Eles voltaram por onde tinham entrado, e resolveram seguir pelo lado direito da bifurcação. Mas ali não encontraram nada, apenas um cômodo. Uma grande rocha tapava a passagem, criando uma parede ao fundo. Não tinha pra onde prosseguir. E agora?

Então Hamilton viu algo – Aquilo ali me parece um buraco...? Uma passagem?

* * *

“Vozes? Eu estou ouvindo vozes; será que estou delirando? Quem pode estar aqui? Vikram Kabra teria vindo para assistir á minha morte?” Ian estava agora pendurado na grade. A água o havia coberto completamente, e agora havia apenas cerca de 30 centímetros de espaço entre a água e a grade. Ian já não sentia mais nada. Seu desespero naquele buraco negro foi tão grande minutos atrás, que parecia que agora, no momento mais tenso onde a água avançava próximo ao seu rosto, ele estava anestesiado, quase catatônico. Mas ele realmente estava ouvindo vozes. E então novamente a luz de uma lanterna clareou o seu rosto.

* * *

– Oh não, Ian, o que fizeram com você? – A cena que Amy estava vendo era terrível. Ela não teria palavras pra descrever o que sentiu naquele momento. Agora apenas o rosto de Ian estava aparecendo na superfície. Ele estava quase morrendo afogado! E era isso que iria acontecer se ela não o tirasse dali rápido. Mas como? Ele estava trancado! Logo o nível da água ficaria acima da grade e ele não teria como respirar.

– Amy, Amy! – “Ela está viva! Vikram estava mentindo, ou então apenas achou que ela estava morta. Mas ela está viva! E como é bom vê-la novamente” Ian queria ter dito essas palavras, mas apenas pensou, porque não tinha forças pra falar mais. E não tinha tempo também. Precisava manter sua boca fechada, ou do contrário engoliria água. Ele precisava colar o rosto na grade se ainda quisesse respirar um pouco mais.

– O que podemos fazer, Amy? – Perguntou Jonah. Ele estava tão aterrorizado com aquela cena quanto ela. É angustiante assistir alguém morrer afogado bem diante dos seus olhos e não poder fazer nada. É desesperador! Ele já estava sentindo como se fosse ele que estivesse dentro da água.

– Nós não podemos fazer nada... – Refletiu Hamilton, em voz alta. Tinham percorrido todo aquele caminho horrível, arriscado a vida e pra quê? Pra ver Ian morrer afogado bem na frente deles.

– Nós precisamos fazer algo, garotos! – Amy suplicava. Esforçava-se ao máximo para poder tirar Ian dali. Ele estava tão diferente do Ian de sempre... estava pálido, ofegante. Amy viu a morte naqueles olhos cor de âmbar. Por quê? Por que Ian? Amy já tinha perdido tantas pessoas que amava... primeiro seus pais, depois sua avó, Grace, e agora Ian? Não, ela não merecia sofrer mais.

– Hamilton, rápido – Ela gritou – Vai, me ajude a puxar essa grade você é o mais forte. – E os três tentaram arrancar a grade com todas as suas forças. Mas era de ferro. Não dava pra ser arrancada por três adolescentes fácil assim.

– Vai, Hamilton, força – Gritou Jonah. Hamilton era um Thomas, o clã que mais detinha força física.

– Não dá – Gritou ele de volta – Eu sou um Thomas, mas não sou o incrível hulk!

Estava ficando tarde demais. Dali a segundos, nenhum esforço mais valeria a pena. Ian estava se sentindo horrível. Já estava sentindo todo o seu corpo doer. Mas agora ele não queria aquilo. Não queria morrer. Ele queria viver! Agora que tinha certeza que Amy estava viva. Por que eu não posso ser feliz com a garota que eu amo, assim como tantos outros rapazes? Por enquanto tudo o que o separava de Amy era uma grade; mas daqui a pouco tempo, seria algo muito maior; um universo talvez. Pelo visto ele não tinha nascido mesmo pra ser feliz. Perderá a vida pelo mesmo homem que o fez vir ao mundo? É... a vida tem dessas contradições.

Continuar tentando arrancar a grade em um momento como esse era tolice. Arrancar aquela grade era impossível. E então vinha a pergunta novamente: o que fazer? A água subiu ainda mais. Dessa vez, não havia mais nenhuma parte de Ian que não estivesse submersa. E Amy ainda conseguiu ouvir um “Adeus”, pesaroso e agonizante; mais parecia um gemido. E então não viu mais nada, apenas águas escuras.