PEV - Pokémon Estilo de Vida escrita por Kevin


Capítulo 33
Capítulo 32 – Riley


Notas iniciais do capítulo

Muitos esperavam por esse capítulo, né?
Espero que gostem! Acho que está melhor do que o anterior!



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Pokémon Estilo de Vida
Saga 03 – Guerra
Etapa 07 – Kevin

"Nunca vi nada selvagem sentir pena de si mesmo.
Um pássaro vai morrer de tanto gritar antes de sentir pena de si mesmo."

Capítulo 32 – Riley

As horas não passam. Parece que vim deitar a horas, mas a verdade é que não tem nem. O sono não vem. Eu fecho os olhos e o sono não vem. Eu conto mareeps, me distraio com a imagem desse pokémon fofo e cheio de lã, me perdendo na conta. Olho para o teto na esperança que meus olhos se cansem. Mas, nada funciona. O problema é que até fico sonolenta com essas coisas, mas acabo me traindo começando a pensar nos acontecimentos dos últimos dias. Os últimos dias se reprisam em minha mente como um filme ao qual fico angustiada ao ver o final. As últimas horas como uma música que melodia me faz ficar tonta. A última hora, aquela hora, como uma fotografia. Fotografia que parece ter virado papel de parede da minha cabeça.

Chegamos em casa e Maya já nos esperava. Eu podia ver nos olhos dela o quanto estafava ansiosa e entusiasmada para contar tudo o que havia acontecido, felizmente também podia ver que estava exausta. Já havia tomado banho, os cabelos estavam molhados, posto um pijama de mangas longas, talvez por lá fora nuvens de chuva estarem presentes, e parecia só nos esperar para nos contar como foi seu teste noturno.

Apenas sorri, ou fiz algo que achava ser um sorriso e passei para o banheiro. Eu não queria olhar nos olhos de Maya naquele momento. Eu não conseguiria. Eu não precisaria dizer nada que ela veria o que aconteceu na minha expressão. Eu sabia que poderia ficar no banheiro por no máximo vinte minutos antes que alguém viesse a ficar preocupado comigo, mas eram vinte minutos não encarando-a.

Felizmente Maya me olhou de relance e acabou fixando os olhos em Kevin que após fechar a porta, trancando-a e examinando tudo do lado de fora, abaixou-se para dar atenção ao pokémon rato que caçara Maya e aparentemente havia levado a pior.

Eu me perguntei durante um tempo o motivo dela não me dar atenção. Se estava estampado em meu rosto o que havia acontecido e não queria falar comigo por conta disso ou se pelo fato de estar estampado no meu rosto o acontecido ela iria me dar um tempo para saber o que falar. Mas, depois acabei percebendo que ela era Maya e que ela no mínimo faria um escândalo, por mais que me amasse, se tivesse percebido alguma coisa. A verdade era que entre Kevin e eu, fui preterida e certamente ela imaginou que eu precisava ir apressadamente no banheiro.

Quando finalmente tomei coragem para encerrar o banho, Maya já dormia no meio da sala, Raticate, aquele rato gigante e marrom, estava deitado no primeiro degrau da escada e tive que tomar cuidado para não pisar nele. A penumbra da casa quando completa nos permitia ver apenas silhuetas, mas Kevin estava ainda acordado, deitado, com a televisão ligada sem som apenas para a luz me ajudar a chegar no meu colchão, ao lado do sofá em que ele usava de cama.

Como eu soube que era só para me ajudar? Porque Kevin é assim! Quem poderia dizer que Kevin não era uma pessoa a quem admirar? Uma pessoa talentosa que não se deixa abater. Ama sua família e amigos a ponto de sacrificar-se por eles. Consegue ser um guerreiro frio e letal, mas sabe ser gentil, atencioso e extremamente divertido.

Quando cheguei ao meu colchão, com um pijama parecido com o de Maya deitei e me enrolei. Conferi Maya ao meu lado direito e confirmei que ela já dormia e então fiquei indecisa de encará-lo ali, tão pertinho novamente, em casa. “Bons sonhos, Riley!” Foi o que escutei antes da luz da televisão cessar e a casa cair na penumbra costumeira.

Não consegui responder. Eu quis, mas não consegui.

Ele definitivamente não é como eu. Mas, quem seria? Se me chamassem de princesinha a pessoa acertaria a minha descrição e história. Afinal, minha vida se resume aos contos de fadas e não com aventuras paladinas.

