A rainha perdida escrita por Amanda


Capítulo 11
Lágrimas e um Sussurro




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/588865/chapter/11

–Amanda-

Os dois dias que se passaram tinham sido uma grande catástrofe para mim, todos estavam se armando e se preparando para uma guerra que poderia acontecer a qualquer minuto. Em um segundo eu poderia estar dormindo e no outro uma espada poderia estar sendo enfiada no peito de alguém. Ótimo.

E para piorar tudo, mais uma vez não consegui contar a eles sobre aquela noite. Isso estava me consumindo. Tinha passado o dia inteiro dentro do quarto trancada, apenas observando os bosques de Nárnia e mexendo na Tiara que Lilian tinha feito para mim( era linda, tinha várias florezinhas). Sem fazer absolutamente nada além de pensar e me culpar por tudo. Tudo aquilo só estava acontecendo por minha causa... Levar uma surra da Emily não parecia nada mau agora.

– Srta Amanda, você precisa comer um pouco, está aí o dia todo.– Lilian apareceu no quarto e falava calmamente, preocupada.

– Não estou com fome Lilian – Voltei a olhar para a janela evitando encara-la.

– Não quer nem tomar um ar fresco? – Ela insistiu.

– Boa ideia, vou caminhar um pouco pelo castelo... – Levantei e sai porta a fora. Eu não queria caminha na verdade, mas sabia que Lilian ficaria no quarto fazendo perguntas e eu precisava ficar sozinha.

Andei pelos mesmos corredores de sempre, e a cada nova passagem um guarda me encarava, era uma sensação horrível. Apertei o passo e fui direto para o litoral, lá não havia ninguém, estava tudo calmo, as ondas fracas quebravam na areia molhada. Sentei perto de uma pedra. Ali era o lugar perfeito, se houvesse algum ataque, os vigias do castelo conseguiriam ver, então eu não precisava me preocupar tanto. O sol já estava quase se pondo, a paisagem era linda. Respirei fundo e deixei que algumas lágrimas caíssem, porém inofensivas lágrimas se transformaram em soluços e eu já não conseguia mais controlar.

–Edmundo-

Eu precisava respirar um pouco, todos no castelo estavam muito tensos, a cada dia que se passava, tentávamos bolar um plano ou descobrir alguma coisa, mas tudo em vão.

Saí para a sacada do meu quarto, que era de frente para o mar, o sol já ia se por, olhei para o mar e segui com os olhos o curso das ondas até elas quebrarem na areia, perto de uma pedra uma garota estava sentada, curvada, com a cabeça apoiada nos joelhos dobrados.

Não sei o que deu em mim, mas decidi ir falar com ela, já estava ficando tarde para alguém ficar na praia, ainda mais nas condições que estávamos.

...

– Hey, moça! – chamei ainda um pouco longe, não queria assusta-la quando ela abrisse os olhos chegando perto demais. Porém fui ignorado.

– Hey, Senhorita – Toquei em seu ombro e ela não se mexeu me ignorando novamente. – Senhorita, é perigoso ficar sozinha aqui fora desse jeito.

Ela se encolheu mais. Escutei um gemido muito baixo, então percebi que ela estava chorando.

– Senhorita, você está bem? – disse me arrependendo logo em seguida. Que pergunta idiota Edmundo, ela não está chorando atoa. Me sentei do lado dela e coloquei a mão em seu ombro.

– Sei que está chorando...- comecei com a voz baixa – não precisa ficar com vergonha, não tem mais ninguém aqui e eu prometo que vou tentar te ajudar, só precisa me contar o que está acontecendo. – meu tom era calmo e um tanto acolhedor, já tinha passado por várias experiências desse tipo com a Lúcia, mas não sabia ao certo se funcionaria com uma estranha.

– Você não pode me ajudar – ela disse com a voz baixa e tremula e logo a reconheci, era Amanda. Senti um aperto no coração, em momento nenhum ninguém parou para pensar em como ela estava se sentindo com relação a tudo isso. Lembrei-me de quando cheguei em Nárnia, de como foi toda aquela batalha, e etc.

