Um Lugar Chamado Terra Do Nunca escrita por Mandika
– Terra do quê?
– Terra do Nunca. Qual o problema?
Agarrei o colar com mais força e me segurei para não chorar.
– Nada.
– Wendy, Terra do Nunca é...
– Agora não, Michael.
Estava com meus olhos grudados no chão, mas pude sentir o olhar de Peter em cima de mim.
– James, Thomas, por que não mostram para Michael e John o quarto deles? O resto volte a brincar.
– Sim, senhor Pan.
– Você parece ser como um pai para eles. - levantei os olhos e percebi que ele estava logo diante de mim.
– Eu me sinto como um, conheço cada um deles desde que chegaram aqui. Mas eles nunca tiveram uma mãe. E uma mãe é bem diferente de um pai.
– Não tem outras meninas aqui?
– Não, você é a primeira.
– Ah. Bom, obrigada por tudo, acho que vou encontrar meu quarto.
Agarrei as malas que os policiais deixaram na porta e disparo pelo longo corredor. Encontrei o quarto onde John e Michael se instalaram e escolhi uma cama ao lado da janela. Eu gostava de ver as estrelas de noite, era reconfortante.
Fui até um banheiro e me encarei por um minuto. Passei os dedos nos meus cachos loiros e percebi que estava cheia de nós. Segurei mais firme o colar e senti uma lágrima escorrendo pelo meu rosto.
– Wendy, acho melhor vir dormir. Já está tarde.
– Eu... preciso de um lugar pra pensar.
Quando eu ficava triste com alguma coisa eu sempre ia para o telhado da minha antiga casa. Saí correndo para procurar uma entrada que desse para o telhado, não tinha sido difícil, era bem perceptível. Subi as escadas rapidamente e notei que eu não era a única que precisava de um lugar pra pensar.
– Ah, oi Peter. Desculpe eu não....
– Não, tudo bem. Você pode subir se quiser.
Sentei-me do lado dele e ficamos em silêncio por um tempo.
– O que aconteceu para você estar aqui? - perguntei.
– E eu preciso de um motivo?
– Hm... Não, é só que... Desculpa. - fiquei vermelha de vergonha. Que idiota eu fui.
– Você deveria parar de se desculpar e esfriar um pouco a cabeça. O que te traz aqui?
Olhei para a mão que segurava o colar firmemente.
– Ah, o colar. Quer ajuda para colocar? - ele ofereceu.
– Eu... Quero, obrigada.
Botei o colar em sua mão e fiquei de costas para ele que, gentilmente, afastou meu cabelo e selou o fecho.
– Posso fazer uma pergunta? - pergunto.
– Isso depende.
Peter riu, que sorriso...
– O nome do orfanato é mesmo Terra do Nunca? Porque não foi isso que os policiais nos contaram.
– Não, isso é só como os meninos chamam. Sem querer assustar, mas é que todos que já entraram aqui nunca saíram. Por isso o apelido.
Soltei um riso um pouco alto demais.
– Qual a graça? - indagou Peter.
– Nada. É que minha mãe costumava a contar uma história sobre uma terra onde as crianças não cresciam e adultos não eram permitidos. Uma terra de diversão chamada Terra do Nunca. Eu ri porque as nossas perspectivas sobre uma Terra do Nunca são totalmente opostas.
– Essa terra... Existe?
– Eu não sei, minha mãe dizia que essa chave - agarrei o pingente do colar - é a entrada para a Terra do Nunca. Mas são só histórias. - dei de ombros.
– Isso não é verdade, você só tem que acreditar. Com fé e confiança tudo é possível. - ele fez uma pausa e apontou pro céu. - ta vendo aquela estrela? Segunda a direita?
– Sim.
– Sempre que eu quero algo eu venho aqui e peço para a estrela. Acontece de verdade. - ele virou o rosto para me olhar nos olhos.
– E o que você pediu hoje? -perguntei com um sorriso travesso no rosto.
– Se eu contar não vai se realizar. - então voltou a olhar para o horizonte. - O que eu quero dizer é que se você não acreditar, então não vai ser possível mesmo.
– Então eu suponho que se eu acreditar na Terra do Nunca eu serei levada até lá? - arqueei a sobrancelha.
– Sim.
– Ótimo. - levantei pronta para descer.
– Onde vai?
– Vou acreditar lá na minha cama, estou cansada. Até Peter
– Te vejo amanhã e, ah... Wendy? - ele chamou quando comecei a descer os degraus.
– Sim?
– Acredite.
– Pode ter certeza. To acreditando. - reviro os olhos e desço.
Quase instantaneamente cai na cama e dormi.
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