Não recomendado para menores de 10 anos.

Avisos: Linguajar impróprio.

Acordei após uma noite mal dormida e de quebra, toda dolorida. Arrastei-me cama afora até o pequeno banheiro do cômodo e me olhei no espelho. Eca, eu to um bagaço.

Minha cabeça martelava com os acontecimentos que nem mesmo eram meus. Eu acho que me preocupo demais com as pessoas, mais até do que comigo mesma. Eu não estava nem um pouco egoísta, nem ao mesmo pensando em como minha vida virou do avesso. Passara-se uma semana que eu estou na França, mais exatamente em Sweet Ville morando com minha tia maluca que se amarra em fazer cosplay de fada e aparecer na escola para me presentear em suas horas vagas, tirando o fato que nós tínhamos perdido o contato por um longo tempo e isso foi uma quebra de afinidade. Minha mãe me ligou depois do que acontecera com Nicholas, mas ela se recusava a falar sobre. Eu estou começando a ficar apavorada. Não estou me adaptando aqui, embora eu tenha alguns amigos aqui. Se é que já posso considerar amigos, sendo que nos conhecemos faz uma semana, mas com certeza Kentin já me considerava uma, pois não desgrudava de mim. O garoto consegue ser chato quando quer, mas é legalzinho. Também tem o Nathaniel que eu sinceramente nem sei como me dou bem com essa peste engravatada e claro, Castiel e Íris. Bem, Castiel não considero tanto, pois minha vontade de dar na cara dele é maior que tudo nesse mundo. Íris é uma garota bem gentil e sabe conversar para passar o tempo, estou me dando bem com ela. Eu não conheço nem mesmo a metade da minha sala, imagine do colégio.

Ah, ah, ah. Tirando o fato de Kentin ter saído da escola por causa da vadia da Ambre porque seu pai não queria vê-lo sendo caçoado por menininhas estúpidas e o mandou para uma escola militar. Dizem que em sua vaga chegou uma novata, mas não quis conhecê-la. Não agora. E claro, eu conheci um carinha muito legal do clube de jardinagem, o nome dele é Jade. Sim, é um nome de menina... Mas não fale isso, ele fica putinho.

Mas hoje é fim de semana. Logo depois do ocorrido com Nich, Irina me atualizou do que ocorrera, assim como Clarice. No fundo fico feliz que ela tenha começado a se tratar e visitar psicólogos.

Percebi que eram dez da manhã de um final de semana, porra, quem acorda dez da manhã só pra refletir sobre a vida e de como você está um cu?

Sai do banheiro e me joguei na cama e me cobri pela metade, deixando minhas coxas de fora com o sol batendo nelas, devido à janela mal fechada e já ia relaxando na cama, quando...

– Thalia! Thalia! – Era minha tia Agatha me gritando. Bufei e coloquei o travesseiro em cima da cabeça, para abafar o som e fingir que não ouvi. – Thalia! – Ouvi os gritos mais perto e em seguida, duas batidas ferozes na porta.

Dei um gemido baixo e rolei pela cama. O que essa mulher quer em pleno findi?

– Acorda Thalia! – A porta foi aberta com certa brutalidade e a mulher me sacudiu. – Você tem que ir ao mercado comprar algumas coisinhas. Não é porque é fim de semana e eu não tenho trabalho que tu vais ficar aí, dormindo o dia inteiro. Tenho coisas a fazer! – Apenas gemi novamente. Ah, esqueci o fato de que minha tia agora tem sempre algo o que fazer. Será que ela tá saindo com alguém? Um, não sei... Ela é bem... Digamos... Ah, porra! Não consigo imaginar minha tia saindo com alguém, pronto, falei.

– Tenho que ir mesmo? – Fiz uma cara horrível para ela.

– Oh minha querida, está tão abatida!

– Jura? Não me diga? Teve de pesquisar isso? – Ela me deu um tapinha no ombro.

– Ande, levante logo. Vou sair. – E assim, sumiu da minha visão. Maravilha. Rolei na cama até cair da mesma, dando um berro.

Levantei-me e olhei pela janela. Estava calor. Eu odeio calor.

Vesti uma roupa qualquer, lavei meu rosto e me joguei pra cozinha, morrendo de fome. Abri a geladeira e encontrei um grande... Nada. Exato, estava vazia. Abri os armários e não tinha nada além de biscoitos integrais... Eca!

Peguei meus fones em cima da bancada e vi uma “pequena” lista, junto a dinheiro lá. Sai correndo e morrendo de fome, andei para caralho e finalmente cheguei ao mercado. Estava tocando Bury Me Alive do We are the Fallen. Cara, eu amo essa banda!

Agora imagine a cena: Uma criatura baixinha, saltitando pelos corredores de um mercado meio vazio, cantando em um tom totalmente desafinado uma música, fazendo o solo da guitarra com a mão e pulando para tentar pegar o legume no alto de uma prateleira. Algumas pessoas me olhavam como se eu fosse louca... Talvez eu seja. Preciso ao menos me distrair para não me afogar em pensamentos.