– Olha, eu sei que tudo isso deve ser tão difícil pra você quanto para todos nós, ou até mais...mas...- fiz uma pausa - eu não sei o que dizer para conforta-la ou te deixar melhor, me desculpe... – Ela permanecia com a cabeça baixa. – Mas eu posso ser um bom ouvinte...

Ela ficou alguns segundos em silêncio, depois levantou a cabeça e respirou fundo. Seus olhos estavam muito vermelhos, assim como seu nariz e sua boca. Ela havia chorado mais do que eu pensava.

– Eu não sei por onde começar...- Ela encarava o mar enquanto tentava, em vão, deixar a voz mais firme para continuar. – A culpa é toda minha...- ela disse e em seguida voltou a esconder o rosto, agora nas mãos, e a derramar lágrimas.

– Hey, Calma... a culpa não é sua...- Segurei suas mãos e devagar as guiei até seu colo, ela encarava a areia

Segurei seu rosto e o levantei para que eu pudesse ver seus olhos, e com minhas mãos limpei as lágrimas que insistiam em cair, ela olhava para mim, mas em seguida desviava, e isso se repetiu umas três vezes até que minhas mãos pararam de tocar sua pele.

Segurei suas mãos e a olhei com atenção – A culpa não é sua, tudo bem? Você não quer que isso aconteça, quer? – ela negou ainda sem olhar para mim. – Então você não tem culpa... A profecia já estava escrita, uma hora iria acontecer. É inevitável.

Percebi que ainda segurava as mãos dela, mas resolvi não soltar. Era uma sensação estranha, mas era boa.

– Mas...se o problema sou eu...- ela começou – por que não me mandam embora? Ou me entregam...sei lá!

– O mal que está por vir é mais forte do que qualquer outro que já esteve em Nárnia. Não podemos simplesmente manda-la embora, você pode ser uma chave para destruir Nárnia, se cair nas mãos de seja lá quem ou o que for, pode estar tudo acabado ou o contrário, pode ser a chave para destruir esse mal ou nenhum dos dois, não sabemos, então, não podemos arriscar.

– Por que comigo? Eu sou só eu...queria estar levando uma surra no orfanato agora...- a interrompi, minha expressão de confusão deve ter ficado bem nítida pois ela nem chegou a terminar a frase.

Uma coisa boa aconteceu pelo menos, ela me olhou e deu um rápido riso, mas ainda chorava.

– Vou explicar melhor, eu vim parar aqui por que estava fugindo de uma menina, Emily, ela é lá do orfanato, as meninas mais novas pregaram uma peça nela e ela pensou que fui eu e não quis me ouvir, então eu corri...me escondi no armário e...aqui estou eu. – ela riu da situação e eu acabei rindo junto.

– Que ironia, não? - Já havia anoitecido.

– Bem, tem algo mais a dizer? – Ela parou e me encarou preocupada, seus olhos se desviaram dos meus e ela pareceu murmurar algo que não entendi.

– Não...agora não...- Ela parecia duvidar do que falava.

– Tudo bem, melhor entrarmos então já está escuro, é mais seguro lá dentro – Percebi que depois de toda aquela conversa, nós ainda estávamos de mãos dadas. Minha voz saiu um pouco tímida. Desviei minhas mãos das dela e me levantei, estendi o braço para ajuda-la, mas ela ignorou e levantou sozinha.

– Ok, vamos. – Ela ainda não parecia feliz, estava apenas conformada. O caminha para dentro pareceu longo, pelo menos para mim, ela estava como na última vez que caminhas sozinhos, perdida em pensamentos, só que dessa vez eu não estava, a sensação de desconforto não passava, eu a olhava a cada 5 segundos. Seu cabelo estava preso em uma trança e sua pálida pele contrastava com seus olhos azuis.

–Amanda-

“Por que estou com tanto medo de contar? Eu quero respostas, não quero?” Eu pensava enquanto observava as flores, “vou contar agora mesmo, sem medo!” Estava decidida, mas quando virei me surpreendi por dois olhos estarem parados em mim, Edmundo, que também levara um leve susto, desviou os o olhar para o céu.

Fiquei tão aturdida que até me esqueci do que queria falar por um momento

– Edmundo, preciso te contar uma coisa...- Fui interrompida, já estávamos quase dentro do castelo.