Rapunzel era uma moça que era mantida numa torre sem poder sair para o mundo. Eu definitivamente ficava trancada num palácio, sem poder sair. Cinderela vivia sempre subjugada pelas pessoas com quem vivia e eu vejo uma comparação comigo, não eram todos, mas definitivamente os irmãos do imperador e seus filhos eram realmente chatos. Jasmine tinha que casar e a família queria escolher o pretendente, o que era é bem parecido com o que vivo já que minha mãe escolheu com quem eu iria casar.

As vezes fico por horas me comparando a princesas, meu diário está com uma lista completa. Pior que as vezes acabo realmente sendo uma princesinha, aceitando tudo calada, não me revoltando contra os absurdos que me eram impostos ou muito menos fazendo algo que eu realmente queria. Me obrigava a fazer coisas que viesse a ser úteis como aprender a cozinhar, a ser educada, instruída e desenvolvendo outras habilidades que possam ser interessantes para quando eu casasse. Curioso que falavam sobre meu casamento e eu nunca havia pensado que já estava prometida.

De alguma forma, muito estranha, eles estavam pensando em mim. Se eu não tivesse boas habilidades como esposa, esse casamento arranjado seria o meu eterno sofrimento. Pelo menos eu prefiro pensar assim, não sei se realmente pensavam em mim. Então acabei continuando a buscar essas habilidades, mas confesso que tentei ir atrás de coisas que eu gostasse, que eu queria e a dança foi uma delas. Sempre quis aprender a dançar, passava muita vergonha durante as festas, mesmo depois das fugas. Eu ia a festas tentando me enturmar e tinha que dançar, tornava-me o mico de todas as festas. Acho que nem Mordecai pagou tanto mico numa única noite quanto eu pagava nas festas.

Eu não vi Kevin dançando com Maya, mas ela sempre falava sobre a dança deles de uma forma tão entusiasmada que uma vez chegou a dizer que ele dança divinamente. Por isso pedi para ele me ensinar. Eu queria aprender, não passar mais vergonha e quem sabe, um dia, dançar com meu futuro marido usando o adjetivo que Maya usou para descrever a dança dela com Kevin, divino.

Isso nunca vai acontecer. Divino é dançar com Kevin! Achei que Maya estava exagerando por estar encantada por ele, mas ela não estava mentindo. Eu me diverti aprendendo a dançar, ele não me criticava, incentivava-me a ousar, se eu errava ele transformava meu erro em passo novo. E eu sei que essas coisas são dele porque vi Maya ter aulas de dança, das quais eu não era permitida participar, e os professores eram rígidos e entediantes. Ele realmente me fez me sentir a vontade e gostar de dançar muito mais do que eu imaginava.

Divertido. É estranho pensar que uma pessoa que entrou em minha vida a tão pouco tempo possa fazer tanta diferença em meu estado de espirito. Minha vida era toda tédio no palácio. Eram os serviçais, a família de Maya, a família de Razor e a família de Barreira que eu via todos os dias, sem acréscimo de ninguém. As vezes rolava uma festa e pessoas diferentes apareciam, mas nada que realmente mudasse minha rotina para algo bom. A monotonia era quebrada apenas pelo meu pai que de tempos em tempos tentava nos animar com alguma novidade ou surpresa.

Lembro uma vez que meu pai trouxe um treinador pokémon para o palácio. Havia o encontrado na cidade e ofereceu-lhe dinheiro por uma demonstração com seus pokémon que não se via por nossa região. O Lord Empalador chegou no meio da apresentação e desafiou o treinador para uma batalha de verdade. O coitado quase morreu só de vê-lo e gaguejava que não seria capaz de enfrentar o Lord Empalador. Precisou meu pai assumir o lugar dele, antes que o Lord matasse o visitante. Foi uma tarde hilária. Tangrow não tinha muita experiencia em luta, mas uma experiência muito grande em abraçar. A luta se resumia no pokémon do Lord sendo abraçado o tempo todo, sem conseguir fazer movimentos. Nunca vi meu pai sendo elogiado pelo pai da Maya, mas também nunca vi o Lord tão sem ação.

Roger também fazia as coisas se movimentarem, infelizmente para o drama. Ele apanhava, quase morria algumas vezes, e nosso pequeno grupinho ficava cabisbaixo e melancólico. Engraçado que por muito tempo eu tive pena de Roger, quando saímos do palácio eu fiquei sentida dele não ter vindo conosco. Ele dizia me amar e talvez fosse complicado tê-lo viajando conosco, mas parecia ser tão cruel deixá-lo naquele mundo sem nenhum amigo.

