A resposta da alma escrita por Nany Nogueira


Capítulo 18
Aprendendo a se relacionar




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Amélia se sentia cada vez melhor, mais forte e confiante. Mas, por vezes, não deixava de se chatear com as pessoas e situações, o que é normal, pois não era desprovida de sentimentos como um psicopata, mas estava aprendendo a lidar com o que sentia, não deixava a emoção a arrastar para o fundo do poço como antes.

Uma das situações que a deixou chateada foi com a mãe de Sarah, sua filhinha em outra encarnação.

Amélia estava saindo do Tribunal, depois de mais um dia de trabalho. Andava apressada, pois não queria perder seu ônibus. Ouviu alguém a chamar, virou-se e viu Heloísa, mãe de Sarah.

Após Heloísa perguntar de toda a família de Amélia, ofereceu carona à moça, que aceitou, afinal, já economizava o dinheiro do ônibus.

No caminho, Heloísa disse ter visto a festa de aniversário de Amélia em redes sociais e perguntou quantos anos ela havia feito ao que a moça respondeu:

– 26 anos, estou ficando velha né? - rindo, afinal, era só brincadeira.

– Está mesmo! Tem que passar logo no concurso para juiz. Fez esse último?

As palavras de Heloisa machucaram Amélia. Ela se manteve firme e respondeu:

– Sim, fiz. Mas, não me senti tão preparada, talvez eu passe no próximo se não der nesse.

– Preparada você já está há muito tempo, já passou da hora de passar.

Amélia chegou em casa chateada e preferiu ir para o seu quarto, ficar quieta. Estava na cozinha tomando um leite antes de dormir, quando a mãe entrou para lavar a louça. A moça teve vontade de contar à mãe, que disse:

– Heloísa sempre foi minha amiga, mas eu tinha que engolir muito sapo. Ela é invejosa, competitiva e tem ciúme de você por causa da sua afinidade com Sarah.

Amélia refletiu a respeito do que a mãe disse. Sempre fora difícil acreditar que por inveja as pessoas pudessem ser más umas com as outras, porque ela mesma nunca tinha vontade de “atacar” uma pessoa por esta ter algo que ela não tinha.

Lembrou-se do sábado no shopping, quando passeava com Mariana e ao sair da escada rolante ouviu uma voz infantil a chamar:

– Amélia!!!

Ela se virou e viu Sarah. A menina soltou a mão dos pais e correu para ela. Amélia a esperava de braços abertos e as duas ficaram um bom tempo abraçadas, como sempre gostavam de fazer.

Logo Heloísa a chamou, dizendo que precisavam ir embora, então Amélia e Sarah trocaram beijos no rosto e a moça pediu à menina para que fosse com os pais.

Amélia chegou à conclusão de que fazia sentido a fala da mãe sobre o ciúme de Heloísa em relação à filha. Além disso, 26 anos não poderia ser considerada idade avançada e que não poderia ceder às pressões externas, afinal, passaria no concurso quando estivesse preparada, desde que continuasse estudando e tivesse fé em Deus.

As chateações continuavam em todos os lugares.

No trabalho, Amélia foi “coagida” a levar um bolo para os colegas, pois uma colega disse que todos deviam levar um lanche e que a moça havia entrado e não levado nada.

O dinheiro era pouco para Amélia. Ela trabalhava meio período para ter tempo de estudar e ainda tinha que ajudar em casa. Já era pressionada em casa por estar ajudando menos. Não tinha condições de estar sempre levando lanche aos colegas como faziam os outros. Mas, resolveu levar um bolo para que não a incomodassem mais.

Amélia cortou o bolo para os colegas e os serviu. A mesma colega que havia pedido o bolo foi incomodá-la:

– Você é tão calada! É muito tímida ou se acha por ser da assessoria do Juiz?

– Nem uma coisa, nem outra, acontece que tenho que trabalhar. São muitas sentenças e com bastante complexidade para fazer em pouco tempo.

