We Both Changed escrita por MsNise


Capítulo 3
Reconstruído


Notas iniciais do capítulo

Olááá, tudo bem?
Mais um capítulo da jornada do Kyle. Espero que gostem!
Boa leitura :*



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Foi na terceira noite que estávamos naquela casa que a minha vida mudou para melhor. Os detalhes ainda estão nítidos em minha mente, tão vivos que eu consigo sentir tudo novamente, cada sensação, cada batida acelerada de coração, cada suspiro. Eu me senti tão… vivo. Aquela noite ainda está gravada a ferro dentro de mim. Impossível esquecê-la. Simplesmente impossível.

Não estava conseguindo dormir — tendo descansado tudo o que precisava, meu corpo necessitava de ação. Parecia improvável adormecer. Ian, ao meu lado, já estava todo esparramado em sua cama em um sono profundo. Ele nunca teve muitas dificuldades para dormir.

Revirei-me em minha cama não sei por quanto tempo. Para ajudar, a imagem de Jodi não me escapava da memória. Ela continuava lá. Admirava-me por sua coragem em ter apontado a lanterna para seus próprios olhos no primeiro dia, gostava de ela ser silenciosa e, mesmo que eu acreditasse ser apenas impressão, ela parecia me olhar com certa frequência. Tinha certeza de que era paranoia de minha cabeça.

Ian conseguia conversar com ela. Ele jogava todo o seu charme e tentava conquistá-la, o que estranhamente não me chateava. Se eu não a conseguiria para mim, então não faria mal algum Ian achar alguém para gostar. Depois de sua decepção com Claire, ele merecia isso.

Mas não foi ele quem ela escolheu naquela noite. Jodi entrou sorrateiramente no quarto que eu dividia com Ian e se arrastou até a minha cama, segurando em minha mão e me olhando com os olhos arregalados. Conseguia apenas ver uma sombra do que seria seu rosto.

— Kyle, eu não estou conseguindo dormir — ela murmurou.

Foi a única coisa que ela disse antes de me conduzir até o seu quarto. Ela estava mais linda que o habitual vestida com um pijama de ursinhos e com o seu cabelo comprido todo bagunçado. Parecia tão natural e espontânea. Além de que sua armadura tinha sido deixada de lado naquela noite.

Abracei-me a ela quando deitamos na cama. Estava desconfortável, sem saber o que podia fazer. Meu corpo estava rígido e eu tinha certeza de que o meu aperto era sufocante, apesar de não conseguir afrouxá-lo. Tentei acariciar seus cabelos compridos com as minhas mãos suadas e trêmulas. Não me lembro de ter ficado tão nervoso com alguém antes.

— Acalme-se — ela murmurou e, de alguma forma, relaxei. Não totalmente. Não tendo consciência de seu corpo tocando o meu. No entanto, a minha respiração se tranquilizou um pouco. Ela levantou o rosto na minha direção e me lançou um sorriso que eu vi na meia luz do quarto. A única coisa que o iluminava eram os postes da rua. — Por que você está tão nervoso? — sua voz era sussurrada.

Porque eu sentia atração por ela. Porque eu a observava todos os dias e pensava que ela gostasse de meu irmão e nessa situação o escolheria para ela. Eu não era tão atraente e não era bom com as palavras. Tinha certeza de que Ian já estaria beijando-a, sem titubear. A única pessoa que ele se deu ao trabalho de esperar foi Claire e, depois da decepção que ela fez ele passar, duvido que ele reservasse algum tempo antes de atacar.

— Não vai me responder? — ouvi frustração na voz de Jodi. — Não vai falar comigo?

— Não sou bom com as palavras — simplifiquei. Ela continuou rígida contra o meu corpo, encarando-me ainda com a cabeça levantada. — Não como Ian. Não sei… iniciar uma conversa.

— Não sabe responder uma pergunta também? — e em sua voz havia a típica irritação proveniente de humanos.

— Não aquela pergunta.

Ela suspirou ruidosamente e sua cabeça caiu no meu peito. Seu corpo continuava tenso. Afaguei seus braços e seus cabelos em vão; ela não se acalmava.

— Por que isso importa tanto para você? — sussurrei. — A minha resposta… por que tudo isso é tão importante?

— Eu não sei — ela respirou fundo. Sua voz diminuiu de volume, tornando-se quase inaudível na última sentença. — A pior parte é que eu não faço ideia.

