A resposta da alma escrita por Nany Nogueira


Capítulo 9
Os ciclos da vida


Notas iniciais do capítulo

Voltei a escrever essa fic, mas gostaria de receber comentários como forma de estímulo, já que eu havia parado de postar pensando que ninguém se interessava.



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Após a saída de Amélia do escritório de advocacia, a moça sentiu que mais um ciclo se fechava na sua vida. Passara anos naquele local e, mergulhada em depressão, não reconhecia nos colegas de trabalho amigos, já que se protegia de tudo e de todos com medo de se magoar mais uma vez. Contudo, a sua saída foi marcada por abraços, lágrimas e palavras sinceras, expressando amizade e torcida pelo sucesso da moça, frizando o quanto a amizade dela era importante para eles.

Amélia nem mesmo sabia como receber tanto carinho, não estava acostumada. Por muito tempo, não soube dar nem receber carinho, fechada no seu mundo. Sentia como se os ex-colegas enchessem seus braços de buquês de rosa como se não fosse capaz de segurar tantos. Despediu-se de todos, olhou para o prédio do escritório mais uma vez e saiu sentindo o coração se quebrando por dentro.

Naquele momento teve que ser forte, sair do lugar que era seguro e confortável e ter coragem de recomeçar no Tribunal de Justiça.

Durante as curtas férias que compreendiam a espera para ser chamada ao novo posto que ocuparia, Amélia teve tempo de pensar em tudo que lhe acontecera nos últimos tempos e pode perceber o quanto a vida é feita de ciclos. Viu que fechou um ciclo quando terminou a escola, outro quando terminou a faculdade e mais um no momento em que deixou o escritório. Para trás ficaram histórias e pessoas, lembrou-se de uma de suas músicas favoritas:

“Todos os dias é um vai-e-vem;

A vida se repete na estação;

Tem gente que chega pra ficar

Tem gente que vai pra nunca mais

Tem gente que vem e quer voltar

Tem gente que vai e quer ficar

Tem gente que veio só olhar

Tem gente a sorrir e a chorar

E assim, chegar e partir”.

A moça tentou começar vida nova e por um momento deixar o passado no passado. Queria apenas perseguir sua carreira, como sempre fizera, ali estava o seu porto seguro. Iria estudar e trabalhar muito, aproveitar a chance de estar no Tribunal para aprender o ofício de juiz e o tempo livre para mergulhar no estudo.

Quanto à vida afetiva, queria iniciá-la com um novo amor. Teve a chance de conhecer um rapaz no restaurante ao lado de seu escritório durante um almoço. O local estava cheio, então viu um homem alto, bonito, elegante, trajando terno e sorridente pedindo para dividir a mesa:

– Será que posso me sentar aqui? O restaurante está cheio, não tem mais lugar.

– É claro – respondeu Amélia, tímida.

O rapaz apresentou-se como Felício e contou que era advogado num escritório próximo dali e que sempre via a moça no local. Ele era educado, gentil e falante, então começou a contar da sua vida, explicando que terminara há pouco tempo o relacionamento com uma moça que estudava para concurso da magistratura, quando Amélia confidenciou que esse era seu objetivo na vida, também disse que era carioca e que dava aulas de direito civil, a matéria favorita da moça, em universidades. Ele parecia preencher todos os requisitos que Amélia colocou na cabeça sobre o homem ideal para si.

Ao final do almoço e da conversa que durou uma hora, o rapaz pediu o telefone de Amélia, dizendo que mandaria uma mensagem para que pudessem sair para conversar outras vezes. Ela deu o número e passou o dia esperando por uma mensagem que não veio. A mensagem veio no dia seguinte, com um simples “bom dia” que fez seu coração bater mais rápido.

Amélia não conseguia parar de pensar em Felício, até sonhava com ele. Imaginava que pela primeira vez poderia se relacionar com um rapaz sem impedimentos.

A troca de mensagens tornou-se constante e ele a adicinou nas redes sociais. Chegaram a sair para ir a um barzinho e combinaram de ir ao cinema qualquer dia. Mas, a intuição da moça dizia que a história não iria para a frente, embora ela quisesse muito pensar que era apenas a voz do seu medo de se relacionar.

Porém, a intuição de Amélia estava certa. Quando a moça perguntou quando marcariam o cinema, ele alegou que iria viajar para o Rio de Janeiro e não poderia naquela semana, quando ela perguntou na semana seguinte, ele afirmou que tinha muito trabalho acumulado no escritório. Amélia nunca foi paciente, então falou que já tinha entendido que ele não tava a fim de sair com ela, ele negou, sempre a chamando de minha linda e pedindo mil desculpas, falando no quanto adoraria sair com ela. Amélia afirmou que quando ele quisesse sair que pedisse, pois não insistiria mais.

Na semana seguinte, Amélia engoliu o grande orgulho e mandou uma mensagem desejando boa semana como estímulo para que ele a convidasse para sair, mas ele respondeu com um simples: “Para você também querida”.

A moça desistiu e passou o final de semana deprimida, na cama, chorando, perguntando-se o que tinha de errado, afinal, nunca gostava de ninguém ou quando gostava tinha um impedimento, ou quando gostava e não tinha impedimento não era correspondida.

Mais uma semana se iniciou e Amélia decidiu sacudir a poeira e dar a volta por cima. Retomando sua vida e não dando mais importância para Felício.

Contudo, sentiu necessidade de retomar o tratamento espiritual, pois estava se sentindo insegura na nova fase que iria se iniciar na sua vida e se sentindo rejeitada mais uma vez. Sempre a dor da rejeição a corroendo.

A terapeuta a recebeu dizendo que havia sentido saudade, mas, foi sincera, afirmando que não havia mais a necessidade de um tratamento semanal, pois muitos dos problemas já haviam sido superados. Então Amélia retomou o tratamento de forma quinzenal.

