A Herança escrita por America


Capítulo 1
Capítulo 1




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Eu acordei nos braços fortes de Jack. A brisa fria que vinha da praia e seus beijos acariciavam meu rosto.

— Desculpe. Eu precisava te acordar — falou, antes que eu pudesse abrir os olhos.

Abracei-o forte. Doía-me o coração apenas de pensar que aquele momento acabaria.

Abri meus olhos e dei de cara com os de Jack. Verdes. Mais parecidos com grandes e profundas esmeraldas. Era impressionante como eles ainda me deixavam confusa e aliviada ao mesmo tempo. Porque ao mesmo tempo em que eram “luminosos” e demonstravam o amor que ele dizia sentir por mim, eram enigmáticos e misteriosos.

Mechas de seu cabelo castanho caíam sobre seus olhos e as afastei, para olhá-los diretamente.

— Eu não quero ir — falei. — Gostaria de ficar para sempre com você. Aqui.

Foi a vez dele de afastar uma mecha do meu cabelo completamente negro do meu rosto.

— Você sabe que devemos ir, Vic. A situação do país está cada vez pior. Se ficarmos aqui, podemos acabar nas ruas, como pedintes.

Aquilo me fez rir.

Mas, apesar de tudo, ele tinha razão. Depois que o rei Brian fora seqüestrado — por sabe-se lá quem —, o país tinha virado um caos. Eu não sabia se era por falta de experiência da rainha — ela parecia fazer de tudo para melhorar o país, mas em vão — ou porque o país já vinha assim há muito tempo e o rei tentava esconder da população.

Precisávamos trabalhar em dobro para conseguirmos comida, energia e água — que aumentavam de preço a cada dia.

Meus pais e os dele trabalhavam, claro. Mas como tudo só piorava, todos tiveram que aumentar o serviço — inclusive nós dois.

Nossas famílias não eram completamente pobres e precisavam trabalhar para nos mantermos assim.

— Com você eu agüento até o inferno — falei, enquanto acariciava seu rosto com o polegar.

Ele passou a mão pela minha cintura e me puxou para mais perto do seu corpo. Sua outra mão passeava pelo meu rosto, acariciando e observando atenta e suavemente cada feição do meu rosto.

De repente ele se aproximou mais e seus lábios roçaram nos meus, abrindo caminho para um beijo suave e ardente ao mesmo tempo.

Jack se afastou. Mas não completamente, nossas testas ainda se encostavam, como ímãs de pólos opostos.

— Eu te amo — sussurrou.

Estremeci ao ouvir aquilo. Não porque não gostasse, mas porque aquilo soou como despedida. E a última coisa que eu queria era me separar de Jack.

Tentei tirar toda essa insegurança da voz e retribui:

— Eu também te amo, meu amor.

Ficamos ali abraçados, curtindo o momento.

Ele me abraçou mais forte e se levantou. Não queria que aquilo acabasse, mas tínhamos eu sair dali, pelo nosso bem e de nossas famílias.

Enquanto ele foi ao banheiro, olhei-me no espelho. O pijama justo delineava minhas poucas curvas; meus cachos negros, completamente desgrenhados, pendiam do ombro até a cintura; minha pele branca como a neve estava completamente marcada por causa do edredom. Imaginei como Jack — alto, forte, de olhos verdes e completamente encantador e lindo — podia me querer. Ele poderia ter qualquer garota que quisesse, mas escolheu logo a mim. E eu o amava ainda mais por isso.

Logo que saiu do banheiro, me abraçou por trás e me beijou na nuca, o que me causou arrepios.

Nossa diferença de altura era um pouco impressionante — ele tinha 1,80 e eu 1,55. E eu gostava disso, me sentia protegida.

Virei para seu lado e envolvi sua cintura em meus braços e me aconcheguei em seu peito.

Senti Jack roçar carinhosamente seu nariz no meu cabelo.

— Chegou algo para você ontem. — Jack me afastou suavemente, de modo que nossos olhares se encontrassem.

— O quê? — Perguntei.

— Uma carta — disse, olhando além da janela. — Eu não entendi bem porque mandaram para cá, ao invés de sua casa.

Não respondi. Apenas me desvencilhei de seus braços, em busca da carta.

Não sabia o que esperar. A última carta que havia recebido, tinha sido de Jack, e, bem, foi com certeza a melhor.

Desci as escadas rumo ao primeiro andar. Estava na mesa. Talvez minha ansiedade fosse grande, mas eu não esperava pelo que estava escrito.

Senhorita Vitória Lerman,

Pedimos que compareça o mais rápido possível ao palácio, em Cidade de Nuvia, na região central Emperius. Obrigado.

Direção do palácio.

O que os diretores do palácio poderiam querer comigo? Será que eu tinha me metido em alguma encrenca que nem eu mesma sabia? A única coisa que sabia era que as leis de nosso país eram muito rigorosas e, diferentemente do antigo país que dominava esse solo, essas leis eram cumpridas.

Brasil. Esse era o nome do antigo país. Ensinavam-nos nas aulas de história apenas as partes ruins do país que ficara nove décadas atrás, diziam ser exemplos a não serem seguidos. Mas eu havia aprendido com meu avô que não era bem assim, que uma boa parte era verídica, mas o país não era só o que ensinavam, era muito melhor. E, além de tudo, melhor que nosso país atual, Emperius.

Pelo que dizia meu avô, todos eram livres, a imprensa era livre. Os casamentos eram livres e todos podiam, um dia, serem ricos. Completamente diferente daqueles, onde todos deveriam se submeter às vontades do rei —ou rainha —; nada podia ser dito; os casamentos só com aprovação e ninguém que fosse pobre poderia ter um pouco mais de dinheiro, só rebaixavam, às vezes até chegando a uma pobreza extrema.

Era nessas horas em que eu agradecia por minha família ser da chamada “classe B” quando o país se tornou Emperius. Mas fomos sendo rebaixados. Apesar de não haver classes, nossa situação piorou ao longo dos anos, mas ainda estávamos muito longes da pobreza extrema.

Subi as escadas de volta ao quarto. Jack estava debruçado sobre o encosto da janela, olhando para o mar. Suas costas estavam arqueadas e seu corpo estava rígido. Ele parecia sério e pensativo, até um pouco preocupado.

Abracei-o e dei um beijo em sua bochecha. Senti elas se contraírem em um sorriso.

— O que está escrito? — perguntou, apontando para a carta em minhas mãos.

—Tenho que ir a Cidade de Nuvia, ao palácio — falei.

Jack pareceu estremecer.

— Por quê?

— Não diz.

— Será que é... por nós dois?

Sorri.

— Se fosse por isso, chamariam os dois. E nós dois não estamos fazendo nada de errado.

Ele permaneceu sério.

— Tecnicamente, não. Mas e se nosso casamento não for permitido? E se nossos sonhos derem totalmente errado por essa droga de lei? E se formos punidos por amarmos um ao outro?

O sorriso permanecia em meu rosto quando me aproximei de Jack e enlacei seu pescoço com os braços.

— E se nosso casamento for permitido? E se nossos sonhos forem realizados? E se pudermos amar até o finalzinho de nossas vidas? É tudo uma questão de ponto de vista, baby.


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Notas finais do capítulo

Comentem, por favor. Não faz mal :)



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