OZ - o purismo descarnado Slytherin escrita por ericatron


Capítulo 1
O chamado de outro mundo




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Não há mundo mais mundo que o nosso, não há vida mais viva que a nossa. E nosso mundo é tão mudo e nossa vida é tão morta... Poderei eu ver outro mundo e viver outra vida? Deleitar-me-ei nos contos de fadas onde serei o vilão mais vilão que qualquer vilão? Então me deixe habitar nesse mundo que é tão mundo e morrer nessa vida que é tão viva. Depois a eternidade me engole, é assim com todo mundo nesse mundo, afinal.

Nossa história começa no fim, quando Dorothy e seus amigos descobrem que a Cidade das Esmeraldas não era feita de esmeraldas e que o Mágico de Oz não era mágico coisa nenhuma. Ou talvez seja ali que ela termina, estou confusa agora. Bom, você deve ter conhecido a história da garotinha com sapatos de rubi que queria voltar para casa. Havia uma cidade, a Cidade das Esmeraldas onde, antes de entrar, os visitantes tinham que colocar óculos porque, de tão brilhante o local era (ora, era feito de pedras preciosas) poderia cegar os olhos. Todos os moradores usavam tais óculos, mas isso foi antes de Dorothy descobrir que a cidade era uma cidade normal e que os óculos eram apenas para fazer as pessoas verem tudo verde.

Mas e se a Cidade das Esmeraldas já tivesse sido de esmeraldas um dia? Oh, vamos voltar no tempo, tanto no nosso mundo quanto no mundo de Oz. Flutuaremos em uma coruja até um castelo na beira de um lago, nossa querida Hogwarts. Mas não vamos ficar na coruja o tempo todo, ora bolas, isso é um sonho, mas não o sonho de um idiota. Sabemos bem o caminho das masmorras, então vamos ao salão comunal de Slytherin ver o que acontece lá agora com Sirius Black.

Ah, você me perguntará: Sirius Black em Slytherin? Mas veja bem, falamos de seu tatara-tataravô, O Primeiro, aquele do topo da árvore genealógica da mui antiga e nobre casa dos Black. Era um jovem de cabelos oleosos e lisos, tão diferente dos cachos de seu descendente. Tinha um pouco de sardas, também, perto do nariz e não, não era um heroi. Já chega de histórias contadas a partir do ponto de vista de herois, para mim. Prefiro muito mais os vilões. São mais inteligentes – qualquer um pode se rum herói, mas pra ser vilão você tem que ser muito mais e muito melhor.

Pois então que não enxergue Sirius como um almofadinha politicamente correto. Ele não era gentil com os pequenos e muito menos recatado. Batia nos menores, enfeitiçava os maiores e sempre se safava. Ninguém, contudo, gostasse ou não dele, poderia negar seu talento.

Pois bem, agora todos veem que ele tem todas as características que um vilão deve ter: cérebro e egoísmo. Pessoas egoístas e inteligentes são automaticamente vilões.

Sirius estava sozinho no dormitório – todos os outros estavam na festa de Dia das Bruxas. Não era do tipo sociável e pouco se importava com as pessoas quando elas não tivessem utilidade. Os outros também não se importavam que ele não estivesse presente e ele fingia não ligar pra isso. E ele teria ficado a noite toda deitado de costas na cama e olhando para o teto, não fosse um estranho brilho esverdeado que parecia escorrer pelos lados do veludo negro que revestia o forro. Ele demorou um tempo para notar aquele brilho, não que não olhasse para ele, mas porque estava demasiado perdido em seus pensamentos para ver o mesmo que seus olhos.

Por mais malvado que fosse o jovem Black, não passava de 12 anos. Ora, crianças são curiosas, isso e um fato. E uma criança má não deixa de ser uma criança. Ele ficou em pé na cama, mas ainda assim foi muito difícil alcançar o veludo do teto e puxar. Ele esperava ver ali o que todos esperariam: o denso paredão que separava os dormitórios Slytherin do lago – ou talvez um pouco mais do brilho verde. Bom, tinha mesmo mais do brilho verde, e muito mais, mas com certeza não havia paredão. A gente poderia imaginar uma daquelas cenas gloriosas, com um coral de anjos e um clarão vindo do céu. Era uma cena bonita de se ver, ora, vou tentar ser breve ao descrevê-la porque não foi algo demorado.

