7 Dias com ela escrita por AndreZa P S


Capítulo 3
Terça-Feira


Notas iniciais do capítulo

"Quando a gente dá a sorte de encontrar alguém que nos tire do eixo, que nos faz sentir sensações tremendamente gratificantes, não podemos deixá-la ir. Temos que aproveitar cada segundo, cada abraço antes que acabe. A gente nunca sabe o dia de amanha." A.P.S



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Hoje cedo quando acordei tive a honra de contemplar um passarinho marrom com a barriguinha amarela dentro do meu banheiro de azulejos azuis. A janela estava completamente aberta, o que- obviamente- ajudara para a cena que pudera observar naquele momento.

O passarinho repousava acima da pia branca e velha, bebericando a água parada do guarda-escova-de-dentes, volta e meia erguendo sua cabecinha para engoli-la e saciar sua sede.

Eu estava parado na lateral da porta aberta, fitando-o com curiosidade. Tive medo de me aproximar demais e fazer com que ele partisse de vez, o que de certa forma deixou-me frustrado. Gostaria muito de ajudá-lo a beber uma água mais limpa, mas ao invés disso limitei-me a observá-lo de uma distancia razoavelmente segura e não pude deixar de ficar perplexo com a tamanha beleza e fragilidade que se encontrava a minha frente. Pude ver os movimentos rápidos e contínuos do seu peito, enquando seu coração bombardeava vida por seu corpo miúdo.

Não sei se você irá concordar comigo, mas enquanto eu observava aquele pequeno ser me dei conta de que seu medo não era em vão, afinal, quando a criatura em questão sente-se em desvantagem é normal que ela fuja. Às vezes a fuga é a chave para a sobrevivência.

E era assim que eu me sentia enquanto fitava Karina do outro lado da rua. Ela estava de óculos escuros- uma pena, todos deveriam ter a chance de ver AQUELES olhos- e tomava um sorvete como se fosse a primeira vez que o fazia.

Seu corpo era bem magro e a sua estatura baixa, e apesar de não se encaixar no padrão "gostosona" ainda sim me parecia lindamente atraente.

Karina me parecia um passarinho de tamanha fragilidade que sua aparência me transmitia. Ela sorriu de algo que o vendedor lhe disse e virou-se pra mim subtamente, porém me ignorou, como se eu fosse uma pessoa qualquer.

Bom, mas para ela provavelmente eu era. Nesse instante uma brisa soprou seus cabelos louros para trás, relevando a pele exposta do seu pescoço.

Parecia macia e extremamente convidativa.

Corajosamente atravessei a rua em sua direção, e Karina automaticamente tensionou seus músculos definidos e voltou seu olhar novamente para o sorveteiro, entregando-lhe um punhado de moedas.

Quando virou-se para mim (deixo claro aqui que me posicionei a poucos centímetros dela de forma ESCANCARADAMENTE proposital) ela sobressaltou-se, deixando com que seu sorvete caísse tragicamente no cão. Sua face corada mostrava um misto de desapontamento e irritação.

Fuzilou-me com os olhos, mesmo com os óculos eu soube que seu olhar era mortal. Seus lábios curvaram-se para baixo, mostrando-me uma carranca linda.
Sim, uma carranca linda. Apesar de parecer contraditório, era a mais pura verdade.

_Você viu o que fez?_Indagou-me ela ao erguer seus óculos escuros até o alto da cabeça.

_Eu pago outro, não se preocupe_ falei, encarando-a. Perguntei-me se ela havia se esquecido de mim tão rapidamente assim...

E não pude deixar de sentir-me ressentindo com aquilo.

Porém me chamo Pedro, e como um bom Pedro que sou, não desistiria tão facilmente assim!

Karina ergueu suas mãos finas com dedos finos para mim, completamente alheia ao fato de que ficava completamente linda brava.

_Não quero, não precisa_ sorriu duramente e pediu outro sorvete para o cara que, claramente, a estava secando de alto a baixo sem parar._Por favor, me dê outro_pediu.

