–Alguém sabe me dizer quanto é nove vezes nove?- perguntou a professora.

Annabeth ergueu sua mão, ela sabia a resposta. A professora fez um gesto com a cabeça para que ela dissesse a resposta.

–Oitenta e um- disse a garotinha sorrindo.

–Parabéns Annie, mais uma estrelinha dourada pra você- disse a professora acrescentando uma estrela dourada no quadro.

–É, parece que gordas não pensam só em comer- Rachel cochichou para as amigas, e elas riram.

Annabeth abaixou a cabeça e começou a desenhar vestidos, ela gostava muito de moda, queria se tornar estilista. Enquanto ela desenhava podia ouvir as piadas maldosas de Rachel sobre seu peso. Rachel sempre pegava no seu pé, por tudo. Escutava coisas assim todos os dias.

Na hora do recreio era sempre a mesma coisa. Annabeth ficava lendo em um canto sozinha, e Rachel sempre fazia a mesma coisa. Ela jogava o livro de Annabeth no chão e dizia:

–É por isso que você não tem amigos- e saia andando deixando uma Annabeth chorosa no canto. Só teve um dia que foi diferente.

–Toma aqui- Percy estendeu o livro pra ela- seu nome é Annabeth né?- a garota assentiu.

Percy era o menino cujo todas as meninas da sala suspiravam, inclusive Rachel, mas ele não ligava para nenhuma delas, ele estava sempre com seu amigo Grover.

–Não liga pro que a Rachel fala, ela é uma bobona- disse Percy se sentando ao lado dela, Annebeth deu um sorriso- Quer ser minha amiga?- ele perguntou.

A garota arregalou os olhos surpresa. Percy queria mesmo ser amigo dela?

–Você quer mesmo ser meu amigo?- ela perguntou.

–Sim- Percy sorriu- Se sua mãe deixar, você pode ir lá em casa hoje.

–Tá, eu vou perguntar pra ela.

Finalmente ela havia feito um amigo. Percy e Annabeth foram melhores amigos desde então, mas quando ambos tinham onze anos, Percy teve de se mudar para São Francisco, deixando uma Annabeth novamente solitária em NY.

–Você é feia, nenhum menino vai querer olhar pra você- insistia Rachel.

Annabeth tentava não ligar para isso, mas era impossível.

Aos doze anos, ela adquiriu uma paixão por Star Wars. Rachel dizia que era coisa de menino e encrencava com ela. Aos treze, Rachel não agredia Annabeth apenas verbalmente, mas também a empurrava e lhe dava cotoveladas. Annabeth sempre fora uma ótima aluna, mas ultimamente ela não conseguia mais estudar, pela primeira vez ela havia ficado de recuperação, sua maior nota havia sido sete. Isso preocupava ela e a sua mãe, mas ela estava mais interessada em ser bonita e legal para que Rachel parasse de pegar em seu pé. A cada dia a auto estima de Annabeth caia mais. Ela se afastou das pessoas, ficava apenas em seu quarto, só descia as escadas para comer e para ir a escola.

–É tudo culpa nossa- disse o pai de Annabeth.

Annabeth estava perto da porta da sala, escutando a discussão dos pais.

–Culpa de que Frederick? Annie é assim mesmo, ela gosta de ficar sozinha- insistia sua mãe.

–Ela está doente-gritou Frederick.

Lágrimas desciam pelas bochechas de Atena.

–Ela não está. Ela está bem, esse é o jeito dela-parecia que Atena dizia isso mais para si mesma do que para Frederick.

–Ela não sai daquele quarto, ela não tem amigos- gritava ele.

–Ela tem a gente. Eu sei que somos muito ocupados com tantas reuniões e tudo mais, mas ela ainda tem a gente.

Frederick fitou Atena por alguns segundos com os olhos úmidos, e por fim disse:

–Não, ela pode ter só você.

Atena o fitou incrédula. Ela não acreditava no que ouvia, ele não as amava mais? Ao ouvir aquilo, instantaneamente, lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Annabeth, ela era a causa dessa briga.

–Eu estou indo embora- disse ele.

Nesse momento Annabeth entrou na sala e encarou o pai.

–Por que você está indo embora?- ela disse em meio os soluços.

–Eu tenho outra família- disse ele, nervoso- Essa não deu certo, então criei outra.

–Como assim?- Atena chorava.

–Eu tinha uma vida dupla, até agora- ele disse e saiu deixando Atena e Annabeth de coração partido. Annabeth abraçou a mãe e as duas desabaram no chão. Ela sentia como se isso fosse culpa dela.

Aos quatorze anos, Annabeth pediu para sua mãe contratar uma professora particular, ela queria ter aula em casa, não queria mais aturar Rachel e suas amigas. A partir de então, Annabeth não saia de casa para nada.

Seu pai nunca mais havia aparecido, a mansão que antes moravam três pessoas, agora só tinham duas e um cachorro. Atena achava que Annie estava muito solitária e sua mansão era tão grande para duas pessoas, por isso comprou um cachorro da raça dog alemão, ele era "pintado" como um dálmata. Annabeth o chamou de Boyfriend, mas ela sempre o chamava de Boy, ela não sabia o porque desse nome, mas ela tinha gostado. Ele era sua única companhia. Mesmo tendo Boy, a situação continuava a mesma, sempre sozinha e calada. Atena achou melhor leva-la em uma psicóloga e acabou descobrindo que a filha tinha depressão. Annabeth tomava remédios para isso, mas não mudou nada ela continuava em casa, sozinha e trancada em seu quarto. Até seu novo vizinho se mudar.