A pior coisa de se namorar com alguém que te faz mal é o olhar de piedade das outras pessoas, Lilian odiava esse olhar.

Ela sabia, quando começou a namorar James Potter, que ele não iria fazer bem a ela e agora ali estava novamente, naquele banheiro imundo de boate, limpando o rímel que escorria junto as suas lágrimas. Ela o amava tanto, por que ele precisava machuca-la daquela maneira? Por que não podia apenas ser um namorado fofo como qualquer outro?

Lilian já sabia a resposta, se ele fosse diferente ela não o amaria. Não sentiria a adrenalina e o medo, a insegurança e o sonho que é estar com ele, mesmo quando ele transforma esse sonho em pesadelo.

Na primeira vez que ele a chamou para sair ela já sabia que algo havia mudado, e não exatamente para melhor.

…

Ela estava em Hogwarts, tomando sol com Dorcas, uma de suas melhores amigas, quando ele se aproximou. Caminhando com passos determinados, ele havia se agachado ao seu lado e aproveitado que ela estava com os olhos fechados para passar a mão por seu rosto.

- Hey Evans, quer sair comigo? - James sussurrou para que apenas ela escutasse.

Quando abriu os olhos ele estava muito próximo, próximo demais, sua respiração chegava a afastar alguns fios da testa dela.

Ela olhou bem no fundo dos olhos, amendoados e cativantes, até que uma abençoada parte da sua mente a lembrasse que ele era James Potter, o pegador da escola, e sua resposta não poderia ter sido diferente.

- Não Potter!

Ele havia apenas soltado um leve sorriso ao escutar a negativa, passado a língua pelos lábios e se afastado em direção a escola.

…

Ali naquele maldito banheiro, Lily sorri em meio as lágrimas ao lembrar da cena, talvez tivesse sido mais fácil apenas aceitar e depois suportar quando ele a trocasse por outra, mas não, ela se tornou um desafio para ele e todos sabem que James Potter nunca desiste de um desafio.

Algumas semanas, muitas flores e pedidos para que ela saísse com ele depois, Lilian finalmente havia aceitado. “Se ele se deu todo o trabalho de conquista-la realmente deve ter mudado, não?”. Infelizmente não, mas ela só descobriu isso depois que eles começaram a namorar, por que o jogo dele foi longe demais.

…

Os dois estavam levemente embriagados de whisky, em meio a beijos e gemidos no corredor, ele a havia prensado contra a parede e estava beijando o seu pescoço dando leves mordidinhas de vez em quando, enquanto suas mãos trabalhavam em tentar levantar a saia da garota e ela o empurrava.

- Não, James para - mas sua embriaguez era maior, ela não tinha forças o suficiente para afasta-lo, e ele continuava.

- Você é tão cheirosa - ele dizia enquanto passava o nariz por seu pescoço, arrancando suspiros dela.

Seus lábios passaram do pescoço para o colo e logo para o decote, Lilian não soube descrever a sensação que teve ao senti-lo tocando seus seios sobre a camisa, ele os massageava de modo tão excitante que ela sentiu sua intimidade ficar úmida.

Sentiu quando James pressionou sua ereção contra ela, depois a afastou da parede e a guiou ao primeiro quarto que encontram, sem nunca parar de beija-la e toca-la.

Era triste para ela admitir mas praticamente não se lembrava de nada da sua primeira vez, somente que acordou com ele a envolvendo pela cintura, haviam dormido juntos, estavam nus, não foi difícil deduzir o que havia acontecido ali.

Apenas pegou suas roupas que estavam jogadas no chão e o deixou o quarto.

…

Lily olha para o espelho amargurada, ela havia tentado se afastar dele apos o incidente, mas foi impossível. Ele a estava sempre cercando com presentes e pedidos de desculpas,”parecia tão sincero” ela pensa, triste.

Como gostaria de saber o que sabia sobre ele agora, gostaria de se advertir sobre a companhia dele, se ela soubesse que iria parar em um lugar como aquele, sozinha e infeliz…

…

- O seu sorriso é o mais bonito que eu conheço - ele dizia - Se algum dia eu voltar a magoa-la tem a minha permissão para me amaldiçoar!

Ela apenas ria, eles estavam observando o por do sol sobre o lago negro, ele estava sentado atrás dela servindo de apoio e brincando com uma mecha de seu cabelo.

Parecia o namorado perfeito nos últimos dias, sempre a procurava depois das aulas, sempre a fazia sentir-se especial, ela não gostaria de admitir mas estava começando a ama-lo.

Tudo estava diferente desde que eles haviam transado, ele estava mais carinhoso e já havia a dado uma primeiro vez espetacular, quando nenhum dos dois estava bêbado e ela pudesse se lembrar do que havia acontecido.

…

Não, ela não estava conseguindo mais controlar as lágrimas que teimavam em rolar pelas suas bochechas, por que fazia aquilo consigo mesma? Por que se torturar como momentos como aquele quando nada havia sido real? Ela estava vazia agora, sentia apenas um grande oco dentro do peito, como se seu coração a houvesse abandonado, do mesmo jeito que se sentiu quando descobriu a primeira traição dele.