Na verdade, Amélia já conhecia o ambiente de trabalho muito mais do que eles podiam supor. Sabia exatamente em quem poderia confiar e em quem não poderia. Definitivamente, essa colega, Gabriela, não era confiável. Ela preferia se calar e ficar na sua a arrumar confusão, afinal, estava ali para trabalhar.

Amélia ficava chateada pelo fato de ver como as pessoas não tinham respeito na relação uma com as outras. Simplesmente diziam o que queriam sem medo de ofender ou magoar, mas se respondesse da mesma forma, era tida por agressiva. Ela já havia aprendido com a vida que o melhor a fazer para se manter num emprego, tendo que conviver com muitas pessoas “sem filtro”, era ignorar.

A jovem tinha a consciência de que o ser humano cresce por meio das relações, mas que estas são verdadeiramente um desafio.

Amélia passou a vida em meio a pessoas complicadas, tanto na família materna, quanto na paterna, até os amigos e colegas. Mas, quem não passou?

Os seres humanos são complicados! E, talvez, o segredo da convivência pacífica seja a tolerância.

Normalmente, queremos que as pessoas sejam tolerantes e pacientes conosco quando estamos num dia ruim, mas não somos tolerantes e pacientes com o próximo.

Ser tolerante não significa “engolir” sapo, mas sim, saber responder sem criar mais confusão, ou ouvir tendo a consciência de que a pessoa está amargurada e não absorver o seu veneno.

A terra passa por uma transição planetária: de planeta de provas e expiações para planeta de regeneração.

Quado essa transição for concluída, os seres humanos serão melhores para si e para o próximo. Estamos em período de aprendizado e ainda temos um longo caminho pela frente.

Mas, se cada um conseguir melhorar um pouco a cada dia, for se “curando” aos poucos, estará ajudando para a evolução do planeta azul.

Por muito tempo, Amélia preferia evitar todos os tipos de relação, pois estas só lhe traziam dor e sofrimento. Julgava as pessoas crueis e tinha medo de dar afeto e depois se machucar.

Então, ela entendeu que ninguém perde em dar amor, perde quem não sabe receber. Viu que a vida dela seria mais plena e feliz à medida que abrisse seu coração para bons sentimentos e que infelizes eram aquelas doentes de alma.

Ninguém pode mudar a vida de outra pessoa com briga e discussão, pois uma pessoa revoltada só aproveita esses momentos para colocar pra fora todo o veneno de sua alma, mas é possível mostrar às pessoas que a vida pode ser diferente por meio de um bom exemplo.

Com esse entendimento, Amélia conseguiu abrir-se ao amor e resolveu tentar vivenciar isso não só com os amigos, familiares e colegas de trabalho, mas, também, encarou seu medo e abriu-se ao amor de homem e mulher.

Certo dia, Amélia foi a um bar com amigos e um rapaz na mesa ao lado, aparentando pouco mais de 30 anos, começou a flertar com ela. Mesmo envergonhada, conseguiu sorrir para ele.

O homem se aproximou, apresentou-se como César. Ele era divorciado e tinha um filho de 5 anos. Amélia simpatizou com ele. Trocaram telefones e começaram a sair.

Quando a família descobriu que se tratava de um homem divorciado e com filho foi contra. A avó, sempre muito agressiva, arrumou a maior confusão, externando o próprio trauma que tinha com padrasto, dizendo que não era certo uma pessoa solteira e sem filhos ficar com alguém que já tem filho.

Amélia sabia que o problema era da avó, que tinha muitos traumas de infância não tratados. Sentiu compaixão da pessoa amargurada que ela era, deixou falar tudo o que queria, sabendo que nada fazia sentido e continuou seu romance com César.

César trabalhava numa empresa multinacional e teve que ser transferido para os EUA. Por um tempo, Amélia manteve contato com ele pela internet, mas, acabaram se distanciando.

Amélia sentiu o fim do relacionamento, mas teve a consciência de que ele fora uma pessoa importante em determinando momento de sua vida. O primeiro namorado que ela nunca esqueceria, mas que o tempo dos dois havia se esgotado. Ficaria a experiência trocada entre eles e os momentos felizes que passaram juntos.

