Comecei a usar a pulseira como Jessamine havia recomendado.

Eu batia como se minha vida dependesse disso (e certamente deveria depender),sentia o impacto da pulseira entre os Zr’s, vi o sangue grudar na pulseira sem nem saber à quem pertencia.

Simplesmente ataco, batendo como uma louca desesperada, alguns gritos estridentes cortam o ar, mas não sei a quem pertencem. Camille está ao meu lado, mas não parece estar se dando bem com sua luta.

– Ataque! – Alguém grita, mas não parece ser comigo.

Continuo a bater em quem quer seja a criatura em minha frente, mas eu definitivamente não nasci para bater nos outros, pois aos poucos sinto meu braço doer devido ao esforço. Me distraio por um segundo e a coisa me derruba no chão. Sinto meu cotovelo arder.

O ZR fica por cima de mim, me segurando enquanto eu me debato e grito. Olho para o lado, e vejo que ninguém pode me ajudar. Will e Jessie estão envolvidos em suas próprias lutas,assim como Camille.

Me debato com mais força, tentando em vão me livrar das mãos calejadas do homem em minha garganta, que tentam me estrangular.

O ar se torna rarefeito, começo a ver pontos pretos e não ouço mais o que está acontecendo ao redor.

Perco a tensão que antes corria pelo meu corpo, e então ele afrouxa um pouco suas mãos. Em um pulo, o derrubo no chão e corro para o lado, onde minha pulseira ficou caída. O que se passa a seguir é uma bagunça, vou atacando todos que vejo, meu pescoço ainda dói, assim como o tornozelo.Camille grita, vou correndo até onde ela está, derrubando um ZR que ia ataca- lá, me levanto e começo a bater com a pulseira no homem,acho que nunca fui tão feliz por ter uma pulseira tão comprida.Ele geme algumas vezes, mas continuo a bater. Seguro seu colarinho, batendo sua cabeça no chão diversas vezes. Minhas mãos estão sujas de sangue, mas continuo a bater até que o homem pare de gritar. Pego seu pulso, mas não há pulsação de seu coração.

Ele está morto, e eu o matei. Me levanto, tropeço nos sapatos e caio, torcendo o tornozelo. Dou um grito, chamando a atenção de um ZR, que vem em minha direção, mas uma flecha corta o ar e se finca na cabeça dele. Tento me levantar, mas o tornozelo ainda dói muito, então vou me arrastando até uma árvore e me escondo.

“Você é uma vergonha, Madeline” Meu eu interior berra “Não sabe lutar, não soube aceitar seu destino e agora está encolhida feito uma lagarta covarde, porque nem para lutar serve. Matou um deles, matou sim. Nem mesmo uma boa dona de casa seria, é uma inútil.”

Tento não chorar, pois sou eu mesma quem está produzindo essas frases, sou eu mesma quem admite que sou uma pedra no sapato de todo mundo.

Ouço gritos, passos apressados, mais gritos. Não ouso abrir os olhos.

Algum tempo depois, alguém toca meu ombro. Dou mais um grito, mas abro os olhos e vejo que é Camille.

– Acabou? – Indago

– Sim. – Quem responde é o rapaz, Will. – Pode se levantar?

– Acho que não vai dar , o tornozelo dói.

– Camille cuida disso. – Fala ele – Jessie, poderia vir comigo em uma caminhada à procura de ZR’s?

– Não vou deixar Madeline aqui. – Fala a loira

– Ela é minha irmã, vai cuidar bem dela.

– Não pareceu gostar de nós no início.

Ele sorri.

– Ela não vai matar Madeline, só vai cuidar do tornozelo.

Jessie olha para mim, e eu faço um sinal com as mãos.

–Então eu vou, mas cuida dela. – Fala para Camille.

Os dois partem.

Camille bufa e resmunga algo como “Will e sua mania de querer criar encrenca”, depois me ajuda e sentar e apoiar as costas em uma árvore.

– Sente isso? – Diz, apertando bem onde dói.

– Sim.

Ela continua a fazer algumas coisas no tornozelo, pega em sua mochila um saquinho molhado com algumas gotas de água do lado de fora. O coloca sobre o local com dor.

–Isso é gelo – Fala – Está quase virando água, então se considere com sorte.

Fico me perguntando que tipo de pessoa leva gelo para uma caminhada com o irmão.

Ela anda até perto de uma árvore , depois pega um galho grande e seco que está no chão.

– Isso vai ser sua muleta, por enquanto.

Arrasta, com dificuldade, a madeira até perto de mim. Deixa o gelo agir durante alguns segundos, depois coloca um tecido elástico Em volta do tornozelo.

– Isso é para... – Começa a falar.

– Comprimir o inchaço que virá a seguir? – Indago

– Exato. Pelo visto ainda ensinam isso no complexo.

– Desculpe se eu estiver sendo chata, mas seu irmão mencionou que somos como vocês há uns anos atrás. Eram do Complexo?

– Sim. Mas decidimos fugir,acabamos encontrando pessoas aqui, então nos estabelecemos.

– Mas os guardas não sabem de vocês?

Ela nega com a cabeça.

– Nós sempre nos mantemos na linha, nos protegendo dos ZR’s. –Ela pega uma garrafa de água na bolsa e oferece para mim, que aceito.- Eu não sou uma lutadora como Will, sou uma enfermeira, cuido das pessoas de onde vivo.

– Existe uma comunidade aqui? – Indago, após beber todo o conteúdo da garrafa.

– Mais ou menos. Eles não são como um grupo, mas como um monte de rebeldes que se uniu para sobreviver.

– Eles?

– Não posso contar muita coisa, mas em breve você vai ver. Will pirou de vez e vai levar vocês para lá, acredite em mim.

Ela continua a cuidar do tornozelo, me dando analgésicos e colocando pomada no local.

– Só poderemos cuidar disso direito quando você estiver no territórios deles, com os rebeldes.

Assinto com a cabeça. Fico encarando o horizonte, até que Will e Jessie voltam de sua caminhada. Ela parece assustada.

– Está tudo bem? – Indago

Como resposta , ela indica o dedo para Will. O garoto parece bem, mas em seus braços... Espere, é uma garota? Uma garota com um vestido de noiva?

– Quem é ela? – Indago

– Essa é uma das perguntas que faremos quando ela acordar de seu desmaio.