Imagine um garoto de pé em cima da cama e, sobre ele, um buraco no teto, da qual saía uma luz verde e dançante – sim, ela dançava como se fosse líquida. Iluminava como um holofote, mas possuía uma magia que era quase como se estivesse ali de propósito. Mas Sirius não entrou ali, mesmo que o buraco fosse grande o suficiente para caber uma criança ou um adulto bem magro. Você entraria? Pois eu não. Além do mais ele não alcançava o teto o suficiente para meter a cabeça ali dentro.

Então ele selou o portal com um feitiço e voltou para a cama. Sua mentezinha não deixava de imaginar o que poderia haver lá dentro, mas ele achou perigoso. Slytherins são conhecidos por sua astúcia não muito corajosa e seria tolice deixar aberto o portal. Imagina o que poderia cair lá de cima, pensava ele e, embora um pedaço de veludo não fosse o suficiente para sustentar o peso de algo ali, ele tinha toda razão. Pessoas sensatas não deixam abertas portas desconhecidas e aparentemente mágicas.

E Sirius pensou tanto que adormeceu, para depois acordar à meia noite com o barulho dos colegas de quarto ao chegarem da festa. O menino virou-se para o outro lado (o que não adiantava muito, já que sua cama ficava no meio do quarto e tinha vizinhas dos dois lados).

– Ei, Sirius – chamou um loiro de cabelos espetados chamado Brutus Malfoy. Poderiam dizer que era amigo de Sirius, mas só quando o garoto precisava dele. – Por que não foi à festa?

– Eu quero dormir, mestiço irritante – disse, pronunciando as duas últimas palavras de modo que ninguém pudesse ouvir, afinal, não eram verdadeiras.

E não foi mais incomodado naquela noite, mas ainda assim não conseguia voltar a dormir. Virava e revirava na cama, embrulhando-se e desembrulhando-se, sem saber o que o afligia. Então lembrou-se do buraco do teto e resolveu ficar deitado de barriga para cima, pensando. O brilho esmeralda não estava mais lá e ele se censurou por ter perdido a oportunidade de investigar. Achou-se um pouco covarde, mas ainda assim muito sensato.

Aconteceu com Sirius aquilo que deve acontecer com todos nós quando não conseguimos dormir – os olhos se sentem aprisionados dentro das pálpebras e é um esforço danado mantê-las fechadas. E foi num desses momentos abre-e-fecha que os olhos de Sirius captaram a mesma luz esmeralda, bem fraquinha, tentando escapulir por entre as brechas do veludo rasgado. E a luz foi aumentando tão lentamente que nem dava para perceber, como o ponteiro das horas de um relógio, que a gente pode jurar que está parado, mas que na verdade nunca para.

E Sirius quase dormiu de tanto fitar pacientemente a luz, até que ele caiu em si de que ela já estava bem forte. Mais que forte, na verdade, porque iluminava todo o dormitório como uma lâmpada. O menino se perguntava por que os outros não acordavam e se era apenas ele que podia ver a luz. E a madrugada já ia alta quando Sirius notou que não era apenas a luz que aumentava, mas o teto também estava ficando mais baixo – ou era o garoto que estava subindo? Mas como era hipnotizante essa luz dançante! Não era o momento para isso, mas Sirius não conseguiu se conter e quando deu por si já estava acordando – o que significa que ele havia dormido.

Não me pergunte por que Oz chamou Sirius. Ainda nem entendo por que chamou Dorothy. Não acho que os outros mundos gostam de chamar gente do nosso para salvá-los ao invés de chamar gente da terra, que conhece melhor a região e a quem não é preciso explicar a situação. Não, acho que as pessoas do nosso mundo só são chamadas porque seriam uma perda menor.

Naquela época, a Cidade das Esmeraldas corria um grande perigo e Sirius a salvou de tal. Mas, como eu falei antes, não vamos perder tempo com heroísmos. O garoto foi revestido de glórias pelos seus feitos e não queria voltar para casa tão cedo. Ora, o que o prendia lá era a diversão, a comida, o luxo! A cidade das esmeraldas é maravilhosa, mesmo que brilhante a ponto de fazer os olhos doerem e a maioria da população usar óculos para proteger as vistas.