_É por minha conta!_Murmurou ele. Pô, o cara só faltava se vestir de cachorro, porque a baba já estava presente no canto de sua boca.
Pude reconhecer o sentimento venenoso que eu estava sentindo. Aquele tal de ciúmes, sabe.

A esquentadinha sorriu novamente e pegou seu sorvete com as bochechas coradas. De certo percebera que o sorveteiro era tarado. Argh.

_Valeu_disse, e bateu em retirada, indo apressadamente em direção à areia branquinha da praia de Copacabana.

Rá! Se ela pensa que irá ficar por isso mesmo, está muito enganada.

Se essa esquentadinha pensa que é teimosa, vai descobrir que em matéria de teimosia, eu sou expert.

Saí atrás dela- pra alguns de vocês pode parecer obstinação e tal, mas pra mim nada mais é do que correr atrás do seus sonhos.

Atravessei seu caminho e me pus parado em sua frente com os braços cruzados. E só para provocá-la, arqueei um a de minhas sobrancelhas como ela gostava de fazer.

Karina bufou.

_Tu é algum tipo de tarado ou pervertido louco?_ Perguntou gesticulando, seu semblante estava muito sério.

Abri um sorrisinho cafajeste, e por um momento ela abaixou a guarda.

Note, eu disse por um momento, já que não demorou quase nada para que sua muralhada de antipatia voltasse a tona.

_Não sou tarado, só quero que você seja EDUCADA comigo, só isso_falei emburrado.

Ela deu um sorrisinho desgostoso.

_É sério isso?_Quis saber, cruzando os braços na defensiva, e destribuindo a maior parte de seu peso para uma das pernas.

_É o que parece.

A rebelde sem causa moveu-se para a direita, mas eu a bloqueiei. Moveu-se para a esquerda, e eu imitei seu movimento.

Karina agora estava tremendo de raiva e mesmo assim me senti impelio a beijá-la e abraça-la.

Ela deslizou a mão pesadamente pela a lateral do seu rosto.

Um segundoo depois disso eu estava sendo presenteado com uma sorvetada no cabelo. A fitei perplexo e com os olhos arregalados.

_Você..._Passei a ponta dos dedos pelo o meu cabelo, sentindo-o todo lambusado._Você é louca!_Balbuciei.

O pior era que a capetinha estava se divertindo! Seu sorriso era tão aberto que parecia irradiar luz, tipo um sol particular (acredito que citei isso em meu poema ontem).

E então me virei sem dizer uma sequer palavra e comecei a marchar para longe daquela esquentadinha linda. Sabia que ela iria me seguir e pedir desculpas e tal...

Ou melhor, eu desejava ferozmente isso.

_Ei_ senti suas mãos frias no meu antebraço e voltei-me para ela, contemplando-a. Ela me olhava constrangida, mas ainda podia ver alguns traços de humor em suas feições._Desculpa, foi mal mesmo_ e retirou a mão de mim.
Por que ela não as manteve ali por mais tempo?

Tentei forçar uma expressão de irritado, mas não rolou. Tava mais pra cara de abobado, do que de qualquer outra coisa.

_Eu te desculpo, mas tem um porém...

_Qual?

_Vai ter que ir comigo até a beirada da água pra eu poder me limpar.

_Não sabe ir sozinho?_Retrucou com as sobrancelhas erguidas.

Revirei os olhos.

_Sim ou não?

_Tá..._Falou após alguns segundos de silêncio pesado.

...

Karina manteve uma distancia desnecessária de mim enquanto caminhavámos em direção ao mar. O sol começava a lançar feixos de luz laranja- ora amarelada- pela a praia, deixando o cenário deslumbrante.

A esquentantadinha observou-me enquanto eu me limpava e mergulhava, seus olhos exageradamente azuis reluzindo com a claridade e fixos em mim.

Quando finalmente voltei e sentei-me ao seu lado, sua postura rude e grosseira fora substituída pela a gentileza da noite anterior.

_Qual o seu nome?_Questionou-me de supetão.

_Pedro.

Ela sorriu de canto e voltou seus mares- ops, olhos- em direção ao mar.

Um encontro de mares, se é que me entende.

_Posso te perguntar algo?