Quando soube o que ele estava fazendo eu passei a sentir raiva dele, por ter se tornado esse tipo de pessoa. Mas, ele é meu amigo. Apesar de não querer vê-lo para não ver no que ele se tornou, eu sou agradecida a ele. Aquela tentativa dele me beijar, declarando-se para mim, fez minha mãe se alarmar e contar toda a verdade sobre meu destino. Eu ainda estaria presa naquele mundinho, que era o palácio, e não teria vivido tudo o que vivi e nem conhecido Kevin.

Eu fico olhando-o aqui pertinho de mim, deitado, dormindo, e me pergunto se eu não o tivesse conhecido quem teria me ensinado a sorrir mesmo diante dessas adversidades? Quem teria me ensinado a dançar, teria me levado ao cinema e tantos outros?

Eu lembro da primeira vez que nos vimos, na aula, quando Tangrow estava fazendo uma confusão na sala. Ele entrou como se tudo aquilo fosse divertido e normal, enviou um ar gelado para o pokémon de papai que achei que ele fosse matá-lo, mas de repente ele sorriu sacou uma versão maior de minha Chickorita e resolveu tudo. Eu estava abalada naquele momento, uma simples apresentação ensaiada várias vezes havia se tornado um ataque pokémon, mas quando o encarei após tudo se acalmar fiquei morta de vergonha. Eu não sabia se chorava pelo ocorrido, ou se corria e me escondia pela vergonha que havia passado.

Lembro que ele não saiu antes de dizer que a ideia da técnica era boa e de uma forma gentil mostrar o problema e reforçar que era uma boa ideia. Acho que se ele não tivesse dito aquelas palavras eu teria demorado para me sentir melhor e menos abalada com tudo.

Quando nos encontramos na praia ele foi tão simpático e legal em me acalmar e ajudar naquele desafio do álcool que acabei esquecendo de agradecer pela ajuda na sala de aula. Não que eu estivesse encantada por ele naquele dia, se bem que ele me chamou de gatinha de um jeito tão charmoso... Mas eu confesso que era o primeiro rapaz que me era prestativo sem parecer querer se aproveitar.

Meu primeiro beijo foi justamente com um garoto que tentou se aproximar de Maya com o jeito moleque e durão, até parecido com o dela, mas que acabou não dando certo. Então, fomos a uma festa e o garoto passou a ser gentil e prestativo comigo. Maya disse que ele estava tentando me usar para que eu o ajudasse com ela, mas não achei que fosse sério quando me distrai ele me beijou e dois segundos depois, enquanto a ideia de que ele tinha me beijado, caía, ele sorriu debochante para Maya.

Garoto idiota! Ele simplesmente queria fazer ciúmes em Maya e resolveu me usar para isso. Bom, ele deve ter demorado para conseguir beijar outra pessoa. O sorriso nem tinha saído do rosto dele e Maya já tinha o agarrado, o resultado foi um lábio rachado e dois dentes quebrados. Ele saiu machucado fisicamente e eu psicologicamente que imaginava que eu teria um primeiro mágico.

Maya ficou com aquilo na cabeça e decidiu me arranjar alguém descente para eu beijar de verdade. Tentei explicar para ela que isso não mudaria muita coisa, mas ela é cabeça dura e acabei ficando com um garoto chamado Leoni. Ele era bem legal, mas ele confessou que só estava ficando comigo para Maya largar do pé dele. Leoni era um esportista e treinador pokémon, tratava todo mundo bem e era prestativo comigo mais do que o normal. Eu não queria ficar com ele e quando descobri o que Maya fez me arrependi de ter aceitado. Um outro beijo de alguém se aproveitando de mim por causa de Maya.

Claro que não a culpo, ela só queria me ajudar. No dia que Maya me fizer mal por querer será o dia em que o mundo vai acabar.

Ao menos meu terceiro beijo foi com alguém que eu escolhi e o rapaz quis também. Era uma festa, eu havia acabado de dançar, ia ao banheiro e escutei dois rapazes rindo e falando de uma dançarina desengonçada que estava vestida de azul. Só havia eu de azul na festa. Eles perceberam que eu ouvi e entrei chateada para o banheiro, quando saí um deles estava lá e pediu desculpas. Ou tentou algo parecido, já que não conseguia parar de rir e falar que eu realmente dançava mal. Percebi que no final ele estava tentando puxar papo apenas e acabei aceitando ficar papeando, já que Maya e meu pai estavam dançando e eu já tinha tido minha cota de humilhação.