Depois de muitos pulos, consegui pegar o que eu queria. Após um tempo circulando, tinha quase tudo o que eu tinha de comprar. Já era onze e dez da manhã e eu nem café tinha tomado. Que maravilha minha vida.

Fui logo para a fila no qual eu era a quarta. Observei a pessoa em minha frente, com poucas coisas na mão e se vestia um tanto... Diferente. Fiquei um tanto intrigada olhando para a pessoa de costas que movia freneticamente a mão. Estiquei-me para ver o que fazia claro, tentando ser sutil e vi que possuía um bloco de notas nas mãos... Estava escrevendo? Nossa, que pergunta idiota Thalia. Coloca na listinha um caderno para anotar suas perguntas idiotas, sua otária!

Tentei ver o rosto dele, mas eu estava tentando ser sutil, caralho! O.K Thalia, pare antes que ele perceba que você está secando-o e quase comendo ele pelos olhos.

Depois de um tempo demorado a fila andou, só restando o rapaz que me intrigou em minha frente. Já to é ficando de saco cheio de filas.

– Senhor, senhor! – A mulher da caixa tentava atrair a atenção para que o garoto visse que ele era o próximo. Depois de tanto chamar, ele sacudiu a cabeça e pareceu voltar para a terra. Eu hein.

Prestando mais atenção... Os cabelos dele eram platinados e tinha uma parte caindo no rosto que era preta. Suspirei. Quem nunca teve uma quedinha por alguém num ônibus ou em uma fila dos infernos?

O garoto saiu rapidamente e eu fui passando minhas compras até ver o bloco dele em cima do caixa. Larguei tudo ali rapidinho e corri até o garoto que já estava quase sumindo de minha vista e o cutuquei, que se virou um tanto atordoado.

– Isso é seu? – Estiquei o bloquinho, dando um sorriso. Olha, hoje eu to fazendo cada pergunta idiota viu... Ele olhou para mim e eu notei que seus olhos eram bicolores, meus deeeeeeeeeeeuses, alguém me segure! Ele sorriu, caralho!

– Obrigado. – Disse apenas e movimentou a cabeça, pegando o bloco de notas e saindo novamente. Voltei correndo para o caixa depois de meu pequeno surto. Que é? A culpa não é minha se aqui só tem cara gostoso! Tirando o Ken, claro. Gargalhei tão alto com esse pensamento que a mulher da caixa olhou feio para mim, eu estou descriminando um amigo meu, que horror!

–x-

Depois das cenas vergonhosas no supermercado, cheguei em casa e comecei a arrumar as compras. Um rapaz que trabalhava no mercado me ajudou á trazer as compras e, juntos delas estavam um papel com um número escrito. Sério que ele me passou o telefone dele? Deuseeeeees, to sortuda hoje, ainda bem! Já não agüentava mais essa onda de azar sob mim e meus amigos. Puta que pariu.

Guardei o número do carinha no bolso e me joguei no sofá, comendo um pacote de salgadinhos e vendo que minha tia ainda não chegou e de quebra deixou o notebook dela ligado na mesinha da sala. Hmmmmm, ver ou não ver? Ver ou não ver?

Não, isso é errado. Eu não gostaria que ela invadisse minha privacidade assim!

Mas por outro lado... Ele estava ligado. Ela tinha deixado assim, então quer dizer que não tem nada a esconder... Ou tem? Se bem que ela tem andado muito misteriosa esses dias... Não faria mal, faria? Se eu soubesse, quem sabe não podia ajudar?

“Más ações feitas com boas intenções sempre compensam” lembrei-me da frase que Elise tinha me dito no meu aniversário de quinze anos. Falando nela, ela foi a única que não ligou para mim e nem sequer deu notícias... Depois iria falar com ela, com certeza.

Peguei logo o notebook e mexi no mouse, aparecendo uma aba do navegador com um site de viagens... Viagens? Para que porras ela quer viajar?

Bem, não tem nada aqui...

Comecei a fuxicar as pastas dela... Fotos, fotos, arquivos do trabalho, arquivos pornôs... Espera quê? Sério isso, tia?

Continuando: Arquivos de contas bancárias... Músicas... Para, contas bancárias? Abri e logo vi vários extratos prontos para imprimir. Deus, ela fez compras recentes de viagens! Para onde ela vai? Vai me largar sozinha? Não me aguenta mais? O que diabos ela está fazendo?!

Senti um vento gelado em minhas costas e arrepiei.

– O que diabos você está fazendo, Thalia? – Olhei para trás e vi que era Agatha, que havia chego. Droga, ela está puta!

Eu to tão fodida!

Com certeza minha maré de sorte se esgota por aqui.