19 Anos Depois

Era uma bela manhã ensolarada em Londres. A vida já começava a se agitar naquela parte do bairro. O Sr. Jones, nosso vizinho da direita, passeava com sua cadela pelo quarteirão e a Sra. Doll, nossa vizinha da frente, já estava de pé desde cedo regando suas rosas premiadas. Acenei para eles rapidamente e depois fui tirar o carro. O dia primeiro de setembro havia chegado rápido este ano, como se o tempo zombasse de nós ao passar depressa. Uma brisa quente de fim de verão jogava meu cabelo para trás.

Sai da garagem com o carro, estacionando-o em frente a casa. Esperei dois minutos, batendo o dedo impacientemente no volante, mas ninguém saltou para fora do lugar. Em breve estaríamos atrasados, como de costume. Balancei a cabeça, levemente irritada e sai do carro, me encostando nele e cruzando os braços, observando os filhos de Lana Dei saírem de casa, ambos com o uniforme cinza da escola trouxa no fim da rua.

— Mamãe! – uma vozinha fina, vinda de dentro da casa, chamou.

— Estou aqui fora. – disse, virando a cabeça para o som.

Ouvi o som de alguém caindo e depois a garotinha apareceu na porta, ofegante. Seu cabelo castanho e cheio grudava no rosto devido à corrida. Ela parecia extremamente nervosa, indo até onde eu estava e abraçando minhas pernas.

— Mamãe, eu quero ir também! – ela disse emburrada. – A Scarllet disse que se eu não for agora, não poderei mais ir!

Revirei os olhos. Por algum motivo Scarllet preferia implicar com a irmã a estar pronta a tempo para sairmos. Como filha única, nunca iria entender essa necessidade, mas Draco achava engraçado.

— Querida, você é tão inteligente, como se deixa enganar por sua irmã? Você vai para Hogwarts, mas não hoje. – suspirei – Ela também não pode ir ano passado, nem no anterior quando a Patty entrou, se lembra?

— Mas mãe! Não é a mesma coisa! Dessas vezes eu tinha a Lett e o Scorp aqui comigo, mas agora ficarei sozinha. – ela disse, com os olhinhos suplicantes. – Por favor, me deixa ir.

— Você sabe que isso não depende de mim, querida.

— Algum problema?

A senhora Doll havia se aproximado sorrateiramente, segurando seu regador com firmeza. Ela sorria gentilmente, mas seus olhos curiosos iam e vinham para a porta aberta. Sorri educadamente de volta.

— Nenhum, senhora. Julliet só está emburrada por não poder ir para a mesma escola que os irmãos.

— Ah! Entendo. Você podia manda-la para a escola ali no fim da rua, não? Faria bem conhecer gente da idade dela.

Julliet abafou uma risada na minha calça. A velha sempre fora curiosa quanto a educação das crianças, desde que havíamos nos mudado para aquela casa. Tentava entrar sempre que podia, cismada de que tínhamos um segredo horrível. Era uma velha fofoqueira que sabia tudo sobre todo mundo no bairro, menos sobre a minha família. É claro, nada que um feitiço da memória não resolvesse.

— É uma boa idéia. – Mesmo que nós já tivéssemos tido essa conversa antes, ela sempre insistia em perguntar. – Mas eu já contratei o tutor dela para esse ano.

— Onde mesmo fica a escola dos outros? Me falha a memória, não me lembro nem o nome!

— Fica... Ah...

— Todos prontos para ir? – Uma voz masculina perguntou lá de dentro.

Draco saiu de casa com um sorriso. Seu cabelo estava molhado e quando ele se aproximou de nós pude sentir o cheiro de sabonete. Ele me beijou de leve e pegou Julliet no colo, colocando-a de cavalinho entre os ombros. Dezenove anos haviam se passado, mas eu ainda me sentia perdidamente apaixonada todas as vezes que ele se aproximava.

— Olá sra. Doll, como vai? – ele perguntou gentilmente.

— Estou ótima, obrigada. Estava justamente perguntando a sua esposa...

— ‘Tô pronta! – alguém gritou e em seguida ouvimos o som do malão pesado sendo arrastado pelas escadas.