Foi diferente dos outros beijos e do que eu esperava. Nunca mais o vi e sinceramente não fiquei suspirando como achei que ficaria ao pensar. Mas, foi o melhor dos três em toda minha pequena vidinha.

Eu nunca mais tinha pensado em beijar alguém até essa noite, nem mesmo o Rodolfo. Eu gostava dele, era de uma beleza tão diferente, mas não me via beijando-o. Ele era um cara legal, bom de papo, mas eu me sentia tão sem graça perto dele. As pessoas dizem que alguns apaixonados ficam assim tímidos e acanhados perto da paixão, mas o caso era que eu não me sentia a vontade com ele. E eu tenho apenas dezesseis anos e não poderei escolher com quem casar. Eu quero ao menos poder escolher de quem gostar, com quem estar e talvez a quem beijar, antes que eu não possa mais.

Por isso é que eu to acordada, cheia de pensamentos que não me deixam dormir. Remoendo minha vida, especialmente a amorosa. Se é que isso pode ser chamado de vida amorosa. Aquela hora está grava em minha mente e fica se repetindo, repetindo, me gerando perguntas e me fazendo lembrar de um monte de coisa. Aquele momento pairou e durou mais que um momento.

Ele me lambeu e eu fiquei toda arrepiada. Ergui o ombro esquerdo completando o movimento de arrepio e ri. Ia brincar com ele perguntando se a lambida era adorável como o do filme, e virei o rosto para falar. Ele estava começando a lamber o meu rosto de novo, no mesmo instante, e então senti a língua dele deslizar pela minha bochecha, e como eu me virava, o inicio do meu queixo foi lambido e logo o cantinho de meus lábios foram tocados.

Eu senti algo tão estranho naquela hora. Não foi um susto, foi como uma corrente elétrica percorrendo meu corpo que me fez ficar paralisada. Congelei olhando naqueles olhos claros, sem conseguir esboçar nenhuma reação. Eu não conseguia entender o olhar dele, eu não conseguia entender o meu olhar para ele. Eu ainda estava surpresa e paralisada e o que parecia incrível era que ele também estava parado, quase congelado com seu rosto encostado no meu e com seus lábios a centímetros dos meus.

Aquele se tornou um momento, um momento que paira e dura muito mais que um momento. O som parou, o movimento parou e sinceramente o pensamento parou.

Eu sentia o ar de sua respiração saindo hesitante pelas suas narinas. O calor emanado de seus lábios que naquela posição eu não os via. Sintia o perfume que ele usava, algo diferente e relaxante, que se misturava ao meu e ao cheiro do sorvete.

Eu não sei quem foi que começou, se foi ele ou eu, só sei que as pálpebras de ambos abaixaram-se lentamente, sincronizadas. O som parou, o movimento parou e então o momento passou. Passou e eu não o beijei.

Por que eu não o beijei? Eu... Eu...

Ele é lindo! Encantador! Divertido! Gentil! Tudo o que eu imagino para poder beijar uma pessoa ele é e ainda assim eu fechei os olhos e dei um passo para trás. Era só um beijo. Em dois dias não o verei mais, mas eu não o beijei. Provavelmente ele vai morrer em menos de uma semana e ainda assim eu não o beijei. Bastava menos de um centímetro ser avançado e ainda assim eu não o beijei.

Ele não pareceu chateado com o não beijo, sorriu docemente. O sorriso mais doce que eu já vi alguém dar, nem na televisão eu vi algo assim, que me passava tanta ternura. Caminhamos para casa em silêncio e nem reparei que o sorvete havia caído enquanto quase nos beijávamos. Fomos silenciosos nas falas e nos olhares. Ele caminhava sorrindo como sempre, calmamente, ao meu lado. Eu evitava olhá-lo e não sabia nem o que pensar. A única coisa que ele disse desde que aquela situação ocorreu foi bons sonhos.

Eu deveria ter dito algo. Eu deveria ter feito algo. Eu deveria tê-lo beijado. Mas, quando cheguei em casa eu entendi porque não o beijei.

De repente a menina Riley ergueu-se e sentou-se no seu colchão. A penumbra estava em volta de tudo e a única coisa acordada ali, junto com ela, parecia ser Presa Selvagem, que assim que ela sentou saiu de sua falsa posição dorminhoca e a analisou por alguns instantes. Ele pareceu resmungar e deitou-se novamente, ignorando-a.