– Majestade! O Rei Pedro quer falar com vossa majestade sobre o patrulhamento da noite.

– Claro, já estou indo. Me de só um minuto. Amanda – ele se virou para mim. – Queria dizer alguma coisa?

“Quero! Quero contar tudo! Estou fazendo coisas violetas saírem das minhas mãos, barreiras me protegerem e torpes tem medo de mim, Ah e eu não disse antes, e ninguém me perguntou, mas encontrei Aslan na floresta e ele nem falou nada sobre isso, aliás lá eu nem sabia que ele falava! Sem falar que estou despreparada para uma batalha e morrendo de medo e vergonha de ter que ir sozinha para meu quarto ”

– Não, deixa pra lá. Era bobeira.

– Tudo bem, se precisar de alguma coisa, pode pedir para qualquer um me chamar e farei o possível para ajuda-la! Se me dá licença...- Ele se curvou em reverencia e saiu.

Entrei no castelo e sozinha segui para o meu quarto. Enquanto subia as escadas, percebi que a tiara que Lilian tinha me dado havia sumido da minha cabeça.

– Acho que deixei cair em algum lugar – Disse para mim mesma. Era melhor voltar para procura-la, Lilian ficaria magoada se eu a perdesse, ela tinha feito especialmente para mim. 2 minutos sozinha lá fora não fariam nenhum mal.

...

“Cadê essa tiara” Eu já tinha olhado debaixo de todas as folhas, atrás de cada árvore que tinha por onde nós havíamos passado e nada. Fui para perto de um portão que dava para sei lá. Ali tinham duas grandes árvores e alguns arbustos. Estava escuro e a noite estava gelada. Me esgueirei para o meio dos arbustos e comecei a procurar, ali era a única região onde eu não havia procurado e eu me lembrava de ter saído da praia com a tiara. Até que eu a vi, quando estiquei meu braço para pega-la ouvi um sussurro jogado ao vento:

Venha...Pegue a Tiara. Mal posso esperar para traze-la para mim! Pegue a tiara e será mais fácil para todos...sem guerras, sem mortes, apenas pegue-a e virá direto para mim...

Levantei com o coração acelerado, não tinha ninguém por perto, olhei para os lados apavorada procurando por alguém

Eu congelei. Um brilho fraco, violeta começou a surgir de onde a Tiara estava e então eu corri gritando.

– Socorro! SOCORRO! ALGUÉM ME AJUDA! – eu sentia que a qualquer momento seria pega em meio a escuridão. Eu estava apavorada. Meu corpo inteiro estava gelado e meu coração parecia que iria sair pela boca, minha expressão era de horror. Cheguei a porta do Castelo ignorando os guardas, corri para dentro e meu extinto foi procurar por alguma autoridade, alguém em quem eu pudesse confiar, Aslan, Lúcia, Pedro ou Edmundo, o primeiro que aparecesse.

Corri para a sala onde estavam reunidos e abri a porta com tudo. Eu estava apavorada.

–Edmundo-

Eu e Pedro estávamos reajustando a patrulha da noite quando Amanda abriu a porta com tudo. Me assustei, não só pela entrada dela, mas por sua expressão de terror. Ela correu para dentro da sala, se encolheu em uma cadeira e ficou encarando o chão aterrorizada.

– O que aconteceu?

– Amanda, você está bem? O que houve?

Nós nos aproximamos dela, ela nos olhava em silêncio, seus olhos gritavam por socorro, ela tentava falar, mas nada saía de sua boca.

– Arny, pegue um copo com água pra ela – Pedi para a primeira pessoa que apareceu no corredor – Rápido.

–Calma, está tudo bem, tente respirar fundo – Pedro dizia tentando passar segurança pra ela.

– Amanda, seja lá o que aconteceu, já passou, você está segura agora, não precisa ter medo.

Ela olhou para a janela, a escuridão da noite contrastava com o brilho das estrelas e da lua, ela pareceu temer isso. Fechei as cortinas.

– Está melhor assim? – perguntei

Ela nada disse, apenas assentiu.

Não tinha ideia do que tinha acontecido, o que quer que fosse, era algo sério.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A rainha perdida" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.