Scarllet pulou da porta na grama, quase caindo no processo. Já estava abrindo o porta malas quando uma das janelas do segundo andar foi aberta e Scorpion gritou:

— Lett, você esqueceu sua escova de dente em cima da sua cama.

— Droga! Joga para mim!

— Deixa de ser preguiçosa e vem buscar!

Sorri para a Sra. Doll como quem pede desculpa e entrei em casa para verificar se mais nada havia sido esquecido. Patrícia já descia a escada com o próprio malão e segurando a escova de Scarllet.

— Estamos atrasados. – ela comentou, com um sorriso.

— Diga-me uma novidade. – resmunguei, indo até os quartos das crianças para verificar se não faltava nada.

Cinco minutos depois estávamos no carro, dando adeus a Sra. Doll, que parecia levemente irritada. Felizmente o transito estava bom e a viagem até a Estação Kings Cross foi curta. Scarllet já estava começando a se entediar e, pelo sorriso que lançava a Julliet, eu sabia que ela estava prestes a implicar com a irmã. Dei graças a Merlin quando estacionamos o carro e Draco saiu para procurar um carrinho para por o malão e a coruja de Patty e Scorpion.

Passamos correndo pela parede entre a plataforma nove e dez e logo o som dos trens foi substituído pelo barulho das conversas, risadas e animais. Saímos a procura dos nossos amigos, mas eles no encontraram primeiro.

— Hermione! – Gina veio em minha direção – Estávamos esperando vocês chegarem! Vem, já está todo mundo aqui.

Harry me abraçou e sorriu para Draco, o que já não era mais surpresa já que há anos eles não tinham mais uma rixa. Até mesmo Rony estendeu a mão para cumprimentar Draco, que a segurou com animo. Lilá sorriu friamente para mim e logo sumiu alegando que ia procurar Parvati. Alvo e Scorp conversavam sobre quadribol, e como queriam ir logo para o segundo ano para fazerem os testes para os times das casas. Scarllet e Rose pareciam nervosas, conversando entre si em voz baixa. Lily, Hugo e Julliet resmungavam, chateados, que queriam ir logo para Hogwarts. Patty havia desaparecido, provavelmente indo conversar com as amigas.

— E semana que vem vamos almoçar n’A Toca. – Gina falava com Rony. Ela olhou para mim e sorriu. – Vocês dois também tem que vir, mamãe disse que está com saudades!

— Claro. Se eu sobreviver à visita dos meus sogros amanhã.

Draco, que estava conversando com Harry sobre as novas medidas do ministério, olhou para mim e revirou os olhos. Não que eu não gostasse da mãe dele, ela conseguia ser... Amigável quando queria. Mas Lucio Malfoy havia sido recentemente solto de Askaban depois da guerra contra Voldemort e seria uma “comemoração”. Julliet, que entreouvia a conversa, resmungou:

— A gente vai visitar a vovó? Eu tenho que ir?

— A gente pode te deixar com a Sra. Doll, se preferir. – Draco comentou.

— Não, não, eu quero ir. – ela rebateu, apressada. – Amo a vovó!

— Eu gostaria de ficar com a senhora Doll. – suspirei, brincando.

Draco me puxou, abraçando minha cintura e beijou minha testa. O trem apitou e as crianças correram para pegar seus lugares. Patty apareceu na janela rapidamente para que eu a abraçasse.

— Cuide dos seus irmãos. Não deixe Scarllet aprontar, certo?

— Ta bom, mãe.

Abracei Scorpion e Scarllet também e dei um adeus rápido para Alvo e Rose. O trem deu um segundo apito e começou a partir. Eu e Draco ficamos ali, acenando, até o perdermos de vista. Julliet reclamou que estava com fome e decidimos passar em uma lanchonete ali perto antes de ir para casa. O tempo continuava perfeito, como se refletisse nossa vida naquele momento.

Agora meus filhos com Draco teriam uma outra historia, quem sabe um pouco mais feliz e menos agitada do que a nossa fora. E eu agradecia toda noite por isso. Afinal, tinha quatro filhos saudáveis, um marido perfeito e amigos dos quais eu me orgulhava.

Tudo estava bem.

Fim.