A resposta da alma escrita por Nany Nogueira


Capítulo 1
A depressão




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Amélia tinha 25 anos e estava atravessando um momento de depressão em sua vida. Sentia-se só, apesar de rodeada da família, com a saúde debilitada, apesar de não ter nenhum diagnóstico de doença física e chorava por qualquer motivo.
A família atravessava uma situação financeira difícil, então, mesmo sem energia para sair da cama, a jovem se obrigava a se levantar para ir trabalhar e colaborar no sustento.
Há mais de uma década não via o seu pai, que resolveu abandonar os filhos a própria sorte após a separação da mãe, a qual, muito frágil, caiu em depressão sem conseguir dar conta do cuidado com os filhos menores, Amélia e Edgar, então com 9 e 3 anos de idade. Por isso, a avó materna abrigou mãe e filhos, garantindo o sustento a duras penas, com a sua aposentadoria.
Com o tempo, a família foi perdendo sua paz. As dívidas se acumulavam e a avó foi perdendo a ternura com que conseguia conduzir a filha problemática e os netos desamparados até o momento.
Amélia começou a trabalhar muito jovem ainda, menor de idade, como garçonete de um restaurante. Mais tarde, cursando direito, começou um estágio num escritório de advocacia e o grande talento da menina fez com que fosse subindo aos poucos no trabalho.
Aos 25 anos, Amélia já era a responsável pelo sustento da família. Havia sido contratada por um escritório renomado, mas estava sofrendo constantemente assédio moral no chefe, que depreciava o seu trabalho e proferia ofensas gratuitas.
A moça tinha poucos amigos, pois era muito fechada e desconfiava de todos ao seu redor, por estar cansada da dor da rejeição e da traição, que experimentara várias vezes durante sua vida.
Apesar da idade, Amélia nunca havia tido um namorado, imaginando que isso se devia a sua forma fechada de ser, ao medo de se machucar e à grande rejeição do seu pai.
Muitos rapazes aproximaram-se de Amélia desde a adolescência, pois a beleza estonteante da garota loira, alta, de olhos verdes atraia a atenção de muitos, mas ela sempre fugia assustada. Dentro dela, algo a impedia de se relacionar com os rapazes, sentia uma culpa muito grande por algo que não sabia explicar. Via o relacionamento até como uma coisa feia.
Apesar das fugas, Amélia apaixonou-se duas vezes. A primeira aos 15 anos por um colega do colégio, Danilo, que a cortejava todas as manhãs, mas que se afastou cansado das tentativas frustradas e jurando que não era correspondido. A segunda vez aos 21 anos, no curso de Direito, por um professor, mais velho e noivo.
O professor demonstrava o interesse por Amélia abertamente, tamanha a sua paixão, mas, por ser comprometido, acabou colocando a moça em maus lençóis, pois os boatos do caso do professor, que era noivo, com a aluna ninfeta se espalhou dentro da universidade, causando ainda mais dor para a menina, difama injustamente, já que nunca deu brecha ao professor, convicta de seus valores morais transmitidos pela avó.
Amélia não conseguiu mais tirar o professor Gustavo de sua cabeça, mas nunca contou a ninguém o seu segredo. Acordava realizada quando ele lhe aparecia em sonhos.
Gustavo casou-se com a noiva, mas o casamento não durou um ano. As más línguas diziam que o casamento nunca daria certo, já que ele casou amando outra.
Um convite de amizade numa rede social logo após o fim do casamento dele fez Amélia ter esperanças, mas Gustavo nunca se comunicou diretamente, apenas curtindo as postagens da moça. Ela também não teve coragem de chegar até ele. Embora o amasse, algo a fazia sentir como se fosse errado buscar a aproximação.
Naquele momento, Amélia sentia-se estranha, deslocada do mundo, sem amigos, sem amor, com uma família desestruturada e suportando um chefe autoritário e desrespeitoso para sustentar uma família pouco reconhecida, que só fazia brigar e fazer cobranças quando chegava em casa.
O espiritismo entrou na vida dela por meio do seu irmão Edgar, então com 19 anos. O garoto era calmo e sereno, apesar de criado no mesmo ambiente hostil que Amélia, já que a mãe e a avó viviam em disputas e pé de guerra, sempre trocando acusações.
Edgar conversava com a irmã nos momentos de maior tristeza e explicava as premissas do espiritismo, dizendo que nada é por acaso e que a reencarnação é uma oportunidade de reparação pelo o que fizemos em outras vidas. Dizia, ainda, da importância de se manter firme e com fé nos momentos mais difíceis.
Depois de certa insistência, Edgar conseguiu levar Amélia ao centro espírita do bairro e lá a moça começou um tratamento espiritual para a cura do seu estado emocional.
Houve melhora, mas Amélia foi perdendo a vontade de ir ao centro e a depressão voltou com força, inclusive atingindo a saúde física, causando problemas gástricos frequentes, os quais eram interpretados como uma doença grave por ela, apesar dos exames médicos não apontarem nada, e, então, o medo da morte era uma constante. Ela repetia para si e para a família: “Vou morrer jovem, sei que vou”.
Outra fobia dela eram assuntos relacionados à gravidez e parto. Ela sentia falta de ar ao ver uma gestante. Uma de suas colegas do escritório esperava o primeiro filho e vivia empolgada com o assunto. Por estar perto do parto, pesquisava formas de dar à luz e compartilhava com as colegas, causando agonia em Amélia, que não conseguia esconder o desconforto. Ao ser questionada, dizia apenas que nunca teria filhos, que não os queria.
Ela atribuía todos os seus problemas emocionais aos pais negligentes e à avó super protetora, que pouco a deixava sair de casa com medo de tudo. Culpando-os dessa forma acabou afastando-se da família também e sentiu-se ainda mais só, mesmo rodeada de pessoas em casa e no trabalho.
No trabalho olhava com desconfiança para os colegas, pensando que poderiam lhe puxar o tapete a qualquer momento, afinal, sabia das disputas por uma melhor colocação.
Cansada de tanto sofrer, a garota buscou auxílio terapêutico e sentiu melhora, mas, aquela velha angustia no peito parecia não ter remédio, era uma doença da alma.
Certo dia, uma colega de trabalho, adepta do espiritualismo, percebendo que Amélia sempre estava triste e buscava se isolar, aproximou-se e indicou uma terapia alternativa por meio de regressão num tratamento espiritual.
Amélia agradeceu, não era uma moça mal educada, muito pelo contrário, e disse que talvez um dia fosse lá. Na verdade, não se sentia confortável em tirar do sustento da família para usar em algo que lhe parecia fútil e egoísta.
Às vésperas de um natal, passeando no shopping com uma das duas únicas amigas que tinha, foi abordada por um rapaz.
- Amélia! Que bom revê-la – disse ele, abraçando-a com carinho, como se sentisse muita saudade.
Amélia olhou desconfiada, pois nunca gostou de pessoas folgadas e de excesso de aproximação sem o mínimo de intimidade.
- Eu fui ao seu aniversário de 15 anos com a minha mãe, que é amiga da sua avó.
- Nossa, mas isso faz mais de uma década – observou Amélia, surpresa.
- Mas eu nunca me esqueci. O tempo não passou para você, continua realmente linda!
- Obrigada – disse ela, sem jeito.
- Eu gostaria de conversar com você mais vezes. Tem contas em redes sociais?
- Sim.
- Como te encontro?
- É só colocar o meu nome.
Ele concordou, abraçou-a de forma demorada mais uma vez e saiu.
Amélia sabia que ele não a encontraria, pois fazia questão de colocar o apelido Amy, justamente para não ser encontrada por qualquer um.
Num dia de semana, Amélia voltava caminhando para sua casa, quando viu um carro se aproximar e abaixar o vidro, era o tal rapaz do shopping. Ele pediu seu telefone, afirmando que gostaria muito de convidá-la para um café.
Amélia sentia repulsa a cada vez que o via. Algo nele despertava um sentimento ruim nela. Mas, as palavras de sua família, amigos e conhecidos dizendo o quanto era fechada e não se permitia conhecer as pessoas por puro preconceito, então deu o número de seu telefone.
Naquela mesma noite, o rapaz que se apresentou como Fabiano, começou a mandar mensagens como “boa noite linda, durma bem”, seguida de uma rosa vermelha. Depois, cumprimentava a menina a todos os momentos do dia com galanteios, por meio de mensagens, inclusive tentando impressioná-la com sua boa condição social de médico bem sucedido com fotos da vista privilegiada de seu apartamento e mencionando bens imóveis nos pontos mais badalados do País, mas, tudo isso só servia para aumentar a antipatia de Amélia.
A moça, apesar de batalhar desde muito cedo para o sustento da família, nunca sonhou com um casamento rico, por muito tempo, só de pensar em casamento, sentia calafrios. Na verdade, sua única motivação na vida era o sucesso profissional, o qual sentia minado por um chefe cruel.
As mensagens insistentes de Fabiano e os convites para um encontro estavam incomodando Amélia, ainda mais quando ele passava por ela, de carro, na volta para casa, acenando. Aqueles gestos soavam como uma ameaça.
Ao relatar os fatos à família foi chamada de garota tola e exagerada, afinal, Fabiano era um bom partido e qualquer moça se sentiria honrada no seu lugar. Tais comentários soavam como falta de respeito da família a seus sentimentos e falta de compreensão e de proteção. Sempre acabavam em discussões, nas quais Amélia acusava a família de interesseira e de estar querendo vende-la ao rapaz rico.
As brigas com a família também se davam por questões financeiras, já que seus parentes a viam como fonte inesgotável de dinheiro e exigiam muitas coisas, sempre jogando na cara tudo o que haviam feito por ela para que crescesse com saúde e pudesse chegar a um bom cargo num escritório de advocacia renomado.
Os nervos de Amélia estavam à flor da pele, então ela resolveu deixar de atender a todos os caprichos da família e ouvir os conselhos de sua psicóloga no sentido de que devia cuidar um pouco mais de si.
Num impulso pegou o telefone que sua colega de trabalho, Laura, havia lhe passado e ligou para a moça que fazia tratamento espiritual.
Tão logo o tratamento se iniciou e Amélia começou a encontrar as respostas de todo o mal que lhe acometia, por meio da lembrança de suas vidas passadas.


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