Ficamos em silêncio por um tempo. Foi agradável; nada forçado. Simplesmente não tínhamos o que falar. Enquanto isso a minha respiração se acalmou, as batidas de meu coração desaceleraram e as carícias se tornaram confortáveis e certeiras. Não havia dúvidas ou hesitações. Ou nervosismo. O silêncio nos tranquilizou.

— Gosto de sua voz, mesmo que você fale pouco comigo — ela sussurrou de repente. — Gosto de seu jeito quase… irritado. Gosto de sua carranca, de sua desconfiança e de sua indiferença com algumas coisas até. Gosto do seu jeito impositor e defensor. Eu acho que… acho que gosto de você.

Meu coração parou de bater por alguns segundos. Não sei se eu respirei depois de ouvir aquelas palavras. Senti todo o meu mundo terrível desmoronando e sendo reconstruído rapidamente. A reconstrução era linda, colorida, perfeita, viva. Exatamente da mesma forma como eu me sentia. Eu me sentia vivo; sentia todas as células do meu corpo, todas as terminações nervosas, todos os lugares que Jodi tocava. Estava inteiro, pela primeira vez na minha vida.

E então eu disse a coisa mais estúpida no momento mais perfeito da minha miserável vida:

— Ian?

Ela suspirou de frustração.

— Ele é bem legal. Gosto dele também. Mas não dessa forma.

Coloquei minha mão em seu rosto — mesmo naquela época, minha mão já cobria o seu rosto diminuto — e o levantei em minha direção. Ela me fitou com aqueles olhos arregalados e indecifráveis.

— Que forma?

Ela não me respondeu imediatamente. Simplesmente ficou me encarando sem expressão, sem segundas intenções. Apenas me encarando. Mas então seu rosto se transformou. Seu olhar se tornou intenso e cheio de desejo. Sua expressão queimava em desejo.

— Jodi… — murmurei segundos antes de ela encostar seus lábios nos meus.

Eram lábios mornos e rígidos. Imóveis contra a minha boca, esperando alguma reação, talvez. Suspirei e movi meus lábios contra os dela. Ela correspondeu e ardemos, a urgência tornando difícil pensar coerentemente. Era um beijo melancólico; lento e urgente, quente e gélido, gentil e rude. O beijo de dois humanos no fim do mundo.

— Por quê? — franzi meu cenho, separando nossos lábios mesmo que relutantemente. Estava ofegante e confuso. Ela tinha me desnorteado ao tomar a iniciativa.

— Não temos tempo a perder — ela murmurou em uma voz apressada e embargada de desejo. Suas mãos apertaram o tecido de minha camiseta e ela suspirou. — Quem sabe o que pode acontecer amanhã? — e seus lábios atacaram os meus novamente, nem nenhum aborrecimento, sem nenhuma hesitação. Simplesmente um beijo que me reduzia em chamas.

Não tínhamos tempo a perder. Era nisso que eu deveria focar. Não tínhamos tempo a perder. Foi nisso que pensei quando deslizei a camiseta de Jodi por sua cabeça, era nisso que eu estava pensando quando beijei o seu pescoço. Foi nisso que eu pensei quando ela entrelaçou nossos dedos e me lançou um sorriso nervoso que contrastava com os olhos ardendo de desejo; era um sorriso que indicava que não tinha dado tempo e um olhar que implorava para experimentar aquela sensação. Não tínhamos mais tempo.

Não dei-me ao trabalho de esperar que ela avançasse para tirar a minha camiseta; eu mesmo a arranquei sem hesitação. Ela me olhava com expectativa e com um tanto de temor. Era bonita. Era linda. A criatura mais linda que já tinha visto até então. Valente, destemida, taciturna. Assim como delicada, gentil e apaixonada. Única. Minha.

Jodi.

Ela me abraçou de forma apaixonada, segura, como se confiasse cegamente em mim. Não havia nenhuma incerteza em seu olhar. E, quando me olhou com um sorriso cansado, eu retirei os cabelos que grudaram em sua testa por conta do suor e lhe dei um selinho, para confirmar que eu permaneceria ali.

Permaneci.

.

Quando eu acordei ela já estava vestida e parecia tentar arrumar o quarto. Pisquei desorientado segundos antes de sentir as minhas roupas caindo sobre a minha cabeça. Ela as jogava rudemente sobre mim.

