A Vida Alheia escrita por Jess


Capítulo 4
IV - Garota da varanda


Notas iniciais do capítulo

Olá, espero que todos estejam gostando ler assim como estou gostando de escrever.



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Quando chegou em casa estava exausta de mais para se exercitar então, tomou banho e vestiu uma calcinha e uma camisa bem larga, estava calor de mais para se vestir com decência, e também não tinha ninguém que fosse a ver vestida daquele jeito, então ela não se preocupou.

Foi em direção a janela com a intenção de abri-la, mas quando chegou perto lembrou-se do vizinho.

"Mas talvez ele não faça isso sempre, talvez tenha sido só naquele dia...", Clarisse pensou abrindo a janela para sentir o vento fresco sacudir seus cabelos.

Aquela noite não era a mais bonita que ela já havia visto, mas as luzes acesas pelas casas tinham um certo charme, ela foi até a varanda e sentou-se numa espreguiçadeira que havia ali, desde o dia em que se mudara para aquele apartamento.

Sem sequer perceber o que estava fazendo Clarisse olhou para o apartamento de frente para o seu, havia uma pequena movimentação e as luzes estavam acesas, ela mal percebeu como mexeu-se procurando a posição certa para enxergar o que acontecia ali dentro. Mas quando encontrou a posição, viu o rapaz que morava ali aparecer com uma toalha na cintura e com os cabelos molhados, ele sentou na cama pegou o celular que estava no criado mudo.

Daniel viu que haviam ligações perdidas, mas não reconheceu os números então nem se preocupou em ligar de volta.

"Se for importante ligará novamente", ele pensou jogando a toalha em cima da cama e indo até o armário completamente nu.

Naquele momento Clarisse mordeu o lábio e se perguntou se deveria continuar olhando ou se devia ir dormir.

"O que eu estou fazendo não pode ser considerado como invasão de privacidade... Estou na minha varanda, apenas olhando para frente, não tenho culpa que na minha frente está a janela do quarto de um cara que transa na varanda e anda despido pelo quarto", ela refletiu tentando justificar para si o que estava fazendo.

Daniel pensou em por uma roupa e ir num barzinho que tinha ali perto, mas não estava com a menor paciência, tinhas sido mandado embora da empresa em que trabalhava. Mas não se arrependia do que tinha feito, tinha até um pouco de orgulho de sua ação.

Clarisse forçou os olhos para tentar enxergar apesar da distância, conseguiu ver que ele tinha algumas tatuagens nas costas e nos braços, também pode ver que ele era um pouco alto e que o cabelo estava um pouco grande.

"Talvez ele seja um musico, ele tem bem esse estilo de adolescente revoltado...Mas é bem visível que ele não é um adolescente, talvez tenha a minha idade. Ele me parece muito diferente dos homens do meu circulo de amizades e de trabalho, não parece o tipo de homem que usaria um sapato Pierre Cardin. Ele parece másculo demais para isso...", ela pensou com um sorriso no canto dos lábios, comparando-o a todos os homens que já tinha visto usando um Pierre Cardin.

Mesmo não o conhecendo ela já se sentia muito próxima, e a sensação de estar observando-o sem que ele soubesse lhe dava uma certa satisfação. Talvez ela nunca conseguisse confirmar em voz alta que estava adorando observa-lo, mesmo com uma culpa cutucando suas costelas, a sensação de ser alguma espécie de ser supremo, aquela sensação de vê-lo agindo como ele mesmo, sem nenhuma restrição ou medo...

Ela queria ver mais, mas tinha receio de que se tornasse um vicio, que depois não conseguisse voltar ao normal e viver sua vida sem sequer olhar para a pessoa ao seu lado ou ir para a varanda fazer mais do que sentir o ar fresco.

Daniel vestiu apenas a cueca e caminhou até a varanda. Naquele momento Clarisse pensou em correr dali, em voltar para dentro de seu quarto e fechar a cortina rapidamente, pois o show tinha acabado, mas preferiu olhar para outro lado e fingir que estava fazendo qualquer outra coisa que não fosse observar a vida alheia.

Ele olhou a rua e as pessoas que passavam por ali, pensou em como tudo já fora pior e não deixou que seu pensamento pessimista o vencesse. Sabia conseguiria ficar dois meses sem trabalho, mas que logo teria que encontrar outro emprego para não ter que voltar para a editora em que trabalhou por alguns anos quando terminou a faculdade.

Tentando parar de pensar no que deveria fazer, Daniel passou a mão pelos cabelos e olhou para frente , tentou enxergar melhor mas o apartamento de frente para o seu estava com luzes apagadas, não era possível enxergar muito bem a mulher que estava sentada na varanda, só pode ver as pernas que estavam cruzadas, a camisa e seus cabelos claros que escondiam um pouco o rosto; mas percebeu que se ela quisesse conseguiria enxerga-lo. Observou por mais algum tempo a imagem a sua frente um tanto quanto curioso, e presenciou o momento em que Clarisse levantou-se e deu alguns passos até chegar ao parapeito e escorar-se ali fingindo estar olhando a circulação das pessoas na rua.

Conseguiu vê-la claramente e também reparou na camisa larga que usava, estava com botões abertos até o ponto entre os seios. Ele perguntou-se como nunca tinha percebido que ela morava ali, aliás, nunca nem reparara que alguém morava naquele apartamento. Talvez nunca tivesse tido tempo para observar a vista.

Clarisse percebeu que seu vizinho já havia a visto então não tinha porquê sair correndo, afinal não era uma adolescente tímida escondendo-se atrás de uma cortina, a única coisa que podia fazer era usar tudo que tinha apreendido nas poucas aulas de teatro que teve quando tinha quinze anos. Ela foi olhando gradativamente para vários pontos, como se estivesse distraída com qualquer coisa e logo olhou para frente fingindo um pouco de surpresa.

Daniel achou a mulher do outro prédio um pouco estranha, até aérea, mas não podia negar que sua beleza amenizava a estranheza. Sentiu vontade de rir um pouco do modo como ela parecia alheia, mas conteve-se.

Clarisse não encarou muito, mas deixou ele percebesse que ela estava olhando.

"Ai, eu sou péssima nisso..."

Ele pela primeira vez não sabia o que fazer, ela estava em outro prédio, não havia como falar algo e convenhamos que seria muito estranho começar tentar falar com alguém que estava em outro prédio, seria evasivo e nada sutil.

"Mas ela já me viu e não me evitou; isso é um bom começo...", ele refletiu, tentando por em ação seu lado mais descarado. Procurou algo que pudesse chamar atenção dela, total atenção. Começou a fingir tosses bater a mão no parapeito e disfarçar e se mexer um pouco.

"O que ele está querendo fazer?", Clarisse perguntou-se fingindo não estar reparando no que ele estava fazendo.

Até que ela o olhou e sorriu, ele sorriu de volta e acenou sentindo-se um completo idiota. Clarisse surpreendeu-se ao perceber que achou aquilo bonitinho, um pouco idiota, mas bonitinho.

"Bonitinho, mas espero que ele não pense que serei mais uma garota da varanda...", ela pensou acenando e indo de volta para seu quarto.


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Notas finais do capítulo

Comentem, se houver algum erro avisem.



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