A morena virou-se para o lado de Maya, deitada ao seu lado, e cutucou-a duas vezes. Mas, a loira dormia pesadamente e Riley compreendeu que o teste havia exigido muito mais dela do que ela queria mostrar. Mesmo assim cutucou-a de novo.

Eu não vou conseguir dormir sem falar com a Maya. Eu não beijei Kevin por causa dela. Não importa o que eu ache de Kevin, não importa que eu goste dele. Ela o viu primeiro, ela está encantada por ele. Não importa que ela diga que não gosta dele desse jeito, ela não sabe que gosta dele de verdade, assim como eu não sabia até a poucos minutos atrás ao perceber que ele é exatamente do jeito que eu quero que meu prometido seja. Gentil, adorável, divertido, carinhoso e paciente com uma menina boba que não conhece nada das coisas.

Um novo cutucão e Maya virou-se; Riley suspirou aliviada, mas a loira estava de olhos fechados. Mesmo assim viu a mão da prima alcançar sua cabeça e dar leves toques no topo, como quem tentava acalmá-la por algum motivo qualquer e dizer que estava tudo bem. Riley chegou a piscar surpresa e logo depois a prima pareceu voltar a dormir completamente, pois o braço erguido caiu sem movimento e vida no colchão.

Riley soube, ela não acordaria e talvez fosse melhor assim. O que ela iria dizer? Que gostava de Kevin? Que eles tiveram um momento, um clima, e que ela desperdiçou? Iria dizer aquilo ali, ao lado do rapaz? Se a loira não começasse a rir, imaginando que ela teve um sonho, o loiro se escutasse certamente acabaria rindo.

Puxou o lençol e se cobriu, deitando-se. Fechou os olhos e respirou fundo tentando relaxar. Mas, lá estava a cena de uma lambida que a arrepiava e um tocar de canto de lábios que eletrizava seu corpo deixando-a completamente sem ação.

Não importa que eu goste dele! Não importa que eu goste dele! Não importa que eu... Este se tornou um momento, um momento que paira e dura muito mais que um momento. O som parou, o movimento parou e sinceramente o pensamento parou.

Ela abriu os olhos, olhou para a esquerda e viu Kevin deitado no sofá. Parecia tão sereno e tranquilo, não estava como ela, agitada e angustiada. Virou a cabeça para a direita e viu que Maya permanecia dormindo. Respirou fundo e se levantou, agora ficando de joelhos próximo ao sofá.

Aproximou-se do rosto de Kevin e sentiu o perfume novamente. Agora não havia nada para misturar-se a ele e mesmo assim, não conseguia identificar que flagrância que era, mas gostava. Por alguns instantes gostou de ter ficado no banheiro por tanto tempo, assim ele não tomou banho e permaneceu com o perfume.

Ela abriu a boca movimentando-a algumas vezes. Era inútil, estava sem coragem de emitir o som de sua voz e verbalizar algo para ele. Ele continuava com o rosto sereno e tranquilo, parecia dormir tão bem. Ela não teve coragem de acordá-lo. No final, parecia uma ideia idiota. Não havia algo que fosse conseguir realmente dizer sem se sentir boba.

– Bons sonhos, Kevin! -

Ela conseguiu murmurar. Sua voz saiu quase inaudível e ela mesma teve dificuldades de acreditar que tinha, realmente, dito algo. Mas, uma confirmação veio sem que ela esperasse. Um sorriso brotou na face dele, um sorriso mais bobo que o normal.

Ela prendeu a respiração diante aquilo e viu os olhos se abrirem e um olhar doce ser direcionado a ela. Ele não se mexera, não mudara de posição ou nenhuma outra coisa que esboçasse uma reação. Apenas abriu os olhos, sorrindo e olhando-a. Talvez qualquer outro tipo de ação afetaria Riley e ela certamente se assustaria.

Te acordei? Ela pensou em perguntar. Ela achou ter perguntado. Mas, percebeu que seus lábios não se mexeram e que ele não parecia ter escutado nada.

Sinto o perfume como naquela hora, invadindo minhas narinas e causando uma sensação relaxante. Sinto o calor do rosto dele, mesmo estando a um palmo de distância do meu, diferente daquela hora que estavam encostados. O olhar que eu não conseguia decifrar agora posso dizer que é doce e me faz me sentir bem. Só não sinto a umidade dos lábios e a corrente elétrica passando pelo meu corpo me deixando paralisada. Não é como naquela hora, não é a mesma situação. O momento passou.