Ele pensou: ficarei aqui apenas um mês, mas mais de um mês se passou e ele não queria ir embora. Ah, como deixar o esplendor daquele lugar? Era uma cidade imensa e bela, onde as paredes brilhantes e verdes refulgiam à luz solar. Os monumentos, as praças, os prédios, os cartões postais. Pense em uma cidade bela. Pense em Paris! Pense na Babilônia! Pois a Cidade das Esmeraldas era ainda melhor.

E os anos foram passando e o jovem Black, que fora nomeado Sir Sirius de Slytherin, foi crescendo e se tornando um homem cheio de honrarias e sucesso. Já não se lembrava – ou não se importava em lembrar-se – de boa parte de sua vida no mundo em que nascera. Não se importava se sua mãe poderia ter morrido de desgosto ou se Hogwarts poderia ter seu honroso nome manchado por ter tido um aluno desaparecido de seus dormitórios. A ele só importava o luxo que recebia.

E é claro que ele conheceu as prostitutas, os homens maus, toda a podridão que não é relatada em histórias para crianças. Passou e dedicar suas noites ao sexo e seus dias às falcatruas. Não lhe bastava a honra agora, pois ele podia opinar, mas não mandar. Sua intenção era depor o mago e ficar com a cidade só para ele, afinal, ele salvara e era dele por direito – ou assim pensava. E, como acontece sempre aos corações maus, uma cidade não seria suficiente. Imagine como seria voltar ao mundo real e poder vangloriar-se de possuir um mundo só dele! E dentro dele foi nascendo uma sede de poder muito grande, pois ele já era mau, mas caras maus são inofensivos até o dia que encontram um propósito.

Havia um lugar na Cidade das Esmeraldas chamado Aguardente – muito embora absinto fosse uma bebida mais consumida. Era um bar toscamente talhado em esmeraldas brutas e com cheiro de bebida e suor. Não era agradável aos olhos e nem o tipo de lugar freqüentado por um aristocrata como Sir Sirius de Slytherin – mas era para lá que ele ia quando não queria ser encontrado.

Naquela tarde em especial estava a tratar de negócios com Cedric, um anão, ambulante do Comércio Negro de Oz. Era um mercenário viajado e astuto, também discreto e prestativo, com o caráter mais baixo que sua estatura. Mas barato ele não era, isso com certeza.

Nas mesas ao redor, no palco, no chão. Em todos os lugares prostitutas querendo chamar a atenção e homens bêbados a alegar ter dinheiro para a noite. Danças provocativas, assobios embriagados, feiticeiras das mais fracas e sem poder, homens encapuzados, bardos sem talento e cerveja e absinto e aguardente – a decadência tomava forma naquele lugar.

– Então o velho Oz tem comprado em suas mãos pó escurecedor ilegal? – perguntou Sirius, cujos olhos se fixavam no bailar malicioso de uma concubina.

– Sim, senhor – disse Cedric. – Pó escurecedor, néctar de gerúndios, talco de margaridas do norte, essência entorpecente de suor de raposa...

– Isso é interessante, meu amigo Cedric – disse Sirius, finalmente desviando o olhar para encarar o homem à sua frente, mas perdido em pensamentos fora dali. – Muito interessante.

– Sim, senhor – disse o homem humildemente. – Interessante, proibido e caro. Não é fácil servir de agente duplo, sabe bem, tenho que ganhar confiança de uns, arrancar informações de outros...

– Já entendi, agora some da minha frente, Cedric – disse, jogando na mesa um pequeno saco cheio de moedas de ouro. O comerciante pegou rapidamente o dinheiro, fez uma reverência e se retirou, mas Sirius já não prestava mais atenção a ele.

Então o velho está comprando produtos de ilusionismo, pensou. Ora, ele conhecia muito bem de magia para reconhecer quando era falsa. Estas eram apenas confirmações...

Ah, a Cidade das Esmeraldas é minha por direito, devaneou. Salvei-a uma vez e tenho sangue mágico, enquanto o outro é um charlatão. Enganar a população não é nada legal, velho Oz... Nada, nada legal.


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