Na primeira sessão, viu novamente Gustavo e lembrou-se como se conheceram na vida passada: em um torneio, no qual ele duelava como cavaleiro. Ela era uma menina ainda e o observava com admiração da arquibancada com sua ama (a avó da vida atual).

Depois viu Carlos, o pai da época renascimento, e, aparentemente o rei. Ele a abraçava, ela ainda bem jovem, e a chamava de “Ma Belle”.

Fabiano voltou a aparecer. Estava sentada à mesa com ele, era o jantar. Ele determinava que Amélia comesse, mas ela não sentia vontade. Num gesto raivoso, Fabiano voou a comida dela no chão e a agarrou pelo braço, arrastando-a, enquanto griatava perto do rosto dela:

– Se não quer comer comigo, não vai comer mais nada!

Sarah aparecia acompahada de sua ama (Amélia não a identificou) e agarrava-se a sua cintura, chamando-a de mamãe. Fabiano arrancava a filha e a colocava no colo da ama, pedindo que levasse a menina dali.

Amélia começava a chorar, pedindo que a deixasse ficar com a filha. Fabiano respondia:

– Você é uma louca! Um mau exemplo para a nossa filha! Ela não pode ficar perto de você. Nunca mais a terá!

Fabiano arrastava Amélia para uma cela no topo de uma das torres do Palácio e a trancava lá. A moça sentia fome e saudade de sua pequena.

Agora entendia o motivo pelo qual sentia tanta dor ao ver Sarah ser afastada de si na vida atual, mesmo ciente de que nem mesmo era parente da menina e não podia exigir que a mãe permitisse sua aproximação. Também compreendeu o por que de uma fome além da média, apesar de seu corpo magro. Sentia uma vontade de comer como se alguém estivesse prestes a lhe tirar a comida a qualquer momento, como se temesse a fome.

Em outra cena, via-se deitada ao lado de Fabiano, que dormia, então Amélia levantava-se com cuidado para não fazer barulho e se dirigia ao quarto da pequena Sarah. Sentava-se ao lado dela e acariciava seus cabelos castanhos claros. A menina acordava e murmurava:

– Mamãe?!

– Fica quietinha meu amor – pedia Amélia, enquanto fazia cafuné na cabeça da filhinha para que voltasse a pegar no sono.

Era bem provável que Amélia só pudesse ver Sarah às escondidas.

Em outro flashe, Sarah tinha poucos meses e estava risonha no colo da mãe que a ninava contente.

Na vida atual era incrível como desde bebê Sarah estendia os bracinhos pedindo colo à Amélia.

Na atualidade, a moça sentiu necessidade de falar com Sarah, sentia saudade de doer o peito, mas nem mesmo havia conseguido dar parabéns no aniversário da pequena, já que ela fora viajar com os pais e a mãe não deu o recado deixado no celular, tampouco o atendeu. A menina também havia sumido das redes sociais, certamente proibidade de acessar pela mãe, por um período. Mas, certo dia, Amélia seguiu sua intuição e se conectou à rede social, vendo Sarah online. As duas convesaram por horas e não queriam ter que se despedir, mas a pequena precisava estudar e Amélia a estimulou que fosse.

Ainda na sessão de regressão, viu Gustavo se gabando para os outros cavaleiros ao dizer:

– Sou eu que durmo com a mulher do rei! - referindo ao seu caso com Amélia e rindo com o peito estufado de orgulho.

Incrivelmente, o que mais incomodava Amélia em Gustavo na vida atual era o seu grande orgulho e arrogância, levando-a a antipatia logo que ele começou a dar aulas a ela na faculdade, a qual, com o tempo foi substituída por um sentimento mais forte que pulsava em seu peito como um grande amor.

A última cena que Amélia viu foi do Juiz caminhando por ruas antigas que lembravam partes de cidades tombadas no Brasil e sendo apontado na rua por pessoas que riam e cochivam por onde ele passava. Assim entendeu o motivo da sensação de que todos estão contra ela.

Algum tempo depois da sessão, no silêncio do seu quarto, Amélia pode refletir sobre os últimos acontecimentos e chegou a algumas conclusões: por temer e desconfiar demais das pessoas não enxergou os amigos que tinha ao seu redor; entendeu por que sentia como se Sarah estivesse sendo arrancada de si; compreendeu o motivo do seu “apego” à comida; e entendeu o por que seu relacionamento com Felício não daria certo.

Felício era praticamente uma cópia de Gustavo. Os dois eram advogados, os dois eram professores, os dois viviam de terno, e até o jeito da barba e a cor do cabelo eram parecidos.

Amélia se encantou por Felício porque viu nele, de forma inconsciente Gustavo! Sempre ele!

A moça entendeu que a vida é feita de ciclos sim, mas que um novo não pode começar e se um antigo ainda não se fechou. Ignorar o passado é praticamente impossível. Ela não iria resolver seu problema amoroso encontrando uma cópia daquele que quer esquecer. Ela não pode simplesmente ignorar Sarah para esquecer todo o amor que sente pela sua filhinha da outra vida. Só é possível seguir adiante quando se resolve questões e vínculos afetivos. Mas, como resolvê-los? É possível passar por cima de laços de amor e superá-los? Sendo um amor um sentimento eterno ele está acima dos ciclos da vida ou se confunde com todos os ciclos?

São perguntas que Amélia ainda se faz e espera encontrar respostas.

O novo ciclo que se abre diante dela de forma concreta é o profissional e ela se vê prestes a entrar no Poder Judiciário pelo centro do poder, depois de comparecer a uma entrevista e descobrir que trabalhará no gabinete da Presidência.


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