O pior de perceber que eu perdi o tempo é que estou até imaginando que a distância entre nossos rostos parece está diminuindo, e o perfume dele vai aumentando e o calor que ele emana... Espera! Nossos rostos estão realmente aproximando! Ele está se erguendo e diminuindo à distância de nossos rostos! Ele está chegando tão perto a ponto de... Por que vejo cabelos castanhos escuros pendendo ao meu lado esquerdo? Por que me apoiar com o braço esquerdo? Sou eu? Sou eu? Sou eu! Sou eu quem está se aproximando!

Começava a fechar os olhos, fitando apenas os lábios dele. Aproximava-me devagar e parei antes de tocá-lo, mas senti a umidade. Uma corrente percorreu o meu corpo quando senti que uma das mãos dele me tocar e deslizar por minhas costas lentamente, puxando-me para ele num abraço que terminou com os milímetros que nos separavam do beijo.

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Sabe aqueles momentos em que você luta com a cama e briga com o travesseiro procurando dormir, chegando ao ponto de ameaçar o relógio se ele ao menos não fizesse o tempo passar mais rápido? Pois é, eu vivi um momento invertido na noite passada. Eu queria que o tempo parasse, mas os ponteiros do relógio passaram rápido, meu colchão e meu travesseiro me seduziam para me aninhar a eles. Mas, eu queria ficar acordada, beijando aquela pessoa loira e carinhosa.

Confesso que ainda tenho dificuldades de identificar se tudo isso não foi apenas um sonho. Mas, com os olhos fechados ainda podia sentir o cheiro, que muito provavelmente havia passado para mim. Sentia a macies da boca dele tocando a minha e um gostinho bom que parecia ter ficado nos meus lábios. Um sonho que deixa todas essas coisas não pode ser um sonho, ou pode?

Eu já não tinha certeza na parte que foi verdade, na parte que foi sonho e na parte que foi minha imaginação. Eu lembrava do beijo, dele me abraçando forte, de termos sentado em meu colchão, dele alisando meu rosto e dos vários beijos que seguiam-se sem nenhuma palavra. Isso eu sabia, foi muito real. Real o suficiente para eu sentir nos meus lábios, até mesmo uma pequena mordida.

Eu não lembrava de ter deitado, de ter me coberto, mas tenho certeza que ele fez isso por mim, ao menos é o que eu imagino que ele tenha feito. Não, na verdade era o que eu gostaria. Sei também que foi minha imaginação eu ter deitado no colo dele e ficado recebendo um carinho na cabeça até eu dormir. Eu sei que não lembro quando ou como peguei no sono, mas ficamos sentados e abraços, com minha cabeça apoiada no peito dele e que ele brincava com minhas mãos e não com meu cabelo.

Eu sabia que era sonho termos viajado para França, esse lugar nem existe. Ou de Kevin ter aceito fugir conosco, isso eu sei que ele jamais faria. Sonhei coisas tão gostosas nessa noite, mas teve uma situação que eu ainda estou tentando me convencer que foi sonho.

Kevin disse que me ama. Não é que ele não parecia sincero, não que ele parecia precipitar as coisas, ou que eu não acredite nele. Ele simplesmente não disse, eu estava sonhando por que não estávamos em minha sala, mas em um lugar que eu não conheço. Mas, um sonho não parece tão real como aquele momento onde eu sentia o calor das mãos dele me envolvendo num abraço, via os olhos brilhando, cheio de carinho, o lábio roçando minha orelha e as palavras ressoando em meu ouvido. Era real demais para ter sido sonho ou imaginação. É quase como uma lembrança, um momento que vivemos e que eu simplesmente estava lembrando. Eu não sei o que foi isso, mas talvez eu só esteja assim porque ele disse que me ama, nesse sonho imaginado.

Eu gostaria que ele me dissesse isso, mas não vai acontecer. Hoje é quinta feira e tenho apenas mais dois dias com ele e tudo começou ontem. Ele não é um garoto bobo, ele não brincaria com essas palavras. Eu nem sei se quando eu abrir os olhos, e definitivamente acordar para esse dia, ele ainda vai querer me beijar.

Essa possibilidade existe, afinal minhas três experiências anteriores foram apenas de uma noite. Como eu vou me comportar nesse caso? Não sei! Eu simplesmente, não sei! Se ele não me der nenhum sinal de que vamos namorar até minha despedida, acho que vou passar a noite toda acordada, esperando que ele venha me beijar. Mas, eu duvido que eu consiga ficar sem falar nada com ele durante todo o dia. Eu não sei qual será a minha reação quando o vê-lo, mas pretendo esperar que ele tome a primeira ação. Se fingiremos que nada aconteceu até a noite, se vamos namorar cada segundinho, ou se terei de admitir que foi apenas aquela noite.

