentos realmente egoístas, mas ele não podia evitá-los. Nos últimos dois anos reestruturará toda a sua vida do zero, e colocara Koala como o pilar central. Só não sabia se fora um erro ou não.
De repente, ela fechou a cara e freou bruscamente.
–-O que foi? Não me diga que se perdeu!!!
–-Não. Só esqueci de falar que.... Tente causar uma boa impressão.
–-Pra sua mãe?
–-É.
–-Não se preocupe. Todas as mães das garotas com quem eu saía me adoraram. Isso é até, eu terminar com as filhas e...
–-Poupe-me dos seus trágicos casos amorosos senhor, eu estou falando da minha mãe.
Ele deu um sorriso sarcástico.
–- Ficou com ciúmes?
–-O que? De saber que você tem ex namoradas? Por favor! Quando fui ajudar Dadan na cozinha ele me deu um relatório completo sobre todas elas, incluindo nome, idade, endereço, RG, CPF e possíveis fraquezas sei lá pra que.
Sabo enrrugou ligeiramente a testa, se esforçando para não desfazer o sorriso.
–-...E pelo que eu deduzi por raciocínio lógico, você que deveria ter ciúmes de mim, porque não vai achar fácil alguém que te aguente por tanto tempo quanto eu...
Ele abriu a boca para responder.
–-...Mas, como você já faz isso eu nem precisava falar. Retomando o assunto original, se esforce MESMO para causar uma boa primeira impressão na minha mãe, certo?
Esse era um pedido desnecessário, ele planejava o que fazer desde que a amiga lhe falará que pretendia visitar a mãe.
–-Pense com muito cuidado no que vai falar. Não, melhor, NÃO FALE! E também não faça movimentos bruscos! E limpe os pés antes de entrar... Não! Nem entre! E ponha a camisa pra dentro da calça! E enrole os punhos direito! E....
–-Eu posso respirar?
–-Só de leve, pra não correr o risco de espirrar!
Já foi comprovado que, quanto mais você pensa em como respirar, mais forte você respira.
–-Meu Deus! A sua mãe é o que ein? A Rainha da Inglaterra?
–-Beeeem...basicamente... Minha mãe tem a tendência de pegar a primeira impressão muito rápido.... E dificuldade em mudá-la.
–-Como assim?
–-Ahn.... Espere pra ver. E comece a rezar.
Ela deu os últimos passos e tocou a campainha da casa rústica.
Passos realmente apressada ecoaram pela rua silenciosa.
É uma figura abriu a porta com tudo.
–-KOALA!! - E a mulher abraçou a filha.
É tudo isso aconteceu antes que Sabo pudesse dizer Pindamonhangaba , o que na verdade nem é tão rápido assim visto que ninguém consegue falar Pindamonhangaba rápido.
–-Cheguei, mamãe.-- A universitária retribuiu o abraço com a mesma força que a mãe. Ele não conseguia ver o rosto de frente, mas sabia que ela tinha lágrimas nos olhos.
Ela era mesmo uma chorona.
Dois, três, quatro minutos se passaram. No quinto minuto vem aquela dúvida se devemos ou não interromper o fofo momento de reencontro pra perguntar se elas se importariam de entrar porque era perigoso ficar à toa na rua de noite.
Mas, finalmente, as duas se separaram.
–-Eu tenho tanta coisa pra contar!
–-Eu quero ouvir tudo!! Vamos, entre! Continua tudo do jeitinho que você deixou!
–-Mesmo? E Meus bichinhos, como estão?
–- Cheios de saudade! Todos na reserva querem muito te ver!! Você tem que ir lá amanhã!
–- Ah, pode ter certeza que eu vou!!! E....- Espera, ela esquecerá de alguma coisa...- AH! Ela deu um passo pra trás, se afastando da mãe e puxou o amigo pelo braço-- Mãe, esse é o Sabo! Eu falei dele pra você!
–-YO!
Por algum tempo, o pobre garoto sentiu que era mirado de cima a baixo como se a mulher estivesse olhando suas entranhas com visão de raios x.
–-Olá Sabo, eu não gosto de você. Entra filha! Eu fiz bolo!-- É a mulher sumiu para dentro da casa.
–- Já vou!- Ela continuava segurando o braço do melhor amigo.
O que era bom, porque ele tinha a sensação de que caso ela soltasse, ele iria desmoronar.
–- O que... O que.... Eu... O que eu....-- Ele abria e fechava a boça como um peixe fora d'Água, praticamente sem formar som algum é incapaz de formar a frase "o que eu fiz".
–-O seu tênis esta desamarrado.
–-E só...
–-... É só por isso ela não gostou de você? Sim. Eu disse pra você se ajeitar.
–-Ela.... Ela ....
–- Ela é sempre assim? Aham. Se acostume e bem vindo a minha vida.
Mas não era necessário dar boas vindas a um lugar ao qual já se pertence.