Karina não se deu ao trabalho de me fitar, porém balançou sua cabeça em afirmativa.

_Você não se lembra de mim?_Quis saber. Aquela pergunta estava me tentando desde o momento em que a vira. _Sou aquele idiota que apanhou e tal...

Ela riu brevemente e repousou dois dedos no galo enorme na latera de minha cabeça por um instante.

_Lembro sim_sorriu pra mim.

_Então por que você fingiu que não me...

_Sou difícil. Não tente me entender_cortou-me.

_Ah_ foi única palavra idiota que pude pronunciar naquele momento.

Houve alguns minutos de silêncio mortalmente constrangedor, enquanto eu revirava minha mente em busca de algo interessante para comentar.

_Você surfa?_Perguntei.

Me olhou confusa e sorriu-me sem mostrar os dentes.

_Não, mas sempre quis aprender.

_Então deixa comigo!_Disse já puxando-a para cima pra que se levantasse, e trazendo ela comigo pelo braço, e para a minha agradavel surpresa, em nenhum momento ela reinou, esperniou ou sequer protestou.
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POV Karina


Esse garoto definitivamente era lindo demais. Músculos magros mas bem definidos, olhos cor de chocolate...

Mas sem sombra de duvidas, o que eu mais gostava eram de seus cabelos castanhos e caóticos emoldurando seu rosto.

Não sabia o motivo dele estar puxando assunto comigo, ou porque insistia tanto em se manter ao meu lado mesmo eu estando um pé no saco.

Arrastou-me com dificuldade pela areia fofa até uma área mais arborizada da praia. Ele na verdade não precisaria continuar me puxando...mas eu não consegui me desvincilhar de seu aperto porque eu estava GOSTANDO.

Mais do que isso, eu estava gostando dessa sensação maluca de ter borboletas agitadas no estomago, e do meu peito batendo rapidinho toda vez que Pedro se aproximava demais de mim.

Mas sempre que acontecia meus muscúlos de retesavam - eu sempre na defensiva, não nego- e ele se afastava gradualmente de mim, mesmo seus olhos estando demonstrando um fofo e genuíno desapontamento.

Paramos finalmente em um certo ponto da praia. Pedro estava radiante e eu não pude deixar de ser contagiada por ele, então eu sorria abertamente e verdadeiramente, coisa que não acontecia há muito tempo.

_Vou te ensinar a surfar!_Exclamou gritando.

Olhei ao nosso redor cautelosamente.

_Tá, e vamos fazer isso com pranchas invisíveis ou o que?

Pedro balançou a cabeça me desaprovando, mas o sorriso de criança ainda estava ali.

_Seu senso de humor me atraí de um jeito que você não tem ideia_comentou ele, me fitando com intensidade nos olhos. E é claro que eu corei e desvivei o olhar para as ondas que quebravam na areia e depois voltavam pro mar._ Com licença?

_Perguntou ele de repente. Franzi o cenho mais me afastei.

_Você quer uma prancha, certo?_Continuou.

Dei de ombros.

_É, acho que sim.

Ele abriu seus braços e começou a rir da minha cara de taxo.

_Você é tipo...louco ou algo do tipo?_Quis saber. Por que eu sempre tinha a sensação de que ele estava curtindo uma comigo?

Pedro apertou minhas bochechas de leve e eu senti elas queimarem.

_Você é muito esquentadinha_falou ele. Não comentei nada sobre o apelido idiota que ele me deu, porque era a mais pura verdade._Aqui está ela!_Pedro apontou para a areia abaixo de seus pés, para logo depois começar a afastá-la para o lado, mostrando partes de madeira cinza com algumas coisas escritas, até que por fim uma velha prancha nos deu a honra de aparecer.

Não me dei conta de imediato, mas eu estava sorrindo e rindo ao mesmo tempo.

_Você é...criativo._Falei.

Ficamos cerca de uma hora e meia com ele tentando me fazer entender os fundamentos básicos do surf, mas não entendi nada. Não é que Pedro fosse um professor ruim, mas...

