Estava angustiado. Estressado. Oprimido por toda aquela pressão de ser o vigilante de Blüdhaven, a decisão tomada ao tornar a irmã feia de Gotham sua protegida o esgotava dia após dia, assim como alternar entre Asa Noturna e Dick Grayson. Se manter sem nenhuma ajuda financeira de Bruce Wayne era mais complicado do que o moreno imaginava. Seu emprego noturno tomava muito de sua energia para que trabalhasse durante o dia, e a rotina estava acabando com Richard.

Ele precisava de uma folga, mas heróis não tinham horas vagas.

Mesmo assim, ela não saía de seus pensamentos. Ainda que a atual relação deles fosse estritamente profissional, isso não o impedia de pensar nela. Não o impedia imaginar o que ela estaria fazendo naquele exato momento; provavelmente tomando sua costumeira dose de cafeína enquanto atualiza sua rede já vasta de informações. Mesmo com o movimento das pernas roubados pela investida covarde do Coringa, Barbara Gordon simplesmente não abandonou a ação, ainda que não participasse diretamente dela.

Todos os heróis quando precisavam de informações em devidos casos, sempre recorriam a ela.

À Oráculo, seu novo alter ego.

Mas aquilo não se tratava sobre alcunhas como Robin, Asa Noturna, Batgirl ou Oráculo. Aquilo se tratava do quanto Dick sentia a falta de Babs. Das conversas longas, de quando a vida deles era mais simples. Até mesmo do relacionamento amoroso no qual a ruiva colocou um fim. Mas sentimentos não são facilmente suprimidos, tudo para o vigilante era dramático demais – ele era um garoto do circo, afinal. E sabem o que dizem:

“O garoto sai do circo, mas o circo não sai do garoto.”

Só havia um lugar que ele poderia ir quando se sentia assim.

E por isso ele estava em solo gothamita. Solo não, porque se balançava entre os arranha-céus da cidade cinzenta até alcançar a Torre do Relógio, base de operações de Barbara. A ruiva viu-se despertar abruptamente quando o alarme de intruso soou, tinha adormecido em frente ao computador assim que seu corpo cedeu a todo o cansado acumulado de várias noites mal dormidas. Coçou os olhos e arrumou os óculos no topo do nariz para ver de quem se tratava aquela visita no meio da madrugada.

Não conseguiu evitar um sorriso quando o viu acenar para a câmera do interfone, ainda vestido o traje que ele só usava durante a noite. Liberou a entrada para ele e o aguardou no topo das escadas, conduzindo a cadeira de rodas com as mãos para encontrá-lo.

- Dick. – disse, em meio a um suspiro. – Aconteceu alguma coisa? Posso ajud-...

Não teve tempo para terminar a sentença, o vigilante tirou a máscara de Asa Noturna e a deixou cair no chão, e em seguida inclinou o corpo para baixo, envolvendo a hacker num abraço apertado, erguendo-a levemente da cadeira.

- Dick? – sussurrou. – Você está bem?

Não obteve nenhuma resposta. Ao invés disso, ele apenas a apertou mais contra si, estreitando o abraço e aumentando o contato entre seus corpos. Barbara acatou o silêncio e o envolveu com os braços no pescoço, por algum motivo desconhecido, sabia que ele precisava disso. Uma das mãos acariciou os fios negros, acalentando-o enquanto seus corpos emanavam aquele calor familiar. Dick caiu sobre os joelhos, mas não se desfez do abraço. Aninhou-se a ela, recostando a cabeça sobre o colo enquanto se deixava embalar pela carícia terna que os dedos desempenhavam suavemente.

- Sinto sua falta, Babs...

- Eu também sinto...

Ao ouvi-la, o moreno ergueu o rosto para ela e a antiga Batgirl conseguiu ver as marcas de expressão na face alheia; as olheiras fortes, o cansaço, a fadiga acumulada. Levou a mão livre para acariciá-lo na lateral do rosto com o dorso da mão, esboçando um pequeno sorriso. Ele, atrevido como sempre, deixou o rosto nivelado ao dela apenas para roubar um selinho da ruiva mais maravilhosa do mundo. Ela não recuou, mas uma risadinha escapou dos lábios dela e ele se pegou sorrindo também.

O homem se sentia muito melhor apenas por tê-la em seus braços. Não importava se operavam em cidades diferentes, ainda que estivesse a trinta minutos de Gotham, ele sempre correria para ela em momentos de dificuldade. De solidão. O simples vislumbre daquela ruiva tão perfeita sempre o impulsionaria para frente.

Afinal, os mapas de Dick Grayson sempre o levariam até Barbara Gordon.