Abri os olhos e então vi que já estava bem claro. Olhei para o sofá e ele não estava deitado ali ou presente em nenhum outro lugar. Ele não estava ali para me dar bom dia logo quando eu acordasse, mas ele tinha uma rotina de madrugar e isso não deveria querer dizer nada. Mas, confesso que senti mais falta de Maya, deitada ao meu lado.

Minha amiga, prima e quase irmã que não admitia estar encantada pelo loiro. Mas, não podia recriminá-la, já que também demorei para entender e admitir que também gostava dele. Agora que acordei, verdadeiramente, a realidade parecia muito problemática. Não era apenas como eu iria reagir frente a Kevin e sua decisão de estar comigo por mais tempo ou apenas na noite passada. Eu ainda tinha que encarar Maya e sua admiração, quase apaixonada.

Maya nunca se interessou verdadeiramente por alguém, beijou dois garotos, um que ela me contou e outro que vi e ela nunca quis comentar a respeito e respeitei. Mas, nenhum a empolgou tanto quanto Kevin a empolga. Será que ela me considerará uma má amiga quando souber? Seria melhor eu contar ou deixar ela descobrir? Como isso pode mudar nossa convivência harmoniosa nos próximos dias? Será que Kevin se importa se ela souber ou não? Talvez essa seja a verdadeira pergunta.

Imagino que existe minha decisão de contar ou não e a decisão dele de contar ou não. Sendo que a dele é a mais importante, pois se ele não quiser contar, só poderei contar depois que formos embora e nesse caso meu maior problema seria não deixá-la perceber isso em mim. Se Kevin não quiser continuar comigo ou se ele quiser continuar, será igualmente complicado para disfarçar as coisas para Maya. Como sempre Maya parece ditar minha vida amorosa.

Pensando bem, Maya está sempre ditando o ritmo da minha vida amorosa. Aquele garoto que eu não lembro o nome que me usou para fazer ciúmes nela. Depois o Leoni e só fui a festa porque ela dizia que eu precisava sair e conversar com pessoas diferentes por mim mesma. Acho que desta vez não vou deixar ela interferir. Vou simplesmente me controlar, dizer que minha felicidade é pelo filme ou minha tristeza é por estar com medo de que algo tenha acontecido com meu pai. Isso aí! Se eu contar, vai ser depois que estivermos no cruzeiro. Contar a Maya e não ao meu pai. Ele jamais entenderia.

Escutei passos no primeiro andar, quase uma confusão. Sorri entendo que Maya estava em seu treinamento e resolvi ir a cozinha comer algo. Já tinha visto o relógio e estava próximo do almoço e não iria tomar um café completo. Levantei deixando o meu colchão desarrumado, comendo eu daria alguma atenção a ele, arrumando a casa, no entanto, eu teria uma desculpa. Caminhei ajeitando o pijama e abri a porta da cozinha. Geladeira aberta e Kevin abaixado mexendo em algo na parte de baixo.

Eu parei e senti meu coração acelerar. Escutava-o pulsando rápido e forte. Esta não era a reação que eu esperava que eu fosse ter. Imaginei que ia paralisar, ficar cheia de vergonha ou sair correndo no pior dos casos. Mas, eu realmente comecei a sentir meu coração palpitar e sentia, estava sorrindo de forma boba. Vi a cabeça dele se mover, olhar para mim e dar aquele sorriso bonito.

Não era o olhar doce, ou aquele sorriso mais bobo que o de costume. Senti que minhas covinhas apareceram, fiquei constrangida pela resposta. Era uma das respostas que eu esperava e não significava nada de verdade, todas as opções sobre o que ele poderia fazer ainda estavam em abertas. Era apenas eu querendo viver um sonho de princesa e ser recebida por um bom dia diferente.

De repente, o sorriso bonito dele se tornou aquele mais bobo de costume. Era um sorriso que acontecia quando estávamos brincando um com o outro e que de alguma forma a brincadeira nos deixava mais próximo. Se levantou e veio até mim, tomou meu rosto em suas mãos e beijou-me de forma doce e demorada.