Não, é porque Pedro definitivamente é um professor ruim, e essa NÃO QUALIDADE (sim, porque não chega a ser um defeito) me pareceu extremamente fofa. Eu senti naquela tarde coisas não havia sentido a vida inteira com nenhum garoto, nem mesmo por eventuais namorados...

Agora estavámos dentro do mar, com a água batendo na altura da minha cintura, com ele bem diante de mim. Pedro fitava-me de vez em quando, outras ficava observando a lua que começava a irradiar sua luz. Nem havia percebido, mas já estava praticamente de noite.

_Preciso ir_falei sem conseguir esconder o meu desgosto com aquilo.

_Fica mais um pouco comigo_murmurou ele baixinho, respousando sua mão em minhas costas, fazendo com que um arrepio percorresse minha espinha. E dessa vez ele não intimidou-se quando me tensionei toda; quando dei a entender que queria me afastar, Pedro segurou-me pela a cintura firmemente.

Ah, não disse nada. Não dava pra dizer, eu estava amando ter suas mãos no meu corpo.

_Pedro..._comecei, sentindo minhas bochechas tão vermelhas quanto um tomate!_Ontem...tipo, você disse que tinha feito o poema pra mim...aquilo era efeito do cara que te bateu ou o que?_Indaguei. Bom, eu não tinha me esquecido de suas palavras, não quando elas me afetaram do que jeito que me afetaram.

Ele sorriu e fechou seus olhos por um instante. Seu cabelo desgrenhado pingava insistantemente pelo seu corpo e no mar.

_Você é tão linda_ele disse, aproximando seu rosto do meu. Senti o calor da sua pele, e a sensação era tão gostosa que eu desejei que durasse pra sempre.

_Você não me respondeu_murmurei, tomando consciência do que eu estava fazendo e me sentindo culpada por isso! Que tipo de pessoa eu era afinal?!

_Fiz pra você, acho que tô apaixonado.

Apaixonado, apaixonado, apaixonado, apaixonado.

Apaixonado, apaixanado. Ai meu Deus, ele disse aquilo mesmo?

Estava em duvida se ficava em júbilo ou se desabava em tristeza absoluta.

_Nem me conhece_argumentei.

_E daí?

_Não sabe como eu sou.

_E daí?

_Quando vê sou uma pessoa do mal e você nem sabe...

Pedro riu ruidosamente e então puxou-me para o seu abraço, deslizando a pontinha fina de seu nariz pela minha clavícula.

_Não me importo_falou parecendo convicto do que dizia.

_Mas...mas eu sou noiva.

Houve um momento de paralisação de nossa parte. Meu coração batia erradicamente.

_O que?_Perguntou atônito.

_Sou noiva e vou me casar na segunda-feira que vem.

_Por que?

_Longa história.

_Você o ama?

Suspirei pesado. Acredito que tinha sentimentos mais fortes e intensos pelo o garoto que acabara de conhecer do que pelo o noivo que papai escolhera pra mim.

_Não...

_Era só o que eu precisava saber_falou.

Nesse instante eu senti o gosto do seu beijo, e eu me entreguei completamente, deixando para sentir a culpa e tristeza mais tarde, quando estivesse deitada na minha cama.

Uma vez eu li que quando a gente dá a sorte de encontrar alguém que nos tire do eixo, que nos faz sentir sensações tremendamente gratificantes, não podemos deixá-la ir. Temos que aproveitar cada segundo, cada abraço antes que acabe. A gente nunca sabe o dia de amanha.

Um pequeno infinito, como diria a Hazel Grace.


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Notas finais do capítulo

Leitores, apesar dos capítulos ainda estarem sendo "fabricados", já tenho na cabeça o modelo e a forma que a história irá ser desenvolvida e apresentada. Claro que, como sou um ser em constante mudança (?, rs), posso mudar de ideia a qualquer momento, mas não há nada para se preocupar, é só um aviso pra quem achar a história exposta de um jeito diferente e não entenda. Obrigada por ler esse capítulo, e eu conto contigo pra que venha mais vezes....quanta vezes quiser! O café que comentei no primeiro capítulo fica pro próximo! (Tô sem pó de cafeína aqui agora, e tal...hahaha)