— Depressa — Jodi sibilou. Ainda não havia amanhecido totalmente, percebi. — Meus pais não podem nem desconfiar disso.

Fiquei encarando-a por alguns segundos, sem compreender totalmente, mas então enfiei a camiseta por minha cabeça e coloquei a minha calça em tempo recorde. Ela segurou em minha mão e me levou até o corredor, confirmando se não havia ninguém por ali.

— A barra tá lim… — não a deixei terminar, pegando seu rosto em minhas mãos e beijando seus lábios. Ela tentou se afastar, mas eu formei uma prisão ao seu redor com os meus braços. Ela suspirou e se desvencilhou de com um sorriso incerto e constrangido em seus lábios, empurrando-me para fora de seu quarto. — Rápido — e então ela mesma avançou para me dar um selinho demorado antes de fechar a porta do quarto silenciosamente.

Deslizei silenciosamente até o quarto que dividia com Ian e me joguei na cama, certo de que não conseguiria dormir aquela noite. Não com os lábios ainda formigando por causa dos beijos de Jodi. Não com a sua imagem nua e delicada em minha mente, contrastando com a sua forma rude que eu tinha visto durante três dias.

Fiquei então brincando com as minhas memórias, juntando-as, separando-as, colorindo-as. Evidenciando-as. Brinquei com as lembranças até que o dia clareasse e Ian despertasse sem ter, aparentemente, percebido nenhum dos acontecimentos daquela noite. Mas ele não deixaria de reparar em meu sorriso satisfeito logo pela manhã.

— O que aconteceu? — ele perguntou com as sobrancelhas arqueadas.

Ela só tinha dito sobre seus pais… De qualquer forma, entre Ian e mim não havia segredos. E ele não descansaria até saber o motivo.

— Ninguém vai desconfiar que você sabe? — perguntei. Ele fingiu fechar a boca como se fecha um zíper e sentou-se em sua cama, esperando. — A Jodi veio aqui de noite e disse que não conseguia dormir — minha voz era um sussurro apressado. — Então me levou para o seu quarto e…

— Porra, ?! — Ian não tentou disfarçar o volume de sua voz com a surpresa. Colocou a mão na boca diante de meu olhar de repreensão. — Desculpa, cara. É que… Cacete, ?!

Eu só podia rir de seu olhar espantado.

— Bem, nós não tínhamos tempo a perder — dei de ombros e ele começou a rir.

— Eu bem que tinha desconfiado que vocês estavam de olho um no outro.

— Ian!

— Mas é verdade — ele veio até a minha cama e se sentou ao meu lado. — Eu via como você a olhava, como ela olhava para você. Já rolava química.

— Mas você estava a fim dela, não estava?

Ele deu de ombros.

— Tirar uma lasquinha não parecia pecado, até agora. Ter uma namorada no fim do mundo parecia ser ótimo. Mas era somente isso, vontade de ter alguém. Não ela, especificamente. Ela… bem, Jodi já era sua desde o primeiro dia. Nem eu, nem nenhum conceito moralista que os pais dela possam ter vai mudar isso. É um fato.

Ela era. Jodi era minha. E essa era a perspectiva mais incrível de minha vida. Tudo brilhava intensamente.

— E isso seria o quê? Amor à primeira vista? — sem querer admitir, estava realmente aliviado que o Ian não a queria para ele. E estava muito, muito feliz em ouvir de sua boca que Jodi era minha desde o primeiro dia e que nenhum conceito moralista poderia mudar isso.

— Se não é, é a coisa mais próxima que eu já vi de amor à primeira vista — ele deu duas batidinhas em meus ombros. — Estou feliz por você, Kyle. De verdade. Você merece, sabe? Você sempre mereceu.

Não achei que merecesse tamanha felicidade, mas se ela estava dentro de mim eu não poderia fazer nada além de aproveitá-la.

Não poderia fazer nada além de aproveitá-la junto com Jodi, a humana destemida e vulnerável. O anjo da minha vida. A minha luz, o meu sol, brilhando intensamente e me fazendo arder em chamas.

A minha Jodi.


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Notas finais do capítulo

E entããããão? O que acharam? Digam-me suas opiniões, é muito importante para mim!
Até o próximo capítulo :*



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