– Bom dia! -

Demorei um pouco para me refazer. Não foi de tirar o folego, mas foi quase um realizar de desejo. Quando abri os olhos ele estava olhando nos meus olhos, ainda inclinado pelo beijo. Vi que o sorriso mais bobo que o normal estava ali junto com um Q de travessura naquele momento. Mas, eu não queria entender o que de travessura aquele beijo poderia ter, esse foi o melhor bom dia da minha vida e não precisava acabar ali. Ergui os braços, abracei-o e o puxei para um beijo. Senti que por um instante ele pareceu hesitar, mas me envolveu em seus braços me apertando contra ele.

– Bom dia, Riley! -

Arregalei meus olhos e estremeci. Aquela voz, tão calma me dando bom dia. Não poderia ser boa coisa, não poderia sair da boca de Maya. Me saltei de Kevin e me virei para a porta da cozinha. Maya não estava na porta da cozinha, pisquei algumas vezes, antes já estava assustada e agora estava confusa. Então um baque da porta da geladeira se fechando chamou minha atenção, me virei e vi Maya com um sorriso meio debochado no rosto encarando-me como quem esperasse por algo.

Olhei para Kevin que estava dando aquele sorriso mais bobo que o normal e então compreendi, Maya nunca esteve no segundo andar e possivelmente eram os pokémon. Ela estava com Kevin na cozinha e quando entrei a porta da geladeira a escondia. Kevin sorriu daquele jeito mais bobo que o normal, pois ia brincar comigo me beijando sem que Maya visse. Ele o fez, mas eu não consegui ficar só naquele beijo e acabei me jogando no fogo.

– Foi sem querer! Ele não tem culpa! Aconteceu! De repente estava ali e ele lá e daqui pouco estávamos os dois juntos, beijando, beijando e... - Disparei a falar. – Eu não queria mentir para você, eu não ia mentir para você! Eu ia contar, eu queria contar, em algum momento que eu descobrisse como, sem que você visse... - Eu estava desesperada falando coisas desconexas e que mais pareciam colocar em uma situação complicada. – Eu... -

Kevin de repente me beijou. Não era hora para ele fazer aquilo, mas devo admitir que ele estava acabando com meu fôlego. Nenhum dos beijos da noite passada eram como aquele. Ele me largou, interrompendo o beijo e eu não consegui mais reagir. Então isso era um beijo de tirar o fôlego?

– Sempre achei que você ia ficar toda constrangida apaixonadinha quando fosse correspondida, mas pelo visto fica falante. - Maya riu e caminhou até mim me abraçando. – Gosto desse sorriso que está no seu rosto! -

Eu tentei falar algo além de apenas abraçá-la, mas além do beijo, agora tinha as falas animadoras de Maya.

– Não está... - Parei puxando o ar. – … Chateada? -

– Bem... - Ela olhou para Kevin.– Confesso que estou com um pouco de ciúmes meio parecido de ambos. - Ela riu.– E se um dos dois fizer o outro chorar nos próximos dois dias, eu quebro o outro. - Ela olhou séria para ele e para mim, como sempre faz quando quer mostrar que vai defender-me contra alguém.– Mas, é reconfortante que você esteja a mais de uma semana sem ter pesadelos. -

O que ela quis dizer com isso? Eu realmente não tenho tido pesadelos desde a terça-feira, mas não tem nada haver com eu gostar do Kevin. Bom, sobre gostar não. Mas, é muita coincidência incrível que eu não tenha tido pesadelos, desde que passei a ter contato com ele. Será que eu já dava sinais de que gostava dele, antes mesmo de eu perceber que gostava? Certamente se isso for verdade Maya perceberia.

Olhei aqueles dois rindo de algo que eu havia perdido. Eles eram tão parecidos, até o riso deles de agora, de alguma forma, lembravam um ao outro. Ela ter falado que estava com ciúmes dos dois de forma parecia me deu uma pequena ideia de que talvez ela realmente não goste do Kevin do modo que eu gosto, mas que gosta do Kevin da forma que gosta de mim, quase irmãs, no caso dele, quase irmãos.

Isso me alivia tanto. Esses dias têm sido incríveis e ontem foi mágico. Fico feliz de poder compartilhar isso com a Maya. Eu sou muito boba de achar que Kevin não ia querer ficar comigo novamente, ou que Maya não iria gostar de me ver feliz. Se eu contar que o dia começa a meia noite, esse é o melhor dia da minha vida!


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Notas finais do capítulo

Próximo episódio o bicho pega! Afinal, nos aproximamos da sexta feira da invasão! heheheh



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