O tempo passa, a vida muda, como as estações...

Amélia dedicou-se muito e passou no concurso da magistratura dois anos depois do fracasso no primeiro.

Quando a moça viu o resultado final foi o dia mais feliz da sua vida. Ela não sabia se ria ou chorava, fez as duas coisas. Ao olhar-se no espelho, tinha a certeza de ter visto Augusto sorrindo por meio de seu próprio rosto.

Comemorou com um baile de gala num dos clubes mais badalados da cidade, chamando todos aqueles que fizeram parte da sua trajetória.

Aos 28 anos, Amélia já era Juíza!

Ela se despediu da família e dos amigos e se mudou para o interior. Pela primeira vez, tinha sua casa e seu próprio espaço. Gostava disso.

O trabalho era exaustivo, pois atuava em Vara Única, sendo a responsável por todo o trabalho, inclusive tendo que trabalhar até a noite e finais de semana. Mas, estava feliz, afinal, toda a sua luta foi pra isso mesmo.

Amélia conheceu um advogado em uma das audiências. Ele teve coragem de convidá-la para um café, já que a maioria dos homens ficavam intimidados com ela, tendo em vista que era uma Juíza jovem, linda e de personalidade forte.

Depois do café, Amélia e o advogado, Ricardo, saíram outras vezes, começaram a namorar e se casaram quando ela tinha 30 anos e ele 33. A lua-de mel foi em Paris, tendo ela realizado o seu sonho de conhecer o lugar onde vivera como princesa no renascimento.

Aos 31 anos, Amélia tornou-se a mãe de Miguel e descobriu o maior amor do mundo! Ela sentia que o garoto loiro com os olhos verdes amendoados como os dela era o filho que a princesa francesa perdeu no parto e que o Juiz Augusto chorou a perda sobre o caixão (do seu jovem filho).

Miguel e Amélia eram muito apegados desde a primeira troca de olhares, quando exausta depois do parto ela olhou pela primeira vez para o seu bebê, que a olhou de volta.

Amélia batizou o filho de Miguel como homenagem a São Miguel Arcanjo com o qual ela sempre se identificou como um espírito gurdião, já que se apresentara em sonho para ela, algumas vezes. Por ser um arcanjo guerreiro, ela sentia que ele renovava suas forças.

Depois de dez anos pelo interior do Estado, passando em 4 cidades diferentes, Amélia voltou para a Capital, onde estavam a sua famíia e os seus amigos.

Sarah ficou muito contente com a volta de Amélia. A menina havia crescido e se tornado uma moça muito inteligente e decidida, não se dobrando à super-proteção da mãe Heloísa.

Amélia havia se tornado madrinha de crisma de Sarah, quando esta completou 14 anos, a pedido da menina. Então, passou a ser um pouco mãe dela, novamente.

Sarah visitava Amélia todas as semanas para contar de sua vida, de seus amores e para pedir conselhos. Amélia sentia-se muito feliz pela proximidade da sua menina e por poder estar vivenciando com ela um período de sua vida que a princesa francesa não pôde acompanhar, por tê-la deixado tão pequena.

Amélia era uma mulher de 38 anos com uma vida estável. Juíza no auge da carreira, casada com um advogado bem-sucedido e mãe de um garoto de 7 anos amável, educado e estudioso.

Tudo parecia perfeito, até que um dia Amélia despachava no seu gabinete quando a assessora veio lhe chamar:

– Com licença Dra. Amélia, tem um advogado na porta querendo conversar com a senhora sobre um processo dele, disse que é urgente.

Amélia sempre procurou fazer seu trabalho da melhor maneira possível e era acessível àqueles que precisavam dela, então respondeu à assessora:

– Made-o entrar, posso terminar de despachar depois.

– Sim, senhora.

Amélia tinha a cabeça baixa, terminando de assinar um despacho, quando ouviu uma voz familiar:

– Olá Amélia, quanto tempo.

Ela levantou a cabeça e se surpreendeu:

– Gustavo!


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