Daniel narrando

Já estava cansado de ficar sem fazer nada naquele quarto, eu achei melhor respirar um pouco, sair daquela cabana, por mais que ela fosse super incrível, mas não dava mais pra ficar lá dentro. Troquei de roupas, as encharcadas por umas mais quentes secas e fui para a varanda, a chuva ainda caía, mas agora era bem mais fraca do que antes, por isso, me deitei na rede para curtir aquele clima fresquinho que a chuva proporcionava.

Na hora em que disse que estava pensando na vida, menti, não estava, eu estava pensando em mim e na Maria Joaquina. Queria tanto que ela voltasse comigo, mas será que seu eu pedisse ela aceitaria? Porque eu tenho que provar pra ela que já não sou o mesmo de antes e que estou realmente arrependido, mas não fiz o suficiente, preciso continuar provando, mas o quanto mais eu preciso continuar me esforçando?

Estava tão distraído em meus pensamentos que não percebi que Gabriel e Matheus estavam chegando perto de mim.

–Ei cara? – Chamava o Gabriel.

–E aí camarada?- respondi sem muito ânimo.

–Bom, já fizemos nossa parte, ajudamos você e o Mário a conseguirem beijar a Maria Joaquina de novo, já pediu ela em namoro?

–Não. Acho que ainda não chegou a hora.

–Claro que chegou, depois de tudo que aconteceu o que mais falta?

–Muita coisa. Mas você tá muito apressado. A propósito, por quê estão fora da cabana?

–Estava muito tédio ficar naquela cabana sem fazer nada, eu tirei nossos braceletes e viemos explorar um pouco mais a mata.- disse Matheus.

–Ah, boa sorte.- eu disse.

–Boa sorte você também. Com a Maria Joaquina.- disse Gabriel e os dois saíram andando pelo meio da mata. Nessa escola tem cada um. Eu continuei encarando os garotos irem embora. Até alguém sussurrar em meu ouvido:

–Distraído Daniel?- era Maria Joaquina.

– Um pouco. – Falei me virando para olhá-la.

– Com quê, será que eu posso saber? – Ela continuava com aquela voz sensual.

–O Gabriel e o Matheus vieram me perguntar se você é minha namorada.

– E você disse? – Ela falou normal agora.

– Que sim. – Menti, a encarei nos olhos. – Algum problema?

– Não, nenhum. É que... Não somos...

– Namorados? – Ela ficou vermelha. – Não tem problema. Eu peço a você.

Me levantei. Estendi a mão para ela. Ela também ficou de pé. Confusa, mas não disse nada.

–Olha Maria Joaquina, antes de tudo, quero que saiba que estou muito arrependido do que eu fiz com você. Você é realmente uma garota maravilhosa e não merece ter passado tudo aquilo que te fiz passar, mas agora estou arrependido, faz muito tempo, pouco antes desse acampamento, que eu venho percebendo isso, mas agora tenho certeza que é isso mesmo que eu quero. Então, te faço uma pergunta decisiva: você quer namorar comigo? Só que de verdade agora.- Ela ficou em choque. Ficou muda. Me olhava estática. Estava até com vontade de perguntar de novo, mas fiquei calado esperando a resposta pra ela não se sentir pressionada.

– Sim? – Por fim ela disse.

– Sim o quê?

– Eu quero. – Ela disse caminhando em minha direção, parece que ela saiu do estado de choque. E a minha vez de entrar em um.

Ela aceitou! Maria Joaquina aceitou namorar comigo mesmo depois de tudo aquilo! Não dá pra acreditar, já sei, vou me beliscar e acordar desse sonho. Mas não fiz isso, quando senti meus lábios tocarem nos dela pude sair de meus devaneios. Parei de viajar nas nuvens. E desci para minha realidade, a beijei com mais intensidade. Foi um beijo com vontade, acho que foi o melhor que já tivemos, porque como dessa vez é pra valer, então o beijo fica melhor, com gosto de amor junto.

Depois, ela me abraçou, um abraço confortável, gostoso, daqueles de quando você está com saudades de alguém. Abri meus olhos e vi que Gabriel e Matheus estavam atrás de uma árvore, sorrindo, então eles estavam nos observando, mas deixa pra lá, foi graças à eles que isso está acontecendo. Agora sim, antes de tudo, a Maria Joaquina era só minha ficante, mas agora sim estamos namorando oficialmente e nada vai me impedir de ser feliz com ela.

Marcelina narrando

Eu acabei dormindo na sala depois daquele teste de arco e flecha, juro que pensei que eu não fosse acertar nenhuma porque eu não tinha nenhuma experiência com aquelas coisas, mas o Mário fez questão de me ajudar e eu acabei acertando, depois de tanto comemorar com Maria Joaquina, voltei minha atenção ao Mário, já pronta para voltar pra casa e talvez dormir mais, ou comer algo. Mas Mário disse que tinha que me mostrar algo novo na nossa cabana e eu, como uma curiosa que sou, fui. Quando eu cheguei na sala, ele parou, ficou mudo e paralisado como uma estátua, não entendi nada, mas por fim ele disse:

– Posso te fazer uma pergunta? - ele sussurrou, pensei em fazer uma pequena brincadeira, mas desisti.

– Hum...Tudo bem. Pode fazer.

– Namora comigo?

Nesse momento, senti tudo parar! O que ele disse?

Mário narrando

Não sabia se era o lugar e nem o momento certo pra fazer aquele pedido à Marcelina, mas eu não aguentava mais, eu sei que o que eu tinha que fazer era provar que tinha mudado e que estava arrependido, mas eu não sei se chegou a hora certa. Aquele beijo foi só um jogo, não valia nada, e eu ainda tinha muita coisa pra fazer para que ela acreditasse que eu estou arrependido de tudo de ruim que eu fiz ela sofrer, mas acho que foi muito precipitado, preciso fazer mais coisas ainda.

–Hã? - foi tudo o que ela conseguiu dizer, ela parecia estar simplesmente chocada.

Depois disso eu pensei em fazer outra pergunta e fingir que nada daquilo estava acontecendo, mas minha intuição dizia pra que eu continuasse com o pedido. Ela tinha razão, eu já tinha feito aquela pergunta, agora tinha que seguir até o fim e aguentar firme a rejeição dela.

– Então...aceita?- insisti, meio inseguro.

– Não...- sabia!

–Ok...- ia dizer que tudo bem, mas ela me interrompeu.

– Pensei que não fosse pedir! Claro que aceito! - disse com um sorriso maior que seu rosto. Fiquei incrédulo e só voltei à realidade quando ela agarrou meu pescoço e me beijou de um jeito apaixonado. Segurei sua cintura e a ergui no alto, feliz, muito feliz mesmo. Por essa eu não esperava, a vida é mesmo cheia de surpresas.

Depois disso, não falei mais nada, nos abraçamos, fiquei lembrando em como as coisas deram uma grande reviravolta até aqui, o nosso primeiro trabalho em dupla, o cinema, o beijo, o incidente do jornal, as brigas, até chegar no dia em que ela veio até a sala pra me ouvir graças ao Matheus e o Gabriel, esses dois nos ajudaram muito, tenho que achar uma forma de retribuir o favor pra eles depois. Talvez se eles estiverem interessados nas companheiras deles, eu e o Daniel podemos ajudar, mas agora vou deixar isso pra lá, apenas vou me concentrar aqui, no momento.