Jack

– Devíamos ter vindo de carro - reclamava GoGo, toda desajeitada sobre seu cavalo.

Estávamos cavalgando há três horas. Se eu soubesse que seria tão difícil e cansativo, eu mesmo pegaria a limusine do meu pai (na qual me deu carona até Arendelle) e dirigiria. Mas tanto as ruas de Arendelle quantos as de Ooo foram feitas para cavalos, e não para carros. Além do mais, se eu vou mesmo viver nesse reino, eu teria que me acostumar com o estilo "clássico" do lugar, certo? Ok, nada de carros, nada de tecnologia. Vai ser difícil, mas faço qualquer coisa pelo meu reino. É tão estranho dizer "meu reino"...

Depois de passar horas cavalgando, passa a não ser tão difícil. Os guardas nos deram algumas dicas, mas minha bunda estava doendo. Diferente de mim, GoGo reclamava o tempo todo e Hiro caíra do cavalo duas vezes. Sem perceber, eu fazia caretas de vez em quando, mostrando claramente meu incômodo. Ouvi dois guardas cochichando quando paramos para beber água e descansar.

– Esses "mauricinhos de San Fransokyo" estão só nos atrasando - dissera um deles - seria melhor eles terem ficado no castelo.

– Ah, o que esperava desse pessoal da cidade grande? - respondera o outro - só servem para mandar mensagens um para o outro pelo celular e passear com carros de luxo.

Aquilo tinha me deixado irritado. Provavelmente eles nunca visitaram uma cidade grande para saber como pode ser difícil viver lá. As maiores cidades são as com maior número de assaltos, assassinatos, estupros, suicídios e, principalmente, pobreza. Pessoas miseráveis sem ter o que comer ou onde morar... Já vi meu pai se lamentando várias vezes por não conseguir fazer o número de moradores de rua parar de aumentar a cada dia. Esses guardas acham que todo mundo que mora em cidade grande é rico e não passa por dificuldades?!

Eu posso até ser rico. Mas GoGo não é, e a tia de Hiro (que é praticamente mãe dele) só começou a ter uma vida financeira melhor há pouco tempo, quando seus brownies com recheio de chantilly (os brownies mais deliciosos que eu já comi!) começaram a fazer sucesso pela cidade, deixando as vendas da sua padaria aumentarem.

Já passei por muitas dificuldades na minha vida. Tudo bem que não foram financeiras, mas dinheiro não é tudo. Tive dificuldades para aprender a controlar meus poderes, sempre tive dificuldades em fazer amigos. Quando meu pai virou presidente, tive dificuldades a me acostumar com o fato de ele estar ausente na maioria das vezes. E nem quero pensar nas dificuldades que vou ter para me adaptar à vida de Arendelle...

Tivemos certeza de que estávamos chegando no Reino Doce quando a estrada começou a ficar rosa. Finn e Jake nos guiou até a entrada, enquanto os guardas davam uma de "espertões", fingindo ignorarem o auxílio dos nossos guias.

– Ei, pessoal! - disse uma elefantinha amarela, assim que chegamos - São Finn e Jake! Eles voltaram!

Na mesma hora, uma multidão de pessoas (ou melhor dizendo, doces) vieram em nossa direção sorrindo. Jake correu atrás da elefantinha, perguntando "cadê as tortas?", e Finn foi falar com o tal Mordomo Menta, que perguntou sobre a Princesa Jujuba. Eu e os dois guardas fomos recebidos pelo cherife Refri, que veio nos perguntar quantos guardas-bananas levaríamos conosco.

– Acho que não precisaremos de muitos. Tem 50 guardas nas Ilhas do Sul que vão se encontrar com a gente - comentei, no meio da reunião com o conselho do Reino.

O palácio da Princesa Jujuba não era tão grande quanto o de Arendelle, mas era bem bonito por dentro. Quase tudo era feito de doce mas, por incrível que pareça, a comida não era. Quer dizer, parte dela. Havia espaguete, batata frita, arroz, salada e até pipoca. Mas a sobremesa era doce.

Depois do delicioso almoço no reino, recrutamos alguns guardas-bananas. Mas o Refri insistiu que levássemos mais que o necessário e quis vir conosco. Ele disse que esses guardas não costumam ser muito inteligentes, então era melhor ele mesmo orientá-los. Contando com ele, foram 31 guardas no total.