…

Eles haviam combinado de se encontrar nos jardins para namorarem a noite mas ele simplesmente não apareceu, ela havia o esperado naquele banco por duas horas e seu coração ia ficando cada vez mais apertado. Será que tinha acontecido algo a ele?

Então decidiu voltar para a Sala de Estudos que dava acesso aos quartos, provavelmente Sirius saberia onde ele estava, aqueles dois quase nunca se desgrudavam.

Ao chegar encontrou Sirius ao beijos com uma garota do quinto ano.

- Sirius, desculpe atrapalhar, mas você sabe onde esta James? Nós marcamos de nos encontrar e ele não apareceu, estou ficando preocupada.

E então aconteceu, quando Sirius desviou os olhos para ela, foi o primeiro olhar de pena que recebeu.

- Não Lily, eu não o vejo desde o jantar - ele respondeu.

Aquele olhar havia incomodado-a muito, nunca gostou que sentissem pena dela pelo motivo que fosse, e não havia motivo. Bem, James a deixou esperando por duas horas e nem apareceu, mas ele deveria ter uma boa explicação, ela esperava que sim.

Ficou na sala até as duas da madrugada, sem piscar um olho e com o nervosismo a flor da pele, vários de seus amigos a disseram que fosse dormir mas como poderia dormir com seu namorado desaparecido? O que haveria acontecido com seu Potter?

E então a porta se abriu e ele entrou cambaleando por ela, a principio parecia estar machucado mas depois ela percebeu que na verdade estava bêbado.

- James - ela exclamou sentindo um misto de raiva e surpresa - Onde você estava? O que aconteceu com você?

- Não te devo satisfações - ele disse seco, tentando passar por ela para ir ao dormitório.

- Eu sou sua namorada, é claro que me deve satisfações. E o que é isso? - ela perguntou apontando para uma mancha escura no pescoço dele, ela já sabia o que era, a muito tempo aprendeu a reconhecer um chupão. Seus olhos se encheram de lágrimas ao pensar que ele a havia traído.

Não podia dizer se haviam se passado minutos ou horas durante o tempo que ela o encarou, machucada e perplexa, não podia acreditar que depois de tudo que havia acontecido entre os dois ele simplesmente a traíra.

Quando a verdade veio, foi como uma longa e dolorosa facada em seu coração. As lágrimas escaparam de seus olhos e ele pareceu sair um pouco de seu transe pois tentou tocar o rosto dela. Era tarde demais para isso, ela já estava correndo em direção a mesma porta pela qual ele entrou, correndo para o mais longe dele e daquela dor toda.

…

Lily limpou as lágrimas que insistiam em cair, com rispidez, não iria mais chorar por ele, James Potter não merecia suas lágrimas, nunca mais.

Lavou o rosto, limpou a maquiagem borrada e aplicou uma nova camada de rímel e delineador, sem esquecer o batom vermelho e o perfume, tinha cheiro de lírios o que era a sua marca, se deixou escorregar até o chão para calçar os saltos que estavam jogados no canto do banheiro. Ficou ali por um tempo, relembrou de como se sentiu vazia e quebrada na noite em que descobriu sua traição, mesmo ela o detestando não conseguia apagar ou ignorar os sentimentos que tinha por ele, não conseguiu esquece-lo, e eles reataram.

...

Meses depois desse episódio o pior continua a ser os olhares, todos acreditam que ela merece algo melhor mesmo entendendo a sua paixão por ele. Até mesmo a senhora dona do café que eles frequentavam sabia que ele não era para ela, suas amigas já tinham a alertado, até mesmo sua professora preferida disse para que ela se afastasse dele. A única coisa que faltava era alguém que lhe dissesse como! Não era tão fácil como poderia parecer, ele possuía um poder muito forte sobre ela.

Ela sorriu lembrando da vez que imaginou que ele estava começando a sentir alguma coisa por ela, da vez em que James Potter sentiu ciúmes.

…

Lily e Severo Snape estavam sentados sob a grande árvore que ficava nos jardins do castelo, ela e James haviam brigado mais uma vez e Severo estava tentando consola-la.

- Lilica - Sev a chamou pelo apelido, fazendo-a sorrir um pouco - Você sabe que não vale mais a pena, não sabe? Esse relacionamento só está te destruindo.

Como ela ficou em silêncio ele a puxou para que deitasse em seu colo e começou a fazer carinho em seus cabelos.

- Você é uma garota incrível Lily, inteligente, gentil, carinhosa, qualquer cara que não se considere extremamente sortudo em te ter ao lado, não a merece - ela se sentiu desconfortável com aquelas palavras, mesmo apreciando que alguém ainda pudesse ter interesse nela, então voltou a ficar sentada, afastando-se um pouco dele - Sabe a primeira vez que eu te vi, eu pensei “aquela garota é especial e ela merece alguém que a trate como uma rainha, que reconheça isso nela” - ele segurou seu delicado rosto entre as mãos e perguntou olhando fundo em seus olhos - Você sabe que eu poderia fazer isso, não sabe? Sabe que eu poderia faze-la feliz, e ser seu namorado, não é? - o olhar de Severo queimava sobre a boca dela e quando ele fez menção de beija-la um grande estrondo os faz se afastarem.

James estava parado a poucos metros dos dois, as mãos fechadas em punhos e os olhos apertados de raiva.

- Eu sinceramente espero que saiba que esse posto já está ocupado Snape - ele diz fuzilando as mãos do outro que ainda tocavam Lilian nos ombros.

- Do jeito que você a trata, não durará muito tempo nele, Potter - Severo praticamente cuspiu o sobrenome de James e sentindo que a qualquer momento o namorado pularia em cima do seu melhor amigo, Lily se levantou, ficando entre os dois.

- Parem com essa discussão estupida - ela disse, estava de costas para James e olhava implorando para que o amigo fosse logo embora, antes que o Potter explodisse.

- Você escutou ranhoso, ela disse para você cair fora daqui! - James diz rispidamente

- Só por você Lilica - James bufa ao ouvir o apelido - Depois a gente continua - diz provocando James e Lily se vira no exato momento em que ele partiria para cima do menino.

Enquanto ela segurava James, Sev foi embora e assim que se viram sozinhos ela o soltou, ainda estava muito machucada pelas coisas que James fazia. Ela só queria ir embora e nunca mais olha-lo, mas havia algo, algo que a prendia naquele lugar, incapaz de deixa-lo só.

- Lirio - James começou, falava como se fosse difícil respirar, não havia mais raiva em sua voz - Me perdoa.

Os olhos dela se encheram de lágrimas quando ela disse dando as costas a ele:

- Dessa vez não dá! Não posso mais James, você não percebe que está me destruindo - ela disse sentindo uma lágrima quente escorrer solitária por sua bochecha, não queria chorar na frente dele, mas não estava conseguindo se controlar - É melhor terminarmos aqui, antes que não reste nada além do vazio que eu sinto cada vez que você some.

- Não Lilian, por favor - ele diz com a voz embargada, puxou-a para si e encostou a testa na dela - Não posso te deixar ir, por que eu não existo sem você, não consigo mais viver sem você, me preocupo com você, você tem que acreditar - ele disse quando ela tentou se afastar e balançou a cabeça em negação - E eu me odeio, me odeio cada vez que te faço chorar, me odeio cada vez que te faço mal e eu sei que existem muitos outros caras por aí que podem te fazer feliz, mas eu sou egoísta o suficiente para te prender comigo, pois se existe alguém para mim, é você Lilian Evans!

Ele limpou as lágrimas que caiam dos olhos verdes dela, e a beijou.

…

Lily tentou não acreditar naquelas palavras, mas seu maldito coração não a deixava em paz, daquele dia em diante sempre que ele aprontava alguma ela pensava naquelas palavras e em como sempre fora vazia, nunca teve sentimentos como os que ele despertava nela.

E também houveram os momentos felizes, quando era bom estar com ele. O feriado de ano novo eles haviam passado sozinhos na casa de lago dos Potter, foi como um sonho - ela sorri com a lembrança - ele havia feito dela sua confidente naquela pequena casa, contado coisas que nem os melhores amigos sabiam sobre ele, o relacionamento foi sendo resolvido daquela forma: ele confiava nela e ela o amava demais para conseguir deixa-lo, seu maldito coração não a deixava esquece-lo, nem tentar seguir em frente.

E agora estavam ali, no aniversário de Sirius que havia escolhido uma boate badalada para comemorar seus 18 anos. Ela não queria ter vindo, sabia como ele ficaria e que a deixaria sozinha no meio da festa, mas ele insistiu tanto e ali estava ela.

Era tão cruel, seu coração, por que não a deixar amar alguém que possa faze-la feliz o tempo todo, que tenha olhos apenas para ela ou que diga que a ama?

- Está na hora de sair desse banheiro - ela disse para si mesma e foi em direção a porta.

As luzes e a música agitada e extremamente alta a engoliram assim que deixou o ambiente, tantos rostos perdidos naquela loucura de cores e sons. Então ela o viu, como se o mundo parasse cada vez que ele chega perto dela, aquele olhar profundo e sorriso leve, o cabelo levemente despenteado como ele gosta de manter, esta particularmente belo essa noite, com uma camisa azul sob um blazer preto e calças jeans escuras.

- Onde você estava? Fiquei com saudades - ele disse no ouvido próximo ao ouvido para que ela o escutasse.

- Banheiro - ela disse apontando para a porta atrás de si, ele apenas sorriu e passou um braço sobre seus ombros a puxando para um beijo.

“Whisky, cigarro e lágrimas” ela pensou enquanto se deixava levar por aquela enebriante mistura. Naquele momento ela compreendeu a razão de nunca conseguir deixa-lo, não era culpa de nenhum dos dois e era bastante óbvio até, algo contra o qual não se pode lutar.

O coração quer o que quer.