Decidimos descansar um pouco antes de retornar à viagem. Ainda no palácio, encontrei Hiro conversando com BayMax numa varanda, no segundo andar.

– Quem diria. Em poucos dias eu serei rei - comentei, observando a paisagem.

– Quem diria. Sua noiva foi raptada no dia que você iria virar rei - brincou meu amigo.

– Pelo menos eu tenho uma noiva! E você que tem dezesseis anos na cara e nunca beijou uma garota? Dãaaaaa!

– Ah, eu só não encontrei a garota certa ainda - fez cara de emburrado.

– Hummmm. Sei....

BayMax se aproximou.

– Detectei sinais de desapontamento no Hiro. Fazê-lo beijar uma garota melhorará seu estado emocional?

– Vai! Com certeza vai!

– Cala a boca, Jack!! - berrou Hiro, irritado.

Um silêncio se formou entre nós. Mas eu sabia que não era o motivo da discussão que deixou ele irritado. Foi porque eu disse que ele tinha dezesseis anos. Depois de deixar o silêncio permanecer tempo o suficiente, decidi quebrá-lo.

– Feliz aniversário, Hiro.

– Você lembrou! - arregalou os olhos, seguido de um largo sorriso.

– Você acha que eu ia esquecer?! Eu só queria te irritar um pouquinho antes! Toma.

Entreguei uma caixinha que estava guardada no meu bolso. Ele agradeceu, e a abriu.

– Uaaaaaah!! A mini impressora de bolso que eu queria! Mas é muito cara, não precisava gastar seu dinheiro comigo.

– Esquenta não. Eu sou rico, lembra?

– Hum... Exibido!

– Ha, ha, ha! - rimos juntos.

– O estado emocional do Hiro melhorou - disse BayMax.

– Sim, sim, ok. Agora vamos lá ver com os outros que horas iremos partir. Já volto, Jack!

Depois dos dois me deixarem sozinho, decidi testar um pouco meus poderes, com cuidado para que ninguém visse. Fazia tanto tempo que eu não os usava... Me acostumei tanto em ser uma pessoa normal que tive um pouco de dificuldade em tentar fazer um floco de neve com as minhas próprias mãos.

O rei disse que Elsa tem os mesmos poderes que os meus. O que ela estaria fazendo agora? Estaria ela tentando fazer um floco de neve com as mãos assim como eu? Infeliz e indefesa, das garras daquele filho da puta do Rei Gelado...

Por falar nele, a Jujuba disse que ele também tem esses poderes. Quando ela me disse isso, tive que me segurar para não soltar um "Como assim?! Tem mais alguém com poderes de gelo além de mim e Elsa?!?!". Nem quero imaginar a catástrofe que seria se eu, sem querer, contasse.

De repente, o medo tomou conta de mim. E quando encontrássemos Elsa? O que iria acontecer? Teríamos homens o suficiente para derrotar o Rei Gelado? Se ele é tão forte o quanto dizem, que Deus nos dê forças e coragem para enfrentá-lo. Estamos lidando com gelo.

O mordomo Menta sugeriu que dormíssemos por lá mesmo ao invés de continuar a viagem e acampar perto do Castelo Lemongrab. Mas o dia ainda estava claro, perderíamos bastante tempo se não continuássemos naquele momento.

Eu já tinha me acostumado a cavalgar, então nem fiquei tão incomodado. A noite chegou mais rápido do que esperei, mas já tínhamos avançado bastante. Montamos o acampamento e assamos marshmallows e peixe na fogueira.

Ficamos lá comendo, e rindo das piadas de Jake, até que um pombo-correio veio até nós com uma carta presa nas patas. Um dos guardas de Arendelle a pegou, e leu em voz alta.

Não era uma carta de Arendelle, como todos esperavam. E sim, das Ilhas do Sul. Os 50 guardas que mandamos para lá chegaram no fim da tarde. Mas foram bombardeados pela tropa de Hans...

– E agora eles sabem onde estamos. Eles marcham para nossa direção - completou o guarda.

O meu medo voltou à tona.

Aqueles guardas... Meu irmão... Estão todos mortos...

Isso